terça-feira, 30 de março de 2010

Sócrates, cerveja, Zidane e mais cerveja

- Adivinha quem eu encontrei no final de semana.

- O Juca Chaves.

- Errou.

- O José Vasconcelos.

- Tsc, tsc.

- A Fafi Siqueira.

- Não.

- A Consuelo Leandro.

- Essa aí já morreu. Impossível ter encontrado.

- Bom, não sabia que você não era médium. Agora que já sei, ficou fácil. Vou riscar da minha lista comediantes de quinta categoria que já tenham morrido. Ficarei só com os vivos.

- Tá. Mais uma chance.

- Marcelo Tas.

- Ué, você não falou que ia riscar comediantes sem graça?

- Só os que morreram. O Tas tá vivo, não tá?

- Não sei dizer.

- Bom, fala logo.

- Dr. Sócrates.

- Que legal. 

- Foi em Ribeirão Preto. Em um evento em uma fábrica de cerveja. 

- Bacana. Já encontrei ele também. E em um bar. Acho que se qualquer pessoa no mundo sair para beber mais de 4 dias seguidos em uma mesma semana encontra o Sócrates por aí.

- Pois é. Eu nem queria ser tiéte, mas fui. Até tirei foto com ele. Olha só, que beleza.



- Coisa linda. Esse óculos também é uma beleza. 

- Pois é. Mas perdi. Comprei na semana passada e perdi durante esse evento. Perdi também dois copos. O terceiro comprado não deu tempo de me desfazer involuntariamente. 

- Bom, esse óculos aí é melhor perder do que achar. Acho que você teve sorte.

- Obrigado. Agora, sobre o Sócrates, ele é muito simpático. Atencioso e tudo mais. 

- Vocês conversaram?

- Sim. Obviamente. 

- Sobre Rivaldo e Zidane, essas coisas?

- Exatamente. Foi assim.

"Quem é melhor: Zidane ou Rivaldo?"
"Zidane".
"Você ou Raí?"
"Raí".

Aí desisti dele. E ele, de mim. Ambos ao mesmo tempo. Eu estava muito inconvenientemente bêbado. Ele, pelas respostas, lelé da cuca.

- Hahahaha. Já encontrei o Sócrates também, como te disse. 

- Em um bar, certo?

- Sim. E eu também estava um tanto inconvenientemente bêbado. Olha a foto, que legal.


- Tô impressionado com sua cara de feliz.

- Pois é. E tive uma conversa com ele muito semelhante à sua.

- Perguntou quem era melhor, se Zico ou Zetti improvisado na meia?

- Claro que não. Todo mundo sabe que a resposta é, óbviamente, Zetti. Hoje em dia, inclusive.

- E qual foi o teor da conversa.

- Foi mais ou menos isso. 

"Pode tirar um foto, Magrão?!"
"Opa, vamo lá."
"Valeu. Você e o Biro são foda. Os jogadores de hoje são tudo estrelinha, andam com fone de ouvido e um monte de segurança só para não tirar foto".

- E ele fez algum comentário sobre o seu comentário?

- Sim. Soltou um ruído incompreensível e nos separamos.

- Que bonito. Parece até fim de novela do SBT. 

- Mas depois me arrependi da conversa.

- Por quê? Achou que pegou pesado com os atuais jogadores?

- Não. É que estava com uma leve dor no fígado esse dia.

- E?

- Ué. Ele não é médico? Ia aproveitar para me consultar com ele. 

- Mas eu acho que ele é ortopedista.

- Bom, mesmo assim eu poderia ter pedido a opinião dele.

- Como médico?

- Como alcoolista, médico, ser humano, ex-jogador, sei lá.

- Só para saber a opinião dele?

- É. Imagina se ele diz "gruda um pedaço de bacon sobre a área dolorida e anda com ele por três dias sob a camisa". Seria muito legal.

- Por quê?

- Ué. As pessoas iam me perguntar porque eu estava fazendo essa sandice. E eu diria que foi uma simpatia indicada pelo Dr. Sócrates. Não é legal?

