terça-feira, 31 de agosto de 2010

Uma Breve História do Peru

- Acabo de descobrir uma coisa que me deixou besta.

- O quê? Da última vez que te vi assim foi quando descobriu que a Vovó Mafalda era homem. 

- Ah, mas o que mais me chocou naquela história não era o fato dela-dele ser homem. Isso me impressionou, claro. Mas saber que ela-ele não tinha netos foi foda. É o cúmulo da farsa circense. Só faltava não ser palhaça.

- Bom, não era muito engraçada, não. 

- Olha a bobagem! Toda vez que ela falava "caçarola!", eu me acabava de rir.

- Tá. Mas o que te impressionou?

- Outro dia me falaram que tem um outro país que chama Peru em outra língua qualquer. 

- Como é?

- A gente chama o país e o bicho de Peru, certo?

- Correto.

- Os EUA chamam a Turquia de Turkey, que é peru na língua deles.

- Certo.

- Bom, aí fui investigar qual era o outro país que chamava peru de país, de bicho ou o que fosse.

- E o que descobriu?

- Que os países de origem francesa chamam o perú, o bicho, de Índia.

- Ora, ora, ora.

- Chamamos a ave de peru. Os povos de língua inglesa chamam de turkey. Os de língua francesa de d'Inde, que é "da Índia". E o diabo do bicho não é originária de nenhum desses três países.

- É memo?

- É. Os portugueses acharam que o bicho era ali do Peru e deram esse nome, mas na verdade ela vivia no México. E até nos Estados Unidos.

- Cada coisa. E como é que o povo do Peru chama o bicho? Estados Unidos da América?

- Hahaha. Não, não. Chama Pavo. Meio que confundiam o Peru com Pavão e deram um nome similar.

- E um peru pequeno, como será o nome?

- Acho que pavinho. Ou pavuna.

- Igual o bairro da Zona Norte do Rio?

- Caraca, mas não é que o diabo do bicho é globalizado mesmo?

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Em Círculos, com Galinhas Dentro Deles

- Meu sonho era ser rico e anônimo. Nada de ser famoso.

- Rico e famoso você não aceitaria?

- Se pudesse escolher, não. Se não pudesse, sim.

- Mas e se você tivesse que ser rico, famoso e com asas de galinha? Aceitaria?

- Se pudesse escolher, não. Se não, sim.

- E se fosse rico, famoso, com asa de galinha e tivesse a voz do Zé Colméia?

- Porra. Acho que o mesmo das anteriores. Se pudesse escolher, sim. Se não, não.

- Não era o contrário?

- Ah, era. Se pudesse escolher, não. Se não, sim. Aliás, se puder escolher, a resposta é sempre não. Mas se não tenho alternativa, só me resta aceitar mesmo.

- Como você é resignado.

- Não tem tu, vai tu mesmo.

- Tá. Mas você trocaria seus caninos por incisivos?

- Posso escolher?

- Pode.

- Então, sim.

- Não era o contrário?

- Não, não. Sempre achei que ficaria melhor com alguns incisivos a mais.

- Mas e pra comer carne, como fazer sem caninos?

- Viro vegetariano.

- Mas e pra conseguir proteína?

- Compro algum preparado da farmácia.

- E vai gastar todo seu dinheiro nisso?

- Tiro um extra me apresentando como o incrível homem sem caninos, mas com alguns incisivos a mais.

- E aí ficaria rico com isso?

- Sim.

- Rico e famoso, suponho.

- Merda.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O Estranho Caso do Maratonista Sedentário

- Você iria em um cabeleireiro careca?

- Nunca! 

- A-há. Então você acha que uma condição congênita antagônica à profissão é determinante para o sucesso ou insucesso laboral do indivíduo? 

- Como é?

- Você acha que um cabeleireiro não pode ser careca?

- Ah, isso? Não, acho que pode sim.

- Mas você disse que nunca iria a um cabeleireiro careca.

- Sim. Mas é porque não vou a cabeleireiros. Frequento barbeiros, sabe? Sou machão.

- Tá. Entendi. Então me diga: você iria a um barbeiro careca?

- Claro. Meu barbeiro, por exemplo.

- É careca?

- Sei lá. Tá sempre de chapéu. Nunca pensei no que tem ali embaixo.

- Tá, mas então você iria a outro barbeiro, que fosse careca, no caso?

- Nunca...

- A-rá!

- Mas é porque sou fiel ao Afrânio, meu barbeiro. Nunca mudaria de barbeiro.

- Sei, sei. Então, deixe-me mudar a pergunta. Você iria a uma nutricionista gorda?

- Não iria. 

- A-rá!

- Mas é porque não vou a nutricionistas. Minha vizinha é nutricionista e falo diretamente com ela, quando preciso. Aliás, a consulto quase todo dia.

- É mesmo?

- Mais ou menos. Eu saio para trabalhar no mesmo horário que ela e sempre a encontro. Aí digo "bom dia". Ela responde "tudo bem?". Eu digo "sim". "Ela, que bom, continue assim". E pronto, acho que estou oficialmente consultado.

- Só porque ela pergunta "tudo bem?"?

- É. Tudo, pelo que compreendo, compreende tudo. E tudo inclui o café da manhã, o almoço e o jantar. Quando ela diz "continue assim", acredito que seja uma receita de como proceder. 

- Ela é gorda?

- É. Muito. 

- Bom, então você iria a uma nutricionista gorda. 

- Possível. Mas ela é minha vizinha. E vizinha a gente não escolhe. 

- Pô. Tá. Você iria a uma manicure sem unhas?

- Eu ou ela?

- O quê?

- Quem sem unhas? Se eu não tivesse unhas, não iria, não. Afinal, ia fazer o que? Pedir para ela pintar meus dedos?

- Não, não. No caso, ela. A profissional, a manicure. Se ela não tivesse unhas, você iria até ela, pagar pelos serviços da dita cuja?

- Jamais!

- Por quê?

- Porque tenho aflição de gente sem unha se roçando em mim.

- Tá difícil de responder à minha questão, hein.

- Mas você também não facilita. Só pergunta idiotice. 

- Ok, mais uma tentativa. Iria a um travesti ginecologista?

- Mas eu sou homem.

- Se fosse mulher, iria a um ginecologista travesti?

- Peraí. Travesti ginecologista ou ginecologista travesti?

- Faz diferença?

- Ô se faz. 

- Nesse caso, se fosse um travesti ginecologista, iria. Se fosse um ginecologista travesti, não. 

- E você deve ter um bom motivo para isso. 

- Tenho. Se é um travesti ginecologista, entendo que o cidadão primeiro se travestia. Aí, fez faculdade, se formou e optou pela profissão de ginecologista, mesmo na condição de traveco. Acho bonito, um exemplo de superação. 

- E o contrário?

- Bom. Se é um cidadão que virou ginecologista e, posteriormente, resolveu se travestir e trabalhar à noite, aí acho que não rola.

- Por quê? Porque um travesti não pode atuar na medicina?

- Até pode. Mas como trabalha à noite, deve ter muito sono durante o dia. E eu não gostaria de ser tratado por alguém bocejando. Odeio ver o céu da boca alheio.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Já descobri o que faz um maçon!

- Nunca tive tanto medo de morrer atropelado vindo para cá quanto hoje.

- Por quê? Resolveu de novo andar com os olhos vendados, só para saber se conseguiria chegar aqui?

- Não. Eu não faria isso novamente. Daquela vez fui parar em Ferraz de Vasconcelos. Isso já foi aterrorizante o suficiente.

- Uma vez perdi os óculos e, quando não vi, estava em Franco da Rocha. 

- Rapaz, você não enxerga nada mesmo sem os óculos, hein.

- Para o bem e para o mal. Como não enxergava nada, também não vi Franco da Rocha. Acho isso uma vantagem competitiva e tanto.

- Se é. 

- Mas então, me conte. Por que esse medo súbito de morrer atropelado? 

- Enchi meu MP3 player de música do Tears for Fears e do J. Quest para mandar para um amigo, que pediu. Imagina se eu sou atropelado, morro e, quando vão verificar minhas coisas, descobrem a discografia inteira dessas bandas horrorosas em meu poder. Morrer como indigente, tudo bem. Se enterrado como fã de Tears for Fears ou J. Quest, não. Tudo tem limite.

- Isso me lembrou uma tirinha do Laerte ou do Angeli, acho. O cidadão não encontra cueca limpa e apela para a calcinha da mulher para ir trabalhar. Aí vai morrendo de medo de, justamente, ser atropelado e virar um defunto de calcinha.

- E ele é atropelado?

- Não lembro. Mas eu também morro de medo de ser atropelado?

- Você usa calcinha por baixo da calça?

- Não.

- Tem músicas vexatórias no MP3 player?

- Tenho, mas não é por isso.

- É por que, então?

- Eu acho muito invasivo, sabe?

- Como?

- Ah, você está lá, na sua. Seja na calçada ou atravessando a rua. De repente, pow! Crash! Blau! Estrow! Capof! Catapimba! 

- Tá, tá. Já entendi as onomatopéias.

- Bom, aí catapimba! Te acertaram e você morreu.  Preferia morrer de outra coisa menos invasiva. Herpes, por exemplo.

- Se morre de herpes? 

- Sei lá. Se não se morre, melhor. Aí ia demorar muito mesmo para eu bater com as dez. Não tô com pressa mesmo. 

- Falando em carro, ontem finalmente provei a minha mãe que a maior parte dos emails que ela recebe são mentirosos.

- Como assim?

- Ah, ela vive recebendo aqueles "golpe novo na praça", etc. Manja?

- Sei. 

- Pois é. Ontem achei a gota d´água. 

- Diga.

- Ela recebeu um email com instruções sobre o que fazer caso esquecesse a chave dentro de um carro com trava.

- Chamar o chaveiro?

- Imagina. Muito espartano e simples, isso.  Bastava a pessoa pegar o celular e ligar para casa.

- E pedir a chave reserva?

- Isso. Mas não é tão simples. A pessoa deve pedir para que o caboclo do outro lado da linha pegue a chave com trava. Aí, essa pessoa em casa aciona a chave do lado de lá. A do lado de cá, deve posicionar o celular a 30 cm da porta do carro e pronto, ele abriria.

- Isso me parece muita balela.

- E não é? Bom, fiz o teste para provar para minha mãe que era bobagem. Obviamente, ela viu que não funcionava. Agora, ela não acredita em mais nada da internet.

- Que bom.

- Tinha outra dica bisonha nesse email. Eram instruções sobre o que fazer caso a bateria do celular estivesse descarregando. Bastava digitar um numero x e aí automaticamente isso acionaria uma tal bateria reserva. Ela encheria com 50% da carga a bateria do celular. Tipo um esquema de aumento de vida, como rola em videogame.

- Testou?

- Eu queria testar, mas minha mãe disse pra eu não acreditar em nada dessa tal internet. E, no final das contas, a bateria do celular estava cheia e eu não queria perder tempo. Precisava ir buscar a chave reserva do carro em casa. 

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Post de Sexta-Feira

- Eu trabalho no segundo andar de um prédio comercial.

- Eu sei. Estou do seu lado. Aliás, quem era ali na porta?

- Pois então, era isso que eu dizer. Estava introduzindo o assunto. 

- Tá.

- Então, como diabos bateu na porta um vendedor de sabonete?

- Era isso que o rapaz queria? Achei que tivesse procurando o urologista de novo.

- Nada. Você não percebeu que eu demorei?

- Não percebi. Estava entretido com uma questão trivial. Você já reparou que não pisamos mais em tachinhas?

- Como é?

- Ah, quando éramos crianças ou adolescentes, vivíamos chegando em casa com tachinha na sola do sapato. Hoje em dia, não tem mais isso. 

- E você também não chega mais em casa sujo de giz, aposto.

- Como você sabe?

- Porque você, e eu, e as pessoas da nossa idade, não estão mais na escola. Por isso não pisamos mais em tachinha. Posso terminar a história do sabonete?

- Pode. 

- Então, aí o cara bateu na porta, falou que tava visitando todas as salas do prédio, oferecendo sabonete líquido. Falou por quase 15 minutos sem parar. Muito esquisito. Sei que no final das comprei o diabo do sabonete. 

- Comprou?

- Sim. E logo três. Tava na promoção. 

- Nunca tinha visto isso. Outra coisa que nunca vi foi venderem cigarro em farol. Se alguém pensasse nisso, ficaria rico. Já vi venderem água, jornal, até mesmo boia e globo terrestre. Mas nunca, nunquinha, cigarro. E olha, nego fumante que tá dirigindo e tá desesperado por cigarro, paga até R$ 10 por um cigarrinho.

- Maço, você quer dizer.

- Não. Um cigarrinho mesmo. Esse povo é viciado! Viciado é assim: se pans, deixam até o carro em troca de uma baforada. 

- Nossa. Acho que vou investir nisso então. Mas antes, vou lavar as mãos. Quero estrear minhas novas aquisições. 

- Pode até beber o sabonete, de tanto que você comprou.

- Aliás, falando em mãos, outro dia vindo para cá passei na frente de uma casa com os dizeres: "não temos campainha, chame pelo nome". Achei um absurdo. 

- O quê?

- Ué, e se a pessoa estiver rouca ou for muda? Como que faz?

- Ah, bate palma.

- E se for rouca, muda e maneta?

- Pô mas se ela for rouca, muda ou maneta, nem a campainha ia ajudar. Como ela ia tocar?

- Ah, mas aí já não é problema do dono da casa. Ele fez a parte dele e colocou a campainha ali.

- Sei.

- Qualquer dia, vou parar lá e chamar o dono da casa e falar umas verdades para ele. 

- E como você vai chamar, se ele não tem campainha.

- Sei lá. Pensei em chamar pelo nome.

- E você o conhece?

- Não. Mas poderia ir chutando todos os nomes do Brasil até acertar. 

- Boa. Mas como são muitos, você pode ficar rouco antes.

- É. Mas posso levar uma pedra. Quando tiver enrouquecendo, taco uma pedra na casa e beleza. Alguém sai para ver quem é e você fala as suas verdades.

- Hummm.

- Ou, melhor. 

- O quê?

- O vendedor de sabonete já se foi?

- Já.

- Pena. Você podia contratá-lo. Se ele entrou aqui e está vendendo coisas de porta em porta, é batata que ia dar um jeito de ser atendido nessa casa.