sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Camisa do Flamengo, Dia 4

- Vou te dar uma dica para você guardar com carinho.

- Pois não?

- Quando você perder uma aposta e tiver que passar uma semana com a mesma camisa, evite fazer muito esforço físico. Principalmente se estiver nos primeiros dias de uso da porra da camisa.

- Sua muito e fode tudo, aposto. De qualquer forma, está anotado. Evitarei. 

- Ótimo.

- Aliás, sua camisa do Flamengo está bem suja, já. Tem uns pretos onde deveria estar vermelho. Parece graxa. E tem também umas marcas amareladas, que dão a impressão que você rolou no trigo.

- Parece, não. É graxa. Impressão, não. É trigo.

- Onde você se meteu?

- Tinha vendido uma máquina de lavar para um camarada e fui entregar. Nove andares para cima e o elevador estava quebrado. Depois, fui acompanhar uns amigos que estavam fazendo cerveja em casa. Veja bem: fazendo. Não bebendo. Aí eles estavam com problemas para abrir o saco de trigo e resolvi ajudar. Quando eu vi, estávamos moendo trigo, cevada, eu e quase o sofá da sala.

- Imagino o gosto que não vai sair essa cerveja.

- Depois que caiu uma furadeira no meio da água em uma das produções e o resultado até que foi aceitável, acredito que é impossível errar na cerveja a ponto dela ficar pior do que a Kaiser. Se enfiarem o Jô Soares na panela que tem cerveja, nem assim estraga a cerveja.

- Que ideia é essa de fazer cerveja em casa?

- Ah, o mercado do faça-você-mesmo é a nova sensação do momento. Depois que aquele chinês criou seu próprio submarino, não há limites para a bricolage.

- Será?

- É sim. Eu faço parte de um grupo de e-mail que discute a produção de cerveja artesanal. Nem sei bem qual era o assunto em pauta, nem a réplica. Mas veja a tréplica do email que recebi faz uns 10 minutos: "Obrigado, amigo. É a mesma que uso para fazer granola e pão integral."

- Granola não se planta?

- Eu achava que sim. Daí, fui surpreendido novamente. Veja o que descobri: a granola é um composto de cinco cereais torrados - aveia, arroz, trigo, milho e centeio -, misturados com mel ou açúcar mascavo e frutas, como uvas passas, flocos de maçã e castanhas. Se fosse pergunta do milhão, do Show do Milhão, tinha perdido.

- Eu também.

- Lendo, descobri que granola é praticamente Corn Flakes.

- E com essa descrição, nem dá mais vontade de comer granola.

- Eu nunca tive muita.

- Mas agora que sabe que não é natural, talvez agrade mais. Você vive dizendo que prefere coisa tóxica.

- Mas é natural pra porra. Se tivesse chumbo ou pólvora na mistura da granola, aí, sim, eu ia simpatizar mais.

- Caldo de galinha iria bem na granola. Aliás, taí um troço bizarro: caldo de galinha. Principalmente porque não é caldo.

- A gente poderia juntar pólvora, chumbo, bacon e galdo de galinha. Grudar tudo com molho especial do Big Mac. E, assim, criaríamos uma alternativa à granola. Seria a granada.

- Ótimo para café da manha no Iraque. Em tempo de guerra, é excelente. Serve de arma ou de alimento, depende só da situação

- Queria falar um pouco mais sobre o caldo de galinha. Debater o assunto até o limite extremo da exaustão.

- Podemos.

- É que ele é realmente bizarro. Não é caldo. E, por ser quadrado daquele jeito, não pode ser nada, nada, nada natural.

- Os caras pegam a porra da galinha e extraem dela um cubinho daqueles, sabe-se lá como. É muito obscuro esse caldo.

- Deve ser uma máquina que espreme a galinha até sair todo o caldo. Aí, colocam numa forminha, jogam argila e pronto, tá feito o caldo.

- Deve ser uma máquina em formato de Gene Simmons usando salto plataforma.

- Esse é o formato da máquina?

- É. Ele pisa nas galinhas pra tirar o caldo.

- Se as galinha tudo vê isso, nem precisam entrar na maquina. Se espremem sozinhas de medo.
O unico trabalho da maquina, por conseguinte, é fazer os cubinhos.

- Galinha é um bicho medroso mesmo. Se é feito um círculo no chão em volta das penosas, não se mexem. Têm medo do lado de fora. E olha que elas estão vendo o lado de fora.

- O azar delas é que dão um caldo muito saboroso.

- Eu acho muito salgado. Mais ou menos tão salgado como está esse diabo dessa camisa do Flamengo. Quer experimentar?

- Você lambeu?

- Dei uma lambidinha, sem querer. Tava cansado de carregar a máquina, coloquei a língua pra fora e, quando vi, tava com ela salgada, encostada na manga da camisa.

- Éca.

- Mas me deram uma ideia para tentar minimizar o cheiro e a sujeira.

- Espero que funcione, porque você já tá quase cheirando a cachorro molhado.

- Ah, é. Esqueci de mencionar que tomei chuva. Bom, então, a ideia é tomar banho com ela. A regra diz que se quiser lavar, tem que ser no banho. Bom, aí faço isso quando estiver próximo de ir dormir, que é quando posso tirá-la. Ai coloco no varal e no dia seguinte, tá seca.

- Parece que resolve. Vai tentar hoje?

- Não. Melhor amanhã à noite. Porque durante o dia terei um churrasco-escumalha da firma, depois show do Lagunna e a coisa tende a piorar bem. Não quero gastar água à toa.

- Faz bem.

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Nota:

- 99%  do texto acima é, sim, uma autêntica conversa DoisVezesUm, já que as tive com Costela.

- Textos Camisa do Flamengo, dias 5 e 6 devem ficar para o dia 7. 

Um comentário:

Zelão disse...

A camisa do flamengo realmente está cherando mau hehehe.O processo de fabricação de cerveja artesanal desse pessoal deve ser similar ao da granola hehehe e finalmente o assunto mais interessante caldo de galinha pesquisei sobre o assunto que segue abaixo , pelo que entendi são feitos de galinhas nobres de cor azul quanto ao processo para transformar caldo em cubos deve ser similar a fabricação dessa cerveja artesanal mais o que interessa é o marketing e essa breja merece um bordão vamos lançar um concurso E ai vai o meu:
"mecenas em cena nóis não" para encentivar esses fabricantes de brejas aumentar o santo grau.

Na década de 80 para 90, a Nestlé, inconformada em não ser líder de vendas no setor de Caldos de Carne e de Galinha chega para uma agência de propaganda, no caso a Norton, e diz:
- Somos líderes em todos os segmentos que atuamos, menos em Caldos, pois perdemos em cheio para os Caldos Knorr. Façam alguma coisa com este milhões aqui e nos coloquem em primeiro lugar também em Caldos.
Com alguns milhões na mão, foi lá o pessoal criativo e de planejamento da Norton verificar o porquê dos Caldos Maggi não serem líderes de vendas.
Um ponto rapidamente descoberto foi que, Knorr vendia mais pois era pioneiro, ou seja, foi o primeiro Caldo que a dona de casa conheceu.
Fora isso, em nada os caldos se diferenciavam: o gosto era o mesmo, as caixinhas parecidas, o tamanho e peso idênticos, até o papel laminado que embrulhava o caldo era o mesmo.
Cansados de tentar achar um diferencial, o pessoal da Norton notou uma leve, ínfima, rídicula e minúscula diferença. Na verdade a diferença não existia, mas passaria a existir, e seria o diferencial da Maggi: o contorno da galinha.
A Norton viu que a galinha da caixinha da Maggi poderia ter um contorno diferente da Knorr. Uma cor talvez. Mas qual cor?
Ora bolas, a Knorr já era líder por ser pioneira, e a Maggi corria na lanterna por ser uma cópia fiel ao líder de mercado. A Maggi precisava mostrar que mesmo não sendo a primeira a lançar um Caldo, seu produto era tão bom ou melhor que o do concorrente.
Foi aí que veio a idéia de usar o azul, seguindo o jargão de ter sangue azul, sangue nobre, coisa de boa qualidade.
Daí criou-se o bordão que perdurou por mais de uma década: Caldos Maggi, o caldo nobre da galinha azul.
Milhares de promoções foram feitas, inclusive uma promoção que obteve recorde de recall, chegando a uma marca até hoje ainda não superada por nenhuma outra promoção. Nos capítulos finais da novela Vale Tudo, a Maggi lançou a promoção: Quem matou Odete Roitman. Você enviava um rótulo de Caldo Maggi e o nome de quem você achava ter matado a Beatriz Segall na novela. Em uma semana, a Norton recebeu mais de 4 milhões de cartas!
E finalmente, a Maggi/Nestlé, tornou-se líder em vendas de Caldos, deixando a Knorr bem para trás.
Toda esta história do mundo da propaganda, serve unicamente para eu dizer que, os detalhes, aqueles, bem pequenininhos mesmo, podem fazer muita diferença.