- Isso não faz o menor sentido. As pessoas iam começar a achar que você e o Dr. estão beirando a maluquice.

- Mas eu me defenderia dizendo que o Rivaldo é melhor que o Zidane e que o Sócrates jogou mais do que o Raí.

- Sim, você se defenderia. Mas e o Sócrates?

- Bom, ele acha o Raí e o Zidane melhores. Não teria mesmo como se defender, de qualquer maneira.

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Colaboração nos diálogos (e na foto cedida) do Juliano, que também pode ser encontrado aqui.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Injustiça! Injustiça!

- Por que você tá todo suado?

- Andei mais de uma hora e meia debaixo desse sol infernal.

- Ué, mas você não levava 40 minutos para chegar aqui?

- Levo, ainda. Mas hoje, no caminho, eu estava vindo para cá , numa boa. Aí veio uma loira e me deu uma foda dessas.

- Como é? Você conheceu uma loira no caminho e acabou comendo ela?

- Pelo contrário.

- Ela te comeu?

- Ai, ai. Não, não. Foi assim: virei uma esquina e logo à minha frente, uma loira de saia caminhava. De costas, era uma beleza. Aí, apressei o passo para ver se Deus era justo e havia dado uma frente tão bela quanto a retaguarda.

- Sei.

- Aí, você sabe, eu ando devagar. E tive que apressar o passo para ultrapassá-la, virar disfarçadamente para trás e ver se ela era um caso de justiça ou injustiça.

- Falando nisso, o que diabos fazem esses desocupados na frente do julgamento do Caso Nardoni?

- Esses que ficam gritando e ostentando faixas com os dizeres "justiça! justiça!"? Acho que nada mesmo. São desocupados.

- Me deu vontade de pintar lá na frente com uma placa dizendo "injustiça! injustiça!". Queria ver o que esse povo ia fazer. Pena que não sou tão desocupado assim.

- Acho que iam te arrastar para um prédio e te jogar de alguma janela. Mesmo porque esse povo não tem lógica. Eles pedem justiça, mas se absolverem os Nardoni, pelos olhos da justiça, será feita justiça. Mas esse povo vai achar que não. Logo, eles querem punição, não justiça.

- Interessante ponto de vista. Além de desocupados são umas belas bestas, é isso? 

- É isso. 

- Mas então, voltando à questão da justiça divina. Apressei o passo, mas nunca chegava nela. Ultrapassar, então, me parecia um dos 7 trabalhos de Hércules.

- 12 trabalho.

- Tá. Mas daí, quando estava quase chegano na...

- Chegando.

- Que seje. 

- Que seja.

- Tá, tá. Pascoal me deixa termina.

- Pasquale, terminar.

- Posso?

- Pode.

- Bom, quando estava quase a alcançando, percebi que me esforcei tanto em ultrapassá-la que desviei do caminho e não sabia mais onde estava. 

- Se perdeu?

- Sim. Mas daí, quando vi que a vaca tinha ido para o brejo, achei que era tarde demais para me preocupar com isso. Primeiro, veria o rosto dela. Você sabe que odeio injustiça, seja ela divina ou não. Então, a minha ideia era primeiro checar a frente da moça. Depois, me localizar.

- Seria justiça ou injustiça divina do ponto de vista do criacionismo. Se você acreditar na evolução, a injustiça é com os pais dela e com Darwin.

- Sim. Mas eu tinha um plano. Checaria o todo da moça. Conforme fosse, logo depois disso, eu ajoelharia e, fechando os olhos, faria uma prece. Na ocasião, aproveitaria para parabenizar Deus ou cornetá-lo. De quebra, por via das dúvidas, pediria a Ele para amaldiçoar ou parabenizar Darwin. Por fim, para cobrir todas as pontas, pediria à moça o endereço de seus pais e iria lá tocar a campainha e dar os parabéns ou esbofetear ambos.

- Tudo isso por conta do conjunto da obra da moça?

