quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Uma onda retrô meio diferente

– Se eu pudesse ter um superpoder, queria ter retrovisão.

– E um retrovisor não resolve isso? 

– Resolve, mas só quando estou dirigindo. E eu acho que retrovisão seria importante em todos os momentos da vida.

– Bom, quando você diz a palavra “retrovisão” parece que é realmente um superpoder muito bom. Mas quando se descobre que é um simples espelho retrovisor, perde um pouco a graça.

– Mas eu me sinto muito poderoso quando entro no carro e percebo que posso ver o que está atrás, como se tivesse olhos nas costas. É um grande invento da humanidade. Dão muito valor a quem inventou o carro, mas nenhum a quem teve a brilhante ideia do retrovisor.

– O Fagner tem uma música que se chama Retrovisor...

– Se for pra ter que escutar Fágner, eu preferia ter retroaudição também...

– E como seria isso?

– Sei lá, acho que escutar tudo de trás pra frente.

– Como um superpoder, acho que isso serviria apenas para decifrar todas as mensagens subliminares escondidas em discos da Xuxa e dos Beatles.  

– E para embaralhar as músicas do Fágner e torná–las audíveis, oras.

– E de retro–olfato, você não gostaria?

– Parece meio complicado. Se eu sentisse cheiro de feijão novinho quando visse um prato cheio de pedras, por exemplo, com certeza ia comer e quebrar os meus dentes.

– Retro-olfato não seria sentir os cheiros ao contrário?

– Sim, mas e qual é o contrário de feijão?

– Deixa pra lá. 

– Mas e você, se pudesse ter um superpoder, qual seria o seu?

– Não sei, acho que telepatia.

– Telepatia? Hmm. No sentido linguístico, é o contrário de retrovisão.

– Como assim?

– Bom, você acha que retrovisão é um nome muito bom pra um poder mais ou menos. Eu acho que telepatia é um nome péssimo pra um poder bom.

– E por quê?

– Parece nome de doença. O cara pegou uma telepatia braba. Como já tinha cardiomiopatia, a coisa ficou feia.

– E você teria um nome melhor pra isso?

– Óbvio. Retrofala.

– Captei. Retrofala aqui com a minha mão...  

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Mais Borboletas

- Hoje eu devo estar com uma energia muito boa.

- Por quê?

- Vindo para cá, quase todo mundo que passei me sorriu. 

- Como é?

- Ah, das pessoas que cruzei, quase todas me cumprimentaram ao passar por mim. A maior parte sorriu. Umas poucas, homens e mulheres,  até chegaram a mandar uns beijinhos meio esquisitos.

- Como assim meio esquisitos?

- Colocaram a mão perto da boca, dando a ideia de beijo. Mas em vez de beijar a mão e assopar, só esfregavam o polegar. Enfim, eram beijos estilizados.

- Será?

- O que mais seria?

- Talvez estivessem indicando para você limpar a boca. Tá cheio de pasta ao redor dos seus lábios. Isso também explica os sorrisos.

- Sério?

- Sério, vai ver no espelho. 

- Por que você não me avisou antes?

- Você acabou de chegar. E já veio com esse papo maluco.

- Ah é.

- É muita pasta. Meu Deus!

- Sabia que tinha esqucido de algo hoje.

- Esqueceu de enxaguar a boca?

- É. Eu estava lá escovando os dentes, aí passou uma borboleta e me distraí atrás dela.

- No seu banheiro entram borboletas?

- Aí vim atrás dela. Quando vi, estava na metade do caminho para cá. 

- No seu banheiro entram borboletas?

- E se tem uma coisa que me distrai são borboletas, sabe? E era daquelas bem bonitas, azuis.

- No seu banheiro entram borboletas?

- Aliás, olha uma ali na janela. 

- No seu banheiro entram borboletas?

- Que coisa mais bonita....

- Hey, onde você tá in... hey! 

- ...

- Esqueceu de novo de limpar a boca. Pelo menos, vai ganhar muitos sorrisos. Ainda mais porque a braguilha tá aberta também.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Elisa Samúdio e CSI Diadema

- E esse lance do advogado do Bruno ser viciado em crack, hein?!

- Como é?

- O advogado do Bruno, o goleiro.

- O do Samúdio?

- Ele era goleiro do Flamengo, burro. Que time é esse Samúdio?

- Perguntei se o Bruno a que você se refere é o do caso Elisa Samúdio.

- Isso. Ele.

- O advogado dele o quê?

- É viciado em crack.

- Que crack, o de fumar?

- É.

- Com colher e potinho de Yakult?

- É, porra.

- Ah, rapaz. É viciado, é?

- É.

- Espero que se recupere logo. Torço por ele.

- Eu também. Mas não vou resistir a fazer um trocadilho.

- Eu faço antes. Advogado do crack. Advogado do craque. Droga de advogado. Etc, etc.

- É. Essa tava fácil até para quem não é "viciado" em trocadilho.

