sábado, 31 de outubro de 2009

Sal Cisne e Lei Cidade Limpa

- Você já reparou que as empresas de sal adoram dar nome de animais aos seus produtos?

- Por exemplo, Sal Cisne?

- É. Sal Cisne. Sal Lebre. Por que será que há essa mania?

- Acho que porque carne com sal fica muito mais gostosa. Cisne com sal e lebre com sal ficam muito melhores do que sem sal. Deve ser uma espécie de mensagem subliminar.

- Nunca comi carne de lebre. Tampouco de cisne. Mas aposto que é isso mesmo. Aliás, acho que comi pouca carne diferente da que vem do boi.

- Nesse caso, na do boi, você poderia temperar com o Sal Gado.

- Hahahaha. Existe essa marca? 

- Sei lá. Acho que tem, já que a piada é fácil. E, se não tiver, estão perdendo tempo.

- Se não existir, a gente poderia abrir uma saleleria só para chamar nosso sal de Sal Gado. Que acha?

- A gente não entende nada de sal. Acho que iríamos falir rapidinho.

- Eu sei. Mas eu perco o dinheiro mas não perco a piada.

- Nesse caso, já que é para investir no que não entendemos, poderíamos abrir uma veterinária ou pet shop e dar algum nome com trocadilho. Algo como Veterinária Cãotado ou Pet Shop Miau Juda.

- Cãotado e Miaujuda?

- É. Cãotado, coitado. Manja? Miau juda, me ajuda. Sacou?

- Que infame.

- Infamiau! Rá!

- Que horrível!

- Que horrivelino. Rá!

- Horrivelino? Isso não é trocadinho com nome de bicho, mas com nome de jogador bigodudo.

- Eu tive um vira-latas, quando criança, chamado Rivellino. Acho que o trocadilho se aplica.

- Mas você ia precisar de uma placa gigante na porta da sua veterinária, só para explicar o trocadilho. Vai dar trabalho, mas rola. Escreve Clínica Horrivellino na placa, coloca um asterisco e explica embaixo.

- Pensando bem, melhor desistir.

- Só porque ia dar trabalho?

- Não, não. É que em São Paulo tem a Lei Cidade Limpa, que proíbe placas muito grandes. Acho que essa explicação com asteriscos ia gerar algo gigante. E, sem a explicação, não teria sentido. Droga.

- Pois é. É por essas e outras que não gosto do Kassab.

- Kãossab. Hahahaha.

- Essa ia ficar boa. Por que não abre um pet shop Kãossab?

- Não, não poderia.

- Acha desrespeito?

- Acho. Mas comigo mesmo.

- Como?

- Eu acho que ele lembra muito, principalmente falando, o Frajola, que é um gato. Como eu o associaria a um cão? Não dá. Prefiro morrer pobre e sem trocadilho a fazer uma heresia dessas com meus conceitos.

- Se é pra morrer pobre, então abre a Sal Gado. Pelo menos o trocadilho é válido.

- Boa. Poderia também abrir uma outra saleleria, a Ka-Sal-B. Que acha?

- Mas aí não vincularia a nenhum animal.

- Como não? O Kassab é o Frajola de carne e osso. 

- Nesse caso, eu apóio. Mas iria precisar fazer uma placa com asterisco, explicando tudo isso.

- Droga. Maldita Lei Cidade Limpa.


quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Ando Devagar Porque Já Tive Náuseas

- É oficial: eu sou a pessoa que anda mais devagar no mundo.

- Já reparei isso.

- Hoje, esperando o sinal de pedestres abrir, emparelhou comigo um senhor de bengala. Adivinha quem chegou do outro lado da rua antes? O véio decrépito me deixou comendo poeira.

- Por falar em semáforo, sempre que passo em um a pé, penso em aproveitar as ocasião e pedir uns trocos para os motoristas. 

- Do jeito que você se veste, em conjunto com seu cabelo desgrenhado e com sua barba mal-feita, tá fácil conseguir.

- Pois é. Queria aproveitar a ocasião, já que não estou fazendo nada mesmo, e tirar uns trocados dos motoristas. Acho que estenderei a mão da próxima vez. Mal não deve fazer.

- Agora, deixe-me voltar ao lance de andar devagar. Outro dia andava em direção a um shopping com uma moça de muletas ao meu lado. 

- E ela chegou antes?

- Só não chegou porque passamos por um sinal de pedestres no caminho. Como estava fechado, consegui emparelhar com ela. Quando abriu, saí na frente e consegui manter a dianteira.

- É. Acho que pessoas de muleta não são boas em arrancada.

