quinta-feira, 30 de julho de 2009

Na BR 116, Quase em Registro

- Vai pra onde, dona?

- Como "pra onde", garoto? Nem precisa ligar o carro, já que você já tá no acostamento mesmo. O programa custa R$ 20.

- Eita, como assim?

- Ué. Eu sou puta de beira de estrada.

- Achei que nunca fosse ouvir uma frase dessas pessoalmente. Aliás, tirando os filmes do cinema nacional, achei que nunca fosse ouvir essa frase em lugar nenhum.

- Como?

- Nada. Nada. É que eu estava passando, vi você estender a mão e achei que queria carona. Como estou faz mais de 5 horas dirigindo sozinho e estranhamente meu CD player quebrou na primeira hora de viagem e está tocando Fly by Night há tempos, achei que seria bom dar carona para alguém para me distrair.

- Se quer se distrair, são R$ 20.

- Mas eu não quero transar. Aliás, a senhora não está um pouco sambada para ser puta?

- Ué. Você dirige mal para a porra e está aí, querendo "dar carona".

- Como você sabe que eu dirijo mal? Ainda nem dei partida no carro.

- Eu vi quando você entrou na reta. Você cortou um caminhão, quase bateu em uma Fiorino e quase te acertaram a traseira quando embicou para "me dar carona".

- É que eu estava tentando desligar a porcaria do CD ou tirar o disco. 

- Fly by Night é de matar mesmo, não?

- A senhora conhece Rush?

- Olha aí, já está puxando assunto. Você quer uma puta ou uma analista?

- Eu não quero nem um nem outro. Só queria dar uma carona e me distrair. Mas se...

- Para se distrair, custa R$ 20. Mas eu vou avisando que, comigo, só com camisinha.

- Olha, esquece. Desce do carro que eu vou embora com o maldito Rush tocando Fly by Night.

- Para onde você vai?

- São Paulo.

- Vai passar pela Lapa?

- Não sei. Não é muito meu caminho.

- Bom, porque já que estou aqui mesmo e o meu expediente está acabando, você poderia me levar lá, até a Lapa. Eu aproveitaria para visitar minha irmã, que não vejo há anos.

- É meio fora de mão. Mas eu te levo, sim. Custa R$ 20.

- R$ 20? 

- É. Mas te deixo na porta da sua irmã.

- Certo. Mas olha, hoje o dia foi difícil e eu não peguei um só cliente. Você não quer transar? Daí você me dá R$ 20 e eu te devolvo esses mesmo R$ 20 quando você me deixar na Lapa.

- Minha senhora, já disse mil vezes que não quero transar. Só queria companhia.

- Só pela companhia, cobro R$ 10. Mas se eu tiver que falar muito daqui até lá, aí sai por R$ 25.

- Olha, eu te pago R$ 40, se você conseguir tirar esse CD daí de dentro. E ainda te levo até a Lapa, na casa da sua irmã.

- Tudo bem, eu aceito. Toca o carro. Aposto que até a gente chegar em Registro, já tirei o CD.

- R$ 40.

- Como?

- Aposto R$ 40 que você não tira o CD até Registro.

- Peraí que a conta está complicando. Se eu tirar até Registro, ganho R$ 40. E se eu tirar até a Lapa, ganho mais R$ 40? 

- Não. Se tirar até Registro ganha R$ 40. Se não tirar, me deve R$ 40. Se tirar só na Lapa, ganha R$ 40. O que dá zero a zero, já que perdeu a grana em Registro. No final das contas, se não tirar, leva R$ 10. Mas isso se falar pouco. E como estou percebendo que a senhora fala mais do que a nega do doce, vai ser R$ 25, no mínimo. Mas como...

- Tá, tá, já basta. Não entendi bem, mas está combinado. Tem certeza de que não quer se divertir?

- Certeza. Agora coloca o cinto que vou dar a partida e entrar na estrada com tudo.

- Só transo com camisinha, viu!

- Mas eu já disse que...

- Eu sei, eu sei. Desculpe. Foi puro reflexo. Sempre que eu ouço alguém dizer "entrar com tudo", respondo que tem que ser com camisinha.

- É mesmo?

- É.

- Vou entrar com tudo.

- Só transo com camisinha, viu?

- Vou entrar com tudo.

- Só transo com camisinha, viu?

- Vou entrar com tudo.

- Só transo com camisinha, viu?

- Hahahahaha.

- ...

- Vou entrar com tudo.

- Só transo com camisinha, viu?

- Vou entrar com tudo.

- Só transo com camisinha, viu?

- Agora perdeu a graça. Põe o cinto.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Creme Rinse Ainda Existe?

- Não ganhei na megasena. Preciso pensar em algo para ficar rico sem fazer muito esforço.

- Invente uma coisa bem estúpida. Normalmente, dá certo.

- É mesmo?

- É. Olha o cidadão que criou os sachês de mostarda, catchup e assimilados. É um troço idiota, que ninguém em sã consciência gosta, que faz a pessoa se sujar muito, dá trabalho para abrir, gasta o triplo dos molhos, porque mais da metade fica dentro do sachê, e faz um sucesso danado. O cara que inventou isso, além de ser um belo de um pilantra, tá rico hoje em dia.

