- Se eu tiver três filhos, vou dar uma religião para cada.
- Você deve ter um excelente motivo para isso.
- Ô se tenho.
- E não tem a ver com experiências genéticas, pesquisas com humanos no lugar de camundongos e variantes?
- Não, não.
- Então explique.
- Eu sempre quis saber qual é a religião de Deus.
- Essa é fácil. Ele é ateu.
- Como?
- Ele não acredita n´Ele?
- Acredita. Mas não se leva a sério. Semi ateu, então.
- E você tem provas disso?
- Não.
- Pois é. Eu queria uma prova da religião de Deus.
- Para?
- Estou ficando velho, sabe?
- Sei.
- Vou morrer logo mais.
- Mas você só tem 30 anos!
- Bom, o mundo anda cada vez mais violento, eu só como bobagens, sou sedentário e moro quase na divisa com Diadema. Não é bom dar sopa para o azar e já estou me preparando.
- Certo. E o que isso tem a ver com seus três filhos e com a religião de Deus?
- Eu não tenho três filhos.
- Caso tivesse.
- Ah, sim. Bom, vou morrer sabe Deus quando. E não quero ir para o Inferno.
- Te conhecendo bem, acho que é tarde demais.
- Pois é. Me conhecendo bem, acho que posso ir para no Inferno. Mas talvez tenha uma chance no Purgatório e, se meu plano der certo, talvez vá até para o Céu.
- Mas só se você tiver três filhos e der uma religião para cada. Certo?
- Certo! Já te falei essa minha teoria?
- Não, seu debilóide. É que você começou a conversa falando sobre isso.
- Ah, sim. Pois então. Aí, terei três filhos. Um educarei como católico. Outro, como evangélico. O terceiro, como espírita.
- Não terá um judeu e um mulçumano?
- Não. Para se matar em casa, vai bastar eu e minha futura esposa. Além do que, se Deus é brasileiro, acho pouco provável que seja de alguma dessas duas aí.
- Sei.
- Daí, os criarei cada um com uma religião e observarei de perto o dia-a-dia de cada um por uns 20 anos. Ao final dessas duas décadas, examino quem está melhor no geral, em termos pessoais, profissionais e de time de futebol. Quando concluir quem se saiu melhor, eu me converto à religião dele.
- Você pretende escolher uma religião na base de uma gincana?
- Mais ou menos isso. Mas veja: os três filhos terão oportunidades iguais. Provavelmente, saúde semelhante. Herdarão os mesmos genes. O que os diferirá será mesmo a religião. Logo, só posso concluir que foi Deus quem tornou esse ou aquele melhor nos quesitos gerais. Posto isso, analisando tudo, por meio de matrizes, determinantes, logaritmos e outras marmotas do demônio, concluo qual a religião de Deus. Daí, me converto e, quando morrer, sendo da religião do Homem, tenho boa chance de me livrar do Inferno.
- Supondo que ao fim dos 20 anos os três filhos tenham rigosoamente a mesma renda familiar, esposas semelhantes, empregos que se valham, saúde nem tão boa e nem tão ruim. Você fará o que?
- Te darei os parabéns.
- Como assim?
- Nessas circunstâncias, concluo que Deus é ateu mesmo e paro de acreditar nele até morrer. E, nesse caso, meu caro, você já estará no céu. Ou onde quer que Deus queira te levar.
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