segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Um Pouco de Nerdice

- Imagina o trabalho que não dá pro Darth Vader tomar banho.

- Ele toma banho? Pergunto porque ele é meio homem, meio máquina. Então, se molhar, pode ser que enferruje.

- Bom, sendo meio homem, meio máquina, talvez tome meio banho. Aliás, meio banho normal, com água, sabonete e xampú. E meio banho de óleo, para limpar sua parte máquina.

- Xampú acho que ele não usa. É careca. 

- Pode usar por preciosismo. Nunca se sabe como são os hábitos higiênicos dele.

- Verdade. Mas se eu fosse ele, não tomaria banho. Ia ficar fedendo para cima e para baixo e ai de quem reclamasse.

- Sei não. Imagina o fedor dentro daquela fantasia de Darth Vader que ele usa. O cheiro ia matar. Ia ter que fazer força para prender a respiração. 

- O Darth Vader usa fantasia de Darth Vader?

- Usa. Ou melhor, não usa. Ah, sei lá. Se ele não usa fantasia de Darth Vader, usa do quê?

- Roupa normal. Para ele, claro. Pros outros é fantasia. 

- Então é assim: ele usa roupa normal, de gala, de passeio, de festa. O que é tudo a mesma coisa: aquele troço negro, aquele capacete chanel e uma capa preta. Quando os outros usam, é fantasia. Certo?

- Por aí. Por exemplo, peguemos o caso das baianas.

- O que as baianas têm?

-Quando elas saem de casa, estão vestidas à paisana. Quando estão vendendo acarajé, estão uniformizadas. Quando estão na ala das baianas, estão fantasiadas. Tudo depende do referencial adotado.

- Já te falei que tenho uma dificuldade danada em saber quando uma pessoa tá vestida de baiana ou quando está vestida para casar? Para mim, usou roupa branca cheia de rococó, pode ser noiva ou baiana. Sempre fico na dúvida.

- Dica. Se estiver com um acarajé na mão, é baiana. Se tiver um buquê, é noiva. 

- E se estiver com as mãos abanando?

- Noiva ou baiana em horário de folga. Aí é observar e esperar elas voltarem a praticar suas artes.

- Que artes?

- Venda de acarajé ou ritual em altar.

- Ritual em altar é noiva?

- Ou noiva ou Iemanjá. Aí vai ter que esperar acabar. Se quando acaba o ritual ela vai para a lua de mel, é noiva. Se voltar pro mar, é Iemanjá.

- Cara, incrível como você sabe das coisas.

- Eu estudei, meu chapa.

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Com a colaboração real do @ecostela


quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A volta do Tirulipa Júnior

– A mim o que importa é saber se o Tirulipa Júnior vai retomar a carreira.

– Quem é Tirulipa Júnior?

– O povo brasileiro tem memória fraca mesmo. É o filho do Tiririca, o deputado mais votado do Brasil. E se o Tiririca não puder mais ser palhaço na TV, nada melhor do que ressuscitar o Tirulipa.

– Agora eu me lembro. Mas é que sempre achei que o Tirulipa se parecia muito mais com uma miniatura do Genival Lacerda do que com o próprio pai. E se o pai se chama Tiririca, como o filho pode ser Tirulipa JÚNIOR...

– Você não entende excentricidades artísticas. Podia até ser Júnior Tirulipa que não tinha problema. Aliás, já conheci gente que tinha Júnior como primeiro nome.

– Ah, isso tem. Tem aquele lateral–esquerdo Júnior César. Lindo nome.

– E tinha o técnico Juninho Fonseca. Esse era mais legal ainda porque dá para considerar que o nome é um apelido, já que ele se chamava Alcides Fonseca Júnior. Acharam mais interessante passar o Júnior dele pra frente, e não é que ficou melhor mesmo?

– Bem melhor. Mas eu nunca vi acontecer isso com quem prefere usar Filho em vez de Júnior. Nunca vi um Filho Antunes, por exemplo.

– Bom, eu já vi gente que se chama Primo. Se alguém com esse nome tiver um filho, ele pode colocar Primo Filho ou Filho Primo que vai ficar estranho igual.

– E fica mais interessante ainda se esse Primo Filho tiver um sobrinho um dia. Aí o moleque ia poder se chamar Primo Filho Sobrinho. Deve ser duro ser parente de um cara assim.

– Duro demais. Imagina os netos perguntando: “onde está o vovô Primo Filho Sobrinho?”.

– Melhor deixar pra lá que isso está indo longe demais. Mas, voltando ao papo, porque o Tiririca não poderia mais ser palhaço? Acho que ele pode pelo menos cantar umas músicas nas sessões da Câmara, como o Suplicy faz no Senado. Aliás, o Suplicy podia dar um pulo lá e fazer uma dupla com ele.

– Verdade, acho que seria uma boa. E abriria espaço pra uma outra dupla sensacional, Supla e Tirulipa Júnior, os Filhos do Congresso.

– Perfeito. Agora vou ficar aqui pensando em uma maneira de reativar a carreira do Genival Lacerda. 

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Eu Conheço Alguém que Fala Baleiês

- Minha memória anda cada vez pior. Já te falei isso?

- Isso o quê?

- Ih, esqueci.

- Repete, pô.

- Não, é sério. Esqueci mesmo. Mas mudo de assunto.

- Mude.

- Minha memória anda cada vez pior.

- É? A minha também.

- Já te falei isso?

- Nunca saberemos. A minha memória vai de mal a pior.

- A minha chegou em um ponto que não sei se li algo, se vi na TV, se vi no cinema ou se sonhei.

- Eu, pelo menos, fico feliz várias vezes pelo mesmo motivo. "Vai casar? Parabéns! Ah, já disse? E o que eu disse da primeira vez? Parabéns, também? Viu! Eu não estava mentindo."

- Minha situação é tão ruim que falo uma coisa que acho que inventei e posso estar plagiando Shakespeare sem saber.

- Outro dia, eu estava contando uma piada, perdi o fio da meada e, quando vi, estava recitando Carlos Drummond de Andróide.

- Andrade.

- Não, era Carlos Drummond de Andróide mesmo. Não conhece?

- Não. É bom?

- Uma máquina de escrever. Uma máquina!

- Ai, ai.

- O quê?

- Me diz que você fez esse trocadilho infame com o Drummond só pra emendar essa piada.

- Que piada?

- Carlos Drummond de Andróide.

- Como?

- Carlos Drummond de Andróide, o poeta que é uma máquina.

- Hahaha. Muito boa. Gostei da piada. Posso usar?

- É sua, pô.

- É?

- É.

- Ah, então não espalha. Não achei tão boa assim.

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com ajuda involuntária da Juliana.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Amarração para o Amor

- Estou pensando em entrar no ramo de amarração para o amor e trazer a pessoa amada em até 6 dias.

- Sempre que falam "estou saindo com uma pessoa" e não especificam o sexo, imagino que a "uma pessoa" é do mesmo sexo da pessoa que está me contando isso.

- Eu estou aqui falando de empreendimentos, de mudar de vida, de replanejar toda a minha existência e você vem com esse papo homofóbico?

- Que papo homofóbico? Eu não disse que acho isso bom ou ruim. Só fiz um desabafo, pô.

- Desabafo? Ui, ui, ui. 

- Pronto. Agora isso. Mas fale, você quer entrar no ramo da macumbaria?

- Não.

- Ué, você não disse que ia entrar no ramo da amarração para o amor? E que iria trazer a pessoa amada em até 3 dias?

- Disse 6 dias, não 3. Mas eu não falei em macumbaria.

- E como vai fazer isso sem ser por meio de forças sobrenaturais?

- Pensei em montar uma empresa de busca e apreensão de humanos.

- Tipo sequestro?

- É assim: a pessoa me contrata. Diz quem ama. Eu vou lá, pego a amada, amarro e trago. Como daqui até o Maranhã dá 3 dias de carro, acho que consigo ir e voltar em 6 dias. Por isso trabalho com esse prazo estendido. 

- Isso se a pessoa não oferecer resistência, claro.

- Por isso eu disse que trago "a amada". Vou começar só com mulheres, já que são mais frágeis. Depois, com o negócio crescendo, passo a trazer "o amado" e de avião, para não perder prazo.

- Qual a diferença disso para um sequestro?

- Estou fazendo isso pelo amor. Não por dinheiro.

- Pelo amor alheio e unilateral, já que a outra pessoa vem amarrada.

- Não, pelo amor bilateral em uma situação trilateral. A pessoa que me contrata ama o amarrado. Eu amo a humanidade e o amor das pessoas. Só quem sai perdendo é o amarrado. Mas como não há felicidade plena, acho que 2/3 de uma relação estando felizes, o 1/3 restante tem que se contentar com o que tem.

- Você trabalhará com travestis também?

- Vai começar com homofobismo de novo?

- Não. É porque tecnicamente eles são homens, mas na prática são mulheres, certo?

- Errado. São outro gênero.

- Nem vou perguntar qual. Vou tocar o assunto se não a gente não termina esse papo hoje.

- Tá com pressa?

- Estou. 

- Pronto, perdeu a chance de me contratar. Meu trabalho leva o dobro do tempo do dos outros, mas trago a pessoa inteira, queira ela ou não. 

- Não pretendia contratar seus serviços. Quando quero alguém, vou lá e luto por ela eu mesmo.

- Luta? Ué, não era você que era contra sequestro?

- Luto em sentido figurado. Vou, me aproximo, galanteio e seduzo a outra pessoa.

- "Outra pessoa"? Bicha.


quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Uma onda retrô meio diferente

– Se eu pudesse ter um superpoder, queria ter retrovisão.

– E um retrovisor não resolve isso? 

– Resolve, mas só quando estou dirigindo. E eu acho que retrovisão seria importante em todos os momentos da vida.

– Bom, quando você diz a palavra “retrovisão” parece que é realmente um superpoder muito bom. Mas quando se descobre que é um simples espelho retrovisor, perde um pouco a graça.

– Mas eu me sinto muito poderoso quando entro no carro e percebo que posso ver o que está atrás, como se tivesse olhos nas costas. É um grande invento da humanidade. Dão muito valor a quem inventou o carro, mas nenhum a quem teve a brilhante ideia do retrovisor.

– O Fagner tem uma música que se chama Retrovisor...

– Se for pra ter que escutar Fágner, eu preferia ter retroaudição também...

– E como seria isso?

– Sei lá, acho que escutar tudo de trás pra frente.

– Como um superpoder, acho que isso serviria apenas para decifrar todas as mensagens subliminares escondidas em discos da Xuxa e dos Beatles.  

– E para embaralhar as músicas do Fágner e torná–las audíveis, oras.

– E de retro–olfato, você não gostaria?

– Parece meio complicado. Se eu sentisse cheiro de feijão novinho quando visse um prato cheio de pedras, por exemplo, com certeza ia comer e quebrar os meus dentes.

– Retro-olfato não seria sentir os cheiros ao contrário?

– Sim, mas e qual é o contrário de feijão?

– Deixa pra lá. 

– Mas e você, se pudesse ter um superpoder, qual seria o seu?

– Não sei, acho que telepatia.

– Telepatia? Hmm. No sentido linguístico, é o contrário de retrovisão.

– Como assim?

– Bom, você acha que retrovisão é um nome muito bom pra um poder mais ou menos. Eu acho que telepatia é um nome péssimo pra um poder bom.

– E por quê?

– Parece nome de doença. O cara pegou uma telepatia braba. Como já tinha cardiomiopatia, a coisa ficou feia.

– E você teria um nome melhor pra isso?

– Óbvio. Retrofala.

– Captei. Retrofala aqui com a minha mão...  

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Mais Borboletas

- Hoje eu devo estar com uma energia muito boa.

- Por quê?

- Vindo para cá, quase todo mundo que passei me sorriu. 

- Como é?

- Ah, das pessoas que cruzei, quase todas me cumprimentaram ao passar por mim. A maior parte sorriu. Umas poucas, homens e mulheres,  até chegaram a mandar uns beijinhos meio esquisitos.

- Como assim meio esquisitos?

- Colocaram a mão perto da boca, dando a ideia de beijo. Mas em vez de beijar a mão e assopar, só esfregavam o polegar. Enfim, eram beijos estilizados.

- Será?

- O que mais seria?

- Talvez estivessem indicando para você limpar a boca. Tá cheio de pasta ao redor dos seus lábios. Isso também explica os sorrisos.

- Sério?

- Sério, vai ver no espelho. 

- Por que você não me avisou antes?

- Você acabou de chegar. E já veio com esse papo maluco.

- Ah é.

- É muita pasta. Meu Deus!

- Sabia que tinha esqucido de algo hoje.

- Esqueceu de enxaguar a boca?

- É. Eu estava lá escovando os dentes, aí passou uma borboleta e me distraí atrás dela.

- No seu banheiro entram borboletas?

- Aí vim atrás dela. Quando vi, estava na metade do caminho para cá. 

- No seu banheiro entram borboletas?

- E se tem uma coisa que me distrai são borboletas, sabe? E era daquelas bem bonitas, azuis.

- No seu banheiro entram borboletas?

- Aliás, olha uma ali na janela. 

- No seu banheiro entram borboletas?

- Que coisa mais bonita....

- Hey, onde você tá in... hey! 

- ...

- Esqueceu de novo de limpar a boca. Pelo menos, vai ganhar muitos sorrisos. Ainda mais porque a braguilha tá aberta também.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Elisa Samúdio e CSI Diadema

- E esse lance do advogado do Bruno ser viciado em crack, hein?!

- Como é?

- O advogado do Bruno, o goleiro.

- O do Samúdio?

- Ele era goleiro do Flamengo, burro. Que time é esse Samúdio?

- Perguntei se o Bruno a que você se refere é o do caso Elisa Samúdio.

- Isso. Ele.

- O advogado dele o quê?

- É viciado em crack.

- Que crack, o de fumar?

- É.

- Com colher e potinho de Yakult?

- É, porra.

- Ah, rapaz. É viciado, é?

- É.

- Espero que se recupere logo. Torço por ele.

- Eu também. Mas não vou resistir a fazer um trocadilho.

- Eu faço antes. Advogado do crack. Advogado do craque. Droga de advogado. Etc, etc.

- É. Essa tava fácil até para quem não é "viciado" em trocadilho.

- Tava quicando. Mas mudando de assunto, eu já não duvido de nada desse caso. Nem se a Samúdio aparecer viva. Dizendo que era viciada em se fazer de morta.

- Legal mesmo seria se o Mano Menezes convocasse o Bruno para os jogos de dia da seleção.

- De dia porque...

- Porque à noite ele teria que voltar pra cadeia. Acho que não pode passar a noite fora. Aí já é demais.

- Cara, se a Samúdio aparece viva, nem sei o que acontece.

- Nem eu. Mas iam chamar o CSI Diadema para investigar.

- CSI Oratório.

- CSI Campo Limpo.

- CSI Jardim Ângela.

- CSI Jordanópolis.

- CSI Vila Mimosa.

- Cara, tava pensando em fazer um curso de vigia só para formar o CSI Vila Mimosa.

- Perda de tempo. Na Vila Mimosa nunca, nunca tem crime.

- Ah, mas então, se eu fosse vigia, não ia investigar mesmo. Ia olhar para a pessoa morta e dar o veredito. "Morreu tossindo? Foi tuberculose. Morreu tossindo muito, muito? Tuberculepra. Morreu de repente, sem tossir? Tuberculose fulminante." É até melhor que não tenha crime lá, só morte natural. Assim posso só olhar, dizer o que foi e ir pro meu canto terminar de fumar.

- Para isso, você nem precisa fazer curso de vigia. Basta ficar na Vila Mimosa num canto. Viu alguém caindo, vai lá, balbucia o que quiser e se manda.

- Mas aí trabalharia na ilegalidade. E não gosto disso. Prefiro fazer tudo dentro dos conformes.

- E pra dar palpite na Vila Mimosa você tem que ser vigia?

- Para dar palpite, basta eu saber falar. Mas eu quero montar o CSI Vila Mimosa. E, pra isso, só se formando.

- Em vigia?

- Perfeitamente. Quero virar crack no assunto.

- Nem começa.

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Com a colaboração involuntária do Daniell (que tá aqui e aqui), da BruxaOD, do Fábio Primo (que é um excluído digital e não tem nada desse negócios modernos) e de mais um monte de gente do GoogleGroups do Morfina.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Nanotecnologia e Fones de Ouvido

- A tecnologia só me fode.

- Tomou choque enfiando o dedo na tomada?

- Já, várias vezes. Mas essa tecnologia, eletricidade e tals, é velha. Estou falando da nanotecnologia, meu chapa.

- A nanotecnologia só te fode?

- Em termos. Por exemplo, quando vejo uma pessoa mexendo a boca ao longe, nunca sei se ela está com um fone de ouvido, conversando com alguém por celular. Ou se é louca da cabeça e está realmente falando sozinha.

- E o que a nanotecnologia tem a ver com isso?

- Ué, se os fones não estivessem tão pequenos, eu os veria de longe. E se não os visse, faria meu decreto: a pessoa em questã é louca.

- Você sabe que nanotecnologia não tem a ver com o tamanho dos fones, né?

- E tem a ver com quê, então?

- Com construções a partir de escala atômica, no caso, escala nano.

- Bom, de qualquer forma, se os fones não fossem tão pequenos, não me confundiriam tanto.

- E por que essa encasquetação com fones de ouvido e pessoas falando sozinha ou ao telefone?

- Se eu não sei se a pessoa é louca ou se está falando ao celular, como posso pará-la e pedir informação?

- Se a pessoa estiver falando ao celular, é de bom tom não interromper. Se a pessoa for louca, é uma boa ideia não lha pedir orientações. Em resumo: vendo alguém mexendo a boca e soltando palavras ao vento, não faça perguntas.

- Quer dizer que os fones de ouvido não têm qualquer relação com meu problema? Tampouco a nanotecnologia?

- Isso. Mas lembre-se de uma regra simples para resolver seu problema: pessoa conversando, não interrompa.

- Mas e se eu estiver perdido?

- Pergunte a quem estiver com a boca fechada.

- E se essa pessoa for louca e muda? Ou se for telepata e estiver se comunicando com outra pessoa mentalmente?

- Mas você complica as coisas, hein?

- Só estou supondo.

- Nesse caso, estando perdido, não pergunte a ninguém. Olhe para o céu e se guie pelo Cruzeiro do Sul.

- E se for de dia?

- Espere anoitecer.

- E se for bem de manhazinha?

- Pegue uma bacia, encha d´água. Pegue uma agulha imantada, coloque sobre uma rolha e as ponha na bacia. Pronto, você tem uma bússola que te guiará.

- E se...

- Ah, chega. Vou embora.

- Não... não... volta... droga. Me deixou falando sozinho de novo. Agora, vou ter que conversar comigo mesmo e procurar as respostas. Diabo. Bom, supondo que eu não tenha água para colocar na bacia, será que coca-cola é um bom sucedâneo? Supondo que sim, então...

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

"O apito seria a minha cadeira de rodas se eu fosse um falso cadeirante"

- O apito seria a minha cadeira de rodas se eu fosse um falso cadeirante.

- Como é?

- É que eu assobio tão bem, mas tão bem, que quando o faço, até evito fazê-lo por mais de 2 minutos.

- Não entendi.

- É que eu tenho a sensação de que se assobiar por mais de 2 minutos, vou tomar uma pedrada, confundido com um passarinho.

- Como?

- Ou tomar uma estilingada. Dá na mesma. Eu mesmo, assobiando distraído certa feita, achei que havia um passarinho assobiando por perto.

- Do que você está falando?

- Ou outra vez, mais distraído ainda, achei que eu fosse um passarinho. Foi horrível. Aí eu queria me olhar no espelho, para ver se eu não tinha virado um passarinho. Mas não conseguia ir, porque estava encantado por uma espécie de canto das sereias. Só que no lugar de canto, era assobio. No lugar de sereia, um sereio. Ou melhor, um boto. Ou melhor melhor, eu.

- Você tá passando bem?

- Outro motivo que me leva a não assobiar muito e muito menos em público é que eu acho que podem vir uns homens maus e me colocarem em uma gaiola gigante. 

- Cara, não estou entendendo nada.

- Essa gente é muito gananciosa. Meu Deus! Iam me colocar nessa gaiola e eu ficaria lá, assobiando, assobiando. Se bobear, até furariam meus olhos, para eu assobiar melhor. 

- No começo eu estava temendo pela sua sanidade. Agora, temo pela minha integridade física, fechado com você nesse ambiente.

- Já te falei que eu aprendi a assobiar antes de falar?

- Ah, não. Aí, não. Agora exagerou. Nem lembro como você começou esse papo de louco. Mas agora exagerou.

- Comecei dizendo que o apito seria a minha cadeira de rodas caso eu fosse um falso cadeirante.

- O que isso quer dizer?

- É que quando eu penso em assobiar, eu pego um apito do bolso e apito. Assim, evito tomar pedradas, ser preso, ter os olhos furados. Eu não preciso dele, mas uso, para disfarçar minha habilidade. Como eu faria se não precisasse de cadeira de rodas para andar, mas as usasse para disfarçar meu andar lindo e maravilhoso.

- Você acha que se você tivesse um andar lindo e maravilhoso, iam te dar pedradas, te prender, furar os olhos? Porque não vejo perigo em andar belamente.

- Ah, as pessoas podem querem me colocar umas cordas e me usar de maionete, demonstrando meu belo andar. Assim, se fosse o caso, eu usaria cadeira de rodas.

- O correto é assobio ou assovio?

- Sei lá.

- Ué, você não era o especialista em assobio? Quase um passarinho?

- Sim. Mas não sou espeçalista em português.

- Percebe-se.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Police on my back, na voz de Cher, diretamente do Piritubão

- Tem um bife aí?

- Por que diabos você quer um... argh! O que aconteceu com seu rosto?

- Por isso quero um bife, gelo ou algo assim. 

- Você apanhou na rua?

- Pode-se dizer que sim.

- Que aconteceu?

- Estava vindo para cá...

- Sei.

- Aí começou a tocar "Police on my back" do Clash. 

- Bela música. Dá vontade de correr.

- Foi o que fiz. Estava sobre uma passarela da Anchieta. Comecei a correr e cantar "police on my back, police on my back".

- E caiu lá de cima de cara no chão?

- Só se eu fosse imortal pra cair lá de cima e continuar vivo, só com a cara amassada como sequela.

- É verdade.

