segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Restaurante A Chama Mexicana

- Eu acho que as coisas degringolaram quando pintou uma bicha véia de cuecas dançando moonwalk e nós resolvemos beber uma tequila com ele.

- Bicha véia de cuecas? Isso não é lá muito politicamente correto. O ideal seria homossexual ancião de trajes íntimos. 

- Que seja. Mas foi nessa hora que a coisa saiu do controle.

- Que coisa? Aliás, onde pintou essa bicha véia de cuecas?

- Em um restaurante mexicano de raiz que me enfiei na sexta-feira. Mas as coisas já estavam levemente esquisitas antes.

- Por quê? 

- Ah, a marguerita tinha gosto de farofa. A farofa tinha gosto de feijão. E a tequila tinha gosto de baba de bicha véia.

- Da bicha véia?

- De bicha véia. Atente-se à preposição sem contração com o artigo. É importante.

- Que confusão de sabores, não? 

- Muito, muito confuso mesmo. Mas, pelo menos, a comida era boa.

- A cozinheira é mexicana?

- Pelo que ela nos contou, nunca passou da divisa entre São Bernardo e Diadema. Aparentemente, ela resolveu montar o restaurante depois de uma bebedeira envolvendo muita tequila e alguma pimenta.

- Esse tipo de resolução não poderia resultar em algo bom.

- Quem disse que é ruim? Eu achei muito bom o restaurante. O problema mesmo aconteceu após bebermos uma tequila especial com a bicha véia. As coisas degringolaram.

- Degringolaram como? 

- Sabe o lance da baba de bicha véia?

- Sei.

- Acrescente um artigo definido feminino à preposição que vem antes de "bicha véia". 

- Argh.

- Também acho. Mas na hora me pareceu uma boa idéia.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

A Orelha de Deus

- Como você imagina que seja Deus?

- Incolor, insípido e inodoro.

- Para você, Deus é como a água?

- Ah, é mesmo. Confundi com a água. Imagino Deus onipresente, onisciente e onipotente.

- Eu reclamaria que você está ficando muito "lugar comum", se eu estivesse falando das características psicológicas. Mas eu estou falando fisicamente. Como você O imagina fisicamente.

- Barbudo, cabelo liso, olhos azuis penetrantes. Traja-se com um manto e está sempre cercado de 12 correligionários.

- Apóstolos.

- Isso. Cercado de 13 apóstolos.

- 12.

- Que seja: 12 apóstolos. 

- Você imagina Deus igual Jesus?

- Deus e Jesus não é a mesma coisa?

- Não. Jesus é filho de Deus, assim como nós. A diferença é que ele fazia umas mágicas aí, como transformar água em vinho, se saía melhor em umas gincanas, como correr bem rápido sobre a água, e pans. Era mais bonzinho que a gente também.

- Deus então é o pai dele? É o Todo-Poderoso, que está acima de todo mundo e, inclusive, tem patente maior que a de Jesus?

- Isso.

- Bom, nesse caso, eu imagino uma orelha gigante, com uns 7 pierciengs espalhados por ela. No lóbulo da orelha, ou melhor, no lóbulo de Deus, há um desenho de um rosto muito parecido com o do Vagabundo, do Charles Chaplin, feito de canetinha preta, sorrindo. Tem um pouco de cera saindo do canal de Deus, mas não se sabe de onde vem, já que Deus é somente a orelha, e não há uma cabeça por trás. Essa orelha gigante, do tamanho do Maracanã, fica sentada em um trono também bem grande, do tamanho do Pacaembu. E, se Deus tivesse mão, seguraria um cajado do tamanho do Mineirão. Mas como não Ele tem, esse cajado gigante fica recostado sobre o trono-Pacaembu. Essa é a forma que eu imagino de Deus. E você?

- Eu penso em algo próximo à Nana Gouveia. Mas de barba branca, cajado e com um maiô em vez de um fiapo de biquíni.

- Credo! Como você é doente!

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Mengele é do PDT

- Temo pela minha sanidade.

- Só agora? Eu me preocupo com ela desde que você se filiou ao PFL.

- Eu só me filiei ao PFL porque abriu um diretório do partido na frente da minha casa. E você sabe que eu sou um homem prático. De qualquer forma, me arrependi.

- Ainda bem.

- Mas só porque dois meses depois o PFL virou DEM e eu tive que perder tempo e dinheiro fazendo outra carteirinha de correligionário. Bando de ratos!

- Essa idéia de se filiar a um partido só porque há um diretório próximo à sua casa não faz o menor sentido.

- Tá vendo essa tatuagem? Eu fiz em uma ocasião em que, na frente do meu trabalho, havia um tatuador.

- Por essa lógica, se abrir uma clínica de aborto em frente ao seu trabalho ou à sua casa, você aborta. Correto?

- Claro que não.

- Ufa!

- Primeiro teriam de abrir uma clínica de mudança de sexo próxima à minha casa e ou ao trabalho.

- E ou.

- Isso. Depois, deveriam abrir uma clínica de inseminação artificial experimental em transsexuais, o que seria o meu caso. E depois disso tudo, contando com o sucesso da minha gravidez bizarra, finalmente eu abortaria. Acho muito difícil tudo isso acontecer e ainda mais nessa sequência. Mas, se ocorrer, corro mesmo para a clínica de aborto e entro na faca.

- Depois dessa explanação sem pé nem cabeça, eu acho que nem deveria perguntar, mas o farei. Por que você disse que teme pela sua sanidade?

- Desde ontem, ouço uma voz na minha cabeça. Isso está me preocupando.

- O que ela diz? "Não confie neles! São todos traidores! Mate-os! Use a faca de manteiga!"?

-"Se fosse o Mengele?".

- Ela diz "se você fosse o Mengele?"?

- É uma pergunta. Ela diz, a cada 45 minutos, mais ou menos, "e se o Mengele?".

- Se VOCÊ fosse o Mengele?

- Se eu, não. Se fosse o Mengele. Só isso.

- Se fosse o Mengele o que?

- Bom, ela fica repetindo "E se fosse o Mengele? E se fosse o Mengele?".

- O que isso quer dizer?

- Bom, a primeira vez que a voz apareceu, disse mais ou menos o seguinte.

- Mais ou menos?

- Mais ou menos, porque eu tava distraído e só comecei a prestar atenção depois que ouvi o nome Mengele. Ela disse assim: "se você estivesse com dor nos rins, fosse se consultar, descobrisse que seria necessária uma operação, marcasse a operação e, assim que estivesse na mesa de operação, percebesse que o cirurgião era, na verdade, o Mengele. O que você faria, se fosse o Mengele?"

- E desde então, ela só repete "e se fosse o Mengele?"?

- Isso. 

- Bom, responde logo, vai que ela só quer tirar essa dúvida e ir embora.

- Pois é. Mas eu não respondo porque estou com algumas dúvidas. 

- Que dúvidas?

- A operação seria pelo convênio, particular ou SUS? 

- Faz diferença?

- Faz. Se for convênio, eu não faço nada, porque iria dar muita dor de cabeça brigar com eles. Se for particular, eu queria saber quanto estou gastando e analisar o custo benefício de sair de uma operação de rim com oito rins ou com um gêmeo colado na parte de trás do meu corpo. Mas como seria algo curioso, eu acabaria aceitando. Se for SUS, eu aceito e depois processo o Estado.

-Então, de qualquer forma, você não faria nada. Pode responder isso.

- É mesmo! Ah, mas tenho outro dúvida. Queria saber com a tal voz como, sedado e sem nunca ter visto uma foto do Mengele na vida, reconheceria o médico. E mais: ele deveria estar de máscara, não? Acho que não teria como reconhecer.

-Ah, isso nem precisa da voz misteriosa para te explicar. Eu respondo. Você o reconheceria pelos olhos.

- É?

- É. Todo cirurgião nazista tem os olhos de cigana oblíqüa e dissimulada. Bastaria olhar para ele e saber.

- Bom, sendo assim, eu digo que, se fosse o Mengele, eu não faria nada. Pronto, respondi. Acho que agora ela me deixa em paz. Aliás, já vai dar 45 minutos da última vez que ela falou. Vamos ver se ela sumiu.

- Certo. Me diga se ouvir algo.

- ...

- Ouviu?

- ...

- E?

- Droga. 

- O que foi?

- Agora ela disse "e se fosse o Roger Abdelmassih?"

- Como cirugião?

- É.

- Xiiii. Agora, danou-se.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Vazadinha do Mês

- Pele humana é impermeável?

- É. Ou quando você toma chuva você fica cheio de água?

- Não, não fico. Mas não sabia que era a pele que protegia. Achei que pudesse ser uma camada protetora que fica embaixo da pele. Ou, talvez, que o sangue fosse impermeável, sei lá.

- Como o sangue seria impermeável, sendo que ele é molhado? É o mesmo que você dizer que a água é impermeável. Não funciona. 

- A água é permeável?

- A água é o diabo do agente permeabilizante. 

- Bom, mas de qualquer forma, a pele é impermeável, certo?

- Certo.

- Por que será que nunca usaram pele para fazer guarda-chuva?

- Olha, acho que o Leatherface começou com esse tipo de ponderação e quando viu estava fazendo sofá e abajour com pele humana.

- Mas é sério, pensa bem. E não é só guarda-chuvas que daria para fazer com pele. Como trata-se de um tecido resistente, acho que daria para fazer cinto de segurança e até mesmo corda para rebocar pequenos automóveis. É uma espécie de tecido tudo em um, serve para proteger da chuva, para rebocar carros e para garantir a segurança de pessoas dentro de carros.

- Não sei não, mas acho que o pessoal do Greempeace iria chiar com a sua idéia.

- Ia nada. Se eu estivesse falando de pele de mico leão dourado ou de jacaré de papo amarelo, aí sim, eles implicariam. Mas estou falando de pele de gente. E todo mundo sabe que, para gente, eles estão cagando e andando.

- Cagando, recolhendo as fezes em saquinhos biodegradáveis e andando, eu diria.

- Isso se estivéssemos falando de micos leões e de lobos guarás. Para pessoas, eles cagam e andam mesmo. Olha só, outra vantagem de usar pele humana para várias coisas: limpa fácil. Se cair vinho no seu sofá de pele de gente, basta usar um sabonete qualquer, tipo Palmolive. Graxa? Sabão. Tinta? Sabão. 

- Queimou? Pasta de dente.

- Dizem que isso é lenda urbana. Que pasta de dente não funciona para queimaduras. Acho que, em caso de queimadura no seu guarda-chuvas de pele ou no seu sofá, só tem uma saída.

- Qual?

- Panela.

- Como?

- Aproveita que queimou e frita. Vira uma bela de uma torresmada humana. Dá para servir as visitas.

- Que vão ter que comer em pé, né? Porque o sofá foi para o saco.

- Ah, mas tem as cadeiras da cozinha. Aliás, osso é bem resistente, né?

- É. Se você não for aquele coitado daquele filme do Shamalayan

- Daria para criar umas cadeiras de osso. Cara, eu acho que esse nicho inexplorado pode me deixar rico. 

- Daqui a pouco você vai falar que cabelo humano vira tapete, que os olhos podem virar bolinhas de gude para as crianças e que os dentes, colocados em um aparato propício, virariam ótimos moedores de carne.

- Credo! Eu não iria tão longe. Mas acho que pele tatuada seria mais cara. A completamente lisa também teria mais valor de revenda. Pele de segunda mão, cheia de marca de espinha ou com pé de galinha, estria e rugas seria mais barata. Agora, a dúvida, onde eu compraria pele?

- Olha, acho que você teria que roubar em necrotérios ou em cemitérios. 

- Ah, é? Mas eu tenho medo de morto. Queria comprar a pele de algum vivo. Não rola?

- Ao que me consta, não dá para viver sem pele. E, se dá para viver, não dá para viver muito bem.

- Eu achava que eu ofereceria uma grana e a pessoa me daria a pele. Não tinha realmente pensado no operacional. Nesse caso, acho que não vai rolar.

- Não. A não ser que você queira pegar umas peles na marra, com uma motossera ou coisa assim.

- Não, não. Odeio violência. Vou ter que pensar em algo para substituir pele humana. E se eu pegar pele de algum bicho?

- Problemas com o Greenpeace.

- E se eu pegar pele de algum bicho e disser que é de gente?

- Você pega a pele de um sapo e diz que pegou do Hulk?

- Será que cola?

- Tanto trabalho... Por que você não aposta em algo mais tradicional?

- Prostitutas de luxo, escravas brancas, armamento pesado e drogas sintéticas?

- Isso, algo assim.

- Vou pensar a respeito. 

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Gona Dragusha

- Pode parecer mentira, mas hoje de manhã eu calcei meu tênis do avesso.

- Olha, não é que pareça mentira. Parece impossível. Você está falando desse All Star aí?

- Isso. Quando me vestia para vir para cá, sem perceber, coloquei os dois pés nos tênis e só então percebi que estavam do avesso.

- Então, como eu disse, não é que pareça mentira: é impossível deixar esse tênis do avesso. 

- Por quê?

- Porque você teria que pegar essa parte de pano aí e virá-la para baixo, passando a sola. Mas como a ponta dele não é aberta, não dá para virar tudo. Isso impossibilita que o tênis fique do avesso e, por conseguinte, que você o calce.

- Ah, mas eu não fiz nada disso. O fato é que eu coloquei o pé direito do tênis no meu pé esquerdo e o pé esquerdo do tênis no meu pé direito. Isso não é usá-lo do avesso?