- Não são. Mas ela chegou uns 2 passos atrás de mim, só. Sou muito lento andando mesmo. Acho que sou uma espécie de campeão de Marcha Atlética do mundo bizarro.

- Olha, não queria entrar nesse assunto, mas já que estamos falando a respeito, devo confessar que a Marília te largou porque você anda muito devagar.

- Como é? 

- A Marília, aquela garota que você saía e que te deu um pé na bunda.

- Ué. Mas achei que ela tivesse me largado porque "eu era bom demais para ela, que o problema era com ela, não comigo". Pelo menos, foi o que ela disse.

- Pois é. Mas fiquei sabendo que, na verdade, ela odiava andar de mãos dadas com você. Você anda muito devagar e ela não aguentava. Como ela acha que a base de uma relação é andar de mãos dadas no mesmo ritmo, ao cair da tarde de sábado, em um shopping entulhado de gente, ela considerou que vocês dois não tinham futuro.

- Como você sabe tudo isso?

- Orkut.

- Rapaz... Agora reparo que havia mesmo algo errado. Como fui cego!

- Desenvolva.

- Quando íamos ao cinema, assim que entrávamos no shopping, ela soltava minha mão e dizia "vou ao banheiro, vai indo na frente. A gente se encontra na porta do cinema". E sempre que eu chegava no cinema, ela já estava lá. Com os ingressos comprados, uma pipoca e um refri em cada mão, para evitar andar de mãos dadas comigo.

- E você nunca percebeu isso antes? Não achava estranho ela dizer que ia ao banheiro e chegar antes de você?

- Já comentei que ando devagar, né? Pois então. 

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Empapado no Trabalho

- Cara, você tá suando pra diabo. Está passando mal? Precisa de algo? 

- Preciso de uma toalha. Isto não é suor, é água de chuva.

- Você está expelindo água de chuva pelos poros?

- Não. Está chovendo lá fora. E eu vim trabalhar a pé, hoje.

- Já ouviu falar em guarda-chuva? Custa uns R$ 10 em qualquer esquina. 

- Já ouvi falar. Mas não uso.

- E custa R$ 10 se o tempo estiver nublado. Se estiver fazendo sol, dá para comprar por R$ 3 de qualquer chinês de procedência duvidosa.

- Chinês vendendo algo e procedência duvidosa, na mesma frase, sugere redundância ou pleonasmo.

- Sei disso. É tipo "música ruim do Tony Garrido" ou "atuação com cara de cão pidão do Nicolas Cage".

- Exato. Bom, mas a questão não é o preço. Eu não uso guarda-chuva por política pessoal.

- Você tem algo contra guarda-chuvas?

- Não exatamente contra eles. É que se está garoando ou chovendo fraco, acho que não vale a pena tirá-los da mochila. Acho desconfortável ficar andando com o braço levantado, carregando aquele trambolho.

- Você prefere chegar todo molhado, como está agora?

- Prefiro chegar um pouco molhado a ficar com dor no braço.

- Mas aparentemente está chovendo para diabo lá fora.

- Quando a chuva é muito forte, daí também prefiro não usar o guarda-chuvas. Com ele ou sem, vou me molhar de qualquer jeito. Logo, prefiro ficar molhado sem dor no braço do que molhado com dores.

- Para você usar guarda-chuva, precisa de uma chuva meio termo?

- Não, não. Preciso de uma chuva chuva. Se for muito fraca, é garoa. Não configura chuva. Se for muito forte, é toró. Para usar um guarda-chuva, preciso de pura e simplesmente uma chuva. E é muito difícil encontrar isso nos dias de hoje.

- Já pensou em usar capa de chuva? Não te fará doer o braço.

- Sim. Mas aí entra a questão estética. Capas de chuva são feias demais. Eu jamais sairia na rua usando uma capa de chuva. Muito feio e demodê.

- Hey! Não era você que estava defendendo o uso de pochetes outro dia?

- Eu defendia que as pochetes são úteis. Não disse que usaria uma.

- E não usaria?

- Não sei. Meus documentos eu carrego no bolso. O celular, também. Não carrego mais quase nada por aí. O que eu colocaria em uma pochete?

- Um guarda-chuva?

- Hummm. É, pode ser. Melhor do que colocar capa de chuva, aquela coisa brega e ultrapassada. 

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Viagem no Tempo e Efeito Brabuleta

- Você pudesse avançar 10 minutos no tempo, o que faria?

- Só 10 minutos?

- É. 

- Que miséria. Prefiro nem avançar então. Deve cansar à toa.

