- É oficial: eu sou a pessoa que anda mais devagar no mundo.
- Já reparei isso.
- Hoje, esperando o sinal de pedestres abrir, emparelhou comigo um senhor de bengala. Adivinha quem chegou do outro lado da rua antes? O véio decrépito me deixou comendo poeira.
- Por falar em semáforo, sempre que passo em um a pé, penso em aproveitar as ocasião e pedir uns trocos para os motoristas.
- Do jeito que você se veste, em conjunto com seu cabelo desgrenhado e com sua barba mal-feita, tá fácil conseguir.
- Pois é. Queria aproveitar a ocasião, já que não estou fazendo nada mesmo, e tirar uns trocados dos motoristas. Acho que estenderei a mão da próxima vez. Mal não deve fazer.
- Agora, deixe-me voltar ao lance de andar devagar. Outro dia andava em direção a um shopping com uma moça de muletas ao meu lado.
- E ela chegou antes?
- Só não chegou porque passamos por um sinal de pedestres no caminho. Como estava fechado, consegui emparelhar com ela. Quando abriu, saí na frente e consegui manter a dianteira.
- É. Acho que pessoas de muleta não são boas em arrancada.
- Não são. Mas ela chegou uns 2 passos atrás de mim, só. Sou muito lento andando mesmo. Acho que sou uma espécie de campeão de Marcha Atlética do mundo bizarro.
- Olha, não queria entrar nesse assunto, mas já que estamos falando a respeito, devo confessar que a Marília te largou porque você anda muito devagar.
- Como é?
- A Marília, aquela garota que você saía e que te deu um pé na bunda.
- Ué. Mas achei que ela tivesse me largado porque "eu era bom demais para ela, que o problema era com ela, não comigo". Pelo menos, foi o que ela disse.
- Pois é. Mas fiquei sabendo que, na verdade, ela odiava andar de mãos dadas com você. Você anda muito devagar e ela não aguentava. Como ela acha que a base de uma relação é andar de mãos dadas no mesmo ritmo, ao cair da tarde de sábado, em um shopping entulhado de gente, ela considerou que vocês dois não tinham futuro.
- Como você sabe tudo isso?
- Orkut.
- Rapaz... Agora reparo que havia mesmo algo errado. Como fui cego!
- Desenvolva.
- Quando íamos ao cinema, assim que entrávamos no shopping, ela soltava minha mão e dizia "vou ao banheiro, vai indo na frente. A gente se encontra na porta do cinema". E sempre que eu chegava no cinema, ela já estava lá. Com os ingressos comprados, uma pipoca e um refri em cada mão, para evitar andar de mãos dadas comigo.
- E você nunca percebeu isso antes? Não achava estranho ela dizer que ia ao banheiro e chegar antes de você?
- Já comentei que ando devagar, né? Pois então.
3 comentários:
Seu bastardo, seu textos me dão inveja.
Gosto da forma como você elogia. :)
É, o victor Ribeiro é bem 'sincero'... aheuiaheihaeiua
Mas, nossa, esse foi incrível !
Adorei !
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