terça-feira, 4 de agosto de 2009

Mentiras Freudianas Interessam

- O ser humano é uma bosta mesmo, não?

- Fale mais a respeito, Freud.

- Não começa com sarcasmo. 

- Tá. Desevolva o lance aí. Por que as pessoas são estranhas? 

- Eu não disse "pessoas são estranhas". Disse "o ser humano é uma bosta mesmo, não?". Entretanto, concordo que pessoas são estranhas.

- Desenvolva, por favor. Quero saber o motivo de tanta raiva no seu coraçãozinho.

- Não é raiva, é irritação. 

- Com o que, homem de Deus?

- Com todo esse povo que quando digo que esqueci o que ia falar, responde com um "então era mentira". E como ando com a memória bem fraquinha, quase como a de um peixe, vivo ouvindo. "Então era mentira". Mentira a puta que o pariu.

- Ainda bem que quando você ouve isso, logo esquece. Aí a raiva passa.

- Isso o que?

- Bom, eu também não gosto de "então era mentira". Igualmente me irrita quando digo que esqueci o que ia falar e a pessoa retruca "então não era importante". 

- E quando você perde algo, alguém encontra e, antes de te entregar, solta a frase "presente para você!"? A puta que o pariu presente dos diabos. Enfia no cu.

- Outra coisa que me deixa nervoso é o famoso "desculpa qualquer coisa". Porra, se neguinho maletou o tempo todo, não desculpo. Se achou que estava exagerando, por que não parou? Desculpa qualquer coisa é o cacete. 

- "Meu querido".

- Diga.

- Não, não. "Meu querido" me irrita. E mais: pessoas que chama os outros de "meu querido" costumam ser mais incômodas do que a expressão em si. Chamar os outros de meu querido é sinal de babaca por perto.

- Eu uso a mesmo lógica para pessoas que não gostam de "Nem Vem Que Não Tem". Se não gosta, bom sujeito não é.

- Conheci um cara que não gostava. Vivia me chamando de "meu querido" e sempre pedia "desculpa por alguma coisa", quando nos despedíamos.

- Provavelmente, as desculpas eram por te chamar de "meu querido".

- Isso era o de menos. Ele era babaca do começo ao fim. Eu ficava feliz quando me chamava de "meu querido" porque era sinal de que ele estava tentando conversar, e não iniciando uma piada manjada e sem graça, coisa que fazia em 90% do tempo que estava falando.

- Ele encostava no seu braço enquanto falava?

- Isso. Isso. Conhece a peça?

- Conheço o tipo. Pessoas que respondem "queijo" quando você diz "que" também me incomodam.

- E os que chegam no horário marcado? Pouca coisa me irrita mais do que isso.

- Sei bem. Se o horário foi marcado, a pessoa deve chegar antes ou depois. Se chegou antes, como ela está adiantada, você pode fazê-la esperar mais do que o horário pré-agendado. Se chegou depois, então você também pode fazê-la esperar, porque ela já atrasou mesmo e não tem moral para reclamar. Agora, pessoas pontuais são o fim da picada.

- Fato. E as que dizem "aliás, minto" quando se enganam sobre algo que falaram?

- Como confiar em uma pessoa que diz "minto" depois de falar algo? Acho que perde completamente o crédito. 

- É pesado, não é? Por que não dizer "aliás, me enganei"? 

- Ou, o que seria melhor, é defender a mentira até o fim.

- Exatamente. "Aliás, eu disse que vi um unicórnio preto ontem, a caminho do trabalho? Pois é. É verdade."

- Para dar um ar mais confiável, o ideal seria a pessoa dizer "aliás, me enganei. Não era preto, era rosa. Era um unicórnio rosa". Não há como não acreditar com esse adendo.

- Um "aliás, minto" colocaria tudo a perder.

- Para a história se tornar mais factível, seria necessário começa-la com um "Pode parecer mentira". Isso dá veracidade a qualquer coisa.

- "Pode parecer mentira, mas ontem, vindo para o trabalho, vi um unicórnio preto parado na marginal. Aliás, me enganei. Não era preto. Era rosa." Você já ouviu alguma frase mais crível do que essa?

- Eu ia falar uma agora, mas esqueci.

- Então era mentira. 

8 comentários:

Flávia D'Álima disse...

"Eu bem que te avisei" é bem frase de mãe e é péssima. Parece que a pessoa jogou praga e tá só confirmando isso.

Lidiane disse...

genial!

Hiago Tomaz disse...

adorei - ja to seguindo

confira

http://hiagonow.blogspot.com/

Hiago Tomaz disse...

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Camila Pratti disse...

E quando alguém está contando uma história e no meio solta um "na verdade...". Tudo que ele havia falado antes vai por água abaixo, é a mesma linha do "aliás, minto".

fabiosaraiva disse...

Pode parecer mentira, mas parte deste post me soou familiar. Aliás, ficou excelente.

fabiosaraiva disse...

Vixe, Camila, lemos o post ao mesmo tempo?

Camila Pratti disse...

Hahahahahaha pois é. Isso sim soa familiar :)