- Sim. Já que tinha ido longe demais, achei que era uma boa fazer o serviço completo.

- E, no final das contas, você a ultrapassou?

- Cheguei a um braço de distância, vi que minhas forças estavam se esvaindo e, aí, apelei.

- Correu?

- Não. A cutuquei. Ela se virou para mim e, para unir o útil ao agradável, puxei assunto perguntando como eu chegaria em uma rua X, já que estava realmente perdido.

- E ela?

- Estava de óculos escuros e uma máscara, provavelmente se protegendo da gripe suína.

- Rapaz, e aí?

- E aí que ela falou meia dúzia de palavras, se virou e foi embora.

- Eu já estava tão cansado que minha vista estava turva. Como ela estava de máscara, não só não consegui ver se era bonita como também não entendi a indicação que ela me deu. Aí fiquei zanzando perdido por quase uma hora até que cheguei aqui.

- Rapaz, que injustiça.

- Pois é. Odeio isso. 

terça-feira, 23 de março de 2010

Caso Nardoni: Metendo o Dedo na Ferida

- Há uma rua perto de casa que chama Raquel da Cunha. Mas eu sempre confundo o nome, achando que chama Queiroz da Cunha. Por que será isso, hein?

- Desculpa, não prestei atenção no começo. Chama como a rua? Raquel da Cunha ou Queiroz da Cunha?

- Ih. Agora não lembro. Sempre confundo.

- De qualquer forma, você quer saber por que confunde, certo?

- Certo.

- Deve ser por conta da Raquel de Queiroz. Você deve fazer uma associação bizarra subconsciente e acaba trocando o Raquel pelo Queiroz. Só mantém o Cunha. Ainda bem que você não associa também o Cunha ao Euclides. Dariam várias combinações. 

- É. Raquel da Cunha, Queiroz da Cunha, Raquel de Euclides e Queiroz de Euclides. 

- Isso.

- Merda. Por que você foi me falar isso? Agora já tenho munição para confundir mais. E isso me deixa puto.

- Falando em nomes, e o Caso Nardoni, hein?

- Como é o nome da rua mesmo?

- Sei lá.

- Euclides de Queiroz?

- Era Raquel ou Queiroz da Cunha.

- Ah. Tá. Vou tentar manter o Euclides fora. Se entrar, fodeu. Dizem que repetindo, ou ouvindo, algo 12 vezes, já fixa na cabeça. Quero evitar o Euclides. 

- Tá. Mas deixe-me repetir: falando em nomes, e o Caso Nardoni, hein?

- O que tem isso? Que assunto mais chato.

- Então, queria que eles ficassem em liberdade.

- Acha que são inocentes?

- Não sei É que queria fazer uma experiência.

- Fazer um teste para saber se são culpados ou inocentes? Deixá-los soltos e fazê-los adotar outra criança? Se em 5 anos ela caísse da janela, eles seriam culpados. Se ela passasse ilesa, eles seriam inocentes. É isso?

- De onde você tirou isso?

- Da minha cabeça.

- Vindo de um lugar que confunde um simples nome de rua, não esperava ideia melhor.

- Mas pensa bem, nunca ninguém vai saber o que realmente aocnteceu. O julgamento não provará nada. Mas minha experiência empírica seria a prova cabal de culpabilidade ou não.

- Bom, eu queria deixar o Alexandre Nardoni solto por outro motivo. Quanto à mulher, eu a queria presa.

- Para?

- Bom. É uma experiência.

- Depois fala de mim.

- Mas é uma experiência válida. A primeira mulher dele chama Ana Carolina. A segunda, Ana Carolina. Com ele solto e ela, presa, ele teria que arrumar outra namorada. 

- Ter, ter, ter, não teria.

- Não teria, é fato. Mas você sabe como é homem. Não aguenta um rabo de saia. 

- Sei.

- Daí, queria saber se a terceria namorada seria Ana Carolina.

- Você acha que ele ia namorar a Ana Carolina? A cantora? Acho que não, hein. Ela é lésba, eu acho.