- Tá. Te dou 15 minutos, então.

- Só?

- Como você reclama. 

- Mas é que 15 minutos é pouco. Isso somente seria útil no intervalo de uma partida de futebol. E mesmo assim, se eu estivesse no estádio. Porque se estou vendo pela TV, gosto de assistir os melhores momentos e os comentários do Caio.

- Você gosta de assistir os melhores momentos de um jogo que você acbaou de assistir? Não é meio repetitivo.

- Não acho. Eu torço para os lances que deram errado darem certo. Se meu time está perdendo, torço para empatar nos melhores momentos.

- Sabe que a chance disso acontecer é zero, né?

- Assim como eu avançar 15 minutos no tempo.

- Certo. Mas supondo, somente supondo, que você pudesse avançar 15 minutos no tempo, o que faria?

- Acho que deitaria em uma rede e esperaria os 15 minutos passarem, já que não conseguiria fazer nada de útil.

- Você não dá valor mesmo à viagem no tempo, não é?

- Dou. Mas 15 minutos não é viagem. É, no máximo, um traslado no tempo. 

- Quanto tempo você gostaria de viajar no tempo para parar de reclamar.

- O suficiente para poder mudar o resultado pró meu time.

- Mas somente viajar não mudaria. Você teria que se infiltrar em um jogo, no gramado. Saber quando iria sair um gol e entrar e chutar para fora. É muito mais complicado do que viajar no tempo. Precisa de logística.

- Tem razão. Pensando bem, não gostaria de viajar no tempo. Sabe o efeito brabuleta?

- Aquilo lá que diz que uma brabuleta que bate asas na China pode causar um fruracão nas América?

- Não.

- Não? Claro que é.

- É. Eu sei que é. Você sabe que é. Então, por que declamou a frase em tom de pergunta?

- Sei lá. Como você é implicante. O que tem o efeito brabuleta?

- Bom, ele diz que algo que eu faço aqui, agora, pode mudar alguma outra coisa do outro lado do mundo, não?

- Sim.

- Pois, então, não preciso viajar no tempo para mudar um resultado pró meu time. Basta eu viajar para o outro lado do mundo e realizar uma série de procedimentos aleatórios. Em algum momento, isso vai causar um efeito brabuleta e ajudar meu time a ser campeão. 

- O duro é saber o que fazer e a hora certa para realizá-lo.

- O que fazer é fácil: vou assoviar e chupar cana ao mesmo tempo. A hora também é fácil de descobrir: farei direto, o tempo todo. Uma hora isso resulta em um gol pró meu time.

- Por que chupar cana e assoviar?

- Quando uma pessoa quer fazer tudo ao mesmo tempo não dizem que ela quer chupar e assoviar cana?

- O contrário.

- Sim. Assoviar e chupar. Logo, isso resume todas as ações do mundo em uma só. Assoviar e chupar cana é a contração de todas as ações do mundo. A aglutinação de tudo em um ato simples, mas complexo e contraditório.

- Não parece simples.

- Mas é, se comparado a fazer todas as coisas do mundo ao mesmo tempo.

- Sim. Aí é simples.

- Bom, então é isso. Vou ao Japão assoviar e chupar cana initerruptamente. Isso há de mudar a sorte do Fluminense.

- Você é Fluminense?

- Sou.

- Hummm. Então recomendo que poupe seu dinheiro, seu assovio e sua cana.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A Crível História do Ca(r)darço

- Moço! Moço! Moço!

- Oi?

- Seu tênis está desamarrado.

- Hummm. Obrigado.

- ...

- ...

- Moço!

- Oi?

- Seu tênis está desamarrado. 

- Eu sei. Você acaba de me dizer.

- E você não vai amarrar, não?

- Estou com uma mega preguiça. E já estou quase chegando ao meu destino final. Quando chegar lá, talvez eu arrume.

- "Destino final". Ui. Que coisa mais enigmática.

- Como?

- Nada, nada. E então quer dizer que o senhor não vai amarrar?

- Não. Estou com preguiça. Mas agradeço a preocupação.

- Preocupação é o diabo! Já que eu tive a fineza de avisá-lo, o senhor poderia ter a educação de abaixar neste instante e amarrar o cacete do tênis.

- Olha, minha senhora, eu não queria dizer. Mas já que a senhora insiste no assunto, informo-te: não é o tênis que está desamarrado. É o cadarço do tênis. E não me venha com figuras de linguagem para explicar sua burrice. Em segundo lugar, não estou com vontade de amarrar o diabo do cordão. 

