- Acabei de fazer uma coisa bem idiota.
- Vai me dizer que, de novo, você errou de propósito a senha do cartão do banco no caixa eletrônico, só para ver o que aconteceria?
- Eu não queria ver o que aconteceria. Eu queria saber se algum alarme seria disparado ou se a SWAT invadiria o Bradesco e me renderia.
- Não aconteceu nada disso, não é?
- Não. Meu cartão foi bloqueado e deu um trabalho danado para desbloquear.
- Nem sinal da SWAT?
- Nada. Só a Geni, a gerente do meu banco, que ficou furiosa. Eu quase tive que chamar a SWAT para ela largar do meu pescoço.
- Certo. E qual foi a bobagem que você fez agora?
- Eu tava distraído, trabalhando em uns rascunhos e comendo aqueles ovinhos de amendoim. Sabe quais são?
- Sei sim. Dão uma azia dos diabos. Só perdem para a esfiha de carne do Habib´s, que é temperada com azia.
- Exatamente. Pois então, distraidamente, fui comendo, comendo e, quando vi, coloquei na boca minha borracha branca.
- Éca!
- Mas eu estava tão distraído que acabei engolindo. Só percebi que era a borracha quando olhei para a mesa e não a vi. Daí olhei para dentro e percebi que ela tava descendo garganta abaixo.
- Como você olhou para dentro?
- Não importa. O fato é que engoli o diabo da borracha.
- Bom, não chega a ser uma bobagem tão grande a não ser que...
- Pois é. Quando percebi que era a borracha, dei uma tremida e rabisquei sem querer metade da página. E aí, cadê a borracha para me salvar?
- Que irônico, não? Se você não tivesse engolido a borracha, provavelmente não precisaria dela.
- Pois é. Daí eu tentei apagar o borrão com os ovinhos, mas não deu certo. Esmigalhou tudo. Ficou uma porqueira.
- Eu achei que as borrachas, assim como as lapiseiras, grafites e Bics 4 Cores tinham desaparecido da face da Terra. Nunca mais tinha ouvido falar.
- Ainda existem algumas poucas. No caso das borrachas, há uma a menos na Terra.
- Quando você falou em bobagem que fez, lembrei de uma que eu fiz recentemente.
- Passou o café com o pó usado novamente, só para economizar?
- Não, não. Parei com essa fase de mesquinharia. A única coisa que reutilizo, hoje em dia, é camisinha.
- Por favor, não desenvolva.
- Não vou. Vou te contar a bobagem que fiz.
- Qual?
- Fiz um churrasco em casa outro dia e passei o tempo todo descalço. No fim do dia, meus pés estavam pretos. Fiquei com preguiça de lavar e fui dormir assim. Mas tive o cuidado de ficar com eles para fora da cama.
- Sei.
- Daí, no dia seguinte, acordei e a casa estava imunda. Você conhece bem a horda que frequenta meus churrascos, não?
- Sim.
- Pois então, tinha coisa para todo lado. O chão estava grudando por conta de cerveja, caipinha e mel derramados. Não tinha um prato limpo, a churrasqueira ainda estava acessa e, estranhamente, assava um pedaço de madeira. Tinha até um ou dois mendigos dormindo na sala.
- Correto.
- Bom, daí não tive coragem de pisar no chão e recorri ao meu chinelo. Fiquei o dia todo com o chinelo em contato com o solado do meu pé, que estava imundo.
- E?
- Bom, daí depois lavei o pé e tals. Mas parte da sujeira do meu pé impregnou no chinelo. Resultado: toda vez que eu usava o chinelo depois disso, meu pé ficava sujo. Demorei para perceber que o problema era o chinelo. Quando percebi, tive que inutilizá-lo.
- Bom, pelo menos era um chinelo, que é baratinho. Pior se fosse uma pantufa ou uma galocha.
- Galocha é cara?
- Não sei. Por quê?
- Tava pensando em comprar uma.
- Se eu perguntar "por que", você vai fazer algum piada com "chato de galochas"?
- Vou.
- Então não vou perguntar.
- Seu chato.
Um comentário:
Galochas estavam na moda no inverno passado. Mas ninguem tinha coragem de andar por ai com bota de lavar o quintal.
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