- Não. Acho que isso é usar o tênis nos pés trocados. 

- Quando você usa uma roupa do lado errado, não a usa do avesso? 

- Sim.

- E o fato de eu usar o tênis do lado errado não o torna do avesso?

- Ah, não sei. Que assunto mais besta. Vamos falar sobre algo mais... mais... mais Gona Dragusha. O que acha?

- Mais o que?

- Gona Dragusha.

- Que diabo é isso?

- É a Miss Kosovo, que ficou em terceiro lugar ontem no Miss Universo. Injustamente, diga-se.

- Teve Miss Universo ontem?

- Teve.

- Droga! Perdi! É o programa que eu mais espero no ano. 

- Mas não fique triste, foi injusto. Deram o prêmio para a Venezuelana, mas quem merecia ganhar era a Gona. Disparado, a mulher mais bonita do concurso e a terceira mais bonita do mundo, perdendo somente para a Amelia Vega e para a Negra Li.

- Irônico, não?

- O quê?

- Que a mulher mais bonita do mundo tenha o nome mais feio do mundo. Se me falassem que eu estava prometido para uma tal de Gona Dragusha, acho que eu me jogaria de uma janela tanto o medo. Eu não esperaria menos do que um dragão guspindo fogo e com oito joelhos em cada perna e muitas escamas na corcunda com esse nome.

- Prometido? Janela? Dragão? Do que você está falando?

- De nada. Mas então, foi boa a transmissão? A Adalgisa Colombo estava comentando novamente? Ela era meio boa antigamente. Agora, parece um pouco um dragão de Komodo fazendo biquinho.

- Sim, ela estava comentando. E, pra variar, estava metendo o pau em todo mundo. Já a Renata Fan, como já é tradicional, falava menos besteira do que quando o assunto é esporte, mas também estava mandando mal. E tinha também uma outra miss Brasil lá, de outros anos, que ou tem um olho de vidro ou é cega de um olho e abre muito o outro para enxegar a câmera na hora que vai falar.

- Nossa, então a transmissão estava excelente.

- Estava. E mais: entre os jurados, estavam aquele ator decadente que fazia o Superman em Louis and Clark e a legista do Law and Order - Special Victms Unit.

- O que esse povo entende de Miss?

- E precisa entender? É só olhar, achar bonita, esperar que elas respondam que o livro preferido é o Pequeno Príncipe e que o sonho delas é a Paz mundial e pronto. A que fizer isso mais rápido, leva o prêmio.

- A Miss Kosovo fez isso?

- Sei lá. Ela ficou lá falando em kosovita e não entendi patavina. Nem com a tradutora explicando o que ela falava. Para a falar a verdade, não entendi patavina do que as cinco finalistas falavam. As perguntas foram bem elaboradas e as respostas delas, muito profundas. Simplesmente, não me concentrei dado o nível intelectual que elas empreenderam ao dar as respostas ao jurados.

- Tá, tá. Ficou olhando para os peitos delas durante as respostas, né?

- É.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Hitler e Rebecca

- Se você pudesse levar qualquer pessoa do mundo para uma ilha deserta, quem seria?

- Hitler.

- Como?

- Hitler.

- Eita. Por que?

- É para embasar?

- É.

- Ah, então eu mudo. Quero levar a Rebecca Romijn. E já digo o porquê.

- Nem precisa. Basta olhar para ela e fica fácil entender. Mas eu queria saber porque você disse que levaria o Hitler anteriormente.

- Ah, eu falei o primeiro nome que me veio à mente. 

- E o nome foi justamente o de Adolf Hitler?

- Foi. É que eu estava pensando naquela questão debatida há anos. 

- Que é?

- Se você pudesse voltar no tempo, antes do Hitler se engajar na política, você o mataria ou deixaria ele ir em frente, já que, até então, ele era inocente?

- Questão difícil. Eu acho que a primeira coisa que faria, se pudesse, era fazer o bigode dele. Aquele negócio me irrita.

- Então, eu estava pensando nessa questão e acho que nem mataria nem deixaria ele seguir em frente na política.

- E o que você faria? Aprenderia bruxaria e o transformaria em uma galinha?

- Não. Acho que eu o sequestraria e o traria ao Brasil. Daí apresentaria umas mulatas a ele, daria umas caipirinhas ao cidadão, mostrava uns filmes da Brasileirinhas e pronto. Aposto que ele ia esquecer esse negócio de guerra, raça ariana e o diabo. Se pans, até conseguiria algum trocado pintando e vendendo seus quadros.

- Olha, mas eu acho que o Brasil de 1930 era muito diferente do Brasil de hoje. Não deviam ter pessoas seminuas nas ruas, nem Brasileirinhas e a permissividade sexual era bem menor.

- Ah, mas eu o sequestraria, viajaria no tempo para os dias atuais e beleza.

- Como você faria isso?

- Ué. Se eu voltei no tempo, dou um jeito de avançar. Acho que não tem grande segredo.

- Tá. Mas e se você não conseguisse avaçar no tempo, o mataria ou deixaria quieto.

- Ah, nesse caso, sei lá. Acho que o levaria a alguma ilha deserta. E pronto.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Pecu, pemá?

— Pevô, Pecê, Pepó, Pedê, Pemê, Pepá, Pessar, Peô, Pesal?
— Caramba, a língua do Pê. Há quanto tempo que eu não ouvia alguém falar assim...
— Gulp
— Fala mais, vamos ver se eu entendo.
— Porra, eu tava engasgado. Não percebeu, não? E você nem pra ajudar.
— Sério? Mas parecia muito que você estava me pedindo pra passar o sal na língua do Pê.
— Pevai, Peprá, Pepu, Petá, Pequê, Pepá, Periu. Ai, ai, ai, seu idiota, o que você está fazendo?
— Batendo nas suas costas pra você desengasgar.
— Mas agora eu tava mesmo falando na língua do Pê.
— Vou fingir que não entendi essa última e te passar o sal de uma vez.
— Obrigado.
— Você não tava engasgado porra nenhuma, né?
— Pejá, pemais, pesá, pebê, perás.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Tirinha

- Acabo de fazer uma tirinha.

- Cadê?

- Tá meio errada, mas tá valendo. 

- Cadê, porra?

- Aqui.

- Hahaha. Boa. Também fiz uma.

- Quidê?

- Aqui.

Honestidade e Barbudices

- Não que eu duvide da idoneidade do Rogério Ceni, mas não te parece muito estranho ele "se machucar" quando a bambizada tá mal, às vesperas de tomar um coro do Timão quatro meses atrás, e voltar a jogar quando, surpreendemente, a travecada do Morumbi está bem?

- Olha, falando assim, até que me parece coisa bem arquitetada. Mas como não quero pensar mal do rapaz, e nem ser processado por calúnia e difamação, eu diria que, como Zagallo, "aí sim, fomos surpreendidos novamente".