- Mas eu não consigo pensar em coisas idiotas. Somente em coisas úteis. Hoje mesmo, acordei com uma idéia que, se eu tivesse patrocínio, me deixaria rico.

- No que você pensou?

- Em lançar o primeiro xampu dietético da história.

- Para que? Emagrecer os cabelos? Sei não, com tanta gente reclamando de calvície por aí, acho que você estaria na contramão do mundo.

- Ah, mas a idéia não é criar um xampu dietético para afinar cabelo. Mas para a pessoa poder beber e, mesmo assim, não engordar.

- Seria light, diet ou zero? 

- Pensei em começar com xampu light. Depois, pela demanda, poderíamos abranger os mercados diet e zero. Que acha?

- Acho a idéia bem estúpida. Mesmo porque ninguém bebe xampu.

- E você sabe por que ninguém bebe?

- Porque é ruim e amargo para diabo?

- Como sabe que é amargo? Você já bebeu? 

- Uma vez, por engano. Depois explico. 

- Bom, mas o fato de as pessoas não beberem xampu não tem nada a ver com o gosto.

- Tem a ver com o que, então?

- Medo de engordar. Se eu criar uns xampus dietéticos, todo mundo beberia.

- Sei não.

- Eu faria xampus contra caspa e para soltar o intestino. Ou ainda xampus para evitar queda de cabelo e para ajudar na circulação do sangue. Xampu de boldo com quitina. Essas coisas.

- Todos eles seriam dietéticos, correto?

- Exatamente. Daí, eu poderia criar xampus de limão, laranja, morango. Ele poderia ser até solúvel ou misturável na água quente do chuveiro ou na água gelada da  ducha.

- Acho que já inventaram isso aí. Com água quente, chama chá. Na água gelada, suco.

- Você está menosprezando a idéia só porque não foi sua. Quando eu encontrar um patrocinador, vamos ver quem vai rir.

- Por que você, enquanto não encontra patrocinador, não pega umas sopas de saquinho, mistura na água quente, enfia em um pote de xampu e sai vendendo por aí?

- Sopa em pó é bom para lavar a cabeça? 

- É sim. Desde que depois de usá-la, você recorra a um bom xampu 100% verdadeiro, para limpar a nojeira que deve ficar.

- E existe sopa light no mercado?

- Se existe até miojo light e açúcar diet, com certeza existe sopa light.

- Boa. Então vou agora mesmo ao mercado comprar essas sopas aí.

- Só não esquece de vendê-las acompanhadas de um xampu verdadeiro, para ser usado após a sopa.

- Será que eu serei acusado de venda casada?

- Não. Provavelmente, será taxado de charlatão ou demente, mesmo. Mas acho que do lance da venda casada você escapa.

- Boa. Obrigado.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Jubash no Dois Vezes Um

- Nesse ritmo que está o desmanche do Corinthians, em vez de rumo à Toquio ou Dubai, vamos rumo à mais um papelão na Libertadores, isso sim.

- Não fala bobagem.

- Pô. Mas mandaram o André Santos e o Christian embora. Já, já, sai o Douglas e o Felipe e aí o caldo entorna de vez. Só vai faltar vender o Ronaldo Gordo para o circo Vostok e, pronto, deu zebra total.

- Com o Mano no comando, não tem como dar errado. Não foi o Christian, renegado do Flamengo, nem o André Santos, renegado de 38 times, nem o Douglas que fizeram o Corinthians. Foi o Corinthians que os fez.

- Sei não.

- Daqui seis meses o Jucilei vai estar jogando mais do que o Fernando Redondo. 

- Olha, filho...

- O Corinthians depende do zodíaco, não depende de contratações ou planejamento. Veja o exemplo do Christian. Tinha tudo para dar errado e deu certo pra caralho.

- Juliano, fico feliz pelo seu otimismo, mas ainda assim eu acho que...

- Calma que o pior já passou. Chegamos à final da Copa do Brasil, ano passado, com um time quase que nojento de ruim, se comparado com esse. O Grêmio do Mano, que chegou à final da Libertadores, tinha como homem de referência o Tuta no ataque. Fica frio que vai dar certo. Eu acho que o Mano faz alguma macumba ou coisa assim, mas no final, dá certo.

- É. Mas onde a gente vai arrumar um volante que faz gol e manda a bambizada tomar no cu?

- É, nesse caso, ele vai fazer falta mesmo. Vai demorar uns 10 anos para aparecer outro maloqueiro para fazer algo desse naipe. Isso e as embaixadinhas do Edilson são insuperáveis.

- Pois é. 

- De qualquer forma, não se preocupe.

- Mas querem trazer o manco do Lucas. Isso é zuação, né?

- É, aí eu concordo. Com aquele cabelinho, não sei não. Mas, vou falar uma coisa, anota aí...

- Anotando.

- Eu tenho a sensação, sem base alguma, que o Herrera volta para jogar a Libertadores. Aí sim, o bicho vai pegar.

- Ah, saudades do Herrera. Ele e o Jorge Henrique são os dois melhores atacantes-volantes que eu já vi.

- Sim. Os dois e o Júlio Batista. 

 - Bom, você me acalmou. Vou dormir mais sossegado hoje.

- Ótimo. E lembre-se sempre que o Corinthians não tem lógica.

 

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Via Toledo, PR

- Tá longe de casa, hein, filho.

