- Ontem eu estava com tanto sono, mas tanto sono, que dormi durante o jantar. Dei de cara na comida.
- Se você estivesse com tanto sono assim, teria dormido antes do jantar. Tipo umas seis da tarde.
- Mas eram seis da tarde. Lá em casa o pessoal janta cedo.
- Hummm. Mas e aí, deu de cara em quê?
- Em uma sopa de ervilhas.
- Queimou a cara?
- Nada. O sono era tanto que eu estava pescando fazia horas. Deu tempo da sopa esfriar. Na verdade, fiquei com a ponta do nariz gelada.
- Ainda bem que você não estava jantando uma planta carnívora. Senão, seu nariz ficaria mordido, não congelado.
- E quem é que come planta carnívora?
- Tive um vizinho que jantava isso todo dia. Era vegetariano radical. Aí comia a planta para, além de se alimentar, meio que para se vingar dos carnívoros. Como dizia que não ia comer gente, comia a planta e se sentia vingado.
- Não comia gente por não ser caníbal ou por ser vegetariano?
- Não sei. Mas dava na mesma: não comia do mesmo jeito. Aliás, um caníbal vegetariano come o que?
- Gente de soja.
- Não parece bom.
- Nada de soja é. Mas esse meu vizinho aí gostava mesmo de coisa estranha. Lembro que uma vez me chamou para lanchar na casa dele e me serviu pão com pipoca e açúcar.
- Não parece tão estranho.
- Nem se eu te falar que o açúcar era mascavo?
- Aì, sim, a coisa muda de figura. Era mascavo?
- Não era. Era refinado. O pão era francês. A pipoca, microoondas. Cara mais previsível, não?
- Acho que sim. Se eu comesse pão com pipoca e açúcar, usaria exatamente esses ingredientes. Talvez substituísse o açúcar por adoçante, se estivesse de regime. Mas só. No final das contas, esse lanche estava gostoso?
- Médio. Se eu pudesse, substituiria a pipoca por um queijinho. O açúcar por um presuntinho. E meu vizinho pela Erika Mader. Aí, sim, a coisa ficaria boa.
- Com a Érica Mader, meu chapa, até pão com pipoca.
- E com açúcar?
- Não vamos exagerar também.
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