terça-feira, 31 de março de 2009

Quando Wilson vira Wilsona

— Homem fã de Coldplay não existe. A não ser daquele tipo que colecionava papel de carta quando menino.

— É verdade. É tipo fã do Radiohead. Mesma coisa.

— Espera aí. Mas eu sou fã do Radