- Quem era aquela ali que você estava conversando?
- Era a Ana.
- Você demorou tanto em pé que achei sua comida ia esfriar.
- Só peguei salada, por enquanto.
- É. Por isso que eu digo que você demorou tanto em pé conversando com ela que achei que sua salada ia esquentar.
- Espertinho.
- Achei que sua salada ia entrar em combustão espontânea. Já estava com o copo de Coca na mão, pronto pra levantar e jogar no seu prato, assim que as chamas começassem a aparecer.
- Tá, já entendi.
- Que Ana é essa ali?
- Uma moça que eu sai umas vezes, faz uns 6 ou 7 anos. Não lembro. Era amiga da Flávia. Você conheceu, aliás.
- Cacete! Aquilo ali era a Ana?
- A mesma.
- Jamais reconheceria. Aliás, nem levantei para cumprimentar porque não reconheci. Ela era meio-boa, não era?
- Até que era. E, para ser honesto, eu também demorei para reconhecer. Só lembrei dela quando ela falou que parou de vender bonecos de duendes de porta em porta e que não mora mais em Mauá.
- É, com tantos dados, não dá para confundir. Você não deve ter namorado muitas garotas que vendiam duendes de porta em porta em Mauá.
- Osasco.
- Osasco o que?
- Ela vendia os duendes em Osasco. Mauá era só para dormir.
- Quantos Jardins Zaíra têm em Mauá? Nunca soube.
- Pelo menos, uns 7. Mas não tenho certeza. A gente pode ir perguntar para a Ana.
- Que Ana?
- Aquela ali, pô.
- Ah, tinha até esquecido. É que ela está tão diferente. Engordou, inchou. Parece que ficou uns três anos curtida na cachaça. Sei lá explicar, mas tem algo errado com ela.
- Sei que ela teve filhos. Será que foi isso?
- Mas o parto de que faz alguém mudar tanto? Será que ela pariu uma zebra?
- É, sei lá. Bom, é fato que ela meio que um trapo velho.
- Veio a fome, veio a guerra...
- Como?
- Veio a fome, veio a guerra e sobrou aquilo ali de Ana.
- Falando em fome, vamos comer. A salada tá quase esquentando.
- Não, não. Vamos ser maledicentes mais um pouco. Se a coisa esquentar muito, já tô com a Coca no esquema para apagar as chamas.
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