- Bom, se ele arrumasse outra Ana Carolina, saciaria minha curiosidade. Mas se começasse a namorar uma moça que gosta de outras moças e ainda fosse cantora da MPB, aí saciaria a minha curiosidade e as manchetes da mídia por meses. Essa minha experiência faria todo mundo ganhar. 

- Bom, para sua experiência, ele não precisaria ser solto. Ouvi falar que presos recebem muitas cartas de interessadas. Era só ele escolher a moça pelo nome do remetente. E, ademais, nas prisões, sempre há travestis. Vai que algum deles não se chama, artística-detentamente falando, Ana Carolina.

- Sei não. A maior parte dos travestis que conheço chama Pamela, Ronalda e Rogéria.

- Você conhece travestis? E tantos assim, para separar por maior e menos parte?

- ...

- Hein?

- Quantas vezes mesmo a gente tem que falar ou ouvir algo para aquilo entrar na cabeça?

- 12. 

- Euclides da Cunha, Raquel de Queiroz, Cunha de Queiroz, Raquel de Euclides, Queiroz de Euclides, Euclides da Cunha, Raquel de Queiroz, Cunha de Queiroz, Raquel de Euclides, Queiroz de Euclides, Euclides da Cunha, Raquel de Queiroz.

- Deu 12?

- Deu.

- Chupa, agora você se confundiu inteiro. 

- Merda. 

quarta-feira, 17 de março de 2010

Um estranho ponto de vista etíope sobre o caso Adriano e Vágner Love

- Quem inventou o jogo da velha?

- Bom, pelo nome, desconfio que tenha sido uma velha. E, por ser um jogo tão debilóide, acredito que era uma velha senil, senil. Pô, uns nove quadrados para serem preenchidos com xis e bola e que dão poucas combinações não pode ser coisa de gente com 100% centrada.

- E esse tal de Chatroulette. Você sabe quem inventou? Ou melhor, o que é?

- É um site que você entra e aparece uma webcam. Você liga a sua e te colocam aleatoriamente pra bater papo com quem aparece.

- Que cousa!

- Mas a proporção é de 20 homens pra cada rapaz. E como é aleatorio, aparece nego pelado, traçando uma cabra ou uma melância, essas coisas.

- A putaria é liberada, então?

- Não precisa de cadastro, nada. Só acessar.

 - E essa coisa tá na moda, procede?

- Parece que sim. Tanto que li a respeito na Istoé. E se chegou na Istoé, até em Pirituba já chegou.

- Até em Perus, se bobear.

- Na Febem de Franco da Rocha não se fala em outra coisa.

- Até em Ermelino Matarazzo a rapeize tá na área, aposto.

- Tudo com a piroca de fora, esperando as chuchucas.

- Nem preciso dizer que em Perus, o peru fica o tempo todo aparecendo no Chatoulette.

- Não precisaria dizer. Mas já que disse...

- Se o Adriano fica sabendo do esquema, aí acabaram as festas com Jumento e Anão. Só Chatroulette daqui para a frente.

- Você viu ele no Fantástico, no domingo?

- Não. Eu estou acompanhando mais de perto o caso Vagner Love.

- Esse negócio do Vagner Love ainda não vi, preciso ir atrás

- Não me interessou o fato dele ser escoltado por nego armado. E, nem tanto, por ter neguinho com uma bazuca na favela. Mas o que me chamou a atenção mesmo foi que, pelas fotos, deram a bazuca pro rapaz mais fraco. Ele sofre pra carregar aquilo. 

- Porra, favela!

- Ou melhor, porra, comunidade menos favorecida! 

- Quer dizer que deram a bazuca pro único traficante que veio da Etiópia na favela? 

- Exato. Deviam dar prum cara mais bem alimentado. A dificuldade com que ele carrega aquilo da dó. E eu achei que nunca fosse ficar com dó de um cara com uma bazuca.

- Aposto que os lança-chamas deles dão pra um cego operar.

