quarta-feira, 25 de março de 2009

Damas e Mascotes

- Ó lá, os times tão entrando em campo. É hoje que a gente goleia.

- Não gosto de ver essa entrada. Me dá uma tristeza danada.

- Por quê?

- É a segunda maior frustração da minha vida. 

- O que, meu Deus? O que?

- Tá vendo essa criançada que entra com o time?

- Sim, os mascotes.

- Pois é. Eu sempre quis ser um mascote quando era criança. Mas nunca consegui. Quando vejo um time entrar em campo, lembro disso e fico triste.

- Que viadagem. 

- Você acha?

- É, uai! Entrar em campo com um monte de macho de shorts e suados... não sei não.

- Alto lá. Suados, não. Eles ainda não jogaram. Estão secos.

- Tão nada. Eles aquecem no vestiário. Tão tudo melado.

- Tão nada. Um atleta aquecendo é como se estivesse dormindo. Em resumo: não faz nem coceguinha. Estão secos.

- Não fala besteira. Como você pode ter tanta certeza, se nunca esteve lá, se nunca foi mascote?

- Não apela que eu choro. Com frustração não se brinca.

- Tá, desculpa. Mas você disse que não ser mascote é a segunda maior frustração da sua vida. Qual é a primeira?

- Nunca fui dama de honra em casamentos.

- Como?

- Isso. Eu nunca fui daminha. 

- Agora sim, virou viadagem o assunto.

- Por quê?

- Que eu saiba, dama de honra é coisa de menina. E você, pelo que eu saiba, é homem. Quando criança, você deve ter sido menino. Não é isso?

- Sim, fui menino.

- Pois então. Me dizendo que você queria ser dama de honra, eu entendo que você queria ser menina. E, hoje, mulher.

- Não coloque palavras na minha boca. Eu disse que queria ser dama de honra, não mudar de sexo.

- Taí, você tem certa razão. Mas a pergunta natural é: você queria tanto ser dama de honra a ponto de ter que mudar de sexo para realizar a proeza?

- Não. Eu queria ser menino e ser dama de honra. É tão difícil assim entender?

- Mas você não queria ser menina?

- Não. Queria ser dama de honra, mas sendo menino.

- Mas daminha se veste com vestido. Você queria usar vestido?

- Querer, eu não queria. Mas eu queria ser dama de honra. E como para a função é necessário estar de vestido, eu me sacrificaria pelo meu sonho.

- Quem veste vestido é mulher. 

- É? E o padre? Ele usa vestido. 

- Aquilo é a batina.

- Questão semântica. Parece vestido de onde vejo.

- Batina é diferente de vestido. 

- Qual a diferença?

- Quem usa batina é padre. Quem usa vestido é mulher.

- Então a diferença básica dos vestuários é quem o usa?

- É.

- Se eu vestir uma batina, viro padre? Se eu usar um vestido, viro mulher?

- Exatamente. Você já viu algum padre usando vestido? Ou alguma mulher usando batina?

- Nunca. 

- E sabe por que?

- Porque a partir do momento que o padre usa vestido, ele vira batina. E quando qualquer mulher traja uma batina, ela passa a ser vestido?

- Exatamente. 

- Imaginemos uma situação hipotética. Se eu fosse uma criança prodígio e, com três anos, ingressasse no sacerdócio e virasse padre aos oito. Com nove, já padre, eu resolveria mudar de sexo. Nessas condições, eu seria um padre-mulher que poderia, em tese, realizar um casamento e ainda atuar como dama de honra na mesma cerimônia. Considerando tudo isso, a pergunta é simples: que roupa eu usaria? Batina ou vestido?

- Acho que camisa de força. 

4 comentários:

Jaciara disse...

Ainda bem que este trauma eu não tenho. Mas, ser um pajem é uma honraria tão grande quanto ser daminha, e pode-se usar um fraquezinho com flor na lapela.

Diego Felipe disse...

looouco, mas massa (Y)
eu não fui daminha, mas ja fui paajem... passei o casamento todo com a boca fechada, com medo do meu dente mole cair oO
heaueauhauah

Anônimo disse...

Nossa, Diego, sorte que essa experiência não te traumatizou... Desculpe-me, mas eu ri muito de vc...hahaha...e dos loucos aí de cima, lógico.

Flavinha disse...

Um massacote...