- Tô sim, seu guarda.

- Documento do carro e habilitação, por favor.

- Só um segundo.

- Está vindo de onde?

- Toledo, seu guarda.

- Viagem de negócios, filho?

- Mais ou menos, seu guarda. Minha irmã mora lá. 

- Foi visitá-la, então? Ah, poderia abrir o porta-malas, por favor?

- Claro. Fui sim. Mas aproveitei para fazer alguns negócios, seu guarda.

- Que tipo de negócios, filho?

- Bom, tive uma reunião com o prefeito.

- É político?

- Não, não. Sou jornalista. Mas pedi uma audiência com o prefeito para saber da possibilidade de mudar o nome da cidade.

- Pode fechar o porta-malas, filho. Me diga, por que você gostaria de mudar o nome da cidade?

- Acho que a cidade de Toledo ficaria melhor se mudasse o nome para Ari Toledo. Seria uma justa homenagem ao segundo melhor comediante do Brasil.

- Quem seria o primeiro, filho?

- Carlos Alberto de Nóbrega, seu guarda. 

- Sei.

- Além de mudar o nome da cidade, o ideal seria também mudar o nome das ruas. A principal deveria virar "Rua do Papagaio Gago". As outras ganhariam nomes como "Rua do Portuga Broxa", "Rua da Viúva Alegre", etc.

- Já está liberado, filho. Pode prosseguir viagem.

- Só me deixe terminar. O prato principal da cidade, em vez de churrasco, viraria Gato com Batatas. Em frente à prefeitura, haveria um imenso monumento de um elefante se suicidando.

- De muito bom gosto essa estátua, não?

- O senhor também acha, seu guarda? Mas vou além. A igreja principal viraria a Igreja do Padre Pirocudo. Todos os bairros mudariam de nome. Por ordem de entrada na cidade, o primeiro seria Marly Marley. O segundo, Marly Marley II. O terceiro, Marly Marley III. E assim por diante.

- O prefeito aceitou sua sugestão?

- Ficou de pensar. Disse que ia tentar a reeleição. Se perdesse, acataria a idéia. Só não entendi direito isso. Ele devia mudar o nome caso ganhasse, não? Para agraciar a população que o reelegeu.

- Acho que não, filho. Pelo que percebo, ele mudará o nome da cidade caso perca, para poder punir a população mesmo.

- Nesse caso, vou voltar. Se é para punir, a idéia é outra. Mudar a cidade para Jô Soares ou Arnaldo Jabor. 

- Ok, filho. Dirija com cuidado. E não corra muito. 

- Vou dentro do limite de velocidade, seu guarda. Mas ainda tenho muito a fazer. Depois de sair novamente de Toledo, rumarei à Florianópolis.

- Pretende mudar o nome da cidade também, filho?

- Não. Somente do Costão do Santinho. Acho que ficaria melhor Costinha do Santão. Para homenagear outro excelente humorista brasileiro. 

- Nesse caso, quando voltar, passe aqui e me leve. 

- Sério?

- Sério. Sempre fui fã do Costinha e acho que ele merece mesmo uma homenagem póstuma. Na volta, pare neste posto policial e buzine três vezes. Estarei esperando.

- Ok, seu guarda. Muito obrigado.

- Eu que agradeço. 

terça-feira, 21 de julho de 2009

I Just Called To Say I Love You

— Oi, tudo bem? Eu nasci de cesariana.
— Como é?
— Eu gosto de deixar essas coisas bem claras desde o início.
— Sabe o que é? Esse lugar está ocupado.
— Bom, eu podia ter chegado falando que meu prato preferido é arroz com açafrão, mas não quis colocar a carroça na frente dos bois, compreende?
— Eu vou ali pegar um drink e já volto.
— O que foi, não gosta de açafrão?
— Açafrão? Eu adoro açafrão.
— Mas e então?
— Detesto arroz. E cantadas furadas.
— Mas espera aí. Dá pra comer açafrão sem ser com arroz?
— Uh.
— Bom, então pelo menos o açafrão nós temos em comum.
— Temos mais. Eu também nasci de cesariana.
— Ô, diabo.
— E, pelo jeito, nós dois somos fãs do dublador do Gene Wilder em A Dama de Vermelho. Não vejo outro motivo para estarmos os dois imitando a voz dele desde o início desta conversa.
— Coisa horrorosa, minha senhora. Nem tinha reparado.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Pateta, Pluto e Outros Patetas

- Finalmente alguém me deu uma boa explicação sobre o fato do Pateta falar e o Pluto, não. Considerando, obviamente, que ambos são cães.

- Quem?

- Foi o Daniell, que abriu meus olhos outro dia.

- Os seus olhos e os da humanidade, diga-se. Porque todo mundo se pergunta isso há séculos. Até perdeu a graça jogar essa pergunta em rodas de bate-papo, tão batida que é. Mas abra meus olhos também: por que, sendo ambos cães, o Pateta fala e o Pluto, não?

- Simples. O Pateta é um cachorro adulto. O Pluto é um cachorro bebê.

- Faz algum sentido.

- Vai fazer mais sentido se formos além da questão da fonética entre ambos. O Pateta, como adulto, se veste, anda em pé, usa chapéu, fala. O Pluto, como bebê, anda pelado, balbucia algumas palavras em forma de latido. Ele engatinha, ou melhor, anda de quatro, mesmo. O Pateta usa garfo e facas.