- Mas é muita falta de educação mesmo, não? Eu apressei o passo para alcançá-lo. Aí, tirei o fone do ouvido, estiquei o braço para cutucá-lo e informá-lo do tênis...

- Cadarço.

- Do cardarço...

- Cadarço.

- Cadarço, que seje.

- Que seja.

- Cuma?

- Deixa para lá.

- Bom, daí tirei o fone do ouvido, estiquei o braço e o informei que o senhor corria risco de queda ou, para ser fatalista, de morte. E o senhor nem para dar uma abaixadinha e amarrar o negócio? Acho que o senhor me devia isso, pelo menos.

- A senhora estava ouvindo o que no fone?

- Jota Quest.

- Bom, se parou de ouvir por 10 minutos, por minha causa, eu lhe fiz um favor. Me agradeça.

- Cuma?

- Agradeça.

- Não estou entendendo.

- Se eu amarrar o tênis...

- O cardarço, burraldo. Você mesmo...

- Tá, tá. Se eu amarrar o cadarço, você me agradece?

- Sim. 

- Então espera aí.

- ...

- ...

- ...

- Pronto. 

- Tchau, até mais.

- Não vai agradecer?

- Menti. Eu te fiz um favor informando sobre seu tênis. Não sei porque teria que agradecer.

- Porque a essa hora seu WalkMan não deve estar mais tocando Jota Quest. Você escapou de uma boa graças a mim.

- Deixa ver.

- ...

- É mesmo. Acabou.

- A rá, sabia. Te fiz um favor.

- Começou o disco solo do Marcelo Camelo.

- Argh! É, pensando bem, não precisa agradecer.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Morar em S.Bernardo é Difícil

- Muito se fala da criminalidade em passarelas, né?

- "Muito se fala" é exagero. Mas às vezes a gente ouve notícias de pessoas que foram assaltadas em passarelas, sim. Principalmente de madrugada ou quando o sol já sumiu. 

- Pois eu sei de um jeito de diminuir a criminalidade nas passarelas do Brasil. Principalmente de madrugada.

- Implodi-las? Assim como você queria implodir a Basília de Aparecida?

- Não, não. A idéia é bem mais simples. Não sei como não pensaram nisso antes. 

- Talvez porque ninguém se preocupe com os assaltos, em especial, em passarelas. Afinal, não é todo mundo que mora em uma cidade como São Bernardo que tem uma Anchieta cortando-a no meio. Aposto que se não existisse a Anchieta, o povo de São Bernardo não ia conseguir sair do quarteirão de tão perdido que ficaria.

- Isso que você acaba de dizer não faz o menor sentido para nossa conversa.

- Eu sei. Mas eu sempre quis usar essa frase. 

- Bom, meu projeto para diminuir a criminalidade nas passarelas é simples: colocar um guichê, um guichezeiro e uma cancela em cada ponta dela.

- Guichezeiro?

- É. O operador do guichê. Em cada guichê haveria um estoque de armas de fogo. Quando o cidadão de bem fosse pegar a passarela, passaria no guichê, escolheria a arma de fogo e atravessaria a passarela com o revolver na mão. Quando ele chegasse do outro lado, devolveria a arma e prosseguiria viagem. Duvido muito que algum ladrão tivesse coragem de abordar outra pessoa na passarela sabendo que ela portava uma arma.

- Por esse princípio, se as pessoas andassem armadas por aí, haveria menos criminalidade.

- Não, não. Por aí, há sempre a dúvida se a pessoa tem arma ou não. No caso das passarelas, haveria a certeza de que quem vem lá está armado. Assim, melhor não mexer e deixar para assaltar quem quer que seja longe da passarela.

- Como lá embaixo, cerca de 3 metros longe do guichê.

- Isso.

- Mas aí a pessoa seria assaltada do mesmo jeito. Só não seria na passarela.

- Aí já não é problema meu.

- E tem outra coisa: essa sua idéia é bem rebuscada sim. Não é mais fácil colocar policiamento nas passarelas? Isso inibiria os ladrões.

- E se não inibisse? Imagina o cidadão de bem lá em cima, na passarela, e de repente vai ser assaltado Aí, aparece a polícia. O coitado ia ficar em um fogo cruzado dos diabos. Eu acho que se se quer algo bem feito, deve-se fazer você mesmo. Distribuir armas para o transeunte passarelístico é a minha forma de diminuir os assaltos em passarelas.

- Que tal implodir as passarelas e criar teleféricos sobre as estradas? Assim, o cidadão atravessa sentado e não tem como ser assaltado.

