quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Jogos de Inverno e Nicorete

- Hoje cedo tive a pior experiência da minha vida.

- Começou a acompanhar as Olimpíadas de Inverno também?

- Como?

- Porque, pior do que esses Jogos Invernais, não existe nada. Ou melhor, existe: a programação da ESPN. Toda vez que ligo lá, em vez de futebol, eles estão passando concurso de salsa ou caça à raposa, mas com um fantoche no lugar da raposa, para a coisa ficar politicamente correta. Uma desgraça.

- Não, nada disso, seu debilóide. Masquei nicorete.

- Você quer parar de fumar?

- Não. Mas um camarada meu estava com uma cartela e resolvi experimentar um. Só para tirar onda, sabe?

- E eu que sou o debilóide aqui?

- Foi a pior coisa que já meti na boca em toda a minha vida. E olha que já comi pão com açúcar e pipoca. 

- É tão ruim assim o nicorete?

- Bom, nas primeiras mastigadas, ele é ok. Até meio bom. Mas depois de uns minutos, dá um pigarro danado.

- Sei.

- Aí, logo depois, você já está com um mau hálito de fumante. 

- Hum.

- E, depois, vem a ânsia de vômito, o suador e a tontura.

- Exatamente nessa ordem?

- Não. Tudo ao mesmo tempo. Aí você acha que vai morrer e tenta cuspir o diabo do nicorete.

- E cuspindo resolve?

- Não conseguia abrir a boca para cuspí-lo. Foram mais alguns minutos de sofrimento até que consegui me desfazer do bicho. 

- Aí passou o mal estar?

- Não. Ainda foram mais uns 5, 10 ou 37 minutos de medo e delírio. Depois disso, melhorei. Mas não fiquei 100%. Até agora, ainda estou meio tonto e ouvindo um zunido estranho que vem de trás da minha cabeça.

- Ainda bem que você não quer parar de fumar, não é?

- Pois é. E mesmo se eu quisesse, já teria desistido, graças à essa experiência traumática. 

- No final das contas, o nicorete o encoraja a fumar, não o contrário. Irônico, não?

- Será que se a pessoa for viciada em nicorete, para curar o vício, fumar ajuda?

- Pelo que você relatou, se há alguém no mundo viciado em nicorete, aposto que ele não anda, fala, enxerga, ouve, sente. Só masca. E, obviamente, não deve querer se curado. Só tem um desejo.

- Qual?

- Outro nicorete. Bem nicotinadinho.

 


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Ressaca Pós-Carnaval

- Olha aí quem apareceu... depois de 10 dias sumido. 

- O carnaval foi longo, sabe?

- E dolorido, pelo jeito. Você está mancando.

- Mancando é o de menos. Olha esses roxos no meu braço. E repare nessas chagas aqui. 

- Jesus!

- É o que penso. Ou sou a reencarnação de Jesus ou apanhei tanto quanto ele nos últimos dia. 

- Mas o que você fez para estar assim?

- Pulei carnaval, ué.

- Ou caiu no carnaval? Porque pela situação do seu supercílio...

- Ah, isso? Nem doeu tanto. Acho que desmaiei antes de dar de cara nos peitos de uma senhora desconhecida, que passava pela minha frente em certo bloco. 

- O peito de uma senhora abriu seu supercílio.

- Acho que ela usava silicone industrial.

- Era uma senhora ou um travesti?

- Não sei. Acabo de dizer que desmaiei antes de dar de cara nela. Ou nele.

- Por acaso ou vocês estavam se conhecendo?

- Ao acaso. Eu estava me envolvendo com umas pessoas estranhas, vestidas de oncinha. Quando me libertei, tropecei, bambeei e quando vi que ia cair, um mecanismo de defesa interno resolveu me desmaiar. Aí, dei de cara nesses peitos mais duros que o diabo.

- Que horror. E essa tatuagem aí, é nova?

- Isso? Não é tatuagem. É sujeira. Parece que ficou tão encrustada que não consegui tirar ainda. Nem com 7 banhos. Semana passada, na quarta-feira de cinzas, estava pior, bem maior. E parecia uma imagem de Nossa Senhora. Tive até que fugir de uma multidão que achava que era uma aparição voluntária dela e que eu era uma espécie de iluminado ou coisa assim.