- Bem mal usado.

- Sim, ele é meio pateta no quesito talheres. Mas o Pluto, nem isso. Come numa tigelinha colorida.

- Certo. Mas se o Pluto é um bebê, por que ele não mora com o Pateta, mas com o Mickey?

- Ele não é filho do Pateta. Ele é órfão e foi adotado pelo Mickey. Por coincidência, ele é da mesma marca que o Pateta.

- Marca ou raça?

- Não sei bem. Como são desenhos animados, não sei dizer se é raça ou marca. Mas você entendeu a questão.

- Entendi. De qualquer forma, ainda tenho uma última pergunta, antes de sair por aí defendendo essa sua teoria. Se o Pluto é um bebê, por que ele dorme em uma casinha de cachorro no jardim do Mickey? Como bebê, ele não deveria dormir em um berço dentro de casa?

- Se você adotasse um cachorro bebê, colocaria para dormir em uma casinha de cachorro ou em um berço dentro de casa?

- Se eu fosse um rato gigante meio nazista, meio afeminado e tivesse de adotar um cachorro-bebê?

- É.

- Acho que não adotaria. A não ser que eu fosse um rato gigante, meio nazista, meio afeminado, que curtisse uma zoofilia meio pedófila. Aí, sim, eu adotaria um cachorro bebê, mas colocaria para dormir na minha cama. Mais ou menos como o Michael Jackson fazia, mas sem o Macaulay Culkin no meio.

- Entendo. Mas te convenci ou não?

- Sim. Mas daí, agora que você me esclareceu essa, poderia me explicar a próxima dúvida entre os tantos enigmas do mundo Disney?

- Manda.

- Por que o Pato Donald não usa calças mas quando sai do banho enrola uma toalha na cintura?

- Bom, acho que vou ter que perguntar isso para o Daniell também. Depois de falo.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

SMSs Irresponsáveis

- Olha só, que coisa, o Alex esqueceu o celular dele aqui.

- Aquele vermelho?

- Não, acho que ele trocou. É um preto. 

- Deixa eu ver.

- ...

- É. É novo mesmo.

- Então, já que ele esqueceu e não deve voltar para buscar hoje, a gente podia usar esse telefone e mandar uns SMSs para todos os contatos deles.

- Melhor ainda seria a gente mandar uns SMSs pornográficos para todos os contatos femininos dele. Que acha?

- Boa. Vamos escrever o que?

- Sei lá. Deixa ver como esse celular funciona.

- Escreve assim "qual tal pegarmos uma casa de swing amanhã?" Ou seria melhor "estou com crista de galo, procure um médico"?

- Gosto mais da segunda. Mas prefiro mandar o lance do swing. 

- Tá, beleza. Descobriu como manda?

- Descobri. Peraí que vou escrever. Escolho só algumas garotas ou mando para a lista feminina toda?

- Manda para todo mundo. Muito melhor. 

- ...

- ...

- Mandei. Mas o mais estranho é que eu não conhecia uma garota da lista do telefone dele. E ele tem o próprio número anotado duas vezes. 

- Hahahahaha. Que estranho. Bom, vai saber o que passa na cabeça daquele menino.

- Pois é. Ah, olha só, o Alex entrou no MSN agora. Vou avisá-lo da pegadinha.

- Beleza. 

- ...

- ...

- Pronto, tá avisado.

- E o que ele disse?

- Tá escrevendo ainda. 

- Tá.

- Rapaz...

- O que? Ele respondeu?

- Sim. Disse que o celular dele tá no conserto e que esse telefone é da mãe dele, que emprestou enquanto o dele está parado.

- Hahahahahaha. Deus do Céu! 

- Hahahahahaha. Que bizarro, não? 

- Hahahahahaha. Muito. Mas tem uma coisa que eu acho mais bizarro do que isso.

- Hahahahahaha. O que?

- Hahahahahaha. Quem leva o celular para consertar hoje em dia?

- Hahahahahaha. Pois é. É o mesmo que levar uma calça no alfaiate ou ir ao sapateiro.

- Bom. E agora, o que a gente faz?

- Ah, acho que esperamos para ver se alguma amiga da mãe dele responde o SMS. Se responder, a gente pergunta pro Alex qual o naipe da senhora interessada no swing. Se for pegável, a gente continua trocando mensagens.

- Hahahahahaha. Boa. 

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Live from Messenger

- Tem uma menina no meu MSN Messenger que é evangélica ou coisa parecida.

- Agora é Live Messenger, burrão.

- Mas quem fala Live Messenger? Só ouço MSN para cá, MSN para lá. É como a Febem, que virou Fundação CASA, mas todo mundo só chama de Febem.

- Verdade. Já te falei que acho um absurdo terem mudado o nome da Febem?

- .

- Pois então. O que tem a menina que é crente?

- Evangélica.

- Você disse "evangélica ou coisa parecida". Na minha concepção, crente é "coisa parecida". Logo, o que tem a tal crente?

- Ela usa uns nicks meio gospel, meio pornográficos. Eu não sei se ela já percebeu e faz de propósito, se ela é bem inocente ou se eu que estou pervertido demais.

- Qual o nick que ela usa neste momento?