- Lógico que tem. Quando um carrinho que vem passa pelo que vai, eles praticamente se encontram. Nesse momento, o ladrão pode, em um movimento brusco, roubar o coitado. E mais: se o ladrão for esperto mesmo, vai fazendo a rapa: assalta todos os cidadãos que vem em sentido oposto em uma travessia de teleférico. É uma espécie de arrastão às avessas. Um ladrão e 10 pessoas assaltadas.

- Mas pode-se colocar policiais na saída do teleférico. Quando o ladrão descesse, seria pego.

- E você acha que ele iria até o fim? Provavelmente se jogaria do teleférico assim que estivesse com os pertences das vítimas. Ia se jogar lá na autopista, lááááááá embaixo.

- E morreria atropelado. Pronto, resolvido o problema. Teleféricos no lugar de passarelas e policiais nas pontas. Se o ladrão não quiser ser preso, morre atropelado.

- Ai também não. Sou contra a pena de morte. 

- Mas não é pena de morte. É suicídio opcional. Ou o cara vai preso ou se joga. Se se jogar, a culpa não é sua.

- É. Mas supondo que ele calcule e pule exatamente no interior de um carro conversível de luxo. Aí, cairia no banco, com os pertences dos cidadãos do teleférico. Depois, jogaria o motorista para fora do carro e fugiria em alta velocidade. Pronto, além de sair vivo e ileso, ainda escapa rico.

- A gente está falando de um ladrão brasileiro qualquer ou do Bruce Willis interpretando o John McClane?

- Achei que estivéssemos falando de passarelas.


terça-feira, 20 de outubro de 2009

Rivaldo, Zidane ou Zico?

- Rivaldo ou Zidane?

- O quê?

- O que o quê?

- Rivaldo ou Zidane o quê?

- Quem você prefere, Rivaldo ou Zidane?

- Como o quê?

- Como jogador, obviamente. Mesmo porque eu não acho que você esteja preparado para responder qual dos dois é melhor fritando um ovo, por exemplo.

- Fritando um ovo, sou Zidane. 

- Como?

- Ele é francês meio marroquino. Aposto que cozinha melhor do que o Rivaldo.

- Tá. Mas e como jogador?

- Rivaldo.

- Eu também prefiro o Rivaldo. Mais títulos, mais completo. Rivaldo ou Zico?

- Faz-me rir, né? Rivaldo novamente. Mais título, chegou a fazer gol fora do Maracanã e tudo mais.

- Zidane ou Zico?

- Zidane. Além do que, o Zidane soube terminar a carreira. O Zico encerrou a dele em uma sequência interminável de 132 jogos, se despedindo do Flamengo, da Seleção, do Japão, das Mulatas do Sargentelli. Já o Zidane deu uma cabeçada na final da Copa e saiu andando. Isso é coisa de gênio.

- Assim como aquele bigodinho do Rivaldo. Coisa de gênio.

- Ou de office-boy de 13 anos de idade.

- E cozinhando um ovo, Zidane ou Zico?

- Zico.

- Mas e o lance do Zidane ser francês marroquino?

- É. Mas quem você acha que entende mais de ovo: um francês marroquino ou um galo? Ainda mais sendo um galo de quintino?

- É. Me convenceu.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Ora que melhora*







* Com  colaboração involuntária de Daniell Rezende

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Universo Hanna & Barbera Revisitado

- Sabe o problema em andar no banco de passageiro de um motorista mal educado?

- Além de passar por poucas e boas?

- Antes de concordar, devo informar que não ouvia a expressão "poucas e boas" há mais de 10 anos.

- Você não assiste a Scooby-Doo? O Salsicha diz isso o tempo todo.

- Não assisto. Não gosto de nenhum desenho Hanna & Barbera.

- Como não?

- Ué, é sempre a mesma porcaria. Só muda o bicho e o lugar onde ele mora. É o macaco que fica numa loja de animais, o jacaré que vive num lago, o leão da montanha que ocupa uma jaula em um zôo, um hipopótamo que mora em um balão.

- Hey! Alto lá! O Peter Potamus não mora em um balão, ele o usa para viajar no tempo. 

- Dá na mesma. Como eu dizia, só mudam os animais, o meio de transporte e a habitação. Mas todos falam, são meio mongóis o desenho todo mas, apesar da burrice, se dão bem no final das histórias. Hanna & Barbera parece uma Arca de Noé bizarra às avessas.

- Por que bizarra às avessas?

- Porque na Arca de Noé original os animais ficavam dentro dela, apertados em casais para procriar e não falavam merda nenhuma. No universo Hanna & Barbera, os animais ficam espalhados pelo mundo, nunca trepam e só falam merda.

