terça-feira, 20 de abril de 2010

Um assalto à moda antiga

- Vi um assalto à moda antiga hoje.

- Você viu um homem à cavalo, com um lenço no rosto, invadir o banco do condado, dar dois tiros para cima e fugir com os sacos de dinheiro, levantando muita poeira por onde passava? Ah, claro, e não sem antes dar uns tiros no xerife local?

- Não foi um assalto tão à moda antiga assim. 

- Conte-me.

- Conto-lho. Um cidadão parou de moto do lado de uma moça, em um ponto de ônibus, que segurava uma bolsa. Ele disse "passa a bolsa". Ela disse "não!". Ele disse "passa!". Ela "não!". Ele puxou. Ela repuxou. Depois de 3 minutos, ela conseguiu ficar com a bolsa. Deu umas bolsadas no infeliz e ele saiu correndo. 

- Isso não foi um assalto, mas uma tentativa de assalto. 

- Nada. Quando eu disse que ele saiu correndo, ele realmente saiu correndo. Largou a moto lá. A moça, que não quis esperar o ônibus, pegou a moto e levou embora. O assalto foi dela nele e não o contrário.

- E isso é um assalto à moda antiga?

- É, você tem razão. Nem tanto. A tentativa de assalto foi à moda antiga. O assalto em si foi bem moderno e às avessas. Achei que nunca fosse ver um negócio desse na vida.

- Coincidência.

- Você viu algo parecido hoje?

- Não. Mas vi algo que nunca achei que fosse ver.

- Um gato com cabeça de leão?

- Não. Um cidadão correndo atrás de uma mulher, tentando bater nela com um cação. Achei que nunca fosse ver uma surra de cação na vida. E vi. 

- Outra coisa que vi por esses dias, e também me impressionou, foi uma balança quebrada.

- Essas de pesar pessoa?

- É.

- Por que te assustou?

- Achei que um negócio feito para aguentar neguinho obeso pulando em cima e se lamentando das calorias fosse bem resistente. 

- Pode até ser, mas às vezes a balança chegou ao limite extremo da exaustão e desmaiou, entregou os pontos, sei lá. Vai que o Jô Soares se pesa nela todos os dias.

- Nesse caso, não foi à toa que ela quebrou. Além do peso físico dele, teve que suportar o ego do gordo mala. Aí é dose para balança de caminhão. E mesmo assim, não sei se seria suportável.

- Fato. Sempre que entro em um avião, examino se o Jô Soares, o Milton Neves, o Boris Casoy ou a Fernanda Young não estão presentes. Duvido que a aeronave aguentasse tanto ego. Sejam eles juntos ou separados. 

-  Sempre que entro em um avião, vou vestido de padre. Duvido que Deus tenha coragem de meter abaixo e matar um avião com um padre dentro.

- Mas você não é padre.

- Shhhhhhh. Fala baixo. Eu sei disso. Você sabe disso. Mas duvido que o todo poderoso, onisciente e onipresente, saiba.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Vagner Love, el fobista

- Descobri ontem que o Vagner Love é muito fobista. Daí, não tive alternativa a não ser torcer contra ele e contra o Flamengo.

- O que diabos é fobista?

- Não sei. Mas meu pai disse com tanta ênfase, que não tive dúvidas de que ele é 100% fobista.

- Olha, pensando bem, acho que é mesmo. Vamos analisar a carreira dele.

- Acho que nem precisa ir tão longe. Olha as trancinhas. Repara no jeito de correr. A malemolência e o olhar quase brejeiro. É, sim, um fobista.

- Eu acho que fobista tem mais a ver com a carreira. Artilheiro da série B, mais ou menos no CSKA, volta à série A do Brasil defendendo o Palmeiras e se mostra um mindingo. Aí, vai jogar no Rio e, se aproveitando das traves grandes do Maracanã e do condicionamento físico dos anos 40 dos adversários, vira atração quase principal. Pegue todas as informações, as condense e, aí sim, temos um tremendo de um fobista. Quiçá, o maior do Brasil.

- Eu diria que é o maior fobista do mundo.

- Não é. Do mundo, acho que é o Val Kilmer.

- Esse aí é o maior fobista fracassado do mundo. O Love faz parte do rol de fobistas ainda não completamente fracassados.

- Sei não. Acho temos quase um empate no quesito fobismitismo entre Val Kilmer e Love. A diferença fica no fato de que um já é fracassado. O outro está no caminho certo.

- O que só faz do Love mais fracassado que o Val Kilmer, já que o primeiro nem é mais fracassado que o segundo. O Kilmer ganha no quesito fracasso, mas perde em termos de fracasso no fobistismo. O Love, enquanto quase fracassado, é um fobista na acepção pura da palavra, se excluirmos o ponto "quase completamente fracassado no caminho certo para tal objetivo".

- E qual é a acepção pura da palavra fobista?

- Taí. Não sei bem. Vou perguntar para o meu pai.

- Não foi seu pai que disse, certa feita, que o diminutivo de moto não era nem motinho nem motinha, mas motolina?

- Ele mesmo.

- Ah, então aproveita a sapiência dele e pergunta se o Christopher Lambert é muito ou pouco fobista também. Sempre tive a impressão que ele era um pouco... um pouco... então, um pouco uma palavra que eu não sabia nunca qual era. Se pans, era fobista.

- Beleza. Vou aproveitar e consultá-lo e perguntar se ojeriza é com "o" ou com "agá".

- Será que ele sabe isso também?

- Ele é praticamente um oráculo.

- Sabe tudo?

- Não. Mas o que não sabe, inventa. E ai de você se discordar. 

- Te devora?

- Não. Te tira de fobista.

- Credo! Manda só um abraço, então.

- Será mandado.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Das Coisas Saudáveis da Vida

- Se motoristas de ambulância ganhassem comissão por produtividade, certeza que eles iam atropelar pessoas de propósito só para poderem enfiar na caçamba e tirar uns trocos a mais.

- Sei não. É o mesmo que dizer que se açougueiro ganhasse comissão por fazer carne moída, eles iriam fatiar as pessoas a torto e a direito, só para ganhar mais um pouco.

- Sabe que eu estava pensando isso hoje de manhã. Até apressei o passo quando estava perto de um açougue, só por medo de ser picado.

- Hoje de manhã, não consegui pensar em nada. Entrei no banco distraidamente e tomei um susto enorme. Foi tão grande que, de tão atônito, levei umas duas horas para me recobrar.

- Foi assaltado?

- Nada. Entrei na fila do caixa automático e tals. Quando reparei nas pessoas ao redor, vi que na minha frente estava uma mulher que tinha o corpo mais disforme que já vi em uma pessoa sem que ela fosse oficialmente deformada.

- Era gorda demais? Ou magra demais?

- Difícil definir em linguagem humana. Mas vou tentar te dar uma idéia clara. Imagina um vaso.

- De quê?

- Barro. Com um pouco de argila.

- Certo.

- Pinta com tinta guache vermelha.

-  Ela era índia?

- Certeza que não. Se fosse, os índios teriam sacrificado em homenagem ao deus sol ou sem motivo religioso bem demarcado. Em resumo: a sacrificariam só para livrar a aldeia daquela feiura.

- Entendo.

- Agora, pinta com um pouco de amarelo por cima.

- Ainda com o guache?

- Não. Pode ser com gema de ovo cru.

- Tá ficando feio.

- Agora cola umas penas no vaso. Pega uma cabeça de gente, pode ser uma bem parecida com a do Abraham Lincoln, e coloca dentro do vaso.

- Éca.

- Agora, jogue água até a borda. Se a cabeça boiar, pronto. Temos uma imagem aproximada do que vi hoje.

- E se a cabeça não boiar?

- Aí todo meu esforço de descrição foi em vão. A imagem fica bem distante da mulher do banco. Uma pena.

- Mas eu acho que cabeça bóia.

- Pode imaginar isso?

- Acho que posso, peraí.

- ...

- CREDO! Que disformidade.

- Viu. E isso porque só falei de uma parte do corpo dela. Quer que descreva a parte de riba?

- Ué, e essa cabeça boiando no vaso?

