terça-feira, 18 de maio de 2010

Melhor ser surdo do que ouvir Carcass

- Hoje aconteceu uma coisa muito inusitada no metrô, na hora que eu tava vindo pra cá. 

- Você veio para cá de metrô?

- Sim.

- Como, se não tem metrô aqui perto? Aliás, não tem metrô nem na cidade. 

- Você não n0tou que demorei mais tempo para chegar aqui do que o de costume?

- Sim.

- Então, foi isso. 

- Foi isso o quê?

- Então, estava eu no metrô. Ao meu lado, uma senhora idosa. Eu estava distraído, ouvindo umas músicas com meu fone de ouvido.

- Vai mudar de assunto assim, sem mais nem menos?

- Mudar? Ué, eu não estava falando justamente de algo que aconteceu no metrô?

- Tá, mas é que... deixa. O que tem a velha?

- Bom, aí estou ouvindo o Symphonies of Sickness, do Carcass. Cantarolando e tals.

- Que merda. Ninguém com mais de 20 anos ouve Carcass.

- Eu ouço.

- Crianção!

- Ninguém com mais de seis anos chama outra pessoa de "crianção".

- Bobão!

- Tá, tá. Bom, aí, de canto de olho, eu vejo a mão da velha me oferecendo o fone de ouvido dela.

- Sei.

- Considerei que ela queria fazer um swing de fones. Queria que eu entregasse o meu, para escutar o que eu ouvia. E ela me daria o dela. Considerei uma experência esquisita, mas topei.

- E o que ela ouvia?

- Então, somente ao colocar o fone dela no meu ouvido e não ouvir nada, reparei que não era um fone. Era um aparelho de surdez. Pelo que percebi da pior forma possível depois, ela havia tirado do ouvido para limpar, porque estava cheio de cera.

- Irônico você colocar um aparelho de surdez no ouvido e não ouvir nada. E ela gostou de Carcass?

- Acho que nem ouviu. Sem o aparelho de surdez, ela não deve ouvir nada. Eu mesmo, depois que recuperei meus fones, também não consegui mais ouvir o Carcass ou coisa alguma.

- Por quê?

- Como disse, o aparelho da velha estava cheio de cera. Impreguinou meu canal auditivo e me deixou surdo até eu parar em uma farmácia para lavar.

- Em farmácias fazem lavagem de ouvido?

- Não sei. Pedi isso, mas não conseguia ouvir o que o farmacêutico dizia. 

- Você ficou surdo dos dois ouvidos?

- É. Depois que coloquei o aparelho da véia na minha orelha esquerda e achei que fosse um fone, conclui que estava surdo daquele ouvido. Aí, mudei de orelha, o que acabou só por piorar as coisas.

- Incrível!

- Pois então. Cheguei à farmácia e pedi lavagem, mas não entendia a resposta do atendente. Apelei logo para o que eu mesmo podia fazer. F~ça-você-mesmo e tudo mais. Comprei listerine, álcool e umas pedras de crack, logo atrás da farmácia. Misturei tudo num pote, mergulhei um cotonete dentro e meti na orelha. 

- Resolveu?

- Na orelha direita, sim. Na esquerda, que estava um pouco mais afetada pela cera, não muito. Quer dizer, deixei de ficar completamente surdo nela, já que o total silêncio foi substituído por um zumbido chato. De qualquer forma, é melhor ouvir um zumbido do que ser surdo.

- É melhor ser surdo do que ouvir Carcass.

- O quê?

- É melhor ser surdo do que ouvir Carcass.

- O quê?

- É melhor ser surdo do que ouvir Carcass.

- O quê?

- É melhor ser surdo do que ouvir Carcass.

- Eu ia perguntar "o quê" de novo. Mas depois da terceira perdeu a graça.

- Crianção!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Pão com Pipoca e Açúcar

- Ontem eu estava com tanto sono, mas tanto sono, que dormi durante o jantar. Dei de cara na comida.

- Se você estivesse com tanto sono assim, teria dormido antes do jantar. Tipo umas seis da tarde.

- Mas eram seis da tarde. Lá em casa o pessoal janta cedo.

- Hummm. Mas e aí, deu de cara em quê?

- Em uma sopa de ervilhas.

- Queimou a cara?

- Nada. O sono era tanto que eu estava pescando fazia horas. Deu tempo da sopa esfriar. Na verdade, fiquei com a ponta do nariz gelada.

- Ainda bem que você não estava jantando uma planta carnívora. Senão, seu nariz ficaria mordido, não congelado.

- E quem é que come planta carnívora?

- Tive um vizinho que jantava isso todo dia. Era vegetariano radical. Aí comia a planta para, além de se alimentar, meio que para se vingar dos carnívoros. Como dizia que não ia comer gente, comia a planta e se sentia vingado.

- Não comia gente por não ser caníbal ou por ser vegetariano?

- Não sei. Mas dava na mesma: não comia do mesmo jeito. Aliás, um caníbal vegetariano come o que?

- Gente de soja.

- Não parece bom. 

- Nada de soja é. Mas esse meu vizinho aí gostava mesmo de coisa estranha. Lembro que uma vez me chamou para lanchar na casa dele e me serviu pão com pipoca e açúcar.

- Não parece tão estranho.

- Nem se eu te falar que o açúcar era mascavo?

- Aì, sim, a coisa muda de figura. Era mascavo?

- Não era. Era refinado. O pão era francês. A pipoca, microoondas. Cara mais previsível, não?

- Acho que sim. Se eu comesse pão com pipoca e açúcar, usaria exatamente esses ingredientes. Talvez substituísse o açúcar por adoçante, se estivesse de regime. Mas só. No final das contas, esse lanche estava gostoso?

- Médio. Se eu pudesse, substituiria a pipoca por um queijinho. O açúcar por um presuntinho. E meu vizinho pela Erika Mader. Aí, sim, a coisa ficaria boa.

- Com a Érica Mader, meu chapa, até pão com pipoca.

- E com açúcar?

- Não vamos exagerar também.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

A Garota Caiu na Rua...

- Daí, ela me pediu ajuda para... para...

- Fazer um filme pornô?

- Não. Para... como é que fala mesmo?

- Amarrar o sapato?

- Não, porra. Para...

- Comer mandioca? Fazer dobradura com papel? 

- Não. Para... para... 

- Para fazer dobradura sem papel?

- Aí meu Deus. Para...

- Comer uma macarronada da mama sem mastigar?

- Não, cacete. Para...

- Ela te pediu ajuda para soletrar a palavra "ambíguo" no programa do Caldeirão do Hulk.

- Porra, porra. Não. Para...

- Trocar pilha de um rádio? Escalar os 20 maiores jogadores que usaram bigode na história? Coçar sua omoplata? Definir o gênero de omoplata, se é "o omoplata" ou "a omoplata".

- Hum, hum. Para...

- Fazer um cafuné? Fazer um filme pornô?

- Você já chutou essa.

- E não era, né?

- Não. Aliás, você está chutando aleatoriamente há alguns minutos. Você tem alguma idéia sobre o que eu estava falando?

- Eu achava que estava acompanhando seu raciocínio. Mas se não tem a ver com filme pornô, mandioca, dobradura, macarronada, soletramento, pilhas, bigodes, gênero de palavras, então em algum momento eu me perdi.

- Soletramento?

- É. O ato de soletrar.

- Não seria soletração?

- Não, acho que não. De qualquer forma, me perdi na sua história. O que você dizia mesmo antes de chegar na parte de que ela te pediu ajuda para algo indefinido. 

- Que uma garota andava na minha frente esses dias. Aí ela escorregou e caiu no chão. Eu parei para ajudá-la. Ela estendeu a mão e aí me pediu ajuda para... aí meu Deus, para... com o se fala mesmo?

- Fazer um filme pornô?

- Não. Uma pena. E ela era meio boa até. Mas não sei se teria coragem de ficar pelado na frente de câmeras. Se fosse ajuda para uma peça pornô, acho que aceitaria. Acho teatro arte mesmo. Até o pornô. Já filme é coisa de alienado. 

- Então não consigo fazer idéia de que tipo de ajuda ela queria, já que estava ali no chão, com a mão estendida.

- Pois é. Depois eu até saquei o que era, mas não lembro a palavra agora.

- Você a ajudou a levantar?

- Nada. Não sabia bem o que ela queria. Fiquei confuso. Perguntei se estava bem, ela disse que sim. E estendeu a mão. Aí dei uma bica na mão dela e sai andando. Achei que fosse me assaltar, com aqueles dedos ágeis. 

- Entendo.

- Demorou um pouco, mas conclui que ela estava se fazendo de coitada para me assaltar. Certeza que queria ajuda para... para...

- Aumentar o número de idiotas que caíram no velho golpe da mulher indefesa e gostosa no chão, que acaba surrupiando a carteira do bom samaritano, que, na ânsia de a levantar, não percebe que está tendo sua carteira subtraída pela mão-leve.

- Exatamente! Era isso que ela queria como ajuda. Não sei como estava me fugindo essa expressão.