- Aliás, falando em futebol, o novo Messi tá chegando no Timão. Aí, sim, hein!?

- Pois é. Só acho que para o time ficar completo para o ano que vem, na Libertadores, vai faltar um caboclo com o cabelo bem bacana. Na história do Corinthians, nas maiores glórias, sempre tivemos um cabeludo de respeito no elenco. Em 76, Ruço. 77, Luciano Qualhada. Anos 80, Biro-Biro. 

- Em 98, 99 e 2001, não tínhamos ninguém com cabeleira.

- Mas tínhamos o Vampeta, que vale mais do que mil cabeleiras. O corte Samurai, diga-se, vale mais do que qualquer outra coisa fanfarrã feita no futebol. Inventar o apelido bambi e rolar ébrio na rampa do Palácio do Planalto, idem. 

- O legal é que "corte Samurai" parece nome de jogada de efeito, em que o jogador dá um corte na bola e deixa uns três no chão. Mas, vindo do Vampeta, só podia ser um corte de cabelo mesmo. 

- Fato.

- Bom, mas e em 2005, quem era o cabeleira?

- Tínhamos o Cazalberto Nega Maluca, vulgo Carlos Alberto. 

- E quem poderíamos trazer para o ano que vem?

- Valderrama ainda está na ativa?

- Acho que só entra em campo para realizar sua décima sétima despedida dos gramados. 

- Então teríamos de realizar uma transação milionária e trazer o Ortigoza. Do palmeiras mesmo.

- Sou a favor. Mas se não rolar, uma peruca no Dentinho resolveria. Ia até ficar legal.

- Acho que iria atrapalhar a aerodinâmica dele. Se um cabeludo de verdade pode ter problemas de finalização de cabeça, conforme já provou por A + B o João Saldanha, imagina um falso cabeludo.

- Uma coisa que já reaprei, falando em pêlos, é que jogadores de barba nunca são muito bons. 

- E o Hugo de Leon?

- Cavalo.

- E o Trifon Ivanoff?

- Exceção de confirma a regra.

- E Jesus Cristo?

- O Nazareno?

- É.

- Ele era jogador nas horas vagas. De profissão, era Messias. Não conta.

- Falando em barba, tenho uma questão. Por que pessoas dizem que vão "fazer a barba" quando, na verdade, vão apará-la. Elas, na verdade na verdade, não vão fazê-la, mas desfazê-la. Como a língua portuguesa é irônica, não?

- Eu acho isso também. Esses dias eu vi um lava-rápido chamado Sebosos. Irônico, não?

- Bom, aí a ironia não é da língua portuguesa, mas o problema é a burrice do dono do lava-rápido. 

- Ou honestidade demais, caso esse lava-rápido seja bem ruim ou ele use banha de porco para lustrar os automóveis.

- Água e sabão são bem mais baratos. Logo, defendo a burrice.

- Mas ele pode ter uma criação de porcos no quintal. Logo, defendo honestidade demais.

- Por que ter uma criação de porcos no quintal? Isso para mim é burrice.

- Se ele herdou e está sobrando banha a tal ponto dele querer lavar carros com ela, é honestidade.

- E falta de educação.

- Por que?

- Honestidade demais é falta de educação.

- Eu não acho.

- Seu bigode é ridículo. Só é menos ridículo que o da sua namorada.

- Hey, que falta de educação.

- Honestidade, meu caro. 

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

São Cosme Daminhão Experiença

- De todos os santos, morro de pena do Damião.

- Não conheço esse São Damião.

- Conhece sim. É aquele que faz dupla com o Cosme.

- Ah, São Cosme e Damião. Sozinho, ele não faz muito sentido. É como o Luciano, quando citado isoladamente ao Zezé di Camargo. 

- Pois é, este é um dos motivos por que tenho dó do Damião. Tem gente que acha, inclusive, que São Cosme e Damião é um santo só. Que São Cosme Damião é nome e sobrenome.

- Quem pensaria tamanha bobagem?

- Eu pensava até ontem. Daí, fui pesquisar. E, pesquisando, fiquei com bastante dó do Damião. E com um pouco menos, mas bastante também, dó do Cosme.

- Por quê?

- Bom, ambos eram gêmeos, o que, por si só, poderia causar um problemão na cabeça deles

- Entendo.

- Mas o que pega é o lance dos doces e das balas. 

- O que tem? Há algum problema de, no dia deles, as pessoas distribuírem doces e balas para crianças?

- Eles são de tempos antigos, não são?

- Acredito que sim.

- E, como todos os santos antigos, ambos usavam saia, togas, vestidos e cabelos grandes e enrolados, não?

- Imagino que sim. 

- Muito estranhos, portanto.

- Assim como toda imagem de santo que se preze.

- Imagine o diabo que ambos não passavam quando tentavam entregar doces para as crianças, sendo que as mães vivem dizendo "não aceite doce de estranhos, meu filho."

- Ai. 

- Se bobear, até morreram de desgosto, por não conseguir entregar chicletes para os meninos da vizinhança. 

- Nem sei se havia chicletes nesse tempo. Ou mesmo balas.

- Então morreram de velhice esperando criarem as balas e chicletes para distribuir. E, mais, graças a Deus não foram criadas balas e chicletes enquanto viviam, se não iam morrer de desgosto porque, ao tentarem distribuir, as crianças não aceitariam. 

- Essa lógica está um pouco deturpada. Se eles nem sabiam que balas ou chicletes iriam existir, como eles morreram esperando? 

- Eles são santos, não?

- Sim.

- Que eu saiba, santo tem poder, como transformar água em vinho ou prever o futuro. Aposto que um deles previu as balas e doces, avisou o irmão e ambos ficaram esperando.

- Mas se um deles era vidente, ele nao previu que morreria esperando as balas?

- Acho que o alcance da visão dele era limitado por uso. Talvez só pudesse recorrer a uma visão futurista a cada 20 anos. Aí viu as balas e os chicletes e não conseguiu ver que morreria esperando.

- É uma merda ter vidência limitada, né?

- É. Imagina, por exemplo, você ver os números que vão sair na megasena mas não saber em qual sorteio eles sairão? Você fica refém da visão, jogando toda semana, mas não sabendo se vai sair logo mais ou depois que você morrer.

- É. É o mesmo que não saber, no final das contas. Se eu pudesse escolher uma visão, qualquer que fosse, eu queria ver como o mundo vai acabar.

- Que apocalíptico, você.

- Não, não quero que o mundo acabe. Mas queria saber como acaba, só para ver se ele acaba em barranco. 

- Eu nunca entendi bem essa expressão. "Quer que o mundo acabe em barranco para morrer encostado". O que isso quer dizer?

- Eu também não sei. Por isso queria ver o fim do mundo. Daí, se acabar em barranco, descubro o que o diabo dessa expressão quer dizer.