- É só até a cintura. Continuo?

- Hummm. Não sei se quero.

- Bom, acho que se eu continuar, quando chegar nos ombros, você já estará cego. Daí pra cima, é perda de lucidez na certa.

- Então deixa quieto. 

- E para piorar, ela ainda demorou na máquina. Parece que não sabia bem como operar. Os outros dois caixas estavam quebrados e eu não tve alternativa a não ser esperar.

- Hummm.

- Quando ela finalmente saiu, eu estava ainda em estado de choque. Esqueci minha senha, o que ia fazer no caixa e tudo mais. 

- Perdeu seu tempo, então. E o pior: sofrendo.

- Fato. Acho que nesses 10 minutos na fila, perdi coisa de umas semanas de vida. Seria mais saudável se eu tivesse fumado um cigarro. 


terça-feira, 13 de abril de 2010

Durma com um barulho destes

- Tô com um problemão.

- Eu também. Estou com uma calça de moletom bem justa e sempre que me movo na cadeira, a costura avança pro meu saco e esmaga minhas bolas.

- Que horror.

- Pois é. É a quarta vez que seguro o grito hoje.

- Ah, então é por isso que você deu um grito agorinha.

- É. Tem uns gritos que não consigo segurar.

- Ah, tá explicado. Como você tava de fone, achei que fivesse ouvindo Michael Jackson. "Who´s bad", manja?

- Cara, você tem mesmo problema. 

- Tenho. Não te disse? Coloquei uma música para despertar no meu celular que me faz dormir, na verdade.

- Muda a música, uai. 

- Mas é uma música tão fofa, que não tenho coragem. Prefiro cochilar ao som dela e me atrasar para os compromissos do que evitá-la.

- Com medo da resposta, te pergunto. Qual é a música?

- Não sei o que Abbys, do Slayer

- E Slayer é fofo? E Canibal Corpse é o que? Sublime?

- É um pouco. Eu acho que aquela pose deles, do Slayer, é tudo fachada. Por trás dos bastidores,, eles devem afofar carneirinhos e soltar bolhinhas de sabão?

- Por trás dos bastidores ou nos bastidores?

- Olha, do jeito que eles são fofos, aposto que afofam carneirinhos nos bastidores e por trás dos bastidores.

- Falando em fofo e em questões de áudio, tive um professor de biologia que tinha uma voz doce que só. Era começar a assistir a aula e me dava um sono danado. Muito melhor dormir com a voz dele do que ouvindo Slayer. Tanto dormi que nunca aprendi nada de biologia.

- Eu aprendi um pouco, mas bem pouco.

- Aliás, ele entrava na aula, abria a boca e eu abria a minha. Mas no meu caso, para bocejar.

- Hahahaha.

- Aliás, só de pensar nele, me dá sono. Meu coração até fica meio vermelho, só de lembrar a voz.

- Vermelho? Mas coração é vermelho mesmo.

- É?

- É.

- Te falei que nunca aprendi nada de biologia.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Museus, Futebols e as ex-mulheres do Netinho reunidos

- Vai vendo como são as coisas.

- Como são?

- Esses dias, estava visitando um museu. E pedi para um cidadão bater uma foto minha.

- Ele disse que sim, você deu a máquina e ele saiu correndo, te roubando o equipamento na cara larga?

- Não, nada disso.

- Que pena, a história ficaria bem mais legal se fosse isso. E ainda te daria uma lição valiosa: nunca pedir a um cidadão com uma meia-calça na cabeça, com a camisa do Corinthians e usando calças cáqui para bater uma foto sua.

- Ô, debilóide. Posso terminar minha história? A qual, aliás, me deu uma outra lição valiosa, diga-se.

- Pode. Mas lembre-se: nunca peça a um mascarado com uma meia calça para bater uma foto sua.

- Certo. 

- Então, prossiga.

- Pois então. Aí pedi para o caboclo bater a foto e ele, amavelmente, se prontificou a fazê-lo. Até aí, tudo normal.

- Sim.

- Bateu várias fotos, até. Me entregou a máquina. Fui olhar e estava tudo muito ruim. Boa parte delas tremidas. Outro tanto, cortando minha cabeça ou minhas pernas.

