quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Já chegou fatiando o perobo, coisa e tal

- Hoje pintou lá em casa a mulher que verifica se tem foco de dengue em domicílios.

- De novo?

- Pois é. Ela já é a oitava vez que ela aparece esse ano.

- Acho que tá querendo graça.

- Como é?

- Acho que ela tá querendo coisa com você. 

- Hein?

- Ah, para aparecer tanto, só pode ser isso. Quer sexo fácil. Ela vai de decote, minissaia ou coisa assim? Fica se insinuando, usando termos-chave como "picadura de mosquito", "eles, assim como eu, estão ovulando" ou "estou cheia de dengo" e coisas do tipo?

- Cara, você acha que eu moro onde? Em um filme pornô?

- Não. Mas se morasse, seria gozado. 

- Ai, ai.

- Exagerei?

- Mais ou menos. Bom, ela não vai decotada e nem usa esses termos estranhos. Ela diz "vim ver se tem foco de dengue". Eu digo "fique à vontade". Ela entra, dá um role no quintal, volta e diz "obrigada".

- Só isso? Sem insinuações mil? Não te chama de gatinho ou quer ver se tem dengo dentro das suas calças?

-  Não, não é bem só isso.

- A rá! Eu sabia. Tem mais, né? Ela aparece à noite, se fingindo de entregadora de pizza e diz que tá louca para entregar o peperoni? Ou chega no meio da tarde se dizendo encanadora e querendo lubrificar os canos coisa e tal?

- Nem. Hoje ela disse que veio ver o foco da dengue porque o mosquito tá sofrendo uma mutação severa. E que essa mutação é tão, mas tão perigosa que todo cuidado é pouco.

- Mutação?

- É.

- Ele vai crescer indefinidamente, ter o exoesqueleto reforçado, criar pêlos nas patas e se alimentar de carne humana?

- Onde você acha que vivemos, no mundo do Alien?

- Não tem nada disso?

- Não. Só falou da mutação. Deu tchau e foi embora.

- Rebolando?

- Não reparei.

- Deixou o telefone?

- Não. Só disse para eu tomar cuidado com a água parada em locais como vasos ou pneus.

- Pneus?

- É. Disse que se eu tivesse pneus velhos, para levar à borracharia.

- Borracharia?

- É.

- A rá! Eu sabia! Eu sabia! Borracharia! A rá! Garanhão!

- Para o bem dessa moça, ou de qualquer outra que trabalhe com dengue, espero que não passe na sua casa para verificar focos de dengue.

- Já passaram.

- E aí?

- Não deixei entrar. Não sou dado a sem vergonhices.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A Origem, Bebê de Rosemary e histórias bíblicas

– Eu tenho um tio que toca cavaquinho. Ele não toca lá muito bem... Mas digamos que é melhor que ouvir uma transa de gatos. A questão é: o que ele faz é arte?

– Você já ouviu uma transa de gatos?

– Já. É bem estranho, soa como um bebê chorando desesperadamente. Uma vez eu sonhei com um bebê que foi colocado num rio dentro de uma cesta de vime. Eu o encontrava por causa do choro... Mas eram só uns gatos que estavam transando, e o barulho interferiu no meu sonho. Estranho, não?

– Sim, de fato é muito estranho que você tenha sonhado com um remake da história de Moisés ter sido encontrado boiando no rio Nilo pela filha de um faraó egípcio.

– Eu até achei isso de início também.  Mas aí, durante o mesmo sonho, me disseram que o bebê tinha morrido e eu passei a dormir calmamente. Só que logo em seguida eu ouvi o choro de novo e descobri que estavam usando a criança em um ritual e que ele era filho do diabo. Por isso concluí que a história estava muito mais para O Bebê de Rosemary, que é um belo filme, muito melhor que qualquer filme bíblico.

