sexta-feira, 29 de outubro de 2010

"O apito seria a minha cadeira de rodas se eu fosse um falso cadeirante"

- O apito seria a minha cadeira de rodas se eu fosse um falso cadeirante.

- Como é?

- É que eu assobio tão bem, mas tão bem, que quando o faço, até evito fazê-lo por mais de 2 minutos.

- Não entendi.

- É que eu tenho a sensação de que se assobiar por mais de 2 minutos, vou tomar uma pedrada, confundido com um passarinho.

- Como?

- Ou tomar uma estilingada. Dá na mesma. Eu mesmo, assobiando distraído certa feita, achei que havia um passarinho assobiando por perto.

- Do que você está falando?

- Ou outra vez, mais distraído ainda, achei que eu fosse um passarinho. Foi horrível. Aí eu queria me olhar no espelho, para ver se eu não tinha virado um passarinho. Mas não conseguia ir, porque estava encantado por uma espécie de canto das sereias. Só que no lugar de canto, era assobio. No lugar de sereia, um sereio. Ou melhor, um boto. Ou melhor melhor, eu.

- Você tá passando bem?

- Outro motivo que me leva a não assobiar muito e muito menos em público é que eu acho que podem vir uns homens maus e me colocarem em uma gaiola gigante. 

- Cara, não estou entendendo nada.

- Essa gente é muito gananciosa. Meu Deus! Iam me colocar nessa gaiola e eu ficaria lá, assobiando, assobiando. Se bobear, até furariam meus olhos, para eu assobiar melhor. 

- No começo eu estava temendo pela sua sanidade. Agora, temo pela minha integridade física, fechado com você nesse ambiente.

- Já te falei que eu aprendi a assobiar antes de falar?

- Ah, não. Aí, não. Agora exagerou. Nem lembro como você começou esse papo de louco. Mas agora exagerou.

- Comecei dizendo que o apito seria a minha cadeira de rodas caso eu fosse um falso cadeirante.

- O que isso quer dizer?

- É que quando eu penso em assobiar, eu pego um apito do bolso e apito. Assim, evito tomar pedradas, ser preso, ter os olhos furados. Eu não preciso dele, mas uso, para disfarçar minha habilidade. Como eu faria se não precisasse de cadeira de rodas para andar, mas as usasse para disfarçar meu andar lindo e maravilhoso.

- Você acha que se você tivesse um andar lindo e maravilhoso, iam te dar pedradas, te prender, furar os olhos? Porque não vejo perigo em andar belamente.

- Ah, as pessoas podem querem me colocar umas cordas e me usar de maionete, demonstrando meu belo andar. Assim, se fosse o caso, eu usaria cadeira de rodas.

- O correto é assobio ou assovio?

- Sei lá.

- Ué, você não era o especialista em assobio? Quase um passarinho?

- Sim. Mas não sou espeçalista em português.

- Percebe-se.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Police on my back, na voz de Cher, diretamente do Piritubão

- Tem um bife aí?

- Por que diabos você quer um... argh! O que aconteceu com seu rosto?

- Por isso quero um bife, gelo ou algo assim. 

- Você apanhou na rua?

- Pode-se dizer que sim.

- Que aconteceu?

- Estava vindo para cá...

- Sei.

- Aí começou a tocar "Police on my back" do Clash. 

- Bela música. Dá vontade de correr.

- Foi o que fiz. Estava sobre uma passarela da Anchieta. Comecei a correr e cantar "police on my back, police on my back".

- E caiu lá de cima de cara no chão?

- Só se eu fosse imortal pra cair lá de cima e continuar vivo, só com a cara amassada como sequela.

- É verdade.

- Bom, aí nessa de correr e cantar "police on my back", cruzei com um cidadão, que resolveu correr atrás de mim.

- Por quê? Achou que era pega-pega?

- Nada. Era gringo. Inglês. Achou que eu tava sendo perseguido pela polícia e quis me capturar.

- Capturou?

- Capturou. Me pegou, meteu minha cara no chão e me imobilizou. Aí, chamou a polícia.

- E você foi preso?

- Fui nada. Chegou a polícia, esclarecemos a confusão. Eu servindo de intérprete para ele, inclusive. 

- Caramba.

- Pois é. Aí os policiais chegaram, entenderam o mal-entendido e perguntaram se eu queria fazer queixa contra o gringo.

- E você fez?

- Claro que não. O cidadão tava muito bem intencionado. Achei que colocá-lo na cadeia ia fazer um mal para a população, que precisa de gente bem intecionada assim para salvá-la.

- E ele te pegou de jeito, hein? Sua cara tá fodida de todos os lados.

- Ah, mas a maior parte dos hematomas veio do ponto de ônibus.

