segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Era Uma Vez...

- Vamos brincar de “Era uma vez”?

- Cuma?

- A internet caiu, não tenho como trabalhar. Pensei em inventar uma brincadeira, enquanto ela não volta.

- E como funciona isso?

- É assim: eu começo uma história, você continua. Daí, você pára em algum ponto. Eu continuo e assim vamos, até a gente cansar ou a internet voltar para podermos voltar a trabalhar.

- Hummmm. Tá bom. Começa.

- Era uma vez uma garota chamada Adriana. Adriana não tinha o dedo mindinho do pé esquerdo. Um dia, ela saiu de casa e, distraidamente, topou com o pé em uma pedra.

- ...

- Continua, pô.

- Ah, tá. Aí veio a terceira guerra mundial. Pegou todo mundo de surpresa. O mundo explodiu e todo mundo morreu. Não sobrou nada, nem uma poeirinha cósmica para iniciar outro mundo.

- Se você não queria brincar, era só avisar. Não precisava criar uma história de catástrofe só para se livrar da brincadeira.

- Ué, mas você pode continuar a história.

- Como, se não sobrou nadica de nada?

- Só ter imaginação.

- Então continue.

- Bom, daí o mundo acabou e não sobrou nada. Mas Deus não gostou do que viu. Com uns dois gestos e sua varinha mágica de condão, recriou o mundo tal qual o conhecemos hoje. Com exceção do Jô Soares, que ele considerou um erro e decidiu não recriá-lo. Esse mundo, inclusive, tinha a Adriana, que não tinha o dedo mindinho do pé esquerdo. 

- Aí certo dia, Adriana saiu de casa, rumo à escola, e deu com o pé esquerdo em uma pedra. Ficou com ele todo dolorido. Muito mesmo. Seria uma dor mortal, se doesse um pouco mais. Mas como ela não tinha o dedo mindinho, não morreu de dor. Se tivesse, já estaria morta. Nunca um defeito físico foi tão bom.

- Aí Deus teve um infarto fulminante e foi pro vinagre. Veio a terceira guerra mundial e não sobrou nada. E, dessa vez, nem tinha Deus para recriar tudo. Acabou o mundo, o universo e tudo mais. Não sobrou nada, nada, nada.

- Cacete, como é que eu vou continuar isso agora?

- Imaginação, meu caro.

- Então continua.

- Aí Deus misteriosamente ressuscitou e recriou novamente o mundo. Igual como o conhecemos hoje. A diferença é que, além de não ter criado Jô Soares, aproveitou para emudecer o Diogo Mainardi e deu um dedo mindinho à Adriana, que saiu de casa, topou em uma pedra e morreu de dor. 

- Ah, agora quem não quer mais brincar sou eu. Você matou a pobre Adriana.

- Eu? Eu? Eu nada. Deus, meu chapa.

- Mas mesmo assim, eu queria contar a história da Adriana sem dedinho. 

- Você pode ressuscitá-la.

- Ah, não. Não quero contar a história de uma morta-viva. Muito bizarro para mim.

- Mas nessa história até Deus é morto-vivo, por que a Adriana não seria?

- Porque ela era pura e inocente. Não via maldade em nada. Era vegetariana e tudo mais. Não faz sentido ela ser tudo isso e mais morta-viva.

- Mas ela pode ser uma morta-viva limpinha, que não come miolos e nem manca e se arrasta e grunhe. Ela pode ser normal, com a dieferença que já foi para o além vida e voltou.

- Quando a pessoa vai dessa pra uma melhor e volta, volta toda zuada. Não é possível ir e voltar melhor do que era quando viva.

- Como não? Mire no exemplo de Deus da nossa história. Ele morreu, voltou e quando reconstruiu o mundo, emudeceu o Diogo Mainardi. Isso é ou não uma melhora no caráter do todo-poderoso-morto-vivo?

- É. Mas ele não é uma pessoa, e sim uma divindade. Pessoas não voltam melhores. Divindidades voltam.

- Então cria uma condição especial para a Adriana. Vamos supor que ela fosse mãe-de-santo. Mãe-de-santo é divindade?

- Não sei dizer.

- Supondo que sim. Então ela morreria e voltaria melhor. Pronto, pode continuar a história.

- A Adriana vai ser uma mãe-de-santo morta-viva vegetariana, com um dedinho colocado às pressas no pé, que vai topar com uma pedra no meio da rua?

- É.

- É o fim do mundo!

- De novo? Nosso mundo já acabou três vezes. Assim não dá.

- Não, não. Eu estava reclamando da condição da Adriana e não terminando com o mundo. Se bem que, como a internet voltou, temos que acabar a história. Como termina?

- Que tal acabarmos com o mundo, com Deus, com tudo o que existe?

- Pode ser.

- Tá. Então a Adriana andava pela rua quando aconteceu uma grande explosão intergalática, que dizimou a vida de todos os seres do mundo. Até mesmo Deus, novamente, foi para o quiabo. Acabou-se o mundo e somente sobrou...

- Um violinista surdo, seu violino e uma pedra, na qual ele sentava. Sobre ela, tocou pela eternidade uma ridícula e irritante canção de ninar. Mas como ele era surdo, não se importou. Como não havia ninguém para ouvir, não houve reclamações. Fim. 


10 comentários:

Costela disse...

Excelente, Buchoso.

Anônimo disse...

Meu Deus, esse aí ficou muito bom, muito bom mesmo, hein?!

Primo

Binson disse...

Gostei do fim, achei poético

Anônimo disse...

Muito bom mesmo agora quando nao tiver internet já sei oque fazer rsrsrs Bucha oque vc anda bebendo ? seria cerveja Mecenas ?

Anônimo disse...

E minha mãe disse que isso era bom

Victor Ribeiro disse...

É, eu não gosto quando associam Deus com varas de condão, magica e coisas do tipo...

But, hey, that is just me!

=/

Elton Jr. disse...

Cara.. um dos melhores.
Parabens (y)

Anônimo disse...

"Nunca um defeito físico foi tão bom" . Chega a ser uma desumanidade, hahahahahaha

.Olívia T. disse...

Adorei essa história...
a melhor dos ultimos tempos...
Adoro quando as coisas se renovam

ESTÃO DE PARABÉNS
ahahhaha

Tadinha da Adriana
ahahaha

Que a internet caia várias vezes hahahahahahahahaa

Olívia

Daniel disse...

"contar a história de uma menina morta-viva é bizarro demais pra mim"
hahahahahahahahahahahaha