- Porra, mas, pensando bem, bem feito pra esse filho da puta. Ninguém é obrigado a carregar bazuca.

- Não fala bobagem. Ele é etíope. Não sabe que tem escolha.

- Quem te falou que os etíopes são burros a esse ponto? Tem no YouTube?

- Eu não disse que são burros. É que na Etiópia o pessoal vive ao sabor do vento, sem escolher nada. Quando deram a bazuca na mao dele, ele pegou e ficou com ela.

- Esse é o estudo antropológico mais profundo que já ouvi sobre a Etiópia.

- É como seu sempre digo, quer saber sobre a Etiópia, vem comigo. 

- Hahahaha.

- Não parece, mas sou letrado em certas coisas. Agora, com licença que vou ali rezar para São Patrício e só volto na sexta.

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Como já está virando tradição, colaboração, de novo, da @vannmarques.


segunda-feira, 15 de março de 2010

Probabilidade, Pombos, Pombagira e Armero

- Já ouviu falar no Problema de Monty Hall?

- Não me lembro.

- É uma questão de probabilidade meio que simples. 

- Não tem matriz, determinante, log e nem multiplicação?

- Não muito.

- Me fale mais a respeito.

- O problema surgiu em um programa americano, uma espécie de Porta dos Desesperados, do Sérgio Mallandro. 

- Ou da Porta da Esperança, do Silvio Santos?

- Não. Está mais para a Porta dos Desesperados mesmo. Imagine que há três portas. Dentro delas, há um prêmio de valor alto, como um carro. Nas outras duas, porcarias, como uma cabra e um sujeito fantasiado de gorila. Você deve acertar a porta que tem o melhor prêmio. Só que, ao escolher uma porta, o apresentador vai em uma que ele sabe que não tem o prêmio e não é a que você escolheu e a abre, mostrando que o prêmio não está lá. E pergunta se você quer mudar sua escolha. Agora, são só duas portas. Você mudaria?

- Não.

- Mas aí é que está. Pela probabilidade, agora você teria mais chance de ganhar o carro se mudasse de porta.

- Mas eu não quero um carro. Esqueceu que minha carteira foi cassada? Eu queria mesmo era a fantasia de gorila.

- Eu não sei se eles liberam a fantasia de gorila.

- Eu me contentaria com a cabra.

- Mas mesmo assim. Supondo que eles liberem os outros prêmios, eu acho que a cabra, tudo bem, você pode levar para casa. No caso da fantasia, teria que levar o cidadão vestido de gorila. O prêmio é o cara de gorila. Nem uma ocisa nem outra. E, uma vez em casa, você que o convencesse a tirar a roupa.

- Ah, mas isso seria fácil. Se eu o ganhei, ele é meu. Meu escravo. Bastaria ordenar a tirar a roupa.

- Não sei. Pensando bem, você ganhou um cidadão vestido de gorila. A partir do momento que pedisse para tirar a roupa, ele não seria mais um cidadão vestido de gorila e você perderia o poder sobre ele. Ele estaria livre para partir. 

- E deixaria a fantasia para trás?

- Duvido. Essa gente que se fantasia profissionalmente e se esconde atrás de portas se apega muito às vestes. Você ia ficar com uma mão na frente e outra atrás.

- Será que se eu fizer um café e usar água com gás no lugar de água torneiral, a coisa fica boa?

- Sei lá. Mas deixe-me voltar ao problema do Monty Hall. Acabo de ler que fizeram um pesquisa com pombos e eles são melhores nesse jogo do que a gente. Eles sempre mudam de opção, quando das opções, de três, mudam para duas. A cada 10 jogos no estilo Monty Hall, oito vezes quem muda de porta ganha. E os pombos fazem isso sabe Deus como.

- Aí, sim, fomos surpreendidos novamente.

- E não é?

- A porra dos pombos são foda. E pensar que uma vez atropelei um. Mas foi sem querer, obviamente. É certeza que matei um pequeno Einstein.

