quarta-feira, 30 de setembro de 2009

As Boas Bestas Deste Mundo

- O Brito Júnior é uma boa besta.

- Ah, pronto, descobriu a América.

- Mas dessa vez não foi uma ofensa gratuita. Eu tenho como embasar.

- Não precisa.

- Mas embaso. Não quero ser processado. 

- E se você explicar, tim tim por tim tim porque ele é uma boa besta, escapa do processo?

- Se o Brito Junior ouvir minha argumentação e se convencer de que é uma boa besta, ele não terá motivos para me processar por calúnia ou difamação.

- Se você, especialmente você, convencê-lo de que ele é uma boa besta, então está mais do que provado de que ele é uma boa besta. 

- Por que essa ênfase em "especialmente você"?

- Você não consegue convencer ninguém de nada. Eu lembro de uma vez que tentou pechincar um relógio que uma tia peruana estava vendendo em um camelódromo e, no final das contas, acabou pagando o dobro do preço naquela porcaria. 

- Alto lá. Aquela senhora tinha uma lábia muito boa. E me deu de brinde um cigarro com um fumo típico da região dela no Peru.

- Alguém que não consegue convencer uma senhora de meia idade, claramente com fome, a vender mais barato um relógio de pulso, não pode ser bom em convencer ninguém de nada. E mais: aquilo não era um cigarro típico. Era uma guimba de Hollywood vermelho.

- Como você sabe?

- Eu tinha acabado de jogar no chão. Vi quando ela pegou. Você estava distraído tentando acertar os ponteiros do relógio.

- O ponteiro.

- Só tinha um?

- Só. Achei que era o das horas, porque parecia andar lentamente. Depois, descobri que era o dos minutos e que estava quebrado e não andava.

- Entendo.

- Então quer dizer que aquele cigarro era brasileiro e, pior, era Hollywood? E, pior pior, era seu?

- Bom, a partir do momento que joguei no chão, era de quem pegasse. Foi meu. Depois, daquele rato que tentou comê-lo. Depois, da peruana. Por fim, seu.

- Meu Deus! E eu fumei inteirinho.

- Interinho? Só tinha meio dedo de cigarro.

- Mesmo assim! É, sou uma boa besta.

- Você, sim. Mas e o Brito Júnior, porque ele te faz companhia nesse seleto rol?

- Acabo de ver um comercial que ele fala bem da lei do Serra de parar de fumar em ambientes fechados.

- E todo mundo que é a favor dessa lei é uma boa besta?

- Não sei. Mas ele é uma boa besta porque elogia a lei e termina dizendo "e eu posso falar com propriedade, porque já fui fumante". Esse tipo de argumentação é de cretino. Só quem fala com propriedade sobre deixar de fumar em ambientes fechados é ex-fumante? 

- Por essa lógica, o Serra deveria ser ex-fumante para poder proibir com propriedade o fumo em São Paulo. Ele é ex-fumante?

- Não sei. Tem cara de ex-coroinha. 

- Inveja. Sempre quis saber qual o gosto de hóstia.

- Tem gosto de nada.

- Então, acho muito cretino esse lance de "eu posso falar porque sou" qualquer coisa. É como se só gordo pudesse falar de gordo, só negro pudesse fazer piada com negro e assim por diante. Eu acho que qualquer um pode falar com propriedade sobre qualquer coisa, desde que estude, desde que entenda do assunto.

- Nossa, que inflamada! 

- Não é imflameação ou inflameamento. Esqueci o termo correto. Trata-se de uma simples constatação. Eu posso falar com propriedade sobre o Brito Junior porque, conforme já provamos ali em cima, sou uma boa besta.


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