- "E que diminua eu, para que cresças dentro de mim, Senhor. Mais e mais."

- Olha, filho...

- Mas tem outro, que ela usava outro dia. Era algo como "leva me além, a um nível mais profundo de intimidade contigo, ó, Senhor!"

- Intimidade profunda?

- É. 

- Rapaz. Acho que é crente mesmo.

- Não é evangélica ou coisa parecida?

- Se eu fosse irresponsável, eu diria que é crente do rabo quente. Mas não usarei a expressão. É bonita?

- É sim, viu. 

- Você diria que esse tal "ó, Senhor!" está perdendo tempo em não querer intimidade profunda ou crescer dentro dela?

- Diria. Mas só se eu fosse irresponsável. Como não sou, não direi. Só espero que, se ele quiser tudo isso aí, que sejam felizes para sempre. 

- Amém.


terça-feira, 14 de julho de 2009

Gêmeos, Mórbida Paternança

- Meu sonho é ter um casal de gêmeos.

- Ui! E casar virgem, de véu e grinalda? Não quer?

- Não seja besta. Mesmo porque eu não tenho a menor idéia do que é uma grinalda.

- Sabe que eu também não?

- Então, mas eu estou falando sério. Queria ter gêmeos. 

- Para vesti-los iguais, penteá-los iguais, colocar nomes parecidos em ambos, como Marcos e Marlos ou Nei Marcus e Marcus Nei, e, com isso, confundir sua família, as professoras deles, seu bairro inteiro e, por fim, eles mesmos?

- Não, claro que não. Já disse que estou falando sério. Mesmo porque eu queria ter gêmeos de sexo diferente. Um menino e uma menina.

- Para que? Para fazer experiências genéticas, tentar inverter o sexo de ambos antes de chegarem à puberdade, vesti-los de modo contrário ao natural em meninos e meninas e confundir professores, vizinhos e, por fim, as próprias crianças?

- Não, porra.

- Então, por quê? É um sonho sem qualquer motivo? É tipo um TOC natalício?

- Não é TOC. Mas é uma espécie de luxo, sim. Eu queria ter gêmeos para chamar o menino de Pablo Escobar e a menina de Madre Teresa de Calcutá.

- E eles seriam traficante e freira, respectivamente?

- Não sei se teria o direito de decidir a profissão deles.

- Teria, teria sim. O que você gostaria de eles fossem?

- Sem querer ser leviano, eu realmente gostaria que um deles fosse religioso mesmo. O outro poderia ser contraventor, para dar graça na família.

- Ah, então, Pablo e Madre seriam, respectivamente, traficante e freira?

- Acho que respectivamente, não. Contrariamente. Ela poderia ser traficante. Ele, freiro. Não gosto de obviedades.

- Acho que o correto é frei, não freiro. No máximo, frade.

- Ele não poderia ser freiro?

- Temo que não.

- Ah, então em vez de Pablo, ele chamaria Freiro Tereso de Calcutá. Ela, Pabla Escobara.

- Mas se você não gosta de obviedades, ele teria de ser traficante. Ela, freira.

- É verdade. Mas, como eu disse no começo, não gostaria de determinar a profissão deles. Tendo saúde, estarei feliz.

- Com dois nomes como esses, a sanidade mental de ambos, de tanto que serão achincalhados na escola primária, secundária e terciária, é que deve ir para o beleléu.

- Ah, mas não pretendo mandá-los a escola. Quero ensiná-los em casa mesmo. 

- Você será o professor?

- Não. Minha mulher. Por isso preciso encontrar uma mulher que seja professora de profissão.

- E que esteja apta a ter gêmeos de sexo distintos.

- Disso não faço questão. Posso tê-los com uma e casar com outra. 

- A cabeça dessas crianças já não estará suficiente bagunçada por conta dos nomes e da ausência de outras crianças em suas vidas, já que não irão à escola? Você ainda quer que tenham duas mães?

- Tem razão. Não é justo, né?

- Acho que não.

- Beleza. Vou esquecer o lance dos nomes, profissões, escolas. Só não abro mão de ter gêmeos de sexo oposto.

- Para?

- Confundir a vizinhança, os amiguinhos, os familiares e, por fim, eles mesmos.


segunda-feira, 13 de julho de 2009

Varre, Varre, Vassourinha

- Eu estava ouvindo, ainda agora, um disco de um tal de Vassourinha.

- Tem nome de palhaço. É um disco de piadas?

- Não. É um sambista mesmo. Que, aliás, pelo que fiquei sabendo, morreu de um estranho mix de várias doenças aos 19 anos. 

- Como assim?

- Li que "foi vítima de um mix muito louco de tuberculose, reumatismo e tudo mais que se pudesse pensar em termos de moléstias".

- Eu sempre quis pegar escorbuto. Acho que não ligaria se morresse de escorbuto.

- Por quê?

- Ah, minha mãe sempre disse que escorbuto é doença de pirata. E eu sempre quis ser pirata. Mas como não nasci com perna de pau, não preciso de tapa-olho e tenho medo de papagaio, acho que o modo mais próximo que tenho de ser pirata é pegando escorbuto. 

- Que coisa sublime.

- Também acho.

- Ainda bem que você nunca quis ser Papa.

- Por quê?