- Aí você foi reclamar?

- Não, claro que não. Imagina. O cara tinha feito um favor. Achei por bem ficar quieto. Mas o problema é que ele veio perguntar se estavam ok.

- E?

- Bom, daí eu disse que sim. Que alguma tinham ficado meio estranhas, mas que não tinha problema. Aí ele justificou dizendo que era fotógrafo profissional.

- Formado pela APAE?

- Hahahaha.

- Aliás, como alguém justifica algo que fez bisonhamente dizendo ser profissional naquilo? Não seria o contrário?

- Ele disse que, como era fotográfo profissional, não poderia tirar fotos boas em horário de folga sem cobrar nada. Seria uma espécie de postura ou principio profissional.

- Que coisa mais estranha.

- Exato. Disse que se batesse fotos com maestria estaria, em momento de folga, exercendo a profissão. Que isso não seria correto e, mais, injusto com seus patrões, que pagavam para ele tirar fotos enquanto eu, com um simples pedido verbal, conseguiria seus préstimos.

- Que história mais sem pé nem cabeça. É como se eu pedisse para você pegar um papel no chão e você dissesse que não, porque é um gari profissional e não limpa nada fora do horário de trabalho.

- Exatamente.

- Ou se esticasse a mão para te comprimentar e você se recusasse, alegando que é mímico profissional e não faz gestos fora do horário de trabalho.

- Como é?

- Acho que agora exagerei.

- Tá. De qualquer maneira, peguei a máquina, agradeci o fotógrafo e resolvi ir ver outras coisas no museu.

- E acabou a história?

- Mais ou menos. Antes de sair, o fotógrafo me deu o cartão dele e disse que, precisando, estava à disposição. Daí, eu virei as costas e ele me cutucou. Voltei a ele e ele me perguntou as horas.

- E?

- E eu disse que eram 7 e meia da noite.

- E?

- Como era  dia claro ainda - para ser exato, era de manhã -, ele estranhou. E até mesmo disse: 'ué, mas não é de manhã?'. 

- Por que você mentiu?

- Disse a ele que era cuco profissional e não podia responder corretamente, já que não estava ganhando nada com aquilo. Achei que ficou tudo elas por elas, nesse caso.

- Isso me lembrou uma vez, que fui jogar bola com uns desconhecidos, em uma praia em Cuba.

- O que tem a ver?

- Então, vi uns caras jogando bola e fui perguntar se podia entrar. Disseram que sim. Era um bando de turistas iranianos, mais um punhado de guatemaltecos e eu, brasileiro.

- Sei.

- Quando me apresentei, eles logo ficaram cabreiros. Todos me queriam no time, só pelo fato de ser brasileiro.

- Já te vi jogando futebol. É patético, para dizer o mínimo. Parece muito o Curly, dos Três Patetas tentando fritar um ovo.

- Pois então, eu sei disso. Você sabe disso. Mas a turistada não sabia. Fama de brasileiro é essa aí.

- Ainda bem que você não é mulato, se não tinham de proposta casamento ali mesmo na praia.

- Pensei nisso também. De qualquer forma, foi minha melhor partida. 

- Fez gol e tudo mais?

- Nada. Aos 4 minutos de jogos, eu já tinha apanhado mais do que ex-mulher do Netinho de Paula. Um inferno mesmo. 

- E como jogou tão bem?

- Só apanhei. O pessoal não me deixava dominar a bola e já vinha passando o rodo. No final das contas, sai mancando, todo roxo e sem encostar na bola. E ainda assim, todo mundo veio me dar os parabéns. Ah, a fama dos brasileiros é mesmo uma coisa ímpar. 

- E você ficou feliz em apanhar?

- Claro. Se me deixam dominar uma bola, percebem que tenho dois pés esquerdos e a coordenação de uma maria mole dotada de vida. Como não deixaram, não fiz papelão. E, no dia seguinte, ainda brigaram para me por no time. 

- Você jogou dois dias seguidos?

- Não, claro que não. Quis parar no auge. E parei.