quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Um Conto Natalino Atrasado

- Tô com uma dúvida existencial.

- Pregunte.

- Por que você sempre fala "pregunte" em vez de "pergunte"?

- Essa é a dúvida?

- Não. Essa é outra. Estou para te perguntar isso faz tempo.

- Então pregunte.

- O quê?

- Sua outra dúvida, a inicial.

- E essa do "pregunte", não vai responder? 

- É urgente?

- Não. 

- Então, póxima. 

- "Póxima"?

- É. Póxima pregunta.

- Tá. Até quando a gente dá "feliz ano novo"? Estamos quase na metade de Janeiro e não sei como proceder. Já não sei se dou bom dia ou se dou feliz ano novo aos outros.

- Cara, acho que tem que dar "feliz ano novo" até o dia dos Santos Reis. Depois é facultativo.

- Dia do Sérgio Reis?

- Como?

- Quando é esse dia do Sérgio Reis?

- Hein?

- Aliás, o que acontece nesse dia, além de ser o marco do final da saudação de feliz ano novo? Por acaso as crianças vão a escola com um berrante nas costas?

- Que dia de Sérgio Reis?

- Na hora do intervalo, elas vão ao pátio, ficam em fila, colocam a mão no peito e cantam, em coro, "O Menino da Porteira"?

- Não fala dessa música. É muito triste. Mas eu disse Santos Reis, não dia de Sérgio Reis!

- E depois a cerimônia é encerrada com o Hino Nacional. Tocado com um berrante, naturalmente.?

- Ai.

- Tá. Mas que dia é esse aí?

- Seis de Janeiro.

- Esse não é o dia de Santos Reis?

- É. Foi o que eu disse.

- O Sérgio Reis foi alçado a santo? Agora além de Gaspar, Baltazar e Melchior temos o Sérgio Reis?

- Será inútil protestar, né?

- Imagina chegando na estebaria quatro caboclos, três de coroa e um com um chapelão de vaqueiro. Três deles com mirra, ouro, incenso e o rei Reis com uma porteira e um berrante no cangote. 

- Bom, pelo menos se eles tivessem problemas com os animais, o Sérgio Reis poderia domar as vacas e os cavalos que tinham por perto. 

- Só acho que o Sérgio Reis, como rei, deveria usar outro nome artístico. Adotar um ésse no final do nome cairia bem, por exemplo.

- Numerologia?

- Não, questão de estética. Não fica mais legal Rei Sergios Reis?

- Ele poderia subtrair um ésse do final do segundo nome. Rei Sérgio Rei. Não ficaria melhor?

- Ficaria. Ou poderia se bipartir e, tornando-se dois com o mesmo nome, seria o Reis Sérgios Reis.

- Imagina o incômodo que não ia ser o pessoal entrando em um estábulo com dois berrantes e duas porteiras. Iam ter que colocar o José pra dormir fora, para acomodar esses trambolhos incômodos.

- Já pensou que dois Sérgios Reis geraria, automaticamente, cinco reis magos?

- E magros. Porque o Sergião já tá só o pó. Se dividir em dois, sobrariam dois palitos. 

- Será que eles, fracos fracos, iam conseguir carregar duas porteiras e dois berrantes?

- Isso só quem poderia responder seriam os dois Sérgio Reis. Vamos perguntar a eles?

- Eu acho que só tem um por aí, por enquanto.

- Que pena. Vamos ter que esperar ele se bipartir para ficar sabendo.

- Realmente, um pena.

2 comentários:

Paulo disse...

Muito bom, Bucha!

Carol disse...

Sensacional....mas o sergião poderia olhar para o estábulo e cantar: "Mas nessa casa tem goteira, pinga ni mim"...rs