quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Police on my back, na voz de Cher, diretamente do Piritubão

- Tem um bife aí?

- Por que diabos você quer um... argh! O que aconteceu com seu rosto?

- Por isso quero um bife, gelo ou algo assim. 

- Você apanhou na rua?

- Pode-se dizer que sim.

- Que aconteceu?

- Estava vindo para cá...

- Sei.

- Aí começou a tocar "Police on my back" do Clash. 

- Bela música. Dá vontade de correr.

- Foi o que fiz. Estava sobre uma passarela da Anchieta. Comecei a correr e cantar "police on my back, police on my back".

- E caiu lá de cima de cara no chão?

- Só se eu fosse imortal pra cair lá de cima e continuar vivo, só com a cara amassada como sequela.

- É verdade.

- Bom, aí nessa de correr e cantar "police on my back", cruzei com um cidadão, que resolveu correr atrás de mim.

- Por quê? Achou que era pega-pega?

- Nada. Era gringo. Inglês. Achou que eu tava sendo perseguido pela polícia e quis me capturar.

- Capturou?

- Capturou. Me pegou, meteu minha cara no chão e me imobilizou. Aí, chamou a polícia.

- E você foi preso?

- Fui nada. Chegou a polícia, esclarecemos a confusão. Eu servindo de intérprete para ele, inclusive. 

- Caramba.

- Pois é. Aí os policiais chegaram, entenderam o mal-entendido e perguntaram se eu queria fazer queixa contra o gringo.

- E você fez?

- Claro que não. O cidadão tava muito bem intencionado. Achei que colocá-lo na cadeia ia fazer um mal para a população, que precisa de gente bem intecionada assim para salvá-la.

- E ele te pegou de jeito, hein? Sua cara tá fodida de todos os lados.

- Ah, mas a maior parte dos hematomas veio do ponto de ônibus.

- Como é?

- Bom, esclarecido tudo, voltei a caminhar. Vinha para cá. Lá pelas tantas, distraído novamente com a música...

- Ouvindo mais Clash?

- Não. Cher. Ela ainda me emociona, sabe?

- Sei.

- Bom, aí estava distraído, passando por um ponto de ônibus, quando um cidadão foi dar sinal para o Circular parar e enfiou o dedo no meu olho.

- Que zica.

- Pois é. Aí, parei e fiquei cego. Porque o olho esquerdo não tava dos melhores, por conta da confusão com o gringo. E o direito foi dedado pelo popular que queria pegar o busão.

- Puta história triste, meu.

- Pois é. Aí parei para esperar a visão voltar. Nisso, a população queria muito pegar o Circular e avançou. Eu estava entre a porta e essa horda. Resultado, fui, cego, espremido, espancado, socado, humilhado.

- E como chegou aqui? Além de dolorido e mancando, que é o que se percebe de longe.

- Bom, tentei com todas as minhas forças resistir, mas não teve jeito. Me socaram para dentro ônibus. Por sorte, era o Circular. Ele me deixou exatamente onde o peguei. Aí segui meu caminho e cheguei aqui.

- Por sorte?

- Podia ser pior. Podia ser o Penha-Lapa. Aí, a essa hora, eu estaria passando em Quixeramobim e ainda não teria chegado.

- O Penha-Lapa passa em Quixeramobim?

- Passa. Passa em todos os lugares do mundo, exceção à Pirituba, que é perigoso demais.

Um comentário:

Rogério disse...

Pirituba ja foi mais perigoso. Depois que eu sai de lá, deu uma amenizada. Mas eu ainda volto...