- Porque a minha mãe dizia que um tal papa qualquer aí, acho que Pio qualquer coisa, morreu de soluço. Como você não é católico, não acredita em rezas em geral e nunca usou uma batina, o jeito mais próximo que você teria de ser Papa seria pegando soluço e morrendo dele. 

- Nossa! Que sorte que eu tenho de querer ser pirata. Mas, me diga, o que você ia falar sobre o Vassourinha?

- Ah, sim. Esse disco que estava ouvindo. Há uma sequência de faixas muito boa. Uma das primeiras chama "Emília".

- Certo.

- Depois dela, vêm outras. Aí, entra a sequência "Olga", "Tá gostoso", "Amanhã eu volto" e Amanhã tem baile".

- Esse Vassourinha foi contando a história aos poucos, não? 

- Pois é. Mas depois de "Amanhã tem baile", vem "Volta para casa, Emília". O que, para mim, faz total sentido. Ela cansou de tanta baderna com a Olga e nesses bailes da vida e se pirulitouzis.

- Depois de "Volta para casa, Emília", qual é?

- Acaba o disco.

- Nossa! Então quer dizer que ela voltou com um pau de macarrão e matou o cidadão de tanta porrada.

- Bom, pelo que li, ele morreu de um mix de moléstias.

- Ah é. Então aposto que ela voltou com um saquinho cheio de Ébola, tacou na sopa do Vassourinha e se mandou. Ele tomou a sopa e não conseguiu voltar para terminar o disco no dia seguinte. 

- Mulher é vingativa mesmo, não?

- Que o diga o Vassourinha. Morreu de Ébola em uma época que isso nem existia.


domingo, 12 de julho de 2009

Uma Noite Sobre a Terra

- Fim de semana estranho.

- Bota estranho nisso.

- Saí de casa na quarta à noite, para tomar uma cerveja inocente, e só consegui voltar na sexta à tarde. Depois, foram dois dias de cama, recuperando o fígado e tentando minimizar as tremedeiras.

- Jesus! Eu fiquei todos esses dias ensaiando o moonwalk perfeito, demorei, mas para conseguir chegar a algo minimamente decente. Foram quatro dias, mas, agora, estou craque. Você precisa ver. Mas, me diga, o que você fez de quarta a sexta?

- Só lembro de flashes. Primeiro, estava em um bar. Depois, em uma balada em que pagava-se R$ 50 e bebia à vontade. Já de manhã, eu lembro de estar no banco de trás de um carro desconhecido, com um negão de black power, óculos vermelho, fã da Madonna e do Michael Jackson e aparentemente gay, rumando à praia.

- Nossa!

- Bom, daí sei que a motorista desistiu da praia e, quando vi, eram umas dez da manhã de quinta e eu estava em um apartamento desconhecido servindo Yakult com Vodka para esses desconhecidos e para mais um amigo meu, o único rosto familiar dessa empreitada.

- Que beleza, hein?

- Nem tanto. O Yakult com Vodka ficou meio forte. 

- Pelo menos, a essa hora, você não havia perdido o paladar. 

- Não. Mas quase perdi a sanidade. 

- Por quê?

- Porque o tal do black power, essa hora já evidentemente gay, resolveu chamar mais uns conhecidos para ir até esse apê. Ele disse que iria chamar a galera para o "after hours" que estava rolando.

- Certo. E nesse momento estavam quantas pessoas nesse apartamento?

- Bom, era eu, ele, uma garota e esse meu amigo, que estava de namorico com ela. 

- E vocês dois, você e o do black power, estavam de vela?

- Sim. Aliás, mais ou menos. A gente estava quase se batendo por conta de uma diferença de opinião sobre o Michael Jackson. 

- O que cada um defendia?

- Não lembro direito. Acho que eu dizia que o Michael era de sagitário. E ele dizia que o correto não é sagitário, mas sargitário.

- Então acho que a discussão era menos sobre o Michael e mais sobre o zoodíaco.

- Já tentou falar zoodíaco completamente alcoolizado às 10 da manhã depois de uma noite sem dormir?

- Não lembro.

- Pois é. Por isso que eu e ele concordamos que a discussão era sobre o Michael Jackson.

- Bom, mas daí ele resolveu chamar mais pessoas para o tal "after hours"?

- Sim. E então ele resolveu ligar para uma tal de Britney, que morava em Osasco, e que seria muito disposta, segundo ele.

- Defina "disposta".

- Alguém que saíria de Osasco e iria até a região dos Jardins, em São Paulo, de ônibus, para beber Yakult com Vodka com uns desconhecidos e uns amigos pós-balada.

- Entendo.

 - Bom, aí ele ligou e falou com a Britney. Daí, resolveu passar o telefone para mim. Eu pego e digo "fala aí, Britney". Do outro lado, uma voz sonolenta e um tanto grave diz "oi?".

- Voz grave? A Britney era o Britney?

- Isso. Ou estava tomando bastante hormônio masculino para, em breve, ser, sim, o Britney.

- Credo!

- Bom, daí eu disse pro Britney não se preocupar em sair de Osasco de busão porque o after hours nem estava essas coisas mesmo.

- E ele?

- Sei lá. Desliguei e fui misturar mais Yakult na Vodka.

- Sei.

