quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A Crível História do Ca(r)darço

- Moço! Moço! Moço!

- Oi?

- Seu tênis está desamarrado.

- Hummm. Obrigado.

- ...

- ...

- Moço!

- Oi?

- Seu tênis está desamarrado. 

- Eu sei. Você acaba de me dizer.

- E você não vai amarrar, não?

- Estou com uma mega preguiça. E já estou quase chegando ao meu destino final. Quando chegar lá, talvez eu arrume.

- "Destino final". Ui. Que coisa mais enigmática.

- Como?

- Nada, nada. E então quer dizer que o senhor não vai amarrar?

- Não. Estou com preguiça. Mas agradeço a preocupação.

- Preocupação é o diabo! Já que eu tive a fineza de avisá-lo, o senhor poderia ter a educação de abaixar neste instante e amarrar o cacete do tênis.

- Olha, minha senhora, eu não queria dizer. Mas já que a senhora insiste no assunto, informo-te: não é o tênis que está desamarrado. É o cadarço do tênis. E não me venha com figuras de linguagem para explicar sua burrice. Em segundo lugar, não estou com vontade de amarrar o diabo do cordão. 

- Mas é muita falta de educação mesmo, não? Eu apressei o passo para alcançá-lo. Aí, tirei o fone do ouvido, estiquei o braço para cutucá-lo e informá-lo do tênis...

- Cadarço.

- Do cardarço...

- Cadarço.

- Cadarço, que seje.

- Que seja.

- Cuma?

- Deixa para lá.

- Bom, daí tirei o fone do ouvido, estiquei o braço e o informei que o senhor corria risco de queda ou, para ser fatalista, de morte. E o senhor nem para dar uma abaixadinha e amarrar o negócio? Acho que o senhor me devia isso, pelo menos.

- A senhora estava ouvindo o que no fone?

- Jota Quest.

- Bom, se parou de ouvir por 10 minutos, por minha causa, eu lhe fiz um favor. Me agradeça.

- Cuma?

- Agradeça.

- Não estou entendendo.

- Se eu amarrar o tênis...

- O cardarço, burraldo. Você mesmo...

- Tá, tá. Se eu amarrar o cadarço, você me agradece?

- Sim. 

- Então espera aí.

- ...

- ...

- ...

- Pronto. 

- Tchau, até mais.

- Não vai agradecer?

- Menti. Eu te fiz um favor informando sobre seu tênis. Não sei porque teria que agradecer.

- Porque a essa hora seu WalkMan não deve estar mais tocando Jota Quest. Você escapou de uma boa graças a mim.

- Deixa ver.

- ...

- É mesmo. Acabou.

- A rá, sabia. Te fiz um favor.

- Começou o disco solo do Marcelo Camelo.

- Argh! É, pensando bem, não precisa agradecer.

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