- Bom, aí nessa de correr e cantar "police on my back", cruzei com um cidadão, que resolveu correr atrás de mim.

- Por quê? Achou que era pega-pega?

- Nada. Era gringo. Inglês. Achou que eu tava sendo perseguido pela polícia e quis me capturar.

- Capturou?

- Capturou. Me pegou, meteu minha cara no chão e me imobilizou. Aí, chamou a polícia.

- E você foi preso?

- Fui nada. Chegou a polícia, esclarecemos a confusão. Eu servindo de intérprete para ele, inclusive. 

- Caramba.

- Pois é. Aí os policiais chegaram, entenderam o mal-entendido e perguntaram se eu queria fazer queixa contra o gringo.

- E você fez?

- Claro que não. O cidadão tava muito bem intencionado. Achei que colocá-lo na cadeia ia fazer um mal para a população, que precisa de gente bem intecionada assim para salvá-la.

- E ele te pegou de jeito, hein? Sua cara tá fodida de todos os lados.

- Ah, mas a maior parte dos hematomas veio do ponto de ônibus.

- Como é?

- Bom, esclarecido tudo, voltei a caminhar. Vinha para cá. Lá pelas tantas, distraído novamente com a música...

- Ouvindo mais Clash?

- Não. Cher. Ela ainda me emociona, sabe?

- Sei.

- Bom, aí estava distraído, passando por um ponto de ônibus, quando um cidadão foi dar sinal para o Circular parar e enfiou o dedo no meu olho.

- Que zica.

- Pois é. Aí, parei e fiquei cego. Porque o olho esquerdo não tava dos melhores, por conta da confusão com o gringo. E o direito foi dedado pelo popular que queria pegar o busão.

- Puta história triste, meu.

- Pois é. Aí parei para esperar a visão voltar. Nisso, a população queria muito pegar o Circular e avançou. Eu estava entre a porta e essa horda. Resultado, fui, cego, espremido, espancado, socado, humilhado.

- E como chegou aqui? Além de dolorido e mancando, que é o que se percebe de longe.

- Bom, tentei com todas as minhas forças resistir, mas não teve jeito. Me socaram para dentro ônibus. Por sorte, era o Circular. Ele me deixou exatamente onde o peguei. Aí segui meu caminho e cheguei aqui.

- Por sorte?

- Podia ser pior. Podia ser o Penha-Lapa. Aí, a essa hora, eu estaria passando em Quixeramobim e ainda não teria chegado.

- O Penha-Lapa passa em Quixeramobim?

- Passa. Passa em todos os lugares do mundo, exceção à Pirituba, que é perigoso demais.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Minhas impressões sobre The Walking Dead

- Como é a expressão mesmo?

- Qual?

- A do gato que tem medo de água suja.

- "Gato escaldado tem medo de água fria?"

- Não sei. Não tem uma que diz que gato tem medo de água suja?

- Não lembro. Só lembro dessa aí: "gato escaldado tem medo de água fria". A qual, diga-se, é bem redundante.

- Por quê?

- Ah, porque gato tem medo de água de qualquer jeito. Bastava dizer "gato escaldado tem medo de água".

- Pelo seu ponto de vista, até o "escaldado" é desnecessário. Já que gato de qualquer jeito tem medo de água de qualquer jeito, a expressão poderia ser "gato tem medo de água".

- Verdade. Ou, para ser mais específico e deixar tudo bem claro, "gato de qualquer jeito tem medo de água de qualquer jeito", como eu disse ali em cima.

- "Onça tem medo de sopa".

- Como?

- Onça me parece um gato de qualquer jeito. Assim como sopa me parece uma água de qualquer jeito. Vale a expressão?

- Com essa explicação precisa, não posso fazer outra coisa a não ser aceitar.

- "Pantera tem medo de groselha".

- Tá, não força.

- "Coruja tem medo de Yakult".

- Deu, né?

- Por falar em deu, assisti a "Walking Dead".

- Vi também. Sensacional, não?

- Gostei demais. Deve agradar a qualquer pessoa que goste de coisa com morto-vivo.

- E existe quem não goste de morto-vivo?

- É. Acho que não. O que me entristece, que acho uma pena, é que Walking Dead vá ter vida curta.

- Por quê?

- Achei a produção muito cara. Duvido que o pessoal tenha bala para aguentar muitos episódios nesse nível de superprodução.

- Taí, você tem um ponto.

- Pois então.

- Mas se eles quiserem economizar, podem contratar mortos-vivos de verdade para atuar.

- Será?

- Batata. Aí economizam na maquiagem dos atores.

- Sem contar que morto-vivo cobra bem menos do que ator norte-americano para trabalhar. O cachê seria uma miséria.

- Sério que são tão baratos?

- Sim. Mão-de-obra não qualificada. E melhor: não são sindicalizados.

- Sem contar que no camarim, não seria necessário btar muita comida. Uns cérebros e umas alfaces já os deixariam contentes.

- Eles comem alface também?

- Se não tiver cérebro dando sopa.

- Sei.

- E se estiverem morrendo de fome, naturalmente.

- Ou vivendo de fome.

- Naturalmente.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Dilma versus Serra

- Vou votar na Dilma.

- Tem algum bom motivo para isso?

- O Serra é careca. Não sou a favor de presidentes carecas. Aliás, quanto mais cabelo, melhor. Até minha vó sabe que o melhor presidente que tivemos no Brasil até hoje foi o Itamar, o qual, não bastasse uma esvoaçante cabeleira, ainda tirava onda de topete.

- Deixa ver se entendi. Você vai votar na Dilma porque o Serra é careca. Certo?

- Não só isso. Mas é que o outro motivo não sei se é politicamente válido.

- E esse do careca é?

- Não acabei de explanar sobre isso, mencionando presidentes anteriores, penteados e até minha vó?

- Sim.

- Pois então.

- Tá. E qual é o motivo politicamente inválido para votar na Dilma.

- Acho ela gostosa.

- Como é?

- Acho ela meio gostosa. Já o Serra, zero sex appeal.

- E você quer ter uma presidenta gostosa?

- Claro. Melhor do que ver o careca falando na TV regularmente. Ela é uma comuna boa. Já viu ela posando com as armas? Uma beleza.

- Você tá realmente falando sério que acha ela meio gostosa?

- Por que todo mundo pergunta isso?

- Você já falou isso para outras pessoas?

- Era para guardar segredo?

- Não. Claro que não.

- Ah, bom. Porque comentei por alto com minha namorada e com os pais dela.

- Deus!

- Eles falaram o mesmo. Na mesma sequência. Primeiro perguntaram se eu estava falando sério. Depois, disseram "Deus!". Na sequência, ficaram medindo de alto a baixo minha namorada.

- Então você está falando sério, correto?

- Estou, cacete.

- Nesse caso, indico que vote no Serra.

- Mas eu já disse que não voto em careca.

- Eu sei. Mas se a Dilma perder, como toda boa candidata e ex-BBB e aspirante a fama, ela tem boas chances de sair na Playboy. Não seria melhor para você?

- Não curto a Playboy. As fotos são muito pudicas.

- São mesmo. Bom, se te consola, se ela perder por uma margem grande de votos, ela pode posar na Sexy. Prefere assim?

- Quanto menos votos, melhor?

- Quanto menos votos, melhor para você.

- Se ela tiver zero votos, estrela algum filme na Brasileirinhas?

- Hummm.

- Pô, um filme chamado "Dil-e-uma noites... de sexo" seria legal, né?

- "Roça roça na Roussef" seria mais.

- Mano, agora sim. Me convenceu. Vou votar no Serra. Mesmo porque, se ele perder, faz algo no Brasileirinhos, né? E acho que ninguém quer isso.

- Ninguém, não sei. O pessoal que faz títulos para filmes pornográficos deve estar torcendo para ele perder. Fazer trocadilho pornô com Serra é muito, muito mais fácil do que com Dilma.

- É mesmo?

- Uh. Além de nomes como "Serra serra na muchacha", dá ainda para inventar coisas com careca.

- Argh.

- E com tucano. Tipo tucano erótico e daí para baixo.

- Tem espaço coisa daí para baixo?

- Rapaz, o poço da política e da pornografia é fundo. Muito fundo.

- Percebo.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Um Velho me Mordeu!

- Um velho me mordeu!

- Como é?

- Um velho me mordeu!

- É gíria?

- Não. De fato, um velho me mordeu.

- Um velho o que?

- Um velho gente.

- Um velho gente?

- Um senhor idoso, que estava com a cabeça para fora de um portão, resolveu abrir e fechar a boca, prendendo meu braço entre os dentes, bem no momento em que eu passava a sua frente.

- Cacete! Um velho te mordeu!

- É o que estou dizendo.

- E por quê? A troco de nada?

- A troco de nada. Aparentemente, eu estava no lugar errado na hora errada. Passava tranquilamente em frente a um portão de uma casa bem arborizada. Quando senti, nhac.

- E aí?

- Bom, achei que fosse um cachorro e me esquivei, gritando. Quando olhei para o lado, já do outro lado da rua, vi que era um senhor idoso.

- E que desculpa ele deu? 

- Balbuciou uns troços, mas não entendi. A dentadura saiu junto com meu braço da boca dele. Caiu no chão e eu não entendi nada do que ele falava.

- Estaria se desculpando?

- Sei lá. Sei que, recobrado do susto, deixei o velho balbuciando sozinho e continuei no meu caminho.

- Nem pegou a dentadura dele do chão?

- Pensei nisso. Mas vai que ele sai modendo mais gente. 

- Mas vai que ele quisesse se desculpar.

- Nunca saberemos.

- Falando em nunca saberemos, vamos falar sobre os mineiros?

- Você vai fazer piada com pão de queijo?

- Não.

- Com goiabada com queijo?

- Não.

- Com o Itamar?

- Também não.

- Com Governador Valadares?

- Não.

- Com o Clóvis Bornay?

- O Clóvis Bornay é mineiro?

- Sei lá. Mas ele sempre cabe em piadas.

- Bom, de qualquer forma, não vou não.

- Então o que diabo você quer falar sobre eles?

- Queria saber se eles vão ganhar hora extra por todos esses dias sob a terra. Acho, inclusive, que dava para pagar também adicional de insalubridade.

- Hummm.

- Hummm o quê?

- Sei lá. Acho que devia tá uma treta danada no inteiror daquele buraco, hein.

- Interior treta?

- De fato.

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interiotreta é a nova empreitada de @buchabick, ao lado de @fksr86, e retrata o interior desse mundão véio sem fronteira; no twitter, @interiortreta.


quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Conversa Fática é o Ópio do Povo

- Por que você tá com esse branco na cara?

- Tava vindo para cá e respirei um gás tóxico que saiu de um buraco na parede. 

- De um "fuio"?

- "Fuio"?

- É. Um "buiaco" na "paiede" é um "fuio".

- Ai, ai.

- Mas conte aí, que gás tóxico é esse? Você tá morando na Vila Chernobyl?

- Não.

- Passa por Cubatão ao vir para cá?

- Nem.

- Então, que gás tóxico é esse?

- Sei lá. Eu tava vindo e entretido com a vida, coisa e tal. Ouvindo um pouco de Husker Du, um pouco de Adriana Calcanhoto, essas coisas, para desestressar.

- Adriana Calcanhoto estressa, isso sim.