- Mas se você não sabe o que quer dizer, como iria reconhecer o mundo acabando em barranco?

- Acho que eu iria por eleminição. Se eu visse um meteoro caindo na Terra, eu acho que o mundo acabaria de meteorose, e não em barranco. Se eu enxergasse um Dálmata gigante engolindo o planeta, saberia que a Terra iria acabar em dálmata faminto. Se houvesse chuvas de Kombi, saberia que o mundo termina em uma grande kombizada, que será iniciada em Osasco. 

- Entendo.

- Logo, eu acho que consigo visualizar todas as formas possíveis de fim do mundo. Menos ele acabando em barranco. Assim, se eu vir algo que não consigo identificar, saberei o que é o mundo acabando em barranco.

- É fato. E, na dúvida, você me procura nessa visão. Se eu estiver encostado, é sinal que o mundo realmente acaba em barranco. Eu sempre quis que o mundo acabasse em barranco para morrer encostado. Mesmo que, obviamente, eu não saiba o que significa nem onde devo me escorar. 

- E como você vai saber a hora de se encostar, se nem sabe como o mundo termina em barranco?

- Você vai ter a visão e vai me falar como é. Daí, na hora que o mundo estiver indo mesmo para o beleléu, me encosto.

- Mas eu não disse que vou ter a visão. Disse que gostaria.

- Ah, então por via das dúvidas, já vou me dedicar ao escoramento em qualquer coisa, várias vezes por dia. Se o mundo acabar, já estarei preparado.

- Rapaz, você é mesmo um especialista na arte de sedentariar, não?

- Pois é. Tem que sedentariar sedentariando. Sabe como faz?

- Não faço idéia. Mas aposto que você não vai me contar, né?

- Eu te conto assim que você me disser como termina o mundo. 

- Isso quer dizer que você não vai me contar, porque eu não sei como vai terminar o mundo.

- ...

- Ou vai?

- ...

- Hein?

- ...

- Você já tá sedentariando?

- ...

- Eita! Não encosta em mim.

- ...

- Não apóia...

- ...

- Cacete, como você pesa.

- Anos e anos de sedentarismo. 


quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Ontem, BO. Hoje, Poupatempo.

- Demorou no Poupatempo, hein!?

- As coisas saíram do controle. Mas dessa vez a culpa não foi minha.

- Peraí, deixa eu pegar um café e sentar antes de você contar. 

- Pega um pra mim. Sem açúcar. Quero tirar o gosto de crack da boca.

- Crack? Bom, pega. Conte-me.

- Eu odeio gente que vai a filas com idosos e crianças só para poder passar na frente.

- Ah, eu também. Como se os idosos não pudessem ficar sozinhos ou trancados em casa. Se chegaram a tal idade avançada, é porque sabem se cuidar muito bem. Ou, na pior das hipóteses, sabem se cuidar mal, mas dá para o gasto e sobrevivem.

- É o que acho. Quanto às crianças de colo, até minho avó sabe que o ideal seria trancá-las no carro, dormindo, enquanto os pais vão ao banco e demais serviços burocráticos.

- Exato. E, obviamente, se elas não quiserem dormir, basta dar um pouco de sonífero ou mandar cheirarem éter. É tiro e queda.

- Claro que elas poderiam morrer dentro do carro.

- Que tipo de pai deixaria uma criança morrer enquanto está na fila do Poupatempo? Por Deus! Se essa pessoa preferir a fila ao filho, merece... merece... sei lá, merece ficar em último na fila para sempre. No mínimo. 

- Não entendi a lógica.

- Não importa. Me diga, quando foi que as coisas saíram do controle?

- Bom, entrei no Poupatempo e a fila para fazer a nova identidade estava enorme.

- O RG, você quer dizer?

- Que seja. O fato é que, com pressa, eu tive uma idéia que considerei brilhante. Sai do Poupatempo e fui procurar alguém que me ajudasse a furar fila. 

- Você foi procurar um idoso de aluguel?

- Isso. Mas como é um serviço qualificado e tem de ser agendado com antecedência, resolvi me virar com o que tinha nas mãos. No caso, com um mendigo que aparentava ter uns 60 anos, deitado na calçada, na esquina do Poupatempo.

- E ele topou?

- Eu ofereci R$ 5 para ele me fazer companhia na fila. Ele aceitou e esticou o braço. Nem se levantou. Eu devia ter desconfiado, mas fui inocente. Depois que dei os R$ 5, ele botou no bolso do paletó, se virou para o outro lado e continuou dormindo. 

- Obviamente, você não deixou barato.

- Não. Tentei levantá-lo à força, mas foi inútil. Para um mendigo idoso, ele estava muito bem alimentado. Acho que o que mais pesava mesmo era a hérnia que saía pela calça puída. Quando desisti de levantá-lo, resolvi, pelo menos, reaver minha grana.

- Você assaltou um mendigo?

- Não, claro que não. O contrato era de prestação de serviço, o qual ele não prestou. A não ser que ele ache que eu paguei R$ 5 para ele mudar de posição na calçada e continuar dormindo. 

- Sei.

- Bom, aí me abaixei e comecei a fuçar no bolso dele. Nessa hora, apareceu uma senhora histérica que gritava "tão assaltando um mendigo!" e coisas assim.

- E você apagou a velha?

- Hahahaha. Nem pensei nisso. Sai correndo antes que a multidão se juntasse. Eu e os R$ 10 que peguei do bolso do mendigo.

- Não eram R$ 5?

- Eu enfiei a mão no bolso dele e saiu uma nota de R$ 10. Achei de bom grado e me mandei.

- Você realmente roubou um mendigo.

- Eu considero que fui ressarcido pelo serviço não prestado pelo imprestável. 

- Pois bem, prossiga.

- Daí eu corri, corri e corri. Fiquei dentro de uma lixeira hospitalar por horas. Quando achei que já era seguro o suficiente voltar ao Poupatempo, resolvi sair.

- Sei.

- Daí qual não é a minha surpresa quando saio da lixeira e dou de cara com um menor de rua. Bem definhado, muito mesmo. Parecia que tinha uns 3 ou 4 anos, embora eu tenha ficado sabendo que ele tem, na verdade, 15. Daí tive outra ideia que considerei brilhante.

- Pagar o garoto para se passar por seu filho. Correto?

- Primeiro eu nã0 queria pagar, mas ele bateu o pé. Fechamos o negócio por duas pedras de crack, que ele me indicou onde eu poderia comprar. 

- E é por isso que você tá com gosto de crack na boca? 

- Não estou mais. Esse café horrível apagou o gosto. De toda forma, eu só fumei o crack, e pouco, horas depois, no banheiro da delegacia, para me acalmar.

- Que eu saiba, crack não acalma.

- Não importa. O fato é que o moleque topou e logo depois eu entrava no Poupatempo com o garoto no meu colo. Peguei a fila preferencial para fazer a identidade. Estou lá, tranquilo, quando a mesma senhora que deu o alerta do mendigo grita, duas pessoas na minha frente, "mas que moleque fedorento! você não dá banho no seu filho, não".

- Imagino que ele estava cheirando melhor do que você, que dormiu em uma lixeira.

- Não sei quem fedia mais. Mas não me segurei. Comecei a bater boca com a velha. Não admito que falem assim do meu filho.

- Ele não era seu filho.

- Eu sei. Você sabe. A velha não sabia.

- Seu instinto materno é levado aos últimos limites, hein.

- Pois é. Sei que coloquei o moleque no chão e avancei pra velha, gritando. Ela me reconheceu do caso do mendigo e começou a me chamar de ladrão de sem teto. E a me dar guarda-chuvadas. Eu a chamei de todos os palavrões que lembrei até a letra O. Daí chegou a turma do deixa disso e a coisa foi se acalmando. 

- E a sua vez não chegava nunca nessa fila?

- Para você ver como demora o Poupatempo. Sei que quando estava tudo quase bem, já, depois de uns cinco minutos de conversa, o garoto, que devia estar entediado com aquela paz, acendeu o cachimbo de crack.

- Se já é proibido fumar tabaco em ambientes fechados, imagino o que não aconteceu com o garoto. Deve ter sido esquartejado pelo Serra.

- Quando a velha viu aquilo, aí ficou louca e começou a dizer que eu roubava de mendigos para pagar o vício do meu filho.

- E você, com seu instinto materno, se defendeu.

- Claro. Você acha que eu vou mimar meus filhos? Disse que ele tinha conseguido o crack com dinheiro honesto e tudo mais. E que filho meu jamais seria mimado, e isso, e aquilo. E que ela não era ninguém para querer me ensinar a criar meus filhos já que eu havia tido oito.

- Mas você não tem nenhum.

- Eu sei. Você sabe. Mas ela não sabia. E ainda disse que, para ela ter uma idéia, eu era pai do Kaká e do Caio Ribeiro, notoriamente dois dos mais bom moços do Brasil.

- E o que ela disse?

- Acho que nem ouviu, porque nessa hora chegou a Guarda Municipal, mais uns policiais, e toca todo mundo para a delegacia. Eu, ela, o garoto. Dentro da viatura, ainda encontrei o mendigo, a quem eu fiz me devolver meus R$ 5.

- Você roubou de novo o mendigo?

- Se ele tava sendo preso, é ladrão. Ladrão que rouba ladrão, 100 anos de perdão, manja?

- Manjo, manjo.

- Bom, chegando à delegacia, pediram documentos e o diabo. Coisa que, obviamente, eu não tinha. Depois de muita embromação, toca eu de volta para o Poupatempo, para fazer o RG, etc. Dessa vez, furei fila direto. Os policiais me acompanharam. Voltei para a delegacia com o RG novo. A velha e o garoto já tinham sido liberados. Fiquei um pouco magoado pelo fato de meu filho ir embora sem se despedir, confesso.

- Entendo.

- Bom, daí me ficharam por vadiagem, não sei o que da ordem pública e outras coisas lá e me liberaram. Agora, estou aqui.

- Moral da história: o crime não compensa.

- Nada. Claro que compensa. Da próxima vez que eu precisar fazer um RG novo, em vez de contratar mendigos ou viciados, vou logo roubar algum toca-fitas de carro e esperar a polícia chegar.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Fazendo um B.O.

- E como eram os elementos que subtraíram seu veículo?

- Silvio, no caso.

- Como, indivíduo?

- Meu carro, que subtraíram, chamava Silvio. Podemos respeitar um ente querido que, neste momento, já deve estar definhando em um ferro-velho?

- Não, não podemos. Isso é uma delegacia. Temos mais 43 B.O.s para fazer ainda nesta madrugada. Como eram os elementos que subtraíram o veículo?

- Eram morenos.

- Pardos, você quer dizer?

- Não, morenos mesmo. Se eu quisesse dizer pardos, eu teria dito pardos. Como acho que eram morenos, disse morenos.

- Olha, ou eles eram brancos, negros ou pardos. Escolha um.

- Se eu disser moreninhos cor-de-disco, o senhor aceita?

- Vou colocar "pardos". Próximo passo. O que havia no interior veículo, que foi subtraído?

- Duas garrafas de cachaça. Duas escovas de dentes. 3 cadeados e um rolo de papel higiênico. Subtraíram tudo, sem dó.

- Como você carrega coisas estranhas no veículo.

- Eu tinha acabado de sair do Extra. Vou sentir bastante falta das cachaças. Era para fazer parte de um despacho, que seria feito amanhã. Agora, vou ter que comprar mais Pitú.

- Correto. Agora, descreva o delito.

- Bom, eu ia colocar as cachaças em uma esquina, dentro de um chapéu coco e... hey, alto lá. Isso aqui é um país livre e posso ter qualquer crença religiosa. Não se trata de delito. E eu não ia sacrificar uma cabra ou coisa assim.

- O delito, no caso, é a subtração do veículo.

- Ah. Bom, eu estava saindo do Extra e parei em um faról. Quando ouvi, do carro do lado, um elogio direcionado a mim. Sorri para o lado e, quando percebi, eram dois travestis querendo graça.

- Foram eles que subtraíram o veículo?

- Não, não. Mas sempre gosto de falar das minhas conquistas. Além do que, eu sempre achei que ser paquerado por travestis era sinal de mau agouro. E é mesmo: menos de 20 minutos depois, eu chegava em casa e era rendido por dois elementos de cor indefinida.

- Pardos, você quer dizer?

- Só aceito "pardos" no B.O. se o senhor colocar Silvio como nome do carro.

- Tá. Feito. E depois que os elementos pardos te abordaram?

- Bom, daí eles pegaram o Silvio e deram no pinote. Só me restou vir para cá de carona. Vim na garupa do Silvio.

- Que Sílvio, meu Deus?

- O guardinha da minha rua, que estava dormindo no momento do crime. Ele está ali atrás, ó. Do lado daquela senhora que é a cara do Lazzaroni.

- Ah, estou vendo. É aquele sujeito moreno, de marrom?

- Não seria pardo?

- Seria se eu estivesse escrevendo no B.O., já que na literatura tenho direito a licença poética.

- E B.O. lá é literatura?

- E Silvio lá é nome de carro? E moreno é cor de gente? Não começa a espinafrar que você está perdendo.

- Sei.

- Bom, terminei o B.O. Espera um pouco que eu vou fazer uma intervenção em tinta a duas mãos naquele elemento algemado ali e já volto.

- Vai fazer o que?

- Tirar as digitais. Cada um vê arte no que pode. Agora, senta ali e espera um pouco.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Sérgio Caneta e Morena Leite

- Mas que frio, não?