- Ele deve ter calculado erroneamente as probabilidades de atravessar a rua sem ser atropelado. Ou calculou bem demais e era um suicida. 

- Deve ter pensando "chance de ser atropelado se atravessar voando: 0%. Chance de ser atropelado de ser atropelado se atravessar andando: 100%. Agora, preciso provar minha teoria."

- Exato. Foi voando. Ok. Voltou andando, morreu. Se sacrificou pela sua ciência. 

- Os pombos são mesmo uns abnegados. 

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De novo, colaboração da @vannmarques.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Uma conversa. Nenhum assunto.

- Você acredita que Belle & Sebastian seja a banda mais nada a ver do mundo?

- Não considero, não. Ronaldo e os Impedidos está na frente.

-  E o que dizer do Sigue Sigue Sputinik?

- Não lembro das músicas deles. Só dos moicanos que usavam.

- Isso é um bom resumo da banda. De tão nada a ver que eles eram, usavam moicano e tocavam coisa que nem o Shaquille O´Neil teria coragem.

- Mudando de assunto, preciso de confessar uma coisa. Tem um cabelo que cresce dentro da minha orelha que é comprido, bem comprido, e isso me dá uma aflição dos infernos.

- Arranque. Nem precisa de pinça, se é tão grande.

- Ele é quase transparente. Isso faz com que a tarefa de arrancá-lo se torne uma grande dificuldade. E, o pior, ele é branco. 

- Mudando de assunto de novo, hoje de manha estava vendo Ana Maria Braga. Fiquei puto com o desafio de charadas entre ela e Louro.

- Eu acompanho isso na medida do possível. São charadas horríveis.

- Exato. "O que é um ponto verde andando pelo calçadão de copacabana? Um greengo." 

- Sei bem. "Como se prende um ponto rosa voador? Numa gayola."

- Chega a ser ofensivo. Porra, Ana Maria! Porra, Louro José!

- Ofensivo mesmo foi o que passei outro dia. Estava na padaria da esquina de casa e resolvi acender um cigarro. O dono pediu educadamente que eu apagasse o cigarro ou fosse fumar lá fora.

- O que tem de ofensivo nisso? É lei.

- Eu sei. Mas na mesma padaria tem máquina de videopoker. Eles também apontam o jogo do bicho, lá. Achei que contravenção por contravenção, eu poderia fumar sem ser incomodado.

- E você apagou o cigarro ou foi fumar fora?

- Apaguei. Não queria largar a máquina de videopoker. Eu estava indo bem.

- Olha só isso. 

- Manda.

- "Você sabia que na esquizofrenia catatônica pode haver o fenômeno 'Obediência Automática' onde qualquer comando é obedecido mesmo que danoso?" Só faltou chamar esquizofrenia acrumbática maluco 

- Isso sim é uma doença do inferno. Imagina ficar catônico na frente da TV e obedecer tudo o que o Gene Hackman fala. Seria um inferno.

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Colaborou involuntariamente: @vannmarques


quarta-feira, 10 de março de 2010

Prostitutas, Jornalistas, Essas Coisas

- Vai, Corinthians!

- Saravá, São Jorge.

- Uma dúvida me ocorreu agora.

- O time ideal? Essa é fácil: sacamos o Tcheco e o Willian. Colocamos o Dentinho e o Leandro Castan e pronto. Não tem como dar errado.

- É... Mas não era isso.

- Ah.

- Queria saber o seguinte: se eu encontro uma prostituta na rua, mas à paisana.

- Defina paisana.

- Ah, em horário não comercial dela. Fora do expediente de trabalho e vestida com sobretudo.

- Sei.

- E ofereço uma grana para transar com ela. Ela aceita? 

- Hummm. Pensemos. 

- Sim.

- Se eu te encontrar na rua. Você é jornalista, mas está fora do seu expediente. 

- Certo.

- E eu te pedir um texto. Você escreve?