- Ai, ai.

- Mas deixe-me falar sobre o problema de andar de passageiro com um motorista mal educado.

- Diga.

- Tudo o que ele faz de errado, você faz junto. Se ele resolve andar pelo acostamento, você é cúmplice. Se ele corre demais, dá fina em pedestres, buzina para umas gostosas, liga funk no último volume, você, automaticamente, é considerado mal educado também. As pessoas te olham de esguelha e tudo mais.

- Concordo. É como ser preso por associação com o tráfico. No caso, você é mal visto por associação com o Dick Vigarista.

- Quem é Dick Vigarista?

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Zé Ruela e Gente Boa

- Quanto mais senso de humor tem o cidadão, mais inteligente ele é. Quanto mais frases feitas ele usa, mais imbecil ele é. Essa é a minha definição para a humanidade.

- E isso lá é definição?

- Mais ou menos. Eu pego ambos os dados descritos acima, transponho para uma escala de um a quatro. Aí somo, divido, subtraio, faço um logaritmo e tiro a prova dos nove. A média me dá um valor que informa se eu gosto ou não gosto da pessoa. Se eu gosto, defino como "gente boa". Se não gosto, chamo de "zé ruela". Aí, sim, defini.

- Logaritmo? Prova dos nove?

- Tá. Confesso que eu só somo e divido.

- Escala de um a quatro? Não seria melhor criar uma escala de zero a cinco?

- Seria se eu não tivesse dificuldades com qualquer conta com números acima de quatro e menores do que um.

- Mas essa sua definição, de gente boa e zé ruela, bate de frente com aquela sua outra teoria estúpida.

- Estúpida?

- É. Lembra que você dizia que não gostava de pessoas com alma presa e que, por outro lado, se dava bem com pessoas de alma solta? E, assim, dividia a humanidade em duas partes, de acordo com a frouxidão da alma.

- Outros tempos, meu caro. Outros tempos.

- Aliás, o que você queria dizer com "alma presa" e "alma solta"?

- Outros tempos, meu caro. Outros tempos.

- Aliás aliás, o que você quer dizer com "outros tempos, meu caro. Outros tempos"?

- Que eram outros tempos, meu caro. Que eu entendia o mundo de forma diferente da que entendo hoje. 

- Você diria que seu atual conceito de zé-ruelice está para a sua outrora teoria da alma presa como a gente-bonice está para a alma solta?

- Diria.

- Então podemos dizer que esses tais "outro tempos" na verdade estão ligados mais a uma questão semântica do que, propriamente, a um efeito temporal que acabou por transformar um conceito em outro.

- Acho que sim.

- Em outras palavras: você só mudou as definições.

- Mais ou menos. Lembre-se dos complicados cálculos matemáticos, como logaritmo e prova dos nove, que influeciam na minha concepção.

- Mas você havia dito que somente somava e dividia. E que sua escala era de um a quatro. Não me parece algo muito intrincado de se fazer.

- Mas eu disse que a casa decimal tendia ao infinito? Acho que esqueci de mencionar isso, não é mesmo? Sendo assim, você acha simples somar 1,365476 com 3,45654 e dividir por dois?

- Dá 2,411008.

- Espertinho. E uma pessoa com esse quociente é gente boa ou zé ruela?

- Aí não sei. Você não havia me dito qual era o valor de corte. 

- Pois então saiba que esse número é exatamente o seu valor na minha escala gente-bonice-zé-ruelice.

- E esse valor quer dizer o quê? Eu sou o que na escala?

- Jamais saberá, seu zé ruela.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

No Quilo Por Que Qui-Lo

- Quem era aquela ali que você estava conversando?

- Era a Ana.

- Você demorou tanto em pé que achei sua comida ia esfriar.

- Só peguei salada, por enquanto.

- É. Por isso que eu digo que você demorou tanto em pé conversando com ela que achei que sua salada ia esquentar.

- Espertinho.

- Achei que sua salada ia entrar em combustão espontânea. Já estava com o copo de Coca na mão, pronto pra levantar e jogar no seu prato, assim que as chamas começassem a aparecer.

- Tá, já entendi. 

- Que Ana é essa ali?

- Uma moça que eu sai umas vezes, faz uns 6 ou 7 anos. Não lembro. Era amiga da Flávia.  Você conheceu, aliás.

- Cacete! Aquilo ali era a Ana?

- A mesma.

- Jamais reconheceria. Aliás, nem levantei para cumprimentar porque não reconheci. Ela era meio-boa, não era?

