segunda-feira, 17 de agosto de 2009

São Cosme Daminhão Experiença

- De todos os santos, morro de pena do Damião.

- Não conheço esse São Damião.

- Conhece sim. É aquele que faz dupla com o Cosme.

- Ah, São Cosme e Damião. Sozinho, ele não faz muito sentido. É como o Luciano, quando citado isoladamente ao Zezé di Camargo. 

- Pois é, este é um dos motivos por que tenho dó do Damião. Tem gente que acha, inclusive, que São Cosme e Damião é um santo só. Que São Cosme Damião é nome e sobrenome.

- Quem pensaria tamanha bobagem?

- Eu pensava até ontem. Daí, fui pesquisar. E, pesquisando, fiquei com bastante dó do Damião. E com um pouco menos, mas bastante também, dó do Cosme.

- Por quê?

- Bom, ambos eram gêmeos, o que, por si só, poderia causar um problemão na cabeça deles

- Entendo.

- Mas o que pega é o lance dos doces e das balas. 

- O que tem? Há algum problema de, no dia deles, as pessoas distribuírem doces e balas para crianças?

- Eles são de tempos antigos, não são?

- Acredito que sim.

- E, como todos os santos antigos, ambos usavam saia, togas, vestidos e cabelos grandes e enrolados, não?

- Imagino que sim. 

- Muito estranhos, portanto.

- Assim como toda imagem de santo que se preze.

- Imagine o diabo que ambos não passavam quando tentavam entregar doces para as crianças, sendo que as mães vivem dizendo "não aceite doce de estranhos, meu filho."

- Ai. 

- Se bobear, até morreram de desgosto, por não conseguir entregar chicletes para os meninos da vizinhança. 

- Nem sei se havia chicletes nesse tempo. Ou mesmo balas.

- Então morreram de velhice esperando criarem as balas e chicletes para distribuir. E, mais, graças a Deus não foram criadas balas e chicletes enquanto viviam, se não iam morrer de desgosto porque, ao tentarem distribuir, as crianças não aceitariam. 

- Essa lógica está um pouco deturpada. Se eles nem sabiam que balas ou chicletes iriam existir, como eles morreram esperando? 

- Eles são santos, não?

- Sim.

- Que eu saiba, santo tem poder, como transformar água em vinho ou prever o futuro. Aposto que um deles previu as balas e doces, avisou o irmão e ambos ficaram esperando.

- Mas se um deles era vidente, ele nao previu que morreria esperando as balas?

- Acho que o alcance da visão dele era limitado por uso. Talvez só pudesse recorrer a uma visão futurista a cada 20 anos. Aí viu as balas e os chicletes e não conseguiu ver que morreria esperando.

- É uma merda ter vidência limitada, né?

- É. Imagina, por exemplo, você ver os números que vão sair na megasena mas não saber em qual sorteio eles sairão? Você fica refém da visão, jogando toda semana, mas não sabendo se vai sair logo mais ou depois que você morrer.

- É. É o mesmo que não saber, no final das contas. Se eu pudesse escolher uma visão, qualquer que fosse, eu queria ver como o mundo vai acabar.

- Que apocalíptico, você.

- Não, não quero que o mundo acabe. Mas queria saber como acaba, só para ver se ele acaba em barranco. 

- Eu nunca entendi bem essa expressão. "Quer que o mundo acabe em barranco para morrer encostado". O que isso quer dizer?

- Eu também não sei. Por isso queria ver o fim do mundo. Daí, se acabar em barranco, descubro o que o diabo dessa expressão quer dizer.

- Mas se você não sabe o que quer dizer, como iria reconhecer o mundo acabando em barranco?

- Acho que eu iria por eleminição. Se eu visse um meteoro caindo na Terra, eu acho que o mundo acabaria de meteorose, e não em barranco. Se eu enxergasse um Dálmata gigante engolindo o planeta, saberia que a Terra iria acabar em dálmata faminto. Se houvesse chuvas de Kombi, saberia que o mundo termina em uma grande kombizada, que será iniciada em Osasco. 

- Entendo.

- Logo, eu acho que consigo visualizar todas as formas possíveis de fim do mundo. Menos ele acabando em barranco. Assim, se eu vir algo que não consigo identificar, saberei o que é o mundo acabando em barranco.

- É fato. E, na dúvida, você me procura nessa visão. Se eu estiver encostado, é sinal que o mundo realmente acaba em barranco. Eu sempre quis que o mundo acabasse em barranco para morrer encostado. Mesmo que, obviamente, eu não saiba o que significa nem onde devo me escorar. 

- E como você vai saber a hora de se encostar, se nem sabe como o mundo termina em barranco?

- Você vai ter a visão e vai me falar como é. Daí, na hora que o mundo estiver indo mesmo para o beleléu, me encosto.

- Mas eu não disse que vou ter a visão. Disse que gostaria.

- Ah, então por via das dúvidas, já vou me dedicar ao escoramento em qualquer coisa, várias vezes por dia. Se o mundo acabar, já estarei preparado.

- Rapaz, você é mesmo um especialista na arte de sedentariar, não?

- Pois é. Tem que sedentariar sedentariando. Sabe como faz?

- Não faço idéia. Mas aposto que você não vai me contar, né?

- Eu te conto assim que você me disser como termina o mundo. 

- Isso quer dizer que você não vai me contar, porque eu não sei como vai terminar o mundo.

- ...

- Ou vai?

- ...

- Hein?

- ...

- Você já tá sedentariando?

- ...

- Eita! Não encosta em mim.

- ...

- Não apóia...

- ...

- Cacete, como você pesa.

- Anos e anos de sedentarismo. 


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