- Depende de qual for o assunto. Depende de quem pedir, do jeito que pedir. Depende também o quanto eu vou ganhar com isso. Mas considerando que seja um assunto que eu entenda, que seja você quem peça e que me pague um valor justo, acho que escreveria, sim. 

- Eu não escreveria se você me pedisse, não importa o jeito ou a grana. Logo, acho que, se eu pedisse, a prostituta transaria. Se você pedisse, não. E pior: ela poderia te processar por assédio sexual.

- Nossa. Aí, sim, eu ia me dar mal.

- Mas, por outro lado, se você estivesse andando na rua e uma prostituta te abordasse, você poderia processá-la por assédio também.

- E se ela me pedisse um texto, eu poderia processá-la por assédio?

- Poder processar, você pode processar quem você bem entender. O duro é ganhar a causa.

- Rapaz. Estou achando que é melhor, então, eu não me envolver com prostitutas.

- É. Você só tem a perder. 

- Mas, me diga, se eu estou andando na rua e um travesti me aborda, pedindo um texto. Eu posso processá-lo por assédio?

- Olha, como eu disse, você pode processar quem você quiser. O duro é ganhar.

- Mas e se ele fosse muito insistente. Me segurasse pelo braço e não me deixasse ir até escrever?

- Mesmo assim, acho difícil. 

- E se ele estiver com a piroca para fora, enquanto pede encarecidamente o texto?

- Nesse caso, acho que aí sim, você pode processar.

- Ah, que bom. Não vejo a hora de um travesti com o pinto para fora me agarrar e exigir um texto.

- É sério isso?

- Então... eu acho que...

- Por favor, não responda. Vamos mudar de assunto. Se não, vou acabar de processando por assédio moral.



terça-feira, 2 de março de 2010

Ajudante de Ambulante

- Preciso fazer alguma coisa para me animar.

- Como?

- É que eu estava analisando minha vida.

- Lá vem...

- É sério. E reparei que sempre que vou em algum lugar, acabo de envolvendo com as pessoas mais escumalhentas do local.

- Regras da atração, sabe? Porcaria atrai porcaria.

- Sei, sei. Mas a coisa já passou do limite.

- Como assim?

- De uns tempos para cá, nem mesmo essas meninas que ficam na porta da lojas oferecendo crediário, empréstimos, cursos de inglês e de informática me chamam. Já estou um nível abaixo desse povo aí.

- Você queria fazer crediário? Tá precisando de grana ou coisa assim?

- Não. Mas percebo que, pelos olhos dessas moças, estou num grau de vida sub-necessitado. Aquele necessitado que não pode nem pagar por essas coisas.

- Ou um nível acima. Do bem sucedido. Se bem que, olhando para você, ninguém diz.

- Exatamente. E repare: sempre que estou na rua, na padaria, ou onde quer que seja, quem vem conversar comigo?

- Não são as mocinhas do crediário.

- Não são. Não mendigos, pedintes, pungistas e lelés da cuca em geral.

- E isso te incomoda.

- Não muito. Mas andaei reparando que é frequente. Se vou a casamentos, já me junto logo à turminha do funil e sou o último a ir embora. Se vou a batizados, quase não me deixam entrar na igreja, mesmo que eu seja o padrinho. Aliás, muitos amigos meus me chamaram para ser padrinhos de casamento deles porque disseram que seria a única chance de me verem bem vestido na cerimônia.

- Hahahaaha.

- Nesse carnaval, por exemplo. Fui muito humilhado.

- Você me contou. Te tiraram de traficante e outras coisas, não?

- Sim. Mas agora, remexendo na minha mente, vi que além de tudo, me prestei a um papel de ambulante.

- Como assim?

- Lembrei que no meio de um bloco, me envolvi com um vendedor de "tequila" e acabei vendendo a bebida dele para terceiros, sem qualquer pudor.

- Por que tem essas aspas na palavra tequila?

- Porque desconfio que não era tequila. Parecia conhaque com água. Mas como tava quente, já que eu estava vendendo a um sol de 40 graus, podia ser qualquer outra coisa, como metanol. Mas tequila não era.