- Daí, de lá, fomos buscar o carro desse meu amigo. Que, obviamente, não estava no estacionamento que havíamos deixado. 

- Por que obviamente?

- Porque o cara que trabalhava no estacionamento já havia avisado que, se fôssemos retirar o carro no dia seguinte ao que estacionamos, deveríamos retirar na rua de trás, em um número qualquer.

- E aí?

- E aí que esse número, na rua de trás, era uma espécie de frigorífico. E não havia campainha, nem interfone, nem nada. Mas havia um prédio colado nele. Tocamos o interfone do prédio.

- E?

- E aí saiu o cara do estacionamento do dia anterior. Aparentemente, à noite ele é garagista e de dia, porteiro. Bom, daí ele nos deu a chave do carro, abriu o frigorífico e nos mandamos.

- Para casa?

- Não. Resolvemos almoçar.

- E eu fazendo moonwalk todo esse tempo...

- Bom, a essa hora eu já estava vendo o Michael Jackson.

- Sério?

- Médio. Era o gay do black power, mas parecia muito o MJ em começo de carreira.

- Entendi. E vocês foram almoçar e beber mais.

- É. Almoçamos e tals e, aí sim, eu e meu amigo rumamos para casa.

- Mas isso ainda é quinta-feira à tarde. Você disse que somente havia chegado em casa na sexta-feira. Estão faltando 24 horas nessas história toda. 

- Então, aí é que as coisas começam a fira estranhas.

- Mais estranhas do que Yakult com Vodka e Britney de Osasco?

- Mais.

- Nesse caso, não vou querer ouvir. Capaz de eu beirar a perda da sanidade, e não quero isso.

- Mas...

- Mas nada. Fora que, pelo que sei, quando alguém tem um trauma muito grande, apaga da memória os momentos que o antecederam. E eu estou com o moonwalk fresquinho, fresquinho na cabeça. Se você me contar o resto do seu final de semana, é capaz de eu esquecer tudo. Nem mais uma palavra, por favor.

- Mas tem a ver com dálmatas, hemodiálise e exorcismo.

- Shhhhhhh. Silêncio. 


segunda-feira, 6 de julho de 2009

Iron Maiden Fez Um Filme

- Vi o filme do Iron Maiden esse final de semana.

- Ah, já vi. Achei até que supreendentemente bom.

- Você tava bêbado?

- Tava. Como você sabe?

- Ah, porque eu também achei supreendentemente bom. E eu estava alcoolizado quando assisti.

- Será que se a gente assistir sóbrio vai achar ruim?

- E para a gente assistir sóbrio um filme que a gente já viu bêbado? Só faço isso com Simplemente Amor ou com qualquer filme do Hugh Grant, que nunca é demais ver.

- Eu só faço isso com The Commitments ou O Massacre da Serra Elétrica. Fora esses dois e mais qualquer filme com zumbi, me recuso a assistir mais de uma vez, sóbrio ou bêbado, qualquer coisa.

-  Ah. A Pequena Sereia eu assisti 10 vezes. Uma sóbrio, duas bêbado, mais cinco hospitalizado, com a cabeça imobilizada, de frente para um TV com o DVD do filme.

- E as outras duas vezes?

- Nas duas vezes que assisti bêbado, eu estava tão mal que enxergava dobrado. 

- Bom, mas voltando ao filme do Iron Maiden, além de achá-lo surpreendentemente bom, outra coisa me chamou a atenção.

- Já sei. Que, nas horas de folga, os integrantes da banda jogam golfe e tênis.

- Exatamente. 

- Daí você ficou indignado que aquelas pessoas pulando no palco e clamando pelo capeta quando, acabam o show, viram velhinhos comuns, que andam de bermudas brancas e se comportam como idosos que praticam esportes?

- Exato. Eu achava que entre um show e outro eles sacrificassem carneiros ou molestassem sexualmente todo tipo de hortifutigranjeiros.

- Eu pensava de modo parecido. Eis que surge a questão: o que será que o pessoal do Slayer faz entre um show e outro?

- Ah, certeza que nas horas de folga vão à missa ou ministram palestras no Exército da Salvação.

- Aposto que o Marilyn Mason, quando não está no palco, está ajudando velhinhas a atravessar a rua ou praticando escotismo.

- Só pode. Já o Padre Marcelo, se não está cantando ou rezando missa, aposto que está em alguma rinha de galo, apostando nos bichinhos.

- Não tenho como duvidar disso. E o Roberto Carlos, assim que acaba o show, vai pros bastidores e deita e rola em todos os panos marrons que encontra. E fica falando "inferno", "mal" e outras coisas do tipo.

- Já o Maestro Júlio Medaglia se tranca no quarto e coloca, em alto e bom som, a discografia inteira dos Ratos de Porão.

-  E o Cascão passa duas horas no banho. Enquanto isso o Cebolinha não erra uma letra "érre" em uqalquer coisa que diga.

- Mas esse mundo é mesmo das aparências, não?

- É o que eu acho. Por isso mesmo, me penteio desse jeito. Olha.

- Isso que você faz com seu cabelo é tão ridículo que, até hoje, eu sempre achei que você nunca houvesse penteado o cabelo. Agora me supreendeu.