- De qualquer forma, tava vindo para cá e, de repente, senti um calor forte na orelha. Quando olhei, vi um vapor branco incrível saindo do buraco no meio da "paiede". Me senti tonto. Tentei correr, mas não tive ar. Cambaleei uns metros e vi que ia desmaiar. As coisas ficaram brancas e "pá", desmaiei. Acordei com umas três senhoras sobre mim, tentando me acordar e comentando entre si, ao mesmo tempo "tá bêbado". Aí ia me levantar e apareceu uma dona bem bonita, se dizendo médica. Resolvi fingir que ainda tava inconsciente só para ver se ganhava um boaca-a-boca ou coisa assim. Ai ela se aproximou e quando achei que ia me beijar, disse "é, tá bêbado mesmo. Já já acorda." Elas todas me abandonaram. Aí quando vi que não tinha ninguém por perto, levantei e vim para cá.

- Mentira!

- É mesmo. Na verdade isso aqui é pasta. Vou lavar. Valeu por ter avisado.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O Velho Truque dos Mortos-Vivos Quando o Assunto Acaba

- E a ressurreição capilar italiana, hein?

- Que porra é essa?

- Sei lá. Tava vindo para cá, passei na frente de um salão e vi isso escrito.

- Salão do que? Porque, pelo nome, pode ser um salão de levanta defunto, um salão de cabelereiro ou um salão de italianos.

- Não reparei. Mas, pelo nome, julguei ser cabelereiro. 

- Ora, ora, que inocência, meu caro. 

- Pois é, agora percebo. Mas o que diabo é um salão de italianos?

- Uma sala grande cheia de gente que nasceu na Itália, ué.

- E para que serve?

- Para reunir italianos.

- Para conversar?

- Não. Para gesticular e gritar, já que é isso que eles fazem quando se reúnem.

- Curioso. Não sabia que isso existia. 

- Você sabe muito pouco da vida, pelo visto.

- E o que é um salão levanta defunto?

- É uma sala grande com um morto no centro. O qual, depois de uma pajelança qualquer, deixa de ser morto e passa a ser vivo. 

- Vira morto-vivo? 

- Não seja inocente. Claro que não.

- Vira o que? Ex-morto?

- E quantos ex-mortos você já viu por aí?

- Sei lá. Eles têm algum sinal característico para que eu saiba que são ex-mortos?

- Falam com um forte sotaque.

- Ah, então já vi um. No caso, o Henri Sobel. Ele fala com um forte sotaque e, como acho que nasceu no Brasil, é batata que é ex-morto.

- Não. O sotaque do Sobel é provindo dei lá de onde. De ex-morto é provindo do inferno mesmo.

- E como é o sotaque do inferno?

- Cheio de palavra de baixo calão.  Esse povo fala gritando também. E gesticula. Rapaz, como gesticula.

- Caramba, então os italianos são todos ex-mortos?

- Nem todos. Só os que voltaram do além vida. O restante é descendente. Mas como sabemos, é muito difícil mudar hábitos adquiridos na infância.

- Compreendo. Mas por que chegamos neste assunto mesmo?

- Que assunto?

- De ex-morto. 

- Rapaz... não lembro. 

- Deixa eu ver... deixar eu ver... 

- Hummm.

- Também não lembro. Pior que quando encasqueto com algo que quero lembrar, quase fico louco. Não durmo, caem uns fios do meu cabelo. Tudo de nervoso.

- Contra calvície, ouvi falar em um troço bom. Aliás, acho até que foi hoje. Acho. 

- Hummm. Seria um troço tipo ressurreição capilar italiana?

- Errr. Não. Acho que era babosa mesmo.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Já chegou fatiando o perobo, coisa e tal

- Hoje pintou lá em casa a mulher que verifica se tem foco de dengue em domicílios.

- De novo?

- Pois é. Ela já é a oitava vez que ela aparece esse ano.

- Acho que tá querendo graça.

- Como é?

- Acho que ela tá querendo coisa com você. 

- Hein?

- Ah, para aparecer tanto, só pode ser isso. Quer sexo fácil. Ela vai de decote, minissaia ou coisa assim? Fica se insinuando, usando termos-chave como "picadura de mosquito", "eles, assim como eu, estão ovulando" ou "estou cheia de dengo" e coisas do tipo?

- Cara, você acha que eu moro onde? Em um filme pornô?

- Não. Mas se morasse, seria gozado. 

- Ai, ai.

- Exagerei?

- Mais ou menos. Bom, ela não vai decotada e nem usa esses termos estranhos. Ela diz "vim ver se tem foco de dengue". Eu digo "fique à vontade". Ela entra, dá um role no quintal, volta e diz "obrigada".

- Só isso? Sem insinuações mil? Não te chama de gatinho ou quer ver se tem dengo dentro das suas calças?

-  Não, não é bem só isso.

- A rá! Eu sabia. Tem mais, né? Ela aparece à noite, se fingindo de entregadora de pizza e diz que tá louca para entregar o peperoni? Ou chega no meio da tarde se dizendo encanadora e querendo lubrificar os canos coisa e tal?

- Nem. Hoje ela disse que veio ver o foco da dengue porque o mosquito tá sofrendo uma mutação severa. E que essa mutação é tão, mas tão perigosa que todo cuidado é pouco.

- Mutação?

- É.

- Ele vai crescer indefinidamente, ter o exoesqueleto reforçado, criar pêlos nas patas e se alimentar de carne humana?

- Onde você acha que vivemos, no mundo do Alien?

- Não tem nada disso?

- Não. Só falou da mutação. Deu tchau e foi embora.

- Rebolando?

- Não reparei.

- Deixou o telefone?

- Não. Só disse para eu tomar cuidado com a água parada em locais como vasos ou pneus.

- Pneus?

- É. Disse que se eu tivesse pneus velhos, para levar à borracharia.

- Borracharia?

- É.

- A rá! Eu sabia! Eu sabia! Borracharia! A rá! Garanhão!

- Para o bem dessa moça, ou de qualquer outra que trabalhe com dengue, espero que não passe na sua casa para verificar focos de dengue.

- Já passaram.

- E aí?

- Não deixei entrar. Não sou dado a sem vergonhices.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A Origem, Bebê de Rosemary e histórias bíblicas

– Eu tenho um tio que toca cavaquinho. Ele não toca lá muito bem... Mas digamos que é melhor que ouvir uma transa de gatos. A questão é: o que ele faz é arte?

– Você já ouviu uma transa de gatos?

– Já. É bem estranho, soa como um bebê chorando desesperadamente. Uma vez eu sonhei com um bebê que foi colocado num rio dentro de uma cesta de vime. Eu o encontrava por causa do choro... Mas eram só uns gatos que estavam transando, e o barulho interferiu no meu sonho. Estranho, não?

– Sim, de fato é muito estranho que você tenha sonhado com um remake da história de Moisés ter sido encontrado boiando no rio Nilo pela filha de um faraó egípcio.

– Eu até achei isso de início também.  Mas aí, durante o mesmo sonho, me disseram que o bebê tinha morrido e eu passei a dormir calmamente. Só que logo em seguida eu ouvi o choro de novo e descobri que estavam usando a criança em um ritual e que ele era filho do diabo. Por isso concluí que a história estava muito mais para O Bebê de Rosemary, que é um belo filme, muito melhor que qualquer filme bíblico.

– O Bebê de Rosemary eu ainda não vi. Mas acho que essa história está mais para outro filme, A Origem. A explicação para A Origem é meio complicada, mas esse seu sonho aí tá um pouco mais fácil de entender. Claramente significa que você queria ser travesti, porque tanto na primeira parte como na segunda você assumiu um Eu feminino, princesa egípcia e depois Rosemary. Mas também pode ser que você esteja dormindo neste momento e tudo agora seja um sonho, então na realidade você pode ser de fato a princesa egípcia. Entendeu?

– Ficou difícil porque não consigo parar de pensar no meu tio tocando cavaquinho. Mas e aí, você acha que o que ele faz é arte ou não?

– Bom, se uma pessoa pinta quadros, acho que é uma forma de arte, mesmo que sejam horríveis borrões que lembrem gatos transando. Se faz esculturas de durepox de homens tocando cavaquinho, também não deixa de ser uma manifestação artística. Então, eu acredito que a música do seu tio é arte, sim.

 – Hmmm. Entendi. Então quer dizer que quando alguém coloca um disco da Madonna pra tocar em casa e sai rodopiando pela sala isso também é arte?

– E por que seria?

– Seguindo a lógica que você apresentou, se o que o Baryshnikov faz é arte, então dançar em casa ouvindo Madonna também é, mesmo que seja algo tão tenebroso que cegue quem olhar. Estaria para a dança moderna assim como o durepox está para Rodin.

– Está aí a prova irrefutável de que dança não é arte. Caso contrário, uma danceteria seria um coletivo de artistas amadores.

– De qualquer forma, você gostaria de ver minha coreografia da Madonna?

– Obrigado. Não quero cegar antes de assistir a O Bebê de Rosemary.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Se Deus fosse a favor da cremação, não criaria os mortos-vivos

- Já te contei que recebo muito email por engano, não?

- Já sim. Foi no mesmo dia que você disse que é contra a pessoa ser cremada. Alegando que se Deus fosse a favor da cremação, não teria criado os mortos-vivos.

- Eu já defendi isso?

- Já.

- Que sagaz eu sou.

- Sagacidade, bobagem, asneiras, essas coisas.

- Como?

- Nada. Fale sobre esses emails por engano. Chegou algum bom agora?

- Chegou. Vivo recebendo divertos de um tal Ronald Barata Barata.

- Barata Barata?

- É. Barata Barata.

- Sem vírgula? Não deveria ter uma ali no meio, entre o primeiro e o segundo Baratas?

- Não sei. Acho que é questão de estilo. Do cara do cartório, no caso.

- Quem era "o cara do cartório" do Barata? O Saramago?

- Sei lá. Mas é um nome legal, né? Ronald, Barata, Barata. Sem vírgula entre os nomes envolvidos.

- Sim. Um barato. Rá!

- Bom, mas aí recebi um email por engano desse senhor.

- E o que dizia?

- NA PRÓXIMA QUARTA-FERRIA, DIA 15 (TERCEIRA QUARTA-FEIRA DO MES) TEREMOS A REUNIÃO ORDINÁRIA DO MOVIMENTO DE RESISTÊNCIA LEONEL BRIZOLA. PRECISAMOS ADOTAR ALGUMAS DECISÕES IMPORTANTES.

- Gritando assim?

- Gritando. Com muita ênfase no Movimento Resistência Leonel Brizola. Me deu vontade de ir.

- Ir? Responde que agora se transferiu para o Movimento de Resistência Roberto Marinho e que ele tá fodido na sua mão.

- Pensei em ir. Ou reponder outra coisa, mas nessa sua linha aí.

- Tipo?

- Pensei em dizer que agora sou membro honorário do movimento Calma Cocada. E que assim que acabar a hororabilidade, volto pro movimento do Brizola, já sugerindo um nome mais de vangarda, o Simba, Brizolo.

- Eu acho que você deveria mandar mesmo essa. E acho também que deveria haver mesmo um movimento Calma Cocada.

- Não tem?

- Não que eu saiba.

- Que pena.

- Ô.

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colaboração do Daniell Rezende e do Daniell Rezende.



sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Sufflair, pedintes e dois canos fumegantes

- Tenho ouvido muito Mika e Scissor Sisters esses dias. Posso começar a duvidar da minha masculinidade?