- Até que era. E, para ser honesto, eu também demorei para reconhecer. Só lembrei dela quando ela falou que parou de vender bonecos de duendes de porta em porta e que não mora mais em Mauá.

- É, com tantos dados, não dá para confundir. Você não deve ter namorado muitas garotas que vendiam duendes de porta em porta em Mauá.

- Osasco.

- Osasco o que?

- Ela vendia os duendes em Osasco. Mauá era só para dormir.

- Quantos Jardins Zaíra têm em Mauá? Nunca soube.

- Pelo menos, uns 7. Mas não tenho certeza. A gente pode ir perguntar para a Ana.

- Que Ana?

- Aquela ali, pô.

- Ah, tinha até esquecido. É que ela está tão diferente. Engordou, inchou. Parece que ficou uns três anos curtida na cachaça. Sei lá explicar, mas tem algo errado com ela.

- Sei que ela teve filhos. Será que foi isso?

- Mas o parto de que faz alguém mudar tanto? Será que ela pariu uma zebra?

- É, sei lá. Bom, é fato que ela meio que um trapo velho.

- Veio a fome, veio a guerra...

- Como?

- Veio a fome, veio a guerra e sobrou aquilo ali de Ana. 

- Falando em fome, vamos comer. A salada tá quase esquentando.

- Não, não. Vamos ser maledicentes mais um pouco. Se a coisa esquentar muito, já tô com a Coca no esquema para apagar as chamas.

Faltou Planejamento




terça-feira, 6 de outubro de 2009

Conjunção carnal






segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O Sofá Mais Confortável do Mundo

- Ontem, mais ou menos umas cinco e pouco, me distrai do jogo e resolvi ler a Época.

- Sei.

- Deitei no sofá e comecei a folheá-la. Estava bem confortável a posição. Acho que em todos esses anos que tenho o sofá, nunca tinha achado uma posição tão confortável.

- Compreendo.

- Aí a luz natural do dia começou a sumir. Anoitecia.

- Você vai chegar a algum ponto interessante nessa história ou só está querendo me matar de tédio essa hora do dia?

- Se eu quisesse te matar de tédio, estaria te contando minhas férias, aos nove anos, quando fiquei na casa de uma tia meio surda e cega por 20 dias. 12 deles, preso dentro do armário.

- Nossa! E o que você comia?

- Migalhas, essas coisas.

- E como você saiu?

- Certo dia, minha tia resolveu abrir a porta e me deixou sair.

- Que história, hein!? Tá me parecendo mais interessante que essa bobajada aí sobre deixar no sofá ao anoitecer.

- Mas alto lá, não cheguei no clímax da história.

- Ok. Prossiga.

- Bom, aí eu lia a Época e anoitecia.

- Bocejo.

- Só que quando anoiteceu de vez, não tinha luz suficiente para eu continuar a leitura. Precisava me levantar para acender a luz.

- Sei.

- Só que eu estava muito confortável. Não queria desperdiçar a posição. Aí fiquei numa dúvida cruel sobre o que fazer: terminar de ler a reportagem ou continuar no escuro, numa curiosidade dos diabos, mas muito confortável.

- Curiosidade? Sobre o que era a matéria?

- Reprodução de pessoas com síndrome de Down. Tava achando muito interessante.

- Olha, eu também. Como é que rola o sexo entre eles?

- Então, quando eu estava chegando nessa parte da materia, escureceu de vez. Ainda forcei a vista, mas não deu. Foi aí que tive de escolher: levantar e perder a posição ou morrer pagão.

- E o que fez?

- Bom, eu pensei bem e calculei que se eu jogasse algo no interruptor, conseguiria acender a luz sem me mexer.

- Pensou também em mentalizar fixamente o interruptor para a luz acender sozinha?

- Até cogitei. Mas o ideal seria mentalizar a nuca do interruptor. Coisa que não sei onde fica. 

- É justo.

- Bom, aí eu mirei no botão e taquei o que tava a mão. 

- E o que era?

- A própria Época.

- Acertou a luz, pelo menos?

- Graças a Deus, errei.

- Por que "graças a Deus"?

- Imagina minha agonia se acertasse. Iria ficar ali, com a luz acesa, mas sem ter a revista em mãos para terminar de ler a matéria.

- É. Pensando bem, foi sorte. Mas você foi burro em tacar a revista. Por que não jogou seu sapato ou uma almofada?

- Todos esses itens faziam parte do meu bem estar. Acho que, de alguma forma, eles ajudavam minha posição confortável no sofá. Sei que não pensei direito e arremessei a revista. E pronto, acabou a história.

