- O ser humano é uma bosta mesmo, não?
- Fale mais a respeito, Freud.
- Não começa com sarcasmo.
- Tá. Desevolva o lance aí. Por que as pessoas são estranhas?
- Eu não disse "pessoas são estranhas". Disse "o ser humano é uma bosta mesmo, não?". Entretanto, concordo que pessoas são estranhas.
- Desenvolva, por favor. Quero saber o motivo de tanta raiva no seu coraçãozinho.
- Não é raiva, é irritação.
- Com o que, homem de Deus?
- Com todo esse povo que quando digo que esqueci o que ia falar, responde com um "então era mentira". E como ando com a memória bem fraquinha, quase como a de um peixe, vivo ouvindo. "Então era mentira". Mentira a puta que o pariu.
- Ainda bem que quando você ouve isso, logo esquece. Aí a raiva passa.
- Isso o que?
- Bom, eu também não gosto de "então era mentira". Igualmente me irrita quando digo que esqueci o que ia falar e a pessoa retruca "então não era importante".
- E quando você perde algo, alguém encontra e, antes de te entregar, solta a frase "presente para você!"? A puta que o pariu presente dos diabos. Enfia no cu.
- Outra coisa que me deixa nervoso é o famoso "desculpa qualquer coisa". Porra, se neguinho maletou o tempo todo, não desculpo. Se achou que estava exagerando, por que não parou? Desculpa qualquer coisa é o cacete.
- "Meu querido".
- Diga.
- Não, não. "Meu querido" me irrita. E mais: pessoas que chama os outros de "meu querido" costumam ser mais incômodas do que a expressão em si. Chamar os outros de meu querido é sinal de babaca por perto.
- Eu uso a mesmo lógica para pessoas que não gostam de "Nem Vem Que Não Tem". Se não gosta, bom sujeito não é.
- Conheci um cara que não gostava. Vivia me chamando de "meu querido" e sempre pedia "desculpa por alguma coisa", quando nos despedíamos.
- Provavelmente, as desculpas eram por te chamar de "meu querido".
- Isso era o de menos. Ele era babaca do começo ao fim. Eu ficava feliz quando me chamava de "meu querido" porque era sinal de que ele estava tentando conversar, e não iniciando uma piada manjada e sem graça, coisa que fazia em 90% do tempo que estava falando.
- Ele encostava no seu braço enquanto falava?
- Isso. Isso. Conhece a peça?
- Conheço o tipo. Pessoas que respondem "queijo" quando você diz "que" também me incomodam.
- E os que chegam no horário marcado? Pouca coisa me irrita mais do que isso.
- Sei bem. Se o horário foi marcado, a pessoa deve chegar antes ou depois. Se chegou antes, como ela está adiantada, você pode fazê-la esperar mais do que o horário pré-agendado. Se chegou depois, então você também pode fazê-la esperar, porque ela já atrasou mesmo e não tem moral para reclamar. Agora, pessoas pontuais são o fim da picada.
- Fato. E as que dizem "aliás, minto" quando se enganam sobre algo que falaram?
- Como confiar em uma pessoa que diz "minto" depois de falar algo? Acho que perde completamente o crédito.
- É pesado, não é? Por que não dizer "aliás, me enganei"?
- Ou, o que seria melhor, é defender a mentira até o fim.
- Exatamente. "Aliás, eu disse que vi um unicórnio preto ontem, a caminho do trabalho? Pois é. É verdade."
- Para dar um ar mais confiável, o ideal seria a pessoa dizer "aliás, me enganei. Não era preto, era rosa. Era um unicórnio rosa". Não há como não acreditar com esse adendo.
- Um "aliás, minto" colocaria tudo a perder.
- Para a história se tornar mais factível, seria necessário começa-la com um "Pode parecer mentira". Isso dá veracidade a qualquer coisa.
- "Pode parecer mentira, mas ontem, vindo para o trabalho, vi um unicórnio preto parado na marginal. Aliás, me enganei. Não era preto. Era rosa." Você já ouviu alguma frase mais crível do que essa?
- Eu ia falar uma agora, mas esqueci.
- Então era mentira.
8 comentários:
"Eu bem que te avisei" é bem frase de mãe e é péssima. Parece que a pessoa jogou praga e tá só confirmando isso.
genial!
adorei - ja to seguindo
confira
http://hiagonow.blogspot.com/
adorei - ja to seguindo
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E quando alguém está contando uma história e no meio solta um "na verdade...". Tudo que ele havia falado antes vai por água abaixo, é a mesma linha do "aliás, minto".
Pode parecer mentira, mas parte deste post me soou familiar. Aliás, ficou excelente.
Vixe, Camila, lemos o post ao mesmo tempo?
Hahahahahaha pois é. Isso sim soa familiar :)
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