- Viu? Mais uma prova de que o mundo é das aparências.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Triatlo de boteco

— Então você acha que eu não posso ser melhor que Jesus Cristo em nada?
— Em heresia eu acho que você é bem melhor que ele.
— E em sinuca também. Tenho certeza.
— Bom, eu já vi o Inri Cristo jogando sinuca. Acho que você não ganha dele, não. Ele deu um pau no Cacá Rosset.
— Mas o Inri Cristo não é Jesus Cristo. É apenas um senhor que fala esquisito e anda por aí de camisola. E quem é Cacá Rosset?
— Ele diz que é a reencarnação do filho de Deus. E a julgar pela sinuca que ele joga, não dá pra duvidar muito.
— O Cacá Rosset?
— Não, o Inri. O Cacá é só um outro palhaço.
— Bom, então eu diria que no boliche eu sou melhor.
— Hmmm. Acho que não, hein? O Inri faz um strike atrás do outro.
— Mas então esse cara é um mestre dos botecos. Só falta ele beber mais chope do que eu.
— Não sei se bebe, mas tem cara...
— Então acho que não deu pra mim mesmo. Mas pelo menos em heresia eu fico com o título.
— Aí é que você se engana. O cara diz que ele é o próprio filho de Deus. Contra uma heresia dessas, você não tem chance.
— De fato eu admito que não posso vencer o Inri Cristo. Mas continuo achando que posso ser melhor do Jesus Cristo em alguma coisa.
— Herege.

Claro, TIM e Demais Lixos

- Pra você ver como são as coisas.

- Que coisas?

- As coisas. Todas elas.

- Do que você tá falando?

- Do seguinte: hoje chegaram para mim várias cartas do correio. Duas delas da Claro.

- A operadora de telefonia?

- É.

- Que estranho. Você não tinha perdido seu décimo sétimo celular e resolvido não ter mais nenhum?

- Pois é. O que você não sabe é que eu decidi que, além de não ter mais celular, eu também iria mandar a Claro às favas e não pagar minha última fatura. Mesmo porque estava carinha, carinha.

- Sei. Mas então chegaram duas cartas da Claro. E daí?

- E daí que... repare na ironia. A primeira carta que abri era um cartão do ClaroClube. Coisa que, obviamente, nunca pedi e nem sabia que existia.

- Esse cartão ClaroClube não dá desconto em um monte de coisas?

- Pois é. Eu não sabia, mas dá sim. Descobri hoje.

- E é irônico te mandarem esse cartão depois que você cancelou tudo e resolveu ser inadimplente?

- Não. O irônico é que hoje também chegou uma carta do Serasa ou do SPC, avisando que a Claro estava tentando colocar meu nome no pau, só porque havia pendências em aberto.

- Eles usaram o termo "só porque" na carta? Isso é juízo de valor, não?

- Não, não usaram. Eu usei porque acho que é pouca coisa para muito terrorismo. 

- Não entendi a ironia da coisa até agora.

- Ué, eles me mandam um cartão da ClaroClube e uma carta do Serasa no mesmo dia. Isso é ou não é ironia?

- Bom, mais ironia ainda seria você usar o ClaroClube para conseguir desconto na sua pendência financeira com a Claro. 

- Nossa! Será que eles dão desconto? 

- Liga lá e pergunta.

- Boa. Me empresta aí seu celular.

- Não preciso nem falar que você não ter um celular para ligar para a Claro para tentar um desconto via ClaroClube na sua pendenga financeira com a própria Claro é bem irônico, não é?

- Não, não precisa. Me empresta aí logo.

- Tá. Mas liga a cobrar. Tô sem crédito.

- Sério?

- É. Tô meio sem grana. 

- Ah, mas deixa comigo. Eu ligo lá na Claro e, via ClaroClube, eu descolo uns créditos para você.

- Mas meu celular é TIM.

- Hummm. Será que na TIM dão desconto para quem tem ClaroClube?

- Acho difícil. 

- Bom, vou pedir. O máximo que pode acontecer é dizerem não. 

- Máximo, máximo, não. Eles podem mandar uns capangas na sua casa e te espancarem, só para você deixar de ser engraçadinho. E, claro, para dar o exemplo.

- Se aparecerem em casa, eu chamo a polícia.

- Como, se você não tem celular?

- Já ouviu falar em telefone fixo?

- Já. Mas, pelo que me consta, telefone fixo você já perdeu 7 vezes antes de desistir deles também.

- É verdade. Bom, posso gritar pela polícia. 

- Esse é o tipo de coisa que não dará certo. Vão pensar que é trote.

- Por quê?

- Porque ninguém mais chama a polícia em alto em bom som, a plenos pulmões. Nem a polícia acredita quando ouve pessoas gritando. Só acredita se a chamada vier via telefone. E, nesse caso, você não tem como chamá-los.

- Vou pegar duas latas, fazer um furinho no fundo, ligá-las por meio de uma linha gigante. Uma lata eu deixo na chefatura de polícia mais perto de casa. A outra, do lado da minha cama. Ao primeiro sinal de perigo, eu chamo a polícia. Por meio desse telefone idiota, eles vêm?

- Sei lá. Mas faz tempo que eu não ouvia isso.

- Isso o que? Esse telefone de lata? Eu falei outro dia dele.

- Não. A palavra chefatura. Muito boa. Preciso usá-la mais vezes.

- Pra você ver como são as coisas.