- Moço! Moço! Moço!
- Oi?
- Seu tênis está desamarrado.
- Hummm. Obrigado.
- ...
- ...
- Moço!
- Oi?
- Seu tênis está desamarrado.
- Eu sei. Você acaba de me dizer.
- E você não vai amarrar, não?
- Estou com uma mega preguiça. E já estou quase chegando ao meu destino final. Quando chegar lá, talvez eu arrume.
- "Destino final". Ui. Que coisa mais enigmática.
- Como?
- Nada, nada. E então quer dizer que o senhor não vai amarrar?
- Não. Estou com preguiça. Mas agradeço a preocupação.
- Preocupação é o diabo! Já que eu tive a fineza de avisá-lo, o senhor poderia ter a educação de abaixar neste instante e amarrar o cacete do tênis.
- Olha, minha senhora, eu não queria dizer. Mas já que a senhora insiste no assunto, informo-te: não é o tênis que está desamarrado. É o cadarço do tênis. E não me venha com figuras de linguagem para explicar sua burrice. Em segundo lugar, não estou com vontade de amarrar o diabo do cordão.
- Mas é muita falta de educação mesmo, não? Eu apressei o passo para alcançá-lo. Aí, tirei o fone do ouvido, estiquei o braço para cutucá-lo e informá-lo do tênis...
- Cadarço.
- Do cardarço...
- Cadarço.
- Cadarço, que seje.
- Que seja.
- Cuma?
- Deixa para lá.
- Bom, daí tirei o fone do ouvido, estiquei o braço e o informei que o senhor corria risco de queda ou, para ser fatalista, de morte. E o senhor nem para dar uma abaixadinha e amarrar o negócio? Acho que o senhor me devia isso, pelo menos.
- A senhora estava ouvindo o que no fone?
- Jota Quest.
- Bom, se parou de ouvir por 10 minutos, por minha causa, eu lhe fiz um favor. Me agradeça.
- Cuma?
- Agradeça.
- Não estou entendendo.
- Se eu amarrar o tênis...
- O cardarço, burraldo. Você mesmo...
- Tá, tá. Se eu amarrar o cadarço, você me agradece?
- Sim.
- Então espera aí.
- ...
- ...
- ...
- Pronto.
- Tchau, até mais.
- Não vai agradecer?
- Menti. Eu te fiz um favor informando sobre seu tênis. Não sei porque teria que agradecer.
- Porque a essa hora seu WalkMan não deve estar mais tocando Jota Quest. Você escapou de uma boa graças a mim.
- Deixa ver.
- ...
- É mesmo. Acabou.
- A rá, sabia. Te fiz um favor.
- Começou o disco solo do Marcelo Camelo.
- Argh! É, pensando bem, não precisa agradecer.
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