- Lembra aquele dia que você veio trabalhar de meia-calça?

- Tava muito frio.

- Mesmo assim. Desde aquele dia, você poderia ter começado a duvidar. 

- Ih, faz dois meses. Agora já foi.

- Faz assim: duvida retroativamente. Aí tá resolvido.

- Boa, farei isso. Falando em dúvida, por que você tá com essa marca marrom na roupa?

- Um mendigo me abraçou hoje. E ele tava com um chocolate na mão. A ironia é que eu mesmo tinha dado o chocolate para ele.

- Como?

- Ele me venceu pela insistência.

- Explique.

- Estava vindo para cá e parei no mercadinho para comprar umas bobagens. Aí, entrei lá e vi que não tinha dinheiro. Por sorte, tem um Bradesco meio perto.

- Que chocolate era?

- O do pedinte? Sufflair. Por quê?

- Você já reparou que nos faróis só vende Sufflair? Como pode ser verdade isso? E é tão barato que só pode ser carga roubada.

- Roubada? E tão roubando caminhão de Sufflair todo dia há mais de 15 anos? Deve ser falsificado.

- Será que é tão fácil falsificar Sufflair assim?

- Minha teoria é que todos são fáceis de falsificar, mas o Sufflair é o preferido porque, como é aerado, vai mais ar que chocolate. E como ar é grátis, sai mais barato para os falsificadores.

- Interessante lógica. Mas, então, aí você foi ao mercadinho...

- Pois é. No caminho para o mercadinho, passei por esse pedinte. Aí, entre o mercadinho e o Bradesco, passei novamente por ele. Depois, entre o Bradesco e o mercadinho, novamente. E nas três vezes ele me abordou, pedindo dinheiro com uma voz baixa.

- Prefiro quem pede dinheiro com voz baixa. Outro dia uma senhora muito educada me abordou, pedindo dinheiro para a condução. "Por favor, o senhor poderia me ceder R$ 2 para que eu pudesse pegar o coletivo até o Jardim Limpão? Perdi minha carteira e não quero ir a pé até o local". Me senti meio que coagido e não dei. Se ela falasse "passa um trocado", eu daria. Prefiro assim.

- Você está me dizendo que prefere um assalto a um pedido? 

- Mais ou menos isso. Prefiro mais ainda se a pessoa não pedir. Já ir pegando o que quer é melhor. Assim o processo todo é mais rápido, já que eu dou mesmo quando pedem. Sempre.

- Quase sempre, né? Afinal, essa senhora bem educada ficou a ver navios.

- Ficou nada. Do jeito que era educada e instruída, a essa hora já até arrumou emprego no Poupatempo. Ou em alguma floricultura. Já reparou como quem trabalha com planta é educado?

- Já, sim. Mas voltando ao mercadinho. O pedinte me pediu dinheiro 3 vezes. Lá dentro, comprei um Sufflair e pensei "se ele pedir novamente, sou obrigado a dar. É muita insistência".

- E você deu quanto?

- Pois, então. Sai do mercado sem um centavo. Gastei todo o dinheiro no Sufflair. Aí, para não dar nada ao pedinte, acabei descolando o Sufflair. Como já tinha começado a comer um, dei aberto mesmo. Ele ficou tão feliz, que me abraçou e, na confusão, me sujou todo com chocolate.

- Você sacou dinheiro e ele foi inteiro em Sufflair? E todos os Sufflaires foram para o pedinte? Quanto você comprou em chocolate?

- Comprei uns 3. Mas acabou o dinheiro. Foi tudo em Sufflair.

- Rapaz, como tá caro Sufflair.

- É. Se eu tivesse comprado no farol, nada disso teria acontecido.

domingo, 5 de setembro de 2010

Sobre Deus, Renato Maurício Prado e Minhas Finanças

- Tomei o diabo da Deus ontem.

- Que diabo da Deus?

- Deus, aquela cerveja que custa R$ 129 no Makro e é considerada uma das melhores do mundo.

- Ah, aquela.

- É, aquela.

- E vale cada centavo desses R$ 120?

- R$ 129.

- Vale os R$ 120 e mais R$9 de lambuja?

- Não. É que ela custou R$ 129. Você disse R$ 120. Mas é R$ 129.

- O Renato Maurício Prado é uma boa besta, né?

- Eu acho. Mas o que isso tem a ver com a cerveja?

- Nada. Mas acho que é dever cívico falarmos isso pelo menos uma vez por dia. Não tinha dito ainda hoje.

- Ah, sim.

- Aliás, fosse eu dono do mundo, criaria uma lei obrigando as pessoas a dizerem isso uma vez por dia. E uma vez por semana jogar spray de pimenta na cara do Emerson Leão. Além disso, também faria uma emenda obrigando o Arnaldo Jabor a somente abrir a boca para falar vogais. E ao Diogo Mainardi andar com um chapéu com orelhas de burro para cima e para baixo. Por fim, contrataria uma trupe de tatuadores para tatuar, mesmo que a revelia, a cara do Milton Neves nas costas do Juca Kfouri e pronto. Não mudaria mais nada, nadinha, no mundo.

- Taí, votaria em você. Tenho a impressão que o sonho do Renato Maurício Prado é pegar o zico, afagá-lo um pouco e, depois, colocá-lo no colo e deixá-lo lá. Eternamente.

- Ou vice-versa. Mas termine de falar sobre a Deus.

- Ah, sim. Não, ela não vale os R$ 129. As coisas valem o valor que damos a elas, sabe?

- Frase inédita, hein.

- Sim.

- E vale quanto?

- Considerando que as coisas valem o valr que damos a ela e eu paguei R$ 129, então ela vale R$ 129.

- Contraditório, você.

- É. A verdade é que estou na dúvida. Mas não pagaria R$ 129 novamente.

- Por quê?

- Porque sou adepto da cerveja artesanal. Gosto mesmo é de fazer minha própria cerveja.

- Sim.

- Como?

- Então, a Deus é uma cerveja meio achampanhada. É um espumante de breja.

- Não parece bom.

- Não é das melhores.

- Bom, descobri meio que um modo caseiro de fazer a cerveja e vou tentar. Depois te falo se deu certo.

- "Se Deus certo"? Rá!

- Ai, ai.

- Bom, mas afinal, como é o diabo dessa cerveja? Boa? Ruim? Tem gosto de quê? Você falou, falou e não disse nada.

- É que é meio difícil dizer.

- Resuma. Seis linha, no máximo, por favor.

- Ok. Se eu fosse escrever sobre ela no Resenha em 6, eu diria algo como...

- Como...

- Custa uma pequena fortuna e nem é essas coisas. Parece que uns monges belgas levam mais de um ano para fazer, sendo que a maior parte do tempo ficam girando a garrafa e conversando sobre amenidades. Para saber o gosto a preço de custo, abra uma Skol, jogue metade fora. Adicione Cidra na latinha até completá-la. Gire-a por um ano ou três segundos, como preferir, e beba.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

DoisVezesUm no Copeiros. 100 Anos de Timão!

- Vai, Corinthians!

- Saravá, São Jorge!

- Se essa conversa é só para fazer uma homenagem ao Corinthians, acho que já deu.

- Quase. Tenho mais uma coisa para falar. 

- Fale.

- Estou servindo comida para fora.

- Justo no dia do Timão?

- É. Em homenagem a ele, na verdade.

- Onde?

- No Copeiros

- Boa, vou lá ler e me emocionar um pouco mais com o Coringão.

- Aproveita e depois me diz quantos erros de digitação achou.

- Beleza.

- Saravá.

- Vai, Corinthians, religião de janeiro a janeiro!

- Vai, Corinthians, cachaça do torcedor. Vai, colorido em preto e branco, sem preconceito de cor.

- Vai, Copeiros!

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Uma Breve História do Peru

- Acabo de descobrir uma coisa que me deixou besta.

- O quê? Da última vez que te vi assim foi quando descobriu que a Vovó Mafalda era homem. 

- Ah, mas o que mais me chocou naquela história não era o fato dela-dele ser homem. Isso me impressionou, claro. Mas saber que ela-ele não tinha netos foi foda. É o cúmulo da farsa circense. Só faltava não ser palhaça.

- Bom, não era muito engraçada, não. 

- Olha a bobagem! Toda vez que ela falava "caçarola!", eu me acabava de rir.

- Tá. Mas o que te impressionou?

- Outro dia me falaram que tem um outro país que chama Peru em outra língua qualquer. 

- Como é?

- A gente chama o país e o bicho de Peru, certo?

- Correto.

- Os EUA chamam a Turquia de Turkey, que é peru na língua deles.

- Certo.

- Bom, aí fui investigar qual era o outro país que chamava peru de país, de bicho ou o que fosse.

- E o que descobriu?

- Que os países de origem francesa chamam o perú, o bicho, de Índia.

- Ora, ora, ora.

- Chamamos a ave de peru. Os povos de língua inglesa chamam de turkey. Os de língua francesa de d'Inde, que é "da Índia". E o diabo do bicho não é originária de nenhum desses três países.

- É memo?

- É. Os portugueses acharam que o bicho era ali do Peru e deram esse nome, mas na verdade ela vivia no México. E até nos Estados Unidos.

- Cada coisa. E como é que o povo do Peru chama o bicho? Estados Unidos da América?

- Hahaha. Não, não. Chama Pavo. Meio que confundiam o Peru com Pavão e deram um nome similar.

- E um peru pequeno, como será o nome?

- Acho que pavinho. Ou pavuna.

- Igual o bairro da Zona Norte do Rio?

- Caraca, mas não é que o diabo do bicho é globalizado mesmo?

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Em Círculos, com Galinhas Dentro Deles

- Meu sonho era ser rico e anônimo. Nada de ser famoso.

- Rico e famoso você não aceitaria?

- Se pudesse escolher, não. Se não pudesse, sim.

- Mas e se você tivesse que ser rico, famoso e com asas de galinha? Aceitaria?

- Se pudesse escolher, não. Se não, sim.

- E se fosse rico, famoso, com asa de galinha e tivesse a voz do Zé Colméia?

- Porra. Acho que o mesmo das anteriores. Se pudesse escolher, sim. Se não, não.

- Não era o contrário?

- Ah, era. Se pudesse escolher, não. Se não, sim. Aliás, se puder escolher, a resposta é sempre não. Mas se não tenho alternativa, só me resta aceitar mesmo.

- Como você é resignado.

- Não tem tu, vai tu mesmo.

- Tá. Mas você trocaria seus caninos por incisivos?

- Posso escolher?

- Pode.

- Então, sim.

- Não era o contrário?

- Não, não. Sempre achei que ficaria melhor com alguns incisivos a mais.

- Mas e pra comer carne, como fazer sem caninos?

- Viro vegetariano.

- Mas e pra conseguir proteína?

- Compro algum preparado da farmácia.

- E vai gastar todo seu dinheiro nisso?

- Tiro um extra me apresentando como o incrível homem sem caninos, mas com alguns incisivos a mais.

- E aí ficaria rico com isso?

- Sim.

- Rico e famoso, suponho.

- Merda.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O Estranho Caso do Maratonista Sedentário

- Você iria em um cabeleireiro careca?

- Nunca! 

- A-há. Então você acha que uma condição congênita antagônica à profissão é determinante para o sucesso ou insucesso laboral do indivíduo? 

- Como é?