- Pensaram isso porque não te viram engalfinhado com oncinhas e travestis.

- Pois é. Mas isso não foi o pior. Ouvi frases bem humilhantes neste carnaval. Foi de mendigo para baixo.

- Defina "mendigo para baixo".

- Um cara que eu nunca tinha visto perguntou se eu era traficante. Outra, de pudim de cachaça. Uma terceira moça disse "vou ali me despedir das minhas amigas e você vem comigo. Mas não abre a boca, porque não quero que elas me vejam saindo daqui sabendo que estou com um bêbado." Teve também banana, boboca e vadia.

- Vadia?

- É. Teve um dia que fui para a folia vestida de Geisy Arruda.

- Meu deus! E você ainda gosta de carnaval, depois de tudo isso?

- Não muito. Mas já estou pensando em, ano que vem, sair fantasiado de Dilma Roussef.


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Não Achei um Bom Título para Isso

- Existe diabo bom?

- Não sei. Mas pobre existe. É o Pobre Diabo.

- Aí, aí.

- Mas se tiver diabo bom, deve ser o DiaBão ou DiaBom. 

- Deus!

- Você que começou.

- Não. Eu queria saber se existe diabo bom. Ou se o diabo for bom, automaticamente, ele não é mais diabo, mas santo.

- Se ele for bonzinho, duvido que seja santo. No máximo, diabo aceitável. Se o diabo for bonzinho, pode ser bem uma pessoa feia.

- Feia?

- É. Com chifres, rabo e vermelho. 

- Mas se ele for bonzinho, não perde os chifres, o rabo e a cor vermelha?

- Os chifres podem até cair, assim como o rabo. Mas a cor não muda. Você conhece alguém que nasceu negro e morreu branco, por exemplo?

- Serve o Michael Jackson?

- Não serve.

- Posso pensar mais um pouco?

- Não.

- Ah, então não conheço. 

- Viu? 

- Mas que assunto sem pé nem cabeça. Tá pior do que uma amiga minha, que não queria sair  com um cara que ficava insistindo e veio me perguntar o que dizer a ele, sem ofendê-lo.

- Virou conselheiro sentimental?

- Bom, depende de como você julgar a dica que dei a ela.

- E qual foi?

- Falei a ela que seria legal dizer a ele que ela estava saindo com outra pessoa. E tals.

- Boa saída.

- Mas ela achou fraco. Disse que "saindo" é muito pouco e o cara poderia insistir.

- E o que você aconselhou, então.

- Falei para ela falar para ele que até saíria com ele, mas era bom esperar uns dias até passar uma coceira que ela estava nas partes pudendas, provavelmente oriudas de alguma doença que ela havia pego do namorado anterior, o cabrito Bernardo.

- E ela resolveu fazer isso?

- Ela disse que não, já que não queria ficar conhecida como zoófila. E que o que se faz entre quatro paredes, não interessa e não se comenta a ninguém.

- Pô, mas ela não gostou de nenhuma das suas ideias? Eu achei todas boas.

- Ela gostou da terceira.

- Que foi?

- Dizer a ele que ela, na verdade, era homem e tinha uma pica no meio das pernas.

- Que finesse.

- Daí, o cara, automaticamente, deveria desistir.

- E se não desistisse?

- Daí ela dizia que não queria sair com viado e pronto. Resolvido. 

- Eis uma solução escabrosa, fina e definitiva.

- Esqueceu do esacabrosa.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Musiquinha dos Trapalhões ao Fundo

- Peraí, deixa ver se entendi.

- Perfeitamente.

- Você tem um amigo que ia casar.

- Ia, não. Casou sábado passado.

- E ele tem o mesmo nome que o seu.

- Isso. Nome e sobrenome.

- Ambos são homônimos completos.

- Exato. E eu fui padrinho de casamento dele. Somos muito amigos, entende?

- Então ele te deu alguns convites, para que você distribuísse para outros amigos em comum?

- Isso. Fiquei com uns dez convites e levei para um bar, no qual seria comemorado um aniversário de terceiros e que estariam esses 10 amigos em comum, mas não o noivo.

- Você os levou. Mas, constrangido em distribuir os convites no meio de pessoas não convidadas, resolveu deixá-los em um canto, escondidos. Canto do qual, mais tarde, você os distribuiria, sempre disfarçando, entre convidados?

- Isso.

- Você é uma besta, sabia?

- Sabia.

- Então você bebeu demais, se entreteve com outras coisas e acabou indo embora sem distribuir os convites?

- Sim. Mas não esqueci apenas de distribuí-los. Eu também os esqueci no bar. Completamente.

- No dia seguinte, você ligou para o bar, que informou que os convites haviam sido entregues para a última pessoa da turma a sair do recinto?

- Sim. E era uma das pessoas que não havia sido convidada. 

- Aposto que essa pessoa não ligou de não ter sido convidada, procede?

- Como você sabe?

- Porque normalmente se a pessoa não foi convidada, é porque não tinha tal intimidade com o noivo. Ou algo assim. Não conheço ninguém que tenha ficado ofendido por não ir a um casamento. Provavelmente, se a pessoa não foi convidada, ela também não convidaria a pessoa que não o convidou. E isso não ocorre por revanchismo, mas simplesmente porque não tem a ver.

- Taí um ponto. Bom, daí os convites eram, na verdade, revistas. Os noivos criaram uma espécie de anúncio em revistas e o convite ficava estampado lá dentro, em uma das páginas.

- E daí a pessoa que pegou os convites-revista não se sabia que eram convites de casamento, pegou um taxi e acabou esquecendo as revistas lá dentro?

- Sim. Mas daí liguei a ele e contei a história toda. Por sorte, a namorada dele era amiga do taxista e conseguia pegar novamente as revistas.

- Só que houve um problema, correto? Ele iria viajar aquele dia e não voltaria até depois do casório. E você precisava dos convites.

- Aí ele resolveu deixar o diabo dos convites com uma amiga da namorada dele, porque o taxista conhecia a pessoa em questão também.

- Compreendo. E depois? Eu precisei recapitular porque estava tudo muito confuso.

- Bom, ai perguntei a ele se a amiga da namorada era bonita. Se fosse, eu pensei quem chamá-la para um chope e tals e até pegar as revistas.

- Até?

- Não. Primeiro, os convites-revista. Depois, se desse, ela também.

- Compreendo.

- Daí liguei para ela, que foi muito simpática. Disse que estava com as revistas e que podia pegar quando eu quisesse.

- Entendo.

- Então, a chamei para sair. Iria aproveitar a oportunidade e estreitar o relacionamento e tudo mais. Temos amigos em comum, sacomé?

- Seicomé.

- Daí ela bateu o telefone na minha cara. Liguei novamente, ela não atendeu. Mandei SMS, nada. E não consegui pegar os convites.

- Que menina mais estranha.

- Também achei. Mas hoje meu amigo voltou de viagem. Como tenho o mesmo nome do noivo, ela achou que eu era o noivo. E, por sinal, um noivo muito safado. 

- Eita.

- Pois é. Disse para a namorada desse meu amigo algo como "que absurdo! Estou com os convites de casamento dele e ele me chama pra sair?".

- Rapaz... que saga. E agora?

- Bom, agora quero falar com ela e ver se essa história tem um final feliz.

- Final feliz?

- É.

- Pensei em um bom. Você poderia sair com ela e esquecê-la em um taxi.

- Ai, ai.

- Ou, quem sabe, se você começasse a acordar no Dia da Marmota. Sempre acordando procurando os convites.

- Ai, ai, ai.

- Ou, então, um bom final para a história seria uma grande amnésia geral assolar toda a humanidade pouco a pouco, tipo a cegueira em "Ensaio sobre a Cegueira". Só você ficaria imune e passaria o resto da vida pensando nos convites que esqueceu. Que acha?

- Já deu, né?

- Não, não. Já pensei em mais uns 32 bons finais para essa sua história bisonha. Você poderia encontrá-la e descobrir que ela, na verdade, é um pato que sabe falar e que...

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- Essa é do festival É Tudo Verdade?

- Quase. Mas essa história foi apenas redigida por mim. Orignalmente, encenada, criada e finalizada por Leandro Leal, Costela e Jef.