terça-feira, 13 de outubro de 2009

Zé Ruela e Gente Boa

- Quanto mais senso de humor tem o cidadão, mais inteligente ele é. Quanto mais frases feitas ele usa, mais imbecil ele é. Essa é a minha definição para a humanidade.

- E isso lá é definição?

- Mais ou menos. Eu pego ambos os dados descritos acima, transponho para uma escala de um a quatro. Aí somo, divido, subtraio, faço um logaritmo e tiro a prova dos nove. A média me dá um valor que informa se eu gosto ou não gosto da pessoa. Se eu gosto, defino como "gente boa". Se não gosto, chamo de "zé ruela". Aí, sim, defini.

- Logaritmo? Prova dos nove?

- Tá. Confesso que eu só somo e divido.

- Escala de um a quatro? Não seria melhor criar uma escala de zero a cinco?

- Seria se eu não tivesse dificuldades com qualquer conta com números acima de quatro e menores do que um.

- Mas essa sua definição, de gente boa e zé ruela, bate de frente com aquela sua outra teoria estúpida.

- Estúpida?

- É. Lembra que você dizia que não gostava de pessoas com alma presa e que, por outro lado, se dava bem com pessoas de alma solta? E, assim, dividia a humanidade em duas partes, de acordo com a frouxidão da alma.

- Outros tempos, meu caro. Outros tempos.

- Aliás, o que você queria dizer com "alma presa" e "alma solta"?

- Outros tempos, meu caro. Outros tempos.

- Aliás aliás, o que você quer dizer com "outros tempos, meu caro. Outros tempos"?

- Que eram outros tempos, meu caro. Que eu entendia o mundo de forma diferente da que entendo hoje. 

- Você diria que seu atual conceito de zé-ruelice está para a sua outrora teoria da alma presa como a gente-bonice está para a alma solta?

- Diria.

- Então podemos dizer que esses tais "outro tempos" na verdade estão ligados mais a uma questão semântica do que, propriamente, a um efeito temporal que acabou por transformar um conceito em outro.

- Acho que sim.

- Em outras palavras: você só mudou as definições.

- Mais ou menos. Lembre-se dos complicados cálculos matemáticos, como logaritmo e prova dos nove, que influeciam na minha concepção.

- Mas você havia dito que somente somava e dividia. E que sua escala era de um a quatro. Não me parece algo muito intrincado de se fazer.

- Mas eu disse que a casa decimal tendia ao infinito? Acho que esqueci de mencionar isso, não é mesmo? Sendo assim, você acha simples somar 1,365476 com 3,45654 e dividir por dois?

- Dá 2,411008.

- Espertinho. E uma pessoa com esse quociente é gente boa ou zé ruela?

- Aí não sei. Você não havia me dito qual era o valor de corte. 

- Pois então saiba que esse número é exatamente o seu valor na minha escala gente-bonice-zé-ruelice.

- E esse valor quer dizer o quê? Eu sou o que na escala?

- Jamais saberá, seu zé ruela.

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