- Você acha que um cabeleireiro não pode ser careca?

- Ah, isso? Não, acho que pode sim.

- Mas você disse que nunca iria a um cabeleireiro careca.

- Sim. Mas é porque não vou a cabeleireiros. Frequento barbeiros, sabe? Sou machão.

- Tá. Entendi. Então me diga: você iria a um barbeiro careca?

- Claro. Meu barbeiro, por exemplo.

- É careca?

- Sei lá. Tá sempre de chapéu. Nunca pensei no que tem ali embaixo.

- Tá, mas então você iria a outro barbeiro, que fosse careca, no caso?

- Nunca...

- A-rá!

- Mas é porque sou fiel ao Afrânio, meu barbeiro. Nunca mudaria de barbeiro.

- Sei, sei. Então, deixe-me mudar a pergunta. Você iria a uma nutricionista gorda?

- Não iria. 

- A-rá!

- Mas é porque não vou a nutricionistas. Minha vizinha é nutricionista e falo diretamente com ela, quando preciso. Aliás, a consulto quase todo dia.

- É mesmo?

- Mais ou menos. Eu saio para trabalhar no mesmo horário que ela e sempre a encontro. Aí digo "bom dia". Ela responde "tudo bem?". Eu digo "sim". "Ela, que bom, continue assim". E pronto, acho que estou oficialmente consultado.

- Só porque ela pergunta "tudo bem?"?

- É. Tudo, pelo que compreendo, compreende tudo. E tudo inclui o café da manhã, o almoço e o jantar. Quando ela diz "continue assim", acredito que seja uma receita de como proceder. 

- Ela é gorda?

- É. Muito. 

- Bom, então você iria a uma nutricionista gorda. 

- Possível. Mas ela é minha vizinha. E vizinha a gente não escolhe. 

- Pô. Tá. Você iria a uma manicure sem unhas?

- Eu ou ela?

- O quê?

- Quem sem unhas? Se eu não tivesse unhas, não iria, não. Afinal, ia fazer o que? Pedir para ela pintar meus dedos?

- Não, não. No caso, ela. A profissional, a manicure. Se ela não tivesse unhas, você iria até ela, pagar pelos serviços da dita cuja?

- Jamais!

- Por quê?

- Porque tenho aflição de gente sem unha se roçando em mim.

- Tá difícil de responder à minha questão, hein.

- Mas você também não facilita. Só pergunta idiotice. 

- Ok, mais uma tentativa. Iria a um travesti ginecologista?

- Mas eu sou homem.

- Se fosse mulher, iria a um ginecologista travesti?

- Peraí. Travesti ginecologista ou ginecologista travesti?

- Faz diferença?

- Ô se faz. 

- Nesse caso, se fosse um travesti ginecologista, iria. Se fosse um ginecologista travesti, não. 

- E você deve ter um bom motivo para isso. 

- Tenho. Se é um travesti ginecologista, entendo que o cidadão primeiro se travestia. Aí, fez faculdade, se formou e optou pela profissão de ginecologista, mesmo na condição de traveco. Acho bonito, um exemplo de superação. 

- E o contrário?

- Bom. Se é um cidadão que virou ginecologista e, posteriormente, resolveu se travestir e trabalhar à noite, aí acho que não rola.

- Por quê? Porque um travesti não pode atuar na medicina?

- Até pode. Mas como trabalha à noite, deve ter muito sono durante o dia. E eu não gostaria de ser tratado por alguém bocejando. Odeio ver o céu da boca alheio.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Já descobri o que faz um maçon!

- Nunca tive tanto medo de morrer atropelado vindo para cá quanto hoje.

- Por quê? Resolveu de novo andar com os olhos vendados, só para saber se conseguiria chegar aqui?

- Não. Eu não faria isso novamente. Daquela vez fui parar em Ferraz de Vasconcelos. Isso já foi aterrorizante o suficiente.

- Uma vez perdi os óculos e, quando não vi, estava em Franco da Rocha. 

- Rapaz, você não enxerga nada mesmo sem os óculos, hein.

- Para o bem e para o mal. Como não enxergava nada, também não vi Franco da Rocha. Acho isso uma vantagem competitiva e tanto.

- Se é. 

- Mas então, me conte. Por que esse medo súbito de morrer atropelado? 

- Enchi meu MP3 player de música do Tears for Fears e do J. Quest para mandar para um amigo, que pediu. Imagina se eu sou atropelado, morro e, quando vão verificar minhas coisas, descobrem a discografia inteira dessas bandas horrorosas em meu poder. Morrer como indigente, tudo bem. Se enterrado como fã de Tears for Fears ou J. Quest, não. Tudo tem limite.

- Isso me lembrou uma tirinha do Laerte ou do Angeli, acho. O cidadão não encontra cueca limpa e apela para a calcinha da mulher para ir trabalhar. Aí vai morrendo de medo de, justamente, ser atropelado e virar um defunto de calcinha.

- E ele é atropelado?

- Não lembro. Mas eu também morro de medo de ser atropelado?

- Você usa calcinha por baixo da calça?

- Não.

- Tem músicas vexatórias no MP3 player?

- Tenho, mas não é por isso.

- É por que, então?

- Eu acho muito invasivo, sabe?

- Como?

- Ah, você está lá, na sua. Seja na calçada ou atravessando a rua. De repente, pow! Crash! Blau! Estrow! Capof! Catapimba! 

- Tá, tá. Já entendi as onomatopéias.

- Bom, aí catapimba! Te acertaram e você morreu.  Preferia morrer de outra coisa menos invasiva. Herpes, por exemplo.

- Se morre de herpes? 

- Sei lá. Se não se morre, melhor. Aí ia demorar muito mesmo para eu bater com as dez. Não tô com pressa mesmo. 

- Falando em carro, ontem finalmente provei a minha mãe que a maior parte dos emails que ela recebe são mentirosos.

- Como assim?

- Ah, ela vive recebendo aqueles "golpe novo na praça", etc. Manja?

- Sei. 

- Pois é. Ontem achei a gota d´água. 

- Diga.

- Ela recebeu um email com instruções sobre o que fazer caso esquecesse a chave dentro de um carro com trava.

- Chamar o chaveiro?

- Imagina. Muito espartano e simples, isso.  Bastava a pessoa pegar o celular e ligar para casa.

- E pedir a chave reserva?

- Isso. Mas não é tão simples. A pessoa deve pedir para que o caboclo do outro lado da linha pegue a chave com trava. Aí, essa pessoa em casa aciona a chave do lado de lá. A do lado de cá, deve posicionar o celular a 30 cm da porta do carro e pronto, ele abriria.

- Isso me parece muita balela.

- E não é? Bom, fiz o teste para provar para minha mãe que era bobagem. Obviamente, ela viu que não funcionava. Agora, ela não acredita em mais nada da internet.

- Que bom.

- Tinha outra dica bisonha nesse email. Eram instruções sobre o que fazer caso a bateria do celular estivesse descarregando. Bastava digitar um numero x e aí automaticamente isso acionaria uma tal bateria reserva. Ela encheria com 50% da carga a bateria do celular. Tipo um esquema de aumento de vida, como rola em videogame.

- Testou?

- Eu queria testar, mas minha mãe disse pra eu não acreditar em nada dessa tal internet. E, no final das contas, a bateria do celular estava cheia e eu não queria perder tempo. Precisava ir buscar a chave reserva do carro em casa. 

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Post de Sexta-Feira

- Eu trabalho no segundo andar de um prédio comercial.

- Eu sei. Estou do seu lado. Aliás, quem era ali na porta?

- Pois então, era isso que eu dizer. Estava introduzindo o assunto. 

- Tá.

- Então, como diabos bateu na porta um vendedor de sabonete?

- Era isso que o rapaz queria? Achei que tivesse procurando o urologista de novo.

- Nada. Você não percebeu que eu demorei?

- Não percebi. Estava entretido com uma questão trivial. Você já reparou que não pisamos mais em tachinhas?

- Como é?

- Ah, quando éramos crianças ou adolescentes, vivíamos chegando em casa com tachinha na sola do sapato. Hoje em dia, não tem mais isso. 

- E você também não chega mais em casa sujo de giz, aposto.

- Como você sabe?

- Porque você, e eu, e as pessoas da nossa idade, não estão mais na escola. Por isso não pisamos mais em tachinha. Posso terminar a história do sabonete?

- Pode. 

- Então, aí o cara bateu na porta, falou que tava visitando todas as salas do prédio, oferecendo sabonete líquido. Falou por quase 15 minutos sem parar. Muito esquisito. Sei que no final das comprei o diabo do sabonete. 

- Comprou?

- Sim. E logo três. Tava na promoção. 

- Nunca tinha visto isso. Outra coisa que nunca vi foi venderem cigarro em farol. Se alguém pensasse nisso, ficaria rico. Já vi venderem água, jornal, até mesmo boia e globo terrestre. Mas nunca, nunquinha, cigarro. E olha, nego fumante que tá dirigindo e tá desesperado por cigarro, paga até R$ 10 por um cigarrinho.

- Maço, você quer dizer.

- Não. Um cigarrinho mesmo. Esse povo é viciado! Viciado é assim: se pans, deixam até o carro em troca de uma baforada. 

- Nossa. Acho que vou investir nisso então. Mas antes, vou lavar as mãos. Quero estrear minhas novas aquisições. 

- Pode até beber o sabonete, de tanto que você comprou.

- Aliás, falando em mãos, outro dia vindo para cá passei na frente de uma casa com os dizeres: "não temos campainha, chame pelo nome". Achei um absurdo. 

- O quê?

- Ué, e se a pessoa estiver rouca ou for muda? Como que faz?

- Ah, bate palma.

- E se for rouca, muda e maneta?

- Pô mas se ela for rouca, muda ou maneta, nem a campainha ia ajudar. Como ela ia tocar?

- Ah, mas aí já não é problema do dono da casa. Ele fez a parte dele e colocou a campainha ali.

- Sei.

- Qualquer dia, vou parar lá e chamar o dono da casa e falar umas verdades para ele. 

- E como você vai chamar, se ele não tem campainha.

- Sei lá. Pensei em chamar pelo nome.

- E você o conhece?

- Não. Mas poderia ir chutando todos os nomes do Brasil até acertar. 

- Boa. Mas como são muitos, você pode ficar rouco antes.

- É. Mas posso levar uma pedra. Quando tiver enrouquecendo, taco uma pedra na casa e beleza. Alguém sai para ver quem é e você fala as suas verdades.

- Hummm.

- Ou, melhor. 

- O quê?

- O vendedor de sabonete já se foi?

- Já.

- Pena. Você podia contratá-lo. Se ele entrou aqui e está vendendo coisas de porta em porta, é batata que ia dar um jeito de ser atendido nessa casa.


quarta-feira, 28 de julho de 2010

O que diabos faz um maçom?

- Pensei em um argumento para um filme.

- Conte-me.

- Um bêbado começa a tremer porque tá com abstinência de álcool. Ele quer parar de tremer. Aí, ele encontrar uma garrafa de pinga. Quando vai virá-la goela abaixo, como tá com tremedeira, a deixa cair no chão. Fim. 

- E como ia chamar o filme? "Ironia idiota"?

- Algo assim. Agora preciso pensar em como preencher os outros 120 minutos. Mesmo porque essa cena dá só uns 30 segundos. 