- Nem vem com isso. Você sabe que eu odeio.

- Eu sei, mas você nunca me explicou direito. Como alguém pode odiar conversa fática?

- Ué. Tem coisa mais estúpida do que entrar no elevador e dizer "que frio, hein?"? Ou, ainda, estar no banco, na fila, e alguém comentar "que fila demorada, não?"?

- Tem sim. Mais estúpido do que isso é gente com nome que combina com a profissão. Me irrita muito esse tipo de coisa. No fim de semana, eu estava vendo um jogo, que nem lembro de quem, e o bandeirinha chamava Eric Bandeira. Pô! E tem também a Morena Leite, que é cozinheira. Leite, cozinha. Ah, não dá.

- Isso não me irrita tanto. O que me irrita mesmo é conversa fática.

- Ter nome que combine com a profissão é ridículo. É como se eu chamasse Sérgio Caneta, só porque escrevo. Não dá.

- O que mais me irrita na conversa fática é a obviedade da coisa. Se as pessoas ainda fossem criativas para conversar coisas bestas, daí sim seria melhor.

- Desenvolva.

- Por exemplo: seria muito mais interessante se neguinho, em vez de falar "que frio, hein?", dissesse "tá tão frio que hoje de manhã vi um boneco de neve com hipotermia". 

- É, acho que concordo. Por isso que eu sempre uso a expressão "tá um frio de matar mendigo ao relento" em vez de dizer "que frio!".

- Essa expressão não é uma expressão. Você acabou de inventar.

- Eu sei. Mas se fosse uma expressão, seria legal.

- Seria politicamente incorreta. Acho que não ia pegar. E, se pegasse, o Serra mandava prender, arrebentar e apagar o cigarro do indivíduo que a proferisse em público, em particular e em mesas sob toldos, mesmo que na calçada.

- "Que calor" poderia ser substituída por "Malandro, tô com o fiofó em chamas". 

- Você quase pegou o espírito da coisa. A idéia não é padronizar conversas fáticas, e sim ser um pouco mais criativo. Em vez de dizer, no banco, "que fila, não?" ou reclamar da demora nos caixas, dizer "se eu fosse dono do banco, os caixas teriam de trabalhar de biquini com estampas dos Estados Unidos". 

- Se eu fosse dono do Bradesco, contrataria somente caixas com três polegares em cada mão.

- Isso. Agora você entendeu.

- Não, não. Eu contrataria mesmo. Acho que isso iria agilizar as filas. Eu sempre pensei isso, mas nunca tive coragem de comentar com ninguém. Achei que iria ser mal interpretado.

- Olha, eu recomendo que, daqui para a frente, cada vez que você estiver na fila do banco comente isso.

- Se eu falar mais de uma vez não vira conversa fática comum que você tanto odeia?

- Duvido muito. Caixas com três polegares não são motivo de conversa fática. São de insanidade mesmo. Tá liberado, Sérgio Caneta.

- Argh. Odeio esse apelido.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Doce de Leite e Mendicância

- Você percebe que precisa mudar seu estilo de vida quando sai para almoçar, a pé, às 14 horas de sexta-feira e chega em casa sem camisa, sem tênis, com um chinelo desconhecido, às 11 horas da manhã do domingo do Dia dos Pais.

- Rapaz... e eu achando que estava exagerando nos psicotrópicos por conta do sonho estranho que tive esta noite.

- Fiquei dois dias fora. Mas, estranhamente, lembro de ter dormido bastante. Pelas minhas contas, acordei em um sofá de três lugares verde, em um banco de madeira dentro de um estacionamento, em uma suíte mais ou menos de um motel e nos bancos da frente, o dos passageiros, de 3 carros diferentes.

- No sonho, eu era feito de doce de leite. Cada vez que eu saia na rua, as pessoas vinham atrás de mim, querendo me lamber.

- Pior é que para não perder celular, chave do carro, o próprio carro, chave de casa e outros itens, deixei tudo no escritório. Só levei a chave do escritório. E foi exatamente ela que perdi, com tudo bem guardadinho lá dentro.

- Claro que eu não considero que o sonho tenha sido um pesadelo, mesmo porque não apareceu o cara do Kiss para me lamber. Se ele tivesse aparecido, seria um pesadelo. Como não apareceu, eu classifico como um sonho desconfortável.

- Pior é que eu só tinha um par de tênis usável. Cada um dos pés dos outros dois pares que tenho estão sem cadarço. Já que, em mais de uma ocasião, no passado, improvisei os cadarços no passante do cinto da calça, para que ela não caísse.

- Eu pensei em me lamber no sonho, mas achei que seria muita ironia. A cada bocada, eu me alimentaria. Mas, mesmo assim, ficaria mais fraco. É como a história da cobra que come o próprio rabo.

- Daí, não achei nenhuma calça limpa. A do final de semana tem, pelo menos, umas 437 substâncias tóxicas proibidas e mais de 30 estados norte americanos. Só me restou pegar uma calça emprestada, que está rasgada.

- E todo mundo sabe o final da cobra que come o próprio rabo: só resta a aguinha.

- E é por isso que estou vestido com uma camisa social, um jeans ragasdo e um modelo de tênis em cada pé. Pelo menos penteei a costeleta, para dar uma melhorada no visual.

- E eu jamais queria terminar só uma aguinha. Se é para morrer, mesmo que feito de doce de leite, que seja com honra. No caso, dentro de uma panela da Dona Benta. Se bem que, infelizmente, ela não apareceu no sonho.

- Que sonho?

- Por que você tá vestido assim?

- Como?

- Hã?

- Esquece.

- Esquece.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Mentiras Freudianas Interessam

- O ser humano é uma bosta mesmo, não?

- Fale mais a respeito, Freud.

- Não começa com sarcasmo. 

- Tá. Desevolva o lance aí. Por que as pessoas são estranhas? 

- Eu não disse "pessoas são estranhas". Disse "o ser humano é uma bosta mesmo, não?". Entretanto, concordo que pessoas são estranhas.

- Desenvolva, por favor. Quero saber o motivo de tanta raiva no seu coraçãozinho.

- Não é raiva, é irritação. 

- Com o que, homem de Deus?

- Com todo esse povo que quando digo que esqueci o que ia falar, responde com um "então era mentira". E como ando com a memória bem fraquinha, quase como a de um peixe, vivo ouvindo. "Então era mentira". Mentira a puta que o pariu.

- Ainda bem que quando você ouve isso, logo esquece. Aí a raiva passa.

- Isso o que?

- Bom, eu também não gosto de "então era mentira". Igualmente me irrita quando digo que esqueci o que ia falar e a pessoa retruca "então não era importante". 

- E quando você perde algo, alguém encontra e, antes de te entregar, solta a frase "presente para você!"? A puta que o pariu presente dos diabos. Enfia no cu.

