quinta-feira, 15 de abril de 2010

Das Coisas Saudáveis da Vida

- Se motoristas de ambulância ganhassem comissão por produtividade, certeza que eles iam atropelar pessoas de propósito só para poderem enfiar na caçamba e tirar uns trocos a mais.

- Sei não. É o mesmo que dizer que se açougueiro ganhasse comissão por fazer carne moída, eles iriam fatiar as pessoas a torto e a direito, só para ganhar mais um pouco.

- Sabe que eu estava pensando isso hoje de manhã. Até apressei o passo quando estava perto de um açougue, só por medo de ser picado.

- Hoje de manhã, não consegui pensar em nada. Entrei no banco distraidamente e tomei um susto enorme. Foi tão grande que, de tão atônito, levei umas duas horas para me recobrar.

- Foi assaltado?

- Nada. Entrei na fila do caixa automático e tals. Quando reparei nas pessoas ao redor, vi que na minha frente estava uma mulher que tinha o corpo mais disforme que já vi em uma pessoa sem que ela fosse oficialmente deformada.

- Era gorda demais? Ou magra demais?

- Difícil definir em linguagem humana. Mas vou tentar te dar uma idéia clara. Imagina um vaso.

- De quê?

- Barro. Com um pouco de argila.

- Certo.

- Pinta com tinta guache vermelha.

-  Ela era índia?

- Certeza que não. Se fosse, os índios teriam sacrificado em homenagem ao deus sol ou sem motivo religioso bem demarcado. Em resumo: a sacrificariam só para livrar a aldeia daquela feiura.

- Entendo.

- Agora, pinta com um pouco de amarelo por cima.

- Ainda com o guache?

- Não. Pode ser com gema de ovo cru.

- Tá ficando feio.

- Agora cola umas penas no vaso. Pega uma cabeça de gente, pode ser uma bem parecida com a do Abraham Lincoln, e coloca dentro do vaso.

- Éca.

- Agora, jogue água até a borda. Se a cabeça boiar, pronto. Temos uma imagem aproximada do que vi hoje.

- E se a cabeça não boiar?

- Aí todo meu esforço de descrição foi em vão. A imagem fica bem distante da mulher do banco. Uma pena.

- Mas eu acho que cabeça bóia.

- Pode imaginar isso?

- Acho que posso, peraí.

- ...

- CREDO! Que disformidade.

- Viu. E isso porque só falei de uma parte do corpo dela. Quer que descreva a parte de riba?

- Ué, e essa cabeça boiando no vaso?

- É só até a cintura. Continuo?

- Hummm. Não sei se quero.

- Bom, acho que se eu continuar, quando chegar nos ombros, você já estará cego. Daí pra cima, é perda de lucidez na certa.

- Então deixa quieto. 

- E para piorar, ela ainda demorou na máquina. Parece que não sabia bem como operar. Os outros dois caixas estavam quebrados e eu não tve alternativa a não ser esperar.

- Hummm.

- Quando ela finalmente saiu, eu estava ainda em estado de choque. Esqueci minha senha, o que ia fazer no caixa e tudo mais. 

- Perdeu seu tempo, então. E o pior: sofrendo.

- Fato. Acho que nesses 10 minutos na fila, perdi coisa de umas semanas de vida. Seria mais saudável se eu tivesse fumado um cigarro. 


Um comentário:

Rafael P disse...

huahuahauahua
Cara, sensacional!
Deu vontade de fumar....