- Eu queria fazer um filme sobre a Maçonaria. Mas primeiro preciso descobrir o que eles fazem.

- Eu sei o que os maçons fazem. Passam o tempo todo negando que são maçons. E só. Isso também daria um filme bem curto. Olha só: se seu bêbado for maçom, já temos 1 minuto de filme. Agora, só faltam 119 minutos.

- Sabe o que demora? Baliza. Podemos colocar uma cena de alguém fazendo uma baliza com o carro. Esse bêbado, no caso. Se ele estiver tremendo, demora mais ainda para terminar a baliza. Pronto, já temos uns 5 minutos de filme.

- Melhor ainda. O maçom bêbado treme para a porra. Aí, vê uma garrafa na rua e pára o carro apressado. Só que a vaga é apertada e ele demora muito para entrar. Quando entra, desce do carro com pressa. Mas não percebeu que está na porta de uma garagem. Um cidadão de bem diz a ele "moço, tá na frente da garagem". Aí é uma meia hora para o bêbado tirar o carro, achar outra vaga, descer e buscar a cachaça.

- Bom, agora só faltam 90 minutos.  

- A gente pode preencher com perguntas idiotas e também com muito colorido. Alguns mortos-vivos e umas garotas com biquinis dos Estados Unidos jogando vôlei em uma piscina indoor também podem ajudar a passar o tempo.

- Beleza. E para dar uma aumentada na parada e ainda passarmos por intelectuais, podemos colocar trilha sonora do Los Hermanos e do Chico e incluir umas perguntas estúpidas, que passam pela mente do mendigo.

- Que tipo de perguntas?

- Ah, sei lá. Por exemplo: por que se escreve maçom com eme no final, mas a congregação é chamada de maçonaria e não maçomaria. 

- Cacete. Que dúvida boa. Por que será, hein?

- Sei lá. Mas a gente pode revelar isso no filme. 

- Podemos. Mas como? Temos que perguntar para algum maçom. Você conhece algum?

- Não. Mas isso é fácil. Saímos à rua perguntando quem é e quem não é. O primeiro caboclo que negar é maçom. Aí, é só perguntar para ele esse lance gramatical. 

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Bom dia, seus lindos!

- Vai vendo.

- Vai.

- Depois de receber muitos emails por engano, achei o diabo do "Sérgio Vinicius" que nunca recebia os emails. Falei com ele e vivo encaminhando os emails errados. 

- Que bonito.

 - Daí, ontem, recebi um que me pareceu estranho e encaminhei. Hoje, revendo, descobri que era pra mim mesmo.

- Gênio

- Agora, mandei outro email para ele dizendo que era pra mim mesmo. 

- E ele?

- Não respondeu. Deve ter ficado confuso. 

- Como você o encontrou?

 - Resolvi procurá-lo porque chegaram a mandar uma NOTA FISCAL por engano para mim. Aí achei que tudo tinha limite.

- Rapaz...

- Pior é que só vem por engano email de trabalho, de faculdade. Aposto que putaria, piada de mau gosto, essas coisas, ele recebe direitinho.

- Aliás, ia te perguntar, como você tinha achando o cara. Porque eu recebo muito e-mail por engano, para outra pessoa que tem o mesmo nome que o meu. 

- Bom, quando recebi a nota fiscal, vi que o cara trabalhava com informática e veio o nome completo dele. Aí digital "Sérgio Vinícius" no Google e em um dos primeiros links achei um blog de um tal "Sérgio Viníicius" que era perito em informática.

- Puta merda. Vai ver que meu caso é bem parecido. Mas eu não tenho como ficar chutando.

- Se receber uma nota fiscal, fica fácil. Ou mesmo algo meio revelador, como "Oi, Vanessa, excelente o filme pornô que você fez com o apelido Megera Pintuda, hein". Aí você procura um travesti chamado Vanessa na internet e resolve.

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Conversado com @vannmarques


quinta-feira, 22 de julho de 2010

Furadeiras, água, cadarço desamarrado, essas coisas

- Hoje um cara me ofereceu uma furadeira na rua.

- Como assim?

- Estava vindo para cá e cruzei com um sujeito, que balbuciou algo. Tirei o fone e perguntei o que ele queria. Achava que era informação. Mas não. Ofereceu uma furadeira. Queria vender. Ele estava também com três relógios na mão. Mas isso ele não ofereceu.

- Esse sujeito vai pastar para vender. Qual a chance de ele cruzar com alguém na rua que queira uma furadeira?

- Foi o que eu disse para ele. Falei para ele anunciar no Mercado Livre, que era mais jogo. 

- E ele?

- Bom, foi daí que eu percebi que era material roubado que ele queria me vender. Ele disse "o que é Mercado Livre?". Aí eu expliquei. 

- E ele?

- Ele disse algo como "vixe, maria. Já deu um trabalhão roubar isso aqui. Agora vou ter que me matar, ou matar alguém, para roubar um computador e roubar essa tal internet. Daí preciso invadir esse Mercado Livre. Prefiro ir tentando me desfazer disso aqui no boca-a-boca ou na base da intimidação".

- E você?

- Dei um "boa sorte" e saí andando.

- Você já reparou como acontece coisa estranha contigo? Que os tipos mais esquisitos aparecem para conversar com você, do nada?

- Já. Mas conclui que há um bom motivo para isso.

- Que seria?

- Sou bonito.

- Como é?

- As pessoas vêem minha beleza. Aí, querem se aproximar de qualquer jeito, para tirar uma casquinha, sabe? Então me oferecem furadeiras, pedem água, avisam que meu cadarço está desamarrado, essas coisas.

- Baseado na minha vasta experiência de mundo, eu diria que você tá falando abobrinha.

- Por quê?

- Porque tirando nas novelas, ninguém tem coragem de chegar perto de pessoas bonitas. Isso é um fato. Beleza intimida as pessoas. Quanto mais bonita, menos a pessoa é abordada. É por isso que todo mundo casa com gente feia e o mundo anda cada vez mais horroroso. Ao passo que as pessoas bonitas estão cada vez mais solitárias, esperando envelhecer ou torcendo para terem um acidente e ficarem desfiguradas, para, finalmente, ter uma conversa na fila ou no elevador com outras pessoas.

- Você tá me dizendo que as pessoas conversam comigo na rua porque sou feio?

- Eu converso com você porque você é feio. Se você fosse bonito, eu estaria mudo aqui. 

- Acho que sou feio mesmo. Quando eu estou sozinho, vivo conversando em voz alta comigo mesmo. Se eu fosse bonito, ficaria mudo. Mas não, falo até que com certa frequência. Isso prova que sou feio, né?

- Isso. E também que você é louco.

terça-feira, 20 de julho de 2010

40 dias jejuando, meditando e assistindo a filmes com explosão e mortos-vivos

- Hoje fiz uma experiência antropológica-espiritual vindo para cá.

- De novo?

- Como de novo?

- E aquela vez que você resolveu passar 40 dias só jejuando, pensando, esperando, meditando e assistindo a filmes com explosão e mortos-vivos?

- Ah, naquela época eu estava em outra fase. Já passou. Agora estou nessa de experiências antropológicas-espirituais.

- Sei. E em que consiste isso?

- Bom, na verdade, só queria dizer que hoje, ao sair de casa, percebi que um dos cadarços do meu tênis estava desamarrado. 

- Seu pênis? Hahahaha.

- Babaca!

- Eu sei. 

- Então, aí resolvi não amarrar. 

- E você deve ter um bom motivo para isso, além da preguiça de abaixar.

- Sim. Juntando o útil à preguiça, resolvi vir para cá com ele desamarrado, só para ver quantas pessoas na rua iriam me avisar que ele estava desamarrado.

- Pelo jeito, ninguém avisou. Ele continua desamarrado. Estou vendo que não há a solidariedade da porta do carro meio aberta ou do erro de digitação no MSN no caso do tênis desamarrado. 

- Não é o tênis que é desamarrado, é o cadarço. Hahaha.

- Babaca.

- Eu sei. Mas você que começou com o negócio do pênis. Me explica esse negócio da solidariedade aí, que não conheço.

- Acho que li em um texto do Luis Fernando Veríssimo. De um jeito mais inteligente e polido, ele dizia mais ou menos que todo mundo caga para todo mundo. Bate a carteira, taca fogo em mendigo, fecha no trânsito, fura fila. Mas basta alguém ver, no trânsito, a porta de outro carro mal fechada, meio aberta, avisa. Buzina, abaixa o vidro, faz sinal. É a solidariedade da porta meio aberta.

- E o negócio do MSN?

- Mesmo princípio. Mas isso aí fui eu mesmo que descobri. Toda vez que escrevo algo errado no nick ou no subnick, por erro de digitação...

- Ou por burrice.

- Babaca.

- Eu sei.

- ...Por erro de digitação, alguém me avisa. Com a maior delicadeza do mundo, mas me avisa. Pelo visto, isso não é aplicado ao cadarço.

- É verdade. Veja meu caso. Vindo para cá a pé, cruzei com umas, chuto, 100 pessoas. Delas, uma só um senhor me avisou que eu estava com o tênis desamarrado.

- Se ele avisou, porque seu tênis continua desamarrado?

- Porque para me vingar de todos que não avisaram, acabei dizendo para o senhor que eu sabia que estava desamarrado mas que não ia amarrar. E comecei a contar minha experiência para ele.

- E ele? Te chamou de mal educado, lunático, debilóide ou... BABACA?

- Eu sei

- Tá, mas e ele?

- Nem ouviu.

-  Era surdo?

- Não. Quando comecei a falar, passou por nós Passat velho com a porta meio aberta, bem mal fechada. O senhor saiu correndo atrás e me deixou falando sozinho, com o tênis desamarrado e minha experiência antropológica-espiritual.

- Você não sabe o que significam as palavras "antropológica" e "espiritual", ?

- Não faço ideia.

- Percebo. Não use como nick no MSN, ok?

- Ok.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Dilma, Serra e a Final da Copa


- E o Henry, que tá dando chilique sobre a mão do Luiz Fabiano na Copa?

- O da França?

- É.

- Pra mim, qualquer atleta da seleção francesa de futebol que jogou a Copa de 2010 devia ficar quieto e usar chapéu com orelha de burro pelos próximos 4 anos. Ha, e a cada semana seria obrigado a subir em um coreto em qualquer praça francesa e receber uma via de 20 minutos, sem reclamar. Em silêncio. Não importa se tem razão ou não. Com o papelão deste ano, perde qualquer moral.

- Concordo. Aliás, entre os três maiores papelões desta Copa, em primeiro coloco a França.

- E o segundo e terceiro?

- Espanha em segundo. Holanda, terceiro.

- Como?

- Bom, Espanha e Holanda fizeram dois papelões pelo jogo final. Nenhum dos dois times queria ganhar de jeito nenhum. E a Espanha, nem isso conseguiu. A Holanda, pelo motivo inverso fica em terceiro.

- O Robben, eu metia no calabouço ainda no primeiro tempo. A final me pareceu um marco do fim do futebol mundial como o conhecemos. 

- Ainda espero fervorosamente que anulem a final e dêem a Copa para a Alemanha. Ou para o Uruguai, como campeão filosófico da parada.

- Verdade. Onde já se viu um campeão da Copa que nunca foi campeão antes? 

- E já dá para falar que a Holanda assumiu o posto de Botafogo do futebol mundial, não? 

