- E aí, como foi o Natal?
- O Natal em si, foi ok. Já os traslados, um tanto estranhos.
- Resuma.
- Bom, peguei o ônibus rumo ao Paraná na Barra Funda. Foi quando descobri que a Barra Funda é mesmo muito, muito funda.
- Por quê?
- Cheguei cedo para esperar o ônibus e sentei no chão, com minha mochila ao lado. Aí, à minha frente, uns dois metros, notei uma moça até que bem feia que ia começar a comer uma coxinha.
- Sei.
- Entrei em uma espécie de transe hipnótico a observando. Só despertei porque uma freira com uma costeleta enorme, que bem poderia ser confundida com o Elvis disfarçado de religiosa, tropeçou na minha cabeça.
- Devo dizer "que sorte" ou "que azar"?
- Sorte. Porque quando acordei, vi que se passara uma hora e estava quase no momento de pegar o busão.
- Rapaz, a irmã Presley te salvou.
- Sim. E mais: quando olhei para a frente, a mulher ainda estava na METADE da coxinha. Vai comer devagar assim no inferno.
- Não blasfema. A irmã Presley não ia curtir. Te daria uma bica na cabeça com sapato de camurça azul se ouvisse você falando isso.
- Na volta da viagem, a coisa foi um pouco mais estranha. O ônibus quebrou duas vezes, conheci um declamador fanático que sentou uma cadeira atrás da minha e, ao meu lado, veio uma caixa lacrada com silvertape. Às vezes, o que quer que houvesse lá dentro rosnava.
- Credo.
- E quando rosnava, saía uma aguinha debaixo da caixa. Acho que era baba do que quer que estivesse rosnando lá dentro.
- Deus! E não dava para trocar de lugar?
- O único lugar disponível no ônibus todo era ao lado do declamador fanático. Preferi pegar hidrofobia daquilo que estava rosnando e babando dentro da caixa do que ouvir, por 12 horas, como o tal declamador era bom em fazer dobraduras com canudos plásticos.
- Ele falava isso?
- Ele falava sobre tudo. Mas olha que interessante: na segunda vez que o ônibus quebrou, estávamos pertinho, a uns 30 minutos, da rodoviária. O motorista conseguiu estacionar na frente de um batalhão de polícia, na marginal Tietê.
- Sei.
- Aí, todos descemos e esperamos o busão reserva. Mas uma loira que estava com mais pressa, ligou para o namorado buscá-la. Chega o namorado para pegá-la em um carro sem placa. Pronto, a poícia foi lá averiguar o cidadão.
- Que sinuca!
- Aí checa documentos, revista o caboclo. Em resumo: o cara que ia dar carona para a namorada teve o carro apreedido e teve que esperar o ônibus reserva, como todo mundo, para ir embora.
- Hahaha. Que ironia.
- Sabe o que é pior?
- O que?
- Já te falei que o único lugar vazio no ônibus era do lado do declamador fanático? Então, adivinha onde o coitado do carro apreendido teve que sentar...
- Rapaz... e eu perdendo tudo isso, somente acompanhando o caso Sean Goldman.
- Ah, eu só acompanhei por 2 minutos, depois do desfecho. Uma pena, já que eu queria mais informações sobre o assunto. Gosto muito de casos envolvendo barracos de família.
- Eu também. Acho que a TV ficou mais pobre depois que o programa do Ratinho parou de fazer os testes de DNA.
- "E SE FOR TEU? E SE FOR TEU? TESTE DE DNA PRA SABER SE O FILHO É TEU". Essa música era sublime.
- Para mim, o melhor de todos os barracos é o caso Elian. Depois, o do menino Pedrinho. Esse do Sean fica em terceiro.- Mas na minha cabeça, tinha um jeito de revolver o problema rapidamente. É simples: duas famílias de países diferentes querem a custódia da criança? Então vai para o país melhor. No caso Sean, tá na cara que devia ir mesmo para os Estados Unidos.
- Hummm.
- Agora, se o pai fosse boliviano ou peruano, daí o Sean deveria ficar no Brasil. Simples assim.
- E se o pai fosse mexicano e a família, brasileira?
- Aí, apelamos para a sabedoria de Salomão e dividiríamos a criança em questão. Azar dela se os dois países são tão semelhantes.
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Colaborou, voluntaria e anonimamente, com medo de processos, LS.
2 comentários:
Amei o declamador, hahaha!!!!
Ótimo 2010 para todos, viu?
Beijos,
Bela
Grande Bucha
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