segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O Velho Truque do Pedinte Fanho

- Para você ver como são as coisas: estava quase chegando aqui e um pedinte veio puxar conversa.

- Puxar conversa ou pedir dinheiro?

- Puxar conversa, pedir dinheiro, essas coisas. Como você sabia que ele veio exatamente pedir dinheiro?

- O termo "pedinte" que você usou me deu a dica.

- Ah, mas ele poderia ter pedido qualquer outra coisa. Meu celular, minha carteira.

- Mas aí não seria pedinte, seria assaltante.

- Não seria assaltante se ele pedisse, eu negasse e ele fosse embora. Daí, seria só pedinte mesmo. Mas para você ter uma idéia, eu achei que ele fosse pedir água. Eu estava com uma garrafa na mão e a gente tava sob um sol danado.

- Mas ele pediu dinheiro, correto?

- Sim. Ele disse "tem as moral de me descolar cinquenta centavos para eu inteirar a fraonfsfdsf?"

- A o que?

- Acho que ele disse fraonfsfdsf mesmo. Mas não tenho certeza.

- E o que é fraonfsfdsf?

- Não sei. E, na dúvida, acabei dando R$ 1.

- Ele não havia pedido R$ 0,50?

- Haqvia. Mas não sei quanto custa uma fraonfsfdsf. Vai que é mais caro do que ele imaginava.

- Pode ser. Fez bem.

- Eu gostei muito do comentário dele, depois que eu dei o dinheiro.

- Ele disse "obrigado, sempre quis ter uma fraonfsfdsf fofa"?

- Não. Ele disse "obrigado. Você também está desempregado?".

- O que tem de estranho nisso?

- Ué? O que leva o cidadão a achar que alguém que parou para dar esmola está desempregado?

- Talvez ele ache que há uma certa cumplicidade entre desempregados. Você, ele, uma boa parte da população mundial.

- Mas eu não estou desempregado.

- Eu sei. Mas olha suas roupas. Olha a barba por fazer, o cabelo desgrenhado. A calça puída, que combina bem com a mochila suja, caindo aos pedaços. Você anda meio que mancando e lentamente. Para mim, parece um desempregado.

- Mas eu ando cantando. Sempre sorrindo. Às vezes até me empolgo com o que estou cantando e dou uma reboladinha.

- E tem coisa melhor do que não trabalhar? É um desempregado perfeito e feliz. Ou um lunático.

- Pode ser. 

- Por falar em comentário, lembra que comentei outro dia que meu pai adora futebol, vê todas as partidas possíveis, mas somente faz comentários tipicamente femininos durante os jogos?

- Como elogiar as pernas dos jogadores?

- Não. Nem tanto.

- Então não lembro.

- Bom, mas é isso. Ele faz uns comentários muito estranhos. Ontem, assistia com ele Botafogo-RJ contra a bambizada.

- Sei. 

- Aí, lamentei um gol perdido do Botafogo. 

- E?

- E ele perguntou "você está torcendo para o Botafogo?"

- Seu pai sabe que você é corintiano? 

- Sabe. Aliás, sou corintiano muito por causa dele.

- É. O que você respondeu?

- Disse: "claro pai. Por que eu torceria para o São Paulo?"

- E ele?

- Ele disse: "o São Paulo é de São Paulo. Mas já que você tá torcendo para o Botafogo, vou torcer também".

- É um comentário e uma postura estranha. Mas não é exatamente feminino.

- Não? E se eu te falar que uns 10 minutos depois minha mãe apareceu na sala e perguntou para quem eu estava torcendo?

- Bom, aí ou seu pai fez um comentário feminino ou sua mãe tem um comportamento estranho. Pode ser ambos?

- Pode sim. Logo, se vê que você os conhece há tempos.

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