– O Bebê de Rosemary eu ainda não vi. Mas acho que essa história está mais para outro filme, A Origem. A explicação para A Origem é meio complicada, mas esse seu sonho aí tá um pouco mais fácil de entender. Claramente significa que você queria ser travesti, porque tanto na primeira parte como na segunda você assumiu um Eu feminino, princesa egípcia e depois Rosemary. Mas também pode ser que você esteja dormindo neste momento e tudo agora seja um sonho, então na realidade você pode ser de fato a princesa egípcia. Entendeu?

– Ficou difícil porque não consigo parar de pensar no meu tio tocando cavaquinho. Mas e aí, você acha que o que ele faz é arte ou não?

– Bom, se uma pessoa pinta quadros, acho que é uma forma de arte, mesmo que sejam horríveis borrões que lembrem gatos transando. Se faz esculturas de durepox de homens tocando cavaquinho, também não deixa de ser uma manifestação artística. Então, eu acredito que a música do seu tio é arte, sim.

 – Hmmm. Entendi. Então quer dizer que quando alguém coloca um disco da Madonna pra tocar em casa e sai rodopiando pela sala isso também é arte?

– E por que seria?

– Seguindo a lógica que você apresentou, se o que o Baryshnikov faz é arte, então dançar em casa ouvindo Madonna também é, mesmo que seja algo tão tenebroso que cegue quem olhar. Estaria para a dança moderna assim como o durepox está para Rodin.

– Está aí a prova irrefutável de que dança não é arte. Caso contrário, uma danceteria seria um coletivo de artistas amadores.

– De qualquer forma, você gostaria de ver minha coreografia da Madonna?

– Obrigado. Não quero cegar antes de assistir a O Bebê de Rosemary.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Se Deus fosse a favor da cremação, não criaria os mortos-vivos

- Já te contei que recebo muito email por engano, não?

- Já sim. Foi no mesmo dia que você disse que é contra a pessoa ser cremada. Alegando que se Deus fosse a favor da cremação, não teria criado os mortos-vivos.

- Eu já defendi isso?

- Já.

- Que sagaz eu sou.

- Sagacidade, bobagem, asneiras, essas coisas.

- Como?

- Nada. Fale sobre esses emails por engano. Chegou algum bom agora?

- Chegou. Vivo recebendo divertos de um tal Ronald Barata Barata.

- Barata Barata?

- É. Barata Barata.

- Sem vírgula? Não deveria ter uma ali no meio, entre o primeiro e o segundo Baratas?

- Não sei. Acho que é questão de estilo. Do cara do cartório, no caso.

- Quem era "o cara do cartório" do Barata? O Saramago?

- Sei lá. Mas é um nome legal, né? Ronald, Barata, Barata. Sem vírgula entre os nomes envolvidos.

- Sim. Um barato. Rá!

- Bom, mas aí recebi um email por engano desse senhor.

- E o que dizia?

- NA PRÓXIMA QUARTA-FERRIA, DIA 15 (TERCEIRA QUARTA-FEIRA DO MES) TEREMOS A REUNIÃO ORDINÁRIA DO MOVIMENTO DE RESISTÊNCIA LEONEL BRIZOLA. PRECISAMOS ADOTAR ALGUMAS DECISÕES IMPORTANTES.

- Gritando assim?

- Gritando. Com muita ênfase no Movimento Resistência Leonel Brizola. Me deu vontade de ir.

- Ir? Responde que agora se transferiu para o Movimento de Resistência Roberto Marinho e que ele tá fodido na sua mão.

- Pensei em ir. Ou reponder outra coisa, mas nessa sua linha aí.

- Tipo?

- Pensei em dizer que agora sou membro honorário do movimento Calma Cocada. E que assim que acabar a hororabilidade, volto pro movimento do Brizola, já sugerindo um nome mais de vangarda, o Simba, Brizolo.

- Eu acho que você deveria mandar mesmo essa. E acho também que deveria haver mesmo um movimento Calma Cocada.

- Não tem?

- Não que eu saiba.

- Que pena.

- Ô.

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colaboração do Daniell Rezende e do Daniell Rezende.



sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Sufflair, pedintes e dois canos fumegantes

- Tenho ouvido muito Mika e Scissor Sisters esses dias. Posso começar a duvidar da minha masculinidade?