- Tava quicando. Mas mudando de assunto, eu já não duvido de nada desse caso. Nem se a Samúdio aparecer viva. Dizendo que era viciada em se fazer de morta.

- Legal mesmo seria se o Mano Menezes convocasse o Bruno para os jogos de dia da seleção.

- De dia porque...

- Porque à noite ele teria que voltar pra cadeia. Acho que não pode passar a noite fora. Aí já é demais.

- Cara, se a Samúdio aparece viva, nem sei o que acontece.

- Nem eu. Mas iam chamar o CSI Diadema para investigar.

- CSI Oratório.

- CSI Campo Limpo.

- CSI Jardim Ângela.

- CSI Jordanópolis.

- CSI Vila Mimosa.

- Cara, tava pensando em fazer um curso de vigia só para formar o CSI Vila Mimosa.

- Perda de tempo. Na Vila Mimosa nunca, nunca tem crime.

- Ah, mas então, se eu fosse vigia, não ia investigar mesmo. Ia olhar para a pessoa morta e dar o veredito. "Morreu tossindo? Foi tuberculose. Morreu tossindo muito, muito? Tuberculepra. Morreu de repente, sem tossir? Tuberculose fulminante." É até melhor que não tenha crime lá, só morte natural. Assim posso só olhar, dizer o que foi e ir pro meu canto terminar de fumar.

- Para isso, você nem precisa fazer curso de vigia. Basta ficar na Vila Mimosa num canto. Viu alguém caindo, vai lá, balbucia o que quiser e se manda.

- Mas aí trabalharia na ilegalidade. E não gosto disso. Prefiro fazer tudo dentro dos conformes.

- E pra dar palpite na Vila Mimosa você tem que ser vigia?

- Para dar palpite, basta eu saber falar. Mas eu quero montar o CSI Vila Mimosa. E, pra isso, só se formando.

- Em vigia?

- Perfeitamente. Quero virar crack no assunto.

- Nem começa.

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Com a colaboração involuntária do Daniell (que tá aqui e aqui), da BruxaOD, do Fábio Primo (que é um excluído digital e não tem nada desse negócios modernos) e de mais um monte de gente do GoogleGroups do Morfina.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Nanotecnologia e Fones de Ouvido

- A tecnologia só me fode.

- Tomou choque enfiando o dedo na tomada?

- Já, várias vezes. Mas essa tecnologia, eletricidade e tals, é velha. Estou falando da nanotecnologia, meu chapa.

- A nanotecnologia só te fode?

- Em termos. Por exemplo, quando vejo uma pessoa mexendo a boca ao longe, nunca sei se ela está com um fone de ouvido, conversando com alguém por celular. Ou se é louca da cabeça e está realmente falando sozinha.

- E o que a nanotecnologia tem a ver com isso?

- Ué, se os fones não estivessem tão pequenos, eu os veria de longe. E se não os visse, faria meu decreto: a pessoa em questã é louca.

- Você sabe que nanotecnologia não tem a ver com o tamanho dos fones, né?

- E tem a ver com quê, então?

- Com construções a partir de escala atômica, no caso, escala nano.

- Bom, de qualquer forma, se os fones não fossem tão pequenos, não me confundiriam tanto.

- E por que essa encasquetação com fones de ouvido e pessoas falando sozinha ou ao telefone?

- Se eu não sei se a pessoa é louca ou se está falando ao celular, como posso pará-la e pedir informação?

- Se a pessoa estiver falando ao celular, é de bom tom não interromper. Se a pessoa for louca, é uma boa ideia não lha pedir orientações. Em resumo: vendo alguém mexendo a boca e soltando palavras ao vento, não faça perguntas.

- Quer dizer que os fones de ouvido não têm qualquer relação com meu problema? Tampouco a nanotecnologia?

- Isso. Mas lembre-se de uma regra simples para resolver seu problema: pessoa conversando, não interrompa.

- Mas e se eu estiver perdido?

- Pergunte a quem estiver com a boca fechada.

- E se essa pessoa for louca e muda? Ou se for telepata e estiver se comunicando com outra pessoa mentalmente?

- Mas você complica as coisas, hein?

- Só estou supondo.

- Nesse caso, estando perdido, não pergunte a ninguém. Olhe para o céu e se guie pelo Cruzeiro do Sul.

- E se for de dia?

- Espere anoitecer.

- E se for bem de manhazinha?

- Pegue uma bacia, encha d´água. Pegue uma agulha imantada, coloque sobre uma rolha e as ponha na bacia. Pronto, você tem uma bússola que te guiará.

- E se...

- Ah, chega. Vou embora.

- Não... não... volta... droga. Me deixou falando sozinho de novo. Agora, vou ter que conversar comigo mesmo e procurar as respostas. Diabo. Bom, supondo que eu não tenha água para colocar na bacia, será que coca-cola é um bom sucedâneo? Supondo que sim, então...