- Ah, podemos. Sem pestanejar.  A diferenã é que o Botafogo quer ganhar. A Holanda, não.

- Era muito amarelo em uma final só. Tentaram perder e não fazer gol ao extremo. A final da Copa foi uma espécie de Bangu e Coritiba. 

- Se fosse para os penaltis, era capaz de todos os jogadores errarem. 

- Certeza. COmo já falaram por aí, o Mick Jagger devia estar com a camisa metade da Holanda e metade da Espanha. 

- E o polvo, hein ?

- Acho que tava pelado. Afinal, quem é que nada de roupa?

- Ele não erra uma. 

- O polvo deveria escolher o próximo presidente do Brasil. 

- Sem dúvida.

- Colocam dois potes, um com a ração e a foto da Dilma e outro com a ração com a foto do Serra. E ele abraça. Quem você abraçaria?

- Difícil. Preferia que esquecessem de colocar a foto de um dos dois. Aí eu ia para o pote só com ração, sem Serra ou Dilma.

- Se você abraçasse um pote só com ração, seríamos governados, por 4 anos, por um grande amontoado de comida de polvo. 

- Melhor que a Dilma e o Serra, não?

- Não sei, nunca comi. Será que parece com ração de cachorro?

- Bom, o polvo poderia não abraçar nada e apontar para si mesmo. 

- Isso quer dizer o que?

- Várias coisas. Que seríamos governados pelo povo.

- Ai, ai.

- Ou pelo Lula.

- Por quê?

- Lula e polvo não é tudo a mesma coisa?

- Teria mais sentido se fosse um sapo barbudo que escolhesse o presidente. 

- Baixou o Collor aí?

- Em mim? Não. Mas se o sapo barbudo pegasse guache e se pintasse, daí seríamos governados por uma mistura de Lula com Collor.

- Credo. Prefiro o...

- Serra?

- Não. O... a....

- A Dilma?

- Não. A comida de polvo mesmo. 

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Colaboração involuntária de @terciors


 

segunda-feira, 12 de julho de 2010

No MSN, com Daniell Rezende

- Aí, Buchabick, o que o Bruno desencavou: http://youtu.be/watch?v=6QLr0jYSCBw

- Porra, vocês têm um montão de vídeos aí. Dá-lhe Starving Bluesmen Quartet!

- Justamente. Tem um DVD com as duas primeiras apresentações, que eu nunca vi.

- Eu já vi. Tenho aqui o DVD.

- Imaginei. Você tem absolutamente tudo do Starving Bluesmen Quartet. Deve ter até quando a gente abriu pro Latino, num show que eu nem estive.

- Tenho sim. Acontece que, de manhã, todo dia e há mais de 12 anos, um gato misterioso aparece na minha porta com algum material do Starving

- Isso é meio assustador, não?

- Isso porque você nunca viu o gato. Tem cabeça de leão.

- Sim. Mas é assustador, principalmente, porque o Starving Bluesmen Quartet não tem 12 anos.

- O mais assustador mesmo foi no dia que veio uma cueca que tinha uma caricatura de todo mundo do trio quarteto.

- Ah, essa cueca eu tenho. Fizemos 300 mil e encalharam. Eu só uso ela agora.

- Foi ela que deu orginem à banda, imagino. Algo como "Se a gente pode ser estampa de cuecas, podemos fazer qualquer coisa! Vai, Tigrão! Grrrrr!"

-  Mais ou menos isso. A gente vendia na porta do barzinho. E aí o dono do lugar perguntou se não era melhor a gente fazer uma banda. A banda, na verdade, foi só pra tentar desencalhar as cuecas.

- Sei disso tudo. Uma vez o gato apareceu com um VHS com um curta-metragem documentário sobre a banda. Tinha 32 segundos, mas deu para entender bem a origem, o auge e a queda.

- Sim, resumindo, dá isso mesmo.

- Só não ficou claro se você morreu mesmo e foi substituído por um sósia ou se você mesmo substituiu o sósia, que era o vocalista original. Precisaria ver a versão extendida. Mas o gato trouxe essa versão em LD. E ninguem tem LD hoje em dia.

- Na verdade, o sósia morreu e colocaram um outro sósia no lugar. Eu nunca fui da banda mesmo. E isso explica o fato de eu não ter material nenhum da banda. Exceto as cuecas.

- Hummm. Não sabia disso. Provavelemente estava nos slides que o gato trouxe outro dia, mas que fiz corpo mole para ver.

- Ah, não. Esses slides são do nosso ensaio sensual.

- Ah, isso eu já vi. Isso aconteceu em um dia que o gato apareceu com as mãos abanando. Quando reclamei, ele fez assim com os ombros, acendeu uma lanterna e fez show de sombras com as maãos, na parede, encenando o ensaio sensual.

- Aí não era o gato. Era eu mesmo, fantasiado de gato. O ensaio sensual exigia.

- É mesmo? Já te falaram que fantasiado de gato você fica um gato?

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Além do Starving Bluesmen Quartet, Daniell atende aqui, aqui e em carreira solo também.

sábado, 10 de julho de 2010

Dando um Reforço no Lanche da Galera

- Você acha que o Bruno joga papel na rua?

- Como é?

- Ah, estava pensando. Se um cidadão comete um assassinato, por exemplo. Será que, no dia-a-dia, ele é uma pessoa pacata, que se comporta bem no trânsito e joga o lixo na lixeira, ou será que joga o lixo no chão e vive fechando os outros no tráfego?

- Pela cara dele, posso chutar. Serve?

- Vai ter que servir.

- Bom, acho que ela fecha os outros no trânsito, mas que não joga lixo no chão, não.

- Interessante. Isso quer dizer que ele só é transgressor para certas coisas. Certo?

- Basicamente. Você, por exemplo, nunca roubou nada na sua vida, correto?

- Correto. Nem bala quando era criança, nem chiclete. Nada, nunca. Aliás, foi por isso que parei de ir a uma antiga psicóloga. Ela me acusou de ter roubado um boné, por conta de um desenho que fiz. Fiquei tão indignado, principalmente por ela não acreditar na minha, depois de todas as minhas negativas, que parei de frequentar o consultório.

- O que diabos você desenhou? Uma caricatura do Ronald Biggs?

- Não. Um rapaz com a mão no bolso. Ela entendeu que as mãos no bolso era sinal de que eu tinha roubado algo.

- Algo como o corpo fala levado ao mundo da ilustração infantil?

- Por aí. Tentei explicar para ela que eu desenhei as mãos no bolso porque não sabia desenhar mãos mas ela não acreditou. Eu tava vendo a hora que ela ia chamar o 190.

- O que ela dizia?

- Ah, não lembro bem. Algo como "você não me engana, ladrãozinho".

- Bela psicóloga, hein. Mas, voltando à vaca fria...

- Não. Não quero mais falar da psicóloga.

- Quero dizer, voltando ao assunto. Você nunca roubou nada. Mas no truco vive roubando. Acho que é o mesmo no caso do Bruno. Não joga papel no chão, mas vive matando.

- Falando nisso, estava lendo uma notícia interessante. Presos esperam que Bruno reforce time do presídio.

- Reforço é reforço. Aposto que eles ficaram muito tristes quando o Edmundo foi absolvido naquele caso de atropelamento.

- Verdade. Imagina a tristeza da população carcerária norte-americana quando o OJ Simpson saiu impune daquela matança contra Deus e o mundo e a mulher dele.

- Por essa ótica, imagino que as presas do Brasil torçam para a Dona Palmirinha matar alguém ou roubar qualquer coisa. Assim, presa, ela poderia dar um reforço no lanche da galera.

- Alto lá. A Dona Palmirinha jamais iria fazer algum mal para alguém.

- Sei não. Ela vive assassinando o português. "Nóis vumo fazê isso, amiguinha." "Vamo pegar os prato e colocar nos forno." Daí para pegar gosto pela coisa e envenenar mais alguém é um pulo.

- Acho que não. Acho que ela é o típico caso que assassina o português, mas nunca jogou a matemática no chão ou fechou alguém no truco.

- Será?

- Ah, é certeza.

- Certeza, não. Batata. Aposto que a dona Palmirinha prefere essa expressão.

- Conhecendo o linguajar dela, acho que tá mais para "é batatas" ou "são batata".

- Ou "tudo batato". Certo?

- Batata.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Quem foi que roubou a sopeira?

- Passei por uma saia justa dos diabos agora.

- O que rolou?

- Estava quase chegando aqui quando um mendigo me parou na rua.

- O que ele queria?

- Viu que eu estava com essa garrafa de um litro e meio de água mineral e me pediu um gole.

- E você ficou em dúvida em dar água a um homem com sede?

- Claro que não. Dei a água imediatamente. O problema é que só foi aí que percebi que estávamos no meio da rua.

- E?

- E aí o cidadão resolveu beber ali mesmo, no meio da rua, impedindo o tráfego dos carros.

- Começou um buzinaço?

- Começou. E ele estava tão entretido com a água que não sabia se puxava ele para a calçada ou se deixava beber ali mesmo, atrapalhando o tráfego.

- E o que você fez?

- Bom, de saída, achei que ele não fosse demorar muito. Aí resolvi não interromper.

- Ótimo.

- Mas foi só impressão. Porque depois da primeira golada, ele só parou para comentar algo como 'melhor, só se fosse vodka' e depois voltou a beber a água calmamente. Sem se preocupar com o trânsito. 

- Bom, aí acho que já era bom você ter o puxado para a calçada.

- Também. Mas aí considerei que se ele era um sem-teto, então a rua é a casa dele. Que direito eu tinha para tirá-lo de dentro de casa? 

- Como?

- Bom, depois acabei me distraindo com a frase sobre a vodka. Fiquei pensando se ele beberia a vodka com a mesma desenvoltura que bebia a água. Na sequencia, considerei que se eu passasse por ele com uma garrafa de vodka, se ele iria pedir um gole ou ia logo me roubar.

- Pronto. Agora só porque é pobre não pode ser honrado. Eu acho que é provável que ele pedisse. E educadamente.

- É. Eu conclui que sim. Mesmo porque antes de passar por ele, percebi ao longe que ele já havia parado mais dois transeuntes cheio de petições. Para um, pediu cigarros. Para o outro, isqueiro. Em ambos os casos foi prontamente atendido.

- Sempre no meio da rua?

- Sempre. E, pensando bem, acho que depois que ele me devolveu a água e eu vim para cá, ele ficou lá parado, ainda no meio da rua. Acho que ele gosta muito do local. Realmente, deve ser a casa dele. 

- Ainda bem que você não vinha para cá com uma garrafa de vodka. 

- Por quê?

- Ah, se ele virasse meia garrafa de vodka, dificilmente iria conseguir ficar parado ali, guardando caixão no meio da rua e, por conseguinte, atravessando e atrapalhando o trânsito.

- É verdade. Não ia conseguir ficar dentro de sua própria casa, curtindo uma boa bebedeira. Que mundo é esse em que pessoas de bem não conseguem nem beber em paz, que já aparecem carros buzinando e passando pela sua sala?

- Verdade. Um cidadão de bem não pode nem tomar um rabo de galo no seio do seu lar que já aparece um Opala fumaçando tudo e buzinando como se não houvesse amanhã. E nem outras vias públicas para andar. Que inferno. 

- Por isso que eu sempre digo: este mundo está perdido. E não é de hoje. Maldito Henry Ford.