- Lembra aquele dia que você veio trabalhar de meia-calça?

- Tava muito frio.

- Mesmo assim. Desde aquele dia, você poderia ter começado a duvidar. 

- Ih, faz dois meses. Agora já foi.

- Faz assim: duvida retroativamente. Aí tá resolvido.

- Boa, farei isso. Falando em dúvida, por que você tá com essa marca marrom na roupa?

- Um mendigo me abraçou hoje. E ele tava com um chocolate na mão. A ironia é que eu mesmo tinha dado o chocolate para ele.

- Como?

- Ele me venceu pela insistência.

- Explique.

- Estava vindo para cá e parei no mercadinho para comprar umas bobagens. Aí, entrei lá e vi que não tinha dinheiro. Por sorte, tem um Bradesco meio perto.

- Que chocolate era?

- O do pedinte? Sufflair. Por quê?

- Você já reparou que nos faróis só vende Sufflair? Como pode ser verdade isso? E é tão barato que só pode ser carga roubada.

- Roubada? E tão roubando caminhão de Sufflair todo dia há mais de 15 anos? Deve ser falsificado.

- Será que é tão fácil falsificar Sufflair assim?

- Minha teoria é que todos são fáceis de falsificar, mas o Sufflair é o preferido porque, como é aerado, vai mais ar que chocolate. E como ar é grátis, sai mais barato para os falsificadores.

- Interessante lógica. Mas, então, aí você foi ao mercadinho...

- Pois é. No caminho para o mercadinho, passei por esse pedinte. Aí, entre o mercadinho e o Bradesco, passei novamente por ele. Depois, entre o Bradesco e o mercadinho, novamente. E nas três vezes ele me abordou, pedindo dinheiro com uma voz baixa.

- Prefiro quem pede dinheiro com voz baixa. Outro dia uma senhora muito educada me abordou, pedindo dinheiro para a condução. "Por favor, o senhor poderia me ceder R$ 2 para que eu pudesse pegar o coletivo até o Jardim Limpão? Perdi minha carteira e não quero ir a pé até o local". Me senti meio que coagido e não dei. Se ela falasse "passa um trocado", eu daria. Prefiro assim.

- Você está me dizendo que prefere um assalto a um pedido? 

- Mais ou menos isso. Prefiro mais ainda se a pessoa não pedir. Já ir pegando o que quer é melhor. Assim o processo todo é mais rápido, já que eu dou mesmo quando pedem. Sempre.

- Quase sempre, né? Afinal, essa senhora bem educada ficou a ver navios.

- Ficou nada. Do jeito que era educada e instruída, a essa hora já até arrumou emprego no Poupatempo. Ou em alguma floricultura. Já reparou como quem trabalha com planta é educado?

- Já, sim. Mas voltando ao mercadinho. O pedinte me pediu dinheiro 3 vezes. Lá dentro, comprei um Sufflair e pensei "se ele pedir novamente, sou obrigado a dar. É muita insistência".

- E você deu quanto?

- Pois, então. Sai do mercado sem um centavo. Gastei todo o dinheiro no Sufflair. Aí, para não dar nada ao pedinte, acabei descolando o Sufflair. Como já tinha começado a comer um, dei aberto mesmo. Ele ficou tão feliz, que me abraçou e, na confusão, me sujou todo com chocolate.

- Você sacou dinheiro e ele foi inteiro em Sufflair? E todos os Sufflaires foram para o pedinte? Quanto você comprou em chocolate?

- Comprei uns 3. Mas acabou o dinheiro. Foi tudo em Sufflair.

- Rapaz, como tá caro Sufflair.

- É. Se eu tivesse comprado no farol, nada disso teria acontecido.

domingo, 5 de setembro de 2010

Sobre Deus, Renato Maurício Prado e Minhas Finanças

- Tomei o diabo da Deus ontem.

- Que diabo da Deus?