- Como é?

- Bom, esclarecido tudo, voltei a caminhar. Vinha para cá. Lá pelas tantas, distraído novamente com a música...

- Ouvindo mais Clash?

- Não. Cher. Ela ainda me emociona, sabe?

- Sei.

- Bom, aí estava distraído, passando por um ponto de ônibus, quando um cidadão foi dar sinal para o Circular parar e enfiou o dedo no meu olho.

- Que zica.

- Pois é. Aí, parei e fiquei cego. Porque o olho esquerdo não tava dos melhores, por conta da confusão com o gringo. E o direito foi dedado pelo popular que queria pegar o busão.

- Puta história triste, meu.

- Pois é. Aí parei para esperar a visão voltar. Nisso, a população queria muito pegar o Circular e avançou. Eu estava entre a porta e essa horda. Resultado, fui, cego, espremido, espancado, socado, humilhado.

- E como chegou aqui? Além de dolorido e mancando, que é o que se percebe de longe.

- Bom, tentei com todas as minhas forças resistir, mas não teve jeito. Me socaram para dentro ônibus. Por sorte, era o Circular. Ele me deixou exatamente onde o peguei. Aí segui meu caminho e cheguei aqui.

- Por sorte?

- Podia ser pior. Podia ser o Penha-Lapa. Aí, a essa hora, eu estaria passando em Quixeramobim e ainda não teria chegado.

- O Penha-Lapa passa em Quixeramobim?

- Passa. Passa em todos os lugares do mundo, exceção à Pirituba, que é perigoso demais.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Minhas impressões sobre The Walking Dead

- Como é a expressão mesmo?

- Qual?

- A do gato que tem medo de água suja.

- "Gato escaldado tem medo de água fria?"

- Não sei. Não tem uma que diz que gato tem medo de água suja?

- Não lembro. Só lembro dessa aí: "gato escaldado tem medo de água fria". A qual, diga-se, é bem redundante.

- Por quê?

- Ah, porque gato tem medo de água de qualquer jeito. Bastava dizer "gato escaldado tem medo de água".

- Pelo seu ponto de vista, até o "escaldado" é desnecessário. Já que gato de qualquer jeito tem medo de água de qualquer jeito, a expressão poderia ser "gato tem medo de água".

- Verdade. Ou, para ser mais específico e deixar tudo bem claro, "gato de qualquer jeito tem medo de água de qualquer jeito", como eu disse ali em cima.

- "Onça tem medo de sopa".

- Como?

- Onça me parece um gato de qualquer jeito. Assim como sopa me parece uma água de qualquer jeito. Vale a expressão?

- Com essa explicação precisa, não posso fazer outra coisa a não ser aceitar.

- "Pantera tem medo de groselha".

- Tá, não força.

- "Coruja tem medo de Yakult".

- Deu, né?

- Por falar em deu, assisti a "Walking Dead".

- Vi também. Sensacional, não?

- Gostei demais. Deve agradar a qualquer pessoa que goste de coisa com morto-vivo.

- E existe quem não goste de morto-vivo?

- É. Acho que não. O que me entristece, que acho uma pena, é que Walking Dead vá ter vida curta.

- Por quê?

- Achei a produção muito cara. Duvido que o pessoal tenha bala para aguentar muitos episódios nesse nível de superprodução.

- Taí, você tem um ponto.

- Pois então.

- Mas se eles quiserem economizar, podem contratar mortos-vivos de verdade para atuar.

- Será?

- Batata. Aí economizam na maquiagem dos atores.

- Sem contar que morto-vivo cobra bem menos do que ator norte-americano para trabalhar. O cachê seria uma miséria.

- Sério que são tão baratos?

- Sim. Mão-de-obra não qualificada. E melhor: não são sindicalizados.

- Sem contar que no camarim, não seria necessário btar muita comida. Uns cérebros e umas alfaces já os deixariam contentes.

- Eles comem alface também?

- Se não tiver cérebro dando sopa.

- Sei.

- E se estiverem morrendo de fome, naturalmente.

- Ou vivendo de fome.

- Naturalmente.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Dilma versus Serra

- Vou votar na Dilma.

- Tem algum bom motivo para isso?

- O Serra é careca. Não sou a favor de presidentes carecas. Aliás, quanto mais cabelo, melhor. Até minha vó sabe que o melhor presidente que tivemos no Brasil até hoje foi o Itamar, o qual, não bastasse uma esvoaçante cabeleira, ainda tirava onda de topete.

- Deixa ver se entendi. Você vai votar na Dilma porque o Serra é careca. Certo?

- Não só isso. Mas é que o outro motivo não sei se é politicamente válido.

- E esse do careca é?