- História idiota. Queria saber mais sobre as férias na sua tia ou mais sobre o lance das pessoas com Down. Quer falar mais sobre o assunto?

- Sobre a matéria da Época, não sei o que te falar. Eu arremessei a revista mas como estava escuro, nem sei onde caiu. Vou ter que procurar depois. 

- E as suas férias aos nove anos?

- Ah, essas foram tediosas mesmo. Fiquei dentro de um guarta-roupas por 12 dias, entre uma bata branca e umas calças jeans meio fedorentas. Entrei para me esconder da minha tia e, quando vi, estava trancado do lado de dentro. E só. Nada muito interessante.

- Por que se esconder dela?

- Já te falei que ela era meio surda, meio cega e que tinha uma mão de gancho e todos os dentes eram de ouro?

- Não. Mas isso aí já explica bem porque você se escondeu. 

- Pois é. Ela só me achou vários dias depois. Graças ao bom Deus.! E nem foi tão ruim, embora tedioso. No terceiro dia, achei uma posição muito boa no armário. Foram os 9 dias mais tediosos e confortáveis da minha vida. 

- Um misto de prazer e dor?

- Isso. Quase sexo, mas sem a parte em que todo mundo se suja e sai mancando.

- Como?

- Esquece. É que esse lance de sexo, prazer e dor lembrou minhas férias ao 13 anos, mas também foram bem tediosas.

sábado, 3 de outubro de 2009

Enem é o Novo Vestibular?

- Esse negócio de vazar a prova do Enem me gerou mais dúvidas do que certezas.

- Como assim "mais dúvidas do que certezas"?

- Modo de falar.

- Ah.

- Se um médium vai fazer uma prova e pinta um espírito para dar as respostas, dá para considerar cola?

- Na prova do Enem? Não precisa de ninguém soprando, já que já vazou.

- Não estou falando especificamente do Enem. Cito casos de provas em geral.

- Acho que configura cola, sim. Mas ninguém vai ficar sabendo. A não ser que o fiscal da prova ou o professor sejam médiuns também. Se não, ninguém vai ouvir. É a melhor cola do mundo!

- É mesmo. Imagina que beleza: vestibular de medicina, o caboclo lá cheio de dúvida e cola nele o espírito do Adib Jatene para soprar as respostas. É gabaritar a prova, na certa.

- O inconveniente é se pinta o espírito do Menguele para soprar as respostas. Além de reprovar no vestibular, é capaz do médium sair preso da prova.

- Imagina o azar: o cidadão ali, fazendo vestibular de engenharia e aparece o Sérgio Naya para dar uma força. 

- Pior: maior trabalho para se concentrar e responder as questões de física e me aparece o Frank Zappa, fazendo um barulho do cão, diretamente do além-vida.

- Neguinho abre a prova de arquitetura e quando vai começar a responder pinta o Niemayer com sua mania de cimentar tudo dando pitaco mediunicamente. Isso sim é incômodo.

- Olha, o Niemayer tá vivo ainda.

- Muito mais inconveniente, então. O cidadão abre a prova e do nada ouve "concreta! concreta! concreta!". Procura de onde vem o som e tá lá o Niemayer soprando, diretamente da mesa de trás. É pego com a boca na botija, vai preso e ainda tem que dividir a cela com o Niemayer. 

- Divide nada. O Niemayer deve ter direito a cela especial porque tem superior. Mas esse coitado aí, que estava fazendo justamente o vestibular, vai pra cela comum já que, obviamente, sequer chegou a terminar a prova que o levaria na faculdade.

- Imagina se ele for médium. Além de ter de dividir a cela comum com mais 316 negos, ainda tem que aguentar o Zappa distorcendo guitarra no seu ouvido diretamente além-vida. Isso não é vida.

- Por isso é que médium bom psicografa livro. Não fica com essa palhaçada de vestibular. 

- É verdade. Pensando bem, esse caso aí do rapaz preso por colar no vestibular com o Nyemaier e o Zapa a tiracolo serve de exemplo para os outros. Quer ser médium? Então vá escrever livros e não vá se meter a besta de fazer vestibular. 

- Só tem um detalhe: esse caso aí a gente acaba de inventar. Eu acho que ele não existe.

- Tudo bem. Mas que sirva de exemplo a médiuns metidos a besta. Se eu ficar sabendo de um cidadão colando em vestibulares de arquitetura via sopros além vida, vou rir muito. E não quero que digam que não avisei.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Cazalberto, Tremei!