- Deus, aquela cerveja que custa R$ 129 no Makro e é considerada uma das melhores do mundo.

- Ah, aquela.

- É, aquela.

- E vale cada centavo desses R$ 120?

- R$ 129.

- Vale os R$ 120 e mais R$9 de lambuja?

- Não. É que ela custou R$ 129. Você disse R$ 120. Mas é R$ 129.

- O Renato Maurício Prado é uma boa besta, né?

- Eu acho. Mas o que isso tem a ver com a cerveja?

- Nada. Mas acho que é dever cívico falarmos isso pelo menos uma vez por dia. Não tinha dito ainda hoje.

- Ah, sim.

- Aliás, fosse eu dono do mundo, criaria uma lei obrigando as pessoas a dizerem isso uma vez por dia. E uma vez por semana jogar spray de pimenta na cara do Emerson Leão. Além disso, também faria uma emenda obrigando o Arnaldo Jabor a somente abrir a boca para falar vogais. E ao Diogo Mainardi andar com um chapéu com orelhas de burro para cima e para baixo. Por fim, contrataria uma trupe de tatuadores para tatuar, mesmo que a revelia, a cara do Milton Neves nas costas do Juca Kfouri e pronto. Não mudaria mais nada, nadinha, no mundo.

- Taí, votaria em você. Tenho a impressão que o sonho do Renato Maurício Prado é pegar o zico, afagá-lo um pouco e, depois, colocá-lo no colo e deixá-lo lá. Eternamente.

- Ou vice-versa. Mas termine de falar sobre a Deus.

- Ah, sim. Não, ela não vale os R$ 129. As coisas valem o valor que damos a elas, sabe?

- Frase inédita, hein.

- Sim.

- E vale quanto?

- Considerando que as coisas valem o valr que damos a ela e eu paguei R$ 129, então ela vale R$ 129.

- Contraditório, você.

- É. A verdade é que estou na dúvida. Mas não pagaria R$ 129 novamente.

- Por quê?

- Porque sou adepto da cerveja artesanal. Gosto mesmo é de fazer minha própria cerveja.

- Sim.

- Como?

- Então, a Deus é uma cerveja meio achampanhada. É um espumante de breja.

- Não parece bom.

- Não é das melhores.

- Bom, descobri meio que um modo caseiro de fazer a cerveja e vou tentar. Depois te falo se deu certo.

- "Se Deus certo"? Rá!

- Ai, ai.

- Bom, mas afinal, como é o diabo dessa cerveja? Boa? Ruim? Tem gosto de quê? Você falou, falou e não disse nada.

- É que é meio difícil dizer.

- Resuma. Seis linha, no máximo, por favor.

- Ok. Se eu fosse escrever sobre ela no Resenha em 6, eu diria algo como...

- Como...

- Custa uma pequena fortuna e nem é essas coisas. Parece que uns monges belgas levam mais de um ano para fazer, sendo que a maior parte do tempo ficam girando a garrafa e conversando sobre amenidades. Para saber o gosto a preço de custo, abra uma Skol, jogue metade fora. Adicione Cidra na latinha até completá-la. Gire-a por um ano ou três segundos, como preferir, e beba.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

DoisVezesUm no Copeiros. 100 Anos de Timão!

- Vai, Corinthians!

- Saravá, São Jorge!

- Se essa conversa é só para fazer uma homenagem ao Corinthians, acho que já deu.

- Quase. Tenho mais uma coisa para falar. 

- Fale.

- Estou servindo comida para fora.

- Justo no dia do Timão?

- É. Em homenagem a ele, na verdade.

- Onde?

- No Copeiros

- Boa, vou lá ler e me emocionar um pouco mais com o Coringão.

- Aproveita e depois me diz quantos erros de digitação achou.

- Beleza.

- Saravá.

- Vai, Corinthians, religião de janeiro a janeiro!

- Vai, Corinthians, cachaça do torcedor. Vai, colorido em preto e branco, sem preconceito de cor.

- Vai, Copeiros!