- Você vendeu ou bebeu?

- Vendi e bebi. Comecei bebendo. Daí, resolvi vender. E ganhava comissão: a cada 3 doses vendidas, podia beber uma. Foi uma maravilha.

- E o dono da garrafa?

- Ele só ficava com a grana. Eu vendia, servia, oferecia, negociava. O rapaz só ficava com a grana.

- Cara, então acho que realmente você atingiu um nível inferior na escala profissional. Ajudante de vendedor de falsa tequila é demais, hein.

- É. Mas foi pior.

-Por que?

- Já te falei que eu estava vestido de Minnie?

- A rata?

- É. Olha as fotos.




segunda-feira, 1 de março de 2010

A Patada do Sul

- Vai vendo.

- Vou.

- Outro dia, uma amiga estava participando de um quiz. E pediu ajuda: perguntou qual era o nome do golpe de esquerda que o Rocky dava. 

- Rocky do Stallone?

- É.

- Seria "canhotinha de ouro"?

- Não seria.

- "Canhotinha de prata"?

- Nops.

- "Esquerdosa mortal garanhosamente italiana"?

- Duvido que você repita isso.

- Eu também.

- Me deixe continuar a história. Daí, eu não sabia. E encasquetei. Procurei no Google que nem um débil mental por umas quatro horas.

- Compreendo. 

- Não achei. Mas horas depois, saiu o resultado do quiz.

- E qual era a resposta? "Esquerdosa mortal garanhosamente italiana"?

- Caraca, parabéns!

- Era isso?

- Não. Mas você conseguiu repetir a mesma expressão estúpida duas vezes.

- Repeti? Achei que fosse outra.

- De qualquer forma. O nome do diabo do golpe é "patada do sul".

- Nunca ouvi falar.

- Nem eu. Mas vai vendo. Além do Google, perguntei a todos que conhecia. No MSN, no Google Talk, por telefone, SMS. Fiquei meio paranóico com isso, até descobrir.

- E não teve jeito.

- Não teve. Aparentemente, só poucas pessoas na Terra sabiam esse nome. Daí, depois que veio a resposta, e por nunca ter ouvido falar nela, resolvi beber para esquecer. Fui até um boteco com essa minha amiga e resolvemos logo enxugar as mágoas. 

- E os copos.

- Precisamente. Então, como queríamos esquecer, evitamos falar no assunto Rocky. Na verdade, não falamos sobre nenhum filme do Stallone, para evitar completamente o assunto.

- Difícil ir para o bar e não falar de Rambo III. 

- Também achei. Mas conversamos sobre amenidades, como casamento de padres, legalização do aborto e outros clichês estúpidos.

- An ran.

- Sim. Mas lá pelas tantas, não aguentei. Tive que comentar, em meia voz, até. Disse "era patada do sul!". Ela assentiu.

- E?

- E aí tinha um bêbado, desmaiado no fundo do bar. Ao ouvir "patada do sul", ele levantou rapidamente. De desmaiado na mesa, virou outra pessoa. Elétrico, ficou esperto na hora.

- E vocês não falaram mais nada? Ou algo sobre Rocky ou Stallone, antes?

- Nada. Ele ouviu somente "patada do sul" e se levantou. Disse "Rocky II" e começou a golpear o ar com a mão esquerda. Impressionante. 

- Olha aí. Quer dizer que uma das únicas pessoas do mundo que sabiam sobre a "patada do sul" era um bêbado de fundo de bar?

- Exato. E mais: desconfio que ele ficou assim porque participou de um quiz sobre o assunto. Não adivinhou e acabou exagerando na cachaça. 

- E era exatamente isso que você e sua amiga estava fazendo naquele momento, procede?

- Procede. Mas daí, depois da atuação do bêbado, pedimos dois cafés e fomos embora. Resolvemos assistir Rocky II, para saber se era "patada do sul" mesmo o apelido.

- E era mesmo?

- ...

- Era?

- Merda. Vou beber. Com licença.