- Outra coisa que me deixa nervoso é o famoso "desculpa qualquer coisa". Porra, se neguinho maletou o tempo todo, não desculpo. Se achou que estava exagerando, por que não parou? Desculpa qualquer coisa é o cacete. 

- "Meu querido".

- Diga.

- Não, não. "Meu querido" me irrita. E mais: pessoas que chama os outros de "meu querido" costumam ser mais incômodas do que a expressão em si. Chamar os outros de meu querido é sinal de babaca por perto.

- Eu uso a mesmo lógica para pessoas que não gostam de "Nem Vem Que Não Tem". Se não gosta, bom sujeito não é.

- Conheci um cara que não gostava. Vivia me chamando de "meu querido" e sempre pedia "desculpa por alguma coisa", quando nos despedíamos.

- Provavelmente, as desculpas eram por te chamar de "meu querido".

- Isso era o de menos. Ele era babaca do começo ao fim. Eu ficava feliz quando me chamava de "meu querido" porque era sinal de que ele estava tentando conversar, e não iniciando uma piada manjada e sem graça, coisa que fazia em 90% do tempo que estava falando.

- Ele encostava no seu braço enquanto falava?

- Isso. Isso. Conhece a peça?

- Conheço o tipo. Pessoas que respondem "queijo" quando você diz "que" também me incomodam.

- E os que chegam no horário marcado? Pouca coisa me irrita mais do que isso.

- Sei bem. Se o horário foi marcado, a pessoa deve chegar antes ou depois. Se chegou antes, como ela está adiantada, você pode fazê-la esperar mais do que o horário pré-agendado. Se chegou depois, então você também pode fazê-la esperar, porque ela já atrasou mesmo e não tem moral para reclamar. Agora, pessoas pontuais são o fim da picada.

- Fato. E as que dizem "aliás, minto" quando se enganam sobre algo que falaram?

- Como confiar em uma pessoa que diz "minto" depois de falar algo? Acho que perde completamente o crédito. 

- É pesado, não é? Por que não dizer "aliás, me enganei"? 

- Ou, o que seria melhor, é defender a mentira até o fim.

- Exatamente. "Aliás, eu disse que vi um unicórnio preto ontem, a caminho do trabalho? Pois é. É verdade."

- Para dar um ar mais confiável, o ideal seria a pessoa dizer "aliás, me enganei. Não era preto, era rosa. Era um unicórnio rosa". Não há como não acreditar com esse adendo.

- Um "aliás, minto" colocaria tudo a perder.

- Para a história se tornar mais factível, seria necessário começa-la com um "Pode parecer mentira". Isso dá veracidade a qualquer coisa.

- "Pode parecer mentira, mas ontem, vindo para o trabalho, vi um unicórnio preto parado na marginal. Aliás, me enganei. Não era preto. Era rosa." Você já ouviu alguma frase mais crível do que essa?

- Eu ia falar uma agora, mas esqueci.

- Então era mentira. 

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Intercine, por Fabio Inverídico e Costela

- O correto é energumo ou inergumo?

- Que palavra é essa?

- Quando você quer chamar alguém de burro e não quer usar a palavra burro, chama de energumo. Ou inergumo, não sei. Minha dúvida reside justamente no uso do "e" ou do "i".

- Ah. Eu não sei se é com "e" ou com "i". Mas sei que o correto é energúmeno.

- Se você não sabe se o correto é com "e" ou com "i", como me diz que o correto é energúmeno?

- O que eu quero dizer é que pode ser inergúmeno ou energúmeno. Mas, de fato, não é energumo. Tampouco inergumo. 

- Ah. Então vou escrever nergúmino, sem "e" ou "i", e pronto. Eles vão achar que foi erro de digitação e não que eu sou meio energumo.

- Eles quem?

- O pessoal da Globo. Estou escrevendo um email para eles.

- Sobre o que é esse email exatamente?

- Sobre o Intercine. 

- Você vai pedir, pela enésima vez, que eles coloquem A Pequena Sereia para concorrer no Intercine?

- Vou. Não entendo porque não colocam. Aliás, entendo: porque naquele diabo de canal só tem energumo. A Pequena Sereia se enquadra perfeitamente no perfil dos filmes que ganham o Intercine e eu vou provar essa minha tese para todo mundo, assim que os energumos da Globo o colocarem para concorrer.

- São filmes com uma sereia de desenho animado que ganham o Intercine?

- Não. Para ganhar o Intercine, há toda uma série de fatores. Se são dois filmes concorrendo e um é inédito e o outro, reprise, é fato que a reprise ganha. Se ambos são reprises, o que passou mais vezes ganha.

- Sei.

- Sempre, sempre, sempre, sem nenhuma dúvida, o filme mais colorido ganha. 

- Entendo.

- No caso de ambos os filmes terem sido reprisados à exaustão e ambos serem muito, muito coloridos, então ganha o que é uma cinebiografia ou uma biografia feita para a TV.

- E A Pequena Sereia já passou umas 20 vezes na TV e é bem colorido. Por isso, você acha que vai levar o Intercine?

- É colorido, já passou muito e, detalhe, você esqueceu do critério de desempate: é uma biografia.

- De uma sereia.

- De uma sereia, pequena, diga-se. Mas, mesmo assim, de uma sereia.

- E você acha que A Pequena Sereia ganharia de O Poderoso Chefão?

- Vixe. Não dá nem para a saída. O Poderoso Chefão é quase preto e branco.

- Mas O Poderoso Chefão é o melhor filme de todos os tempos. Jamais perderia para A Pequena Sereia em qualquer campeonato. Até se o Intercine fosse votado em Atlântida ou qualquer reino submarino, o O Poderoso Chefão levava. 

- Pronto. Agora você vem e me fala essa bobagem. Eu não disse que A Pequena Sereia é melhor ou pior do que O Poderoso Chefão, embora eu ache um tanto mais interessante a história da Ariel. Eu somente disse que em votação popular no Intercine, dá A Pequena Sereia.

- Olha, filho...

- Deus! Quando incredulidade. De tanta bobagem que você fala, estou começando a desconfiar que você é o tipo de gente que vota no Intercine. Só pode.

- Mas eu não assisto Intercine há anos.

- Eu não disse que você assistia. Disse que votava.

- E tem gente que vota e não assiste?

- Claro. Ou você acha que aquele monte de lixo que passa de madrugada foi votado por pessoas que realmente queriam vê-los?

- É...

- Aposto que neguinho vota só de farra e vai dormir na sequência ou assiste a outro canal. É a única explicação para filmes reprisados, coloridos e biográficos ganharem de outros.

- Fato. Acho até que as pessoas votam e, no caminho da cama, já estão com aquele sorriso de canto de rosto. Um olhar de "sacaneamos aquelas notívagos que só têm Globo e não têm telefone".