segunda-feira, 22 de junho de 2009

Costeletas e Vinagre

- Faz, pelo menos, uns 15 anos que eu mantenho estas costeletas. E o mais estranho é que, até hoje, não sei apará-las direito.

- Não precisava nem ter comentado. Qualquer um que olhe para sua cara percebe isso.

- Obrigado. 

- E se a pessoa reparar bem mesmo em você, vai ver que seu nariz também é torto. O que dá uma má impressão dos diabos, considerando-se o conjunto geral.

- Obrigado.

- E vou além: esse seu cavanhaque também não é um primor em termos de estética. Que dirá de métrica?! Ele está levemente torto para a esquerda. E há mais pêlos do lado direito do queixo, enquanto o lado esquerdo está mais ralo e tem um punhado de fios brancos. 

- Sei.

- Por fim, eu diria que as orelhas completam o conjunto tortidão do seu rosto. A da direita é maior que a da esquerda, que, por sua vez, está posicionada mais acima da sua cabeça do que a outra. 

- Acho que já deu, né?

- Só um último comentário, se me permite.

- Permito. Eu comecei o assunto, posso suportar um último comentário.

- Se alguém olhar muito tempo para você, acredito que pode vomitar.

- Ai meu Deus!

- Mas não é por você ser feio ou asqueroso. Não entrarei neste mérito. Acontece que os itens do seus rosto estão tão fora de métrica, proporção e alinhamento que dão uma certa tontura.

- Só isso?

- Não, não. Pensando bem, um último teste. Mostra a língua. 

- Ó. 

- Como eu pensava, a língua piora muito o panorama geral. Ela é mais torta que sua cara inteira junta. Você é um assassino em potencial com essa língua para fora.

- Ué, primeiro, eu causo tonturas às pessoas. Agora, com a língua para fora eu posso matar? Como?

- Supondo que alguém com labirintite pare na sua frente e examine seu rosto. Acho que esse coitado não resistiria a 2 minutos e iria para o beleléu. 

- Mas isso porque ele já tem predisposição genética. Não tenho culpa do cidadão ter tonturas.

- E você tem predisposição genética a matar um labirintítico só com o poder do seu rosto. Acho que isso pode ser usado no tribunal contra você.

- Deus! Então, a partir de agora, não mostro mais a língua para ninguém. E mais: vou agora mesmo no mercado comprar uma gilete e raspar a costeleta e o cavanhaque. 

- E com as suas orelhas e com o seu nariz, o que você vai fazer?

- Não sei. Não pensei nisso. Essas conversas sobre assassinato e sobre torteza me pegaram desprevenido.

- Você vai ao mercado, não?

- Sim.

- Bom, aproveita que está lá, pega um saco de papelão e começa a usar na cabeça. Acho que isso evitaria mais acidentes.

- É um plano válido. Vou lá, então. Quer algo do mercado?

- Traz um vinagre para mim, por favor.

- Litro?

- Não. 500 ml está bom. Eu nem queria muito. Só vou aproveitar que você vai até o mercado para pedir uma coisa bem estúpida. 

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