- Não acabei de explanar sobre isso, mencionando presidentes anteriores, penteados e até minha vó?

- Sim.

- Pois então.

- Tá. E qual é o motivo politicamente inválido para votar na Dilma.

- Acho ela gostosa.

- Como é?

- Acho ela meio gostosa. Já o Serra, zero sex appeal.

- E você quer ter uma presidenta gostosa?

- Claro. Melhor do que ver o careca falando na TV regularmente. Ela é uma comuna boa. Já viu ela posando com as armas? Uma beleza.

- Você tá realmente falando sério que acha ela meio gostosa?

- Por que todo mundo pergunta isso?

- Você já falou isso para outras pessoas?

- Era para guardar segredo?

- Não. Claro que não.

- Ah, bom. Porque comentei por alto com minha namorada e com os pais dela.

- Deus!

- Eles falaram o mesmo. Na mesma sequência. Primeiro perguntaram se eu estava falando sério. Depois, disseram "Deus!". Na sequência, ficaram medindo de alto a baixo minha namorada.

- Então você está falando sério, correto?

- Estou, cacete.

- Nesse caso, indico que vote no Serra.

- Mas eu já disse que não voto em careca.

- Eu sei. Mas se a Dilma perder, como toda boa candidata e ex-BBB e aspirante a fama, ela tem boas chances de sair na Playboy. Não seria melhor para você?

- Não curto a Playboy. As fotos são muito pudicas.

- São mesmo. Bom, se te consola, se ela perder por uma margem grande de votos, ela pode posar na Sexy. Prefere assim?

- Quanto menos votos, melhor?

- Quanto menos votos, melhor para você.

- Se ela tiver zero votos, estrela algum filme na Brasileirinhas?

- Hummm.

- Pô, um filme chamado "Dil-e-uma noites... de sexo" seria legal, né?

- "Roça roça na Roussef" seria mais.

- Mano, agora sim. Me convenceu. Vou votar no Serra. Mesmo porque, se ele perder, faz algo no Brasileirinhos, né? E acho que ninguém quer isso.

- Ninguém, não sei. O pessoal que faz títulos para filmes pornográficos deve estar torcendo para ele perder. Fazer trocadilho pornô com Serra é muito, muito mais fácil do que com Dilma.

- É mesmo?

- Uh. Além de nomes como "Serra serra na muchacha", dá ainda para inventar coisas com careca.

- Argh.

- E com tucano. Tipo tucano erótico e daí para baixo.

- Tem espaço coisa daí para baixo?

- Rapaz, o poço da política e da pornografia é fundo. Muito fundo.

- Percebo.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Um Velho me Mordeu!

- Um velho me mordeu!

- Como é?

- Um velho me mordeu!

- É gíria?

- Não. De fato, um velho me mordeu.

- Um velho o que?

- Um velho gente.

- Um velho gente?

- Um senhor idoso, que estava com a cabeça para fora de um portão, resolveu abrir e fechar a boca, prendendo meu braço entre os dentes, bem no momento em que eu passava a sua frente.

- Cacete! Um velho te mordeu!

- É o que estou dizendo.

- E por quê? A troco de nada?

- A troco de nada. Aparentemente, eu estava no lugar errado na hora errada. Passava tranquilamente em frente a um portão de uma casa bem arborizada. Quando senti, nhac.

- E aí?

- Bom, achei que fosse um cachorro e me esquivei, gritando. Quando olhei para o lado, já do outro lado da rua, vi que era um senhor idoso.

- E que desculpa ele deu? 

- Balbuciou uns troços, mas não entendi. A dentadura saiu junto com meu braço da boca dele. Caiu no chão e eu não entendi nada do que ele falava.

- Estaria se desculpando?

- Sei lá. Sei que, recobrado do susto, deixei o velho balbuciando sozinho e continuei no meu caminho.

- Nem pegou a dentadura dele do chão?

- Pensei nisso. Mas vai que ele sai modendo mais gente. 

- Mas vai que ele quisesse se desculpar.

- Nunca saberemos.

- Falando em nunca saberemos, vamos falar sobre os mineiros?

- Você vai fazer piada com pão de queijo?

- Não.

- Com goiabada com queijo?

- Não.

- Com o Itamar?

- Também não.

- Com Governador Valadares?

- Não.

- Com o Clóvis Bornay?

- O Clóvis Bornay é mineiro?

- Sei lá. Mas ele sempre cabe em piadas.

- Bom, de qualquer forma, não vou não.

- Então o que diabo você quer falar sobre eles?

- Queria saber se eles vão ganhar hora extra por todos esses dias sob a terra. Acho, inclusive, que dava para pagar também adicional de insalubridade.

- Hummm.

- Hummm o quê?

- Sei lá. Acho que devia tá uma treta danada no inteiror daquele buraco, hein.

- Interior treta?

- De fato.

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interiotreta é a nova empreitada de @buchabick, ao lado de @fksr86, e retrata o interior desse mundão véio sem fronteira; no twitter, @interiortreta.


quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Conversa Fática é o Ópio do Povo

- Por que você tá com esse branco na cara?

- Tava vindo para cá e respirei um gás tóxico que saiu de um buraco na parede. 

- De um "fuio"?

- "Fuio"?

- É. Um "buiaco" na "paiede" é um "fuio".

- Ai, ai.

- Mas conte aí, que gás tóxico é esse? Você tá morando na Vila Chernobyl?

- Não.

- Passa por Cubatão ao vir para cá?

- Nem.

- Então, que gás tóxico é esse?

- Sei lá. Eu tava vindo e entretido com a vida, coisa e tal. Ouvindo um pouco de Husker Du, um pouco de Adriana Calcanhoto, essas coisas, para desestressar.

- Adriana Calcanhoto estressa, isso sim.

- De qualquer forma, tava vindo para cá e, de repente, senti um calor forte na orelha. Quando olhei, vi um vapor branco incrível saindo do buraco no meio da "paiede". Me senti tonto. Tentei correr, mas não tive ar. Cambaleei uns metros e vi que ia desmaiar. As coisas ficaram brancas e "pá", desmaiei. Acordei com umas três senhoras sobre mim, tentando me acordar e comentando entre si, ao mesmo tempo "tá bêbado". Aí ia me levantar e apareceu uma dona bem bonita, se dizendo médica. Resolvi fingir que ainda tava inconsciente só para ver se ganhava um boaca-a-boca ou coisa assim. Ai ela se aproximou e quando achei que ia me beijar, disse "é, tá bêbado mesmo. Já já acorda." Elas todas me abandonaram. Aí quando vi que não tinha ninguém por perto, levantei e vim para cá.

- Mentira!

- É mesmo. Na verdade isso aqui é pasta. Vou lavar. Valeu por ter avisado.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O Velho Truque dos Mortos-Vivos Quando o Assunto Acaba

- E a ressurreição capilar italiana, hein?

- Que porra é essa?

- Sei lá. Tava vindo para cá, passei na frente de um salão e vi isso escrito.

- Salão do que? Porque, pelo nome, pode ser um salão de levanta defunto, um salão de cabelereiro ou um salão de italianos.

- Não reparei. Mas, pelo nome, julguei ser cabelereiro. 

- Ora, ora, que inocência, meu caro. 

- Pois é, agora percebo. Mas o que diabo é um salão de italianos?

- Uma sala grande cheia de gente que nasceu na Itália, ué.

- E para que serve?

- Para reunir italianos.

- Para conversar?

- Não. Para gesticular e gritar, já que é isso que eles fazem quando se reúnem.

- Curioso. Não sabia que isso existia. 

- Você sabe muito pouco da vida, pelo visto.

- E o que é um salão levanta defunto?

- É uma sala grande com um morto no centro. O qual, depois de uma pajelança qualquer, deixa de ser morto e passa a ser vivo. 

- Vira morto-vivo? 

- Não seja inocente. Claro que não.

- Vira o que? Ex-morto?

- E quantos ex-mortos você já viu por aí?

- Sei lá. Eles têm algum sinal característico para que eu saiba que são ex-mortos?

- Falam com um forte sotaque.

- Ah, então já vi um. No caso, o Henri Sobel. Ele fala com um forte sotaque e, como acho que nasceu no Brasil, é batata que é ex-morto.

- Não. O sotaque do Sobel é provindo dei lá de onde. De ex-morto é provindo do inferno mesmo.

- E como é o sotaque do inferno?

- Cheio de palavra de baixo calão.  Esse povo fala gritando também. E gesticula. Rapaz, como gesticula.

- Caramba, então os italianos são todos ex-mortos?

- Nem todos. Só os que voltaram do além vida. O restante é descendente. Mas como sabemos, é muito difícil mudar hábitos adquiridos na infância.

- Compreendo. Mas por que chegamos neste assunto mesmo?

- Que assunto?

- De ex-morto. 

- Rapaz... não lembro. 

- Deixa eu ver... deixar eu ver... 

- Hummm.

- Também não lembro. Pior que quando encasqueto com algo que quero lembrar, quase fico louco. Não durmo, caem uns fios do meu cabelo. Tudo de nervoso.

- Contra calvície, ouvi falar em um troço bom. Aliás, acho até que foi hoje. Acho. 

- Hummm. Seria um troço tipo ressurreição capilar italiana?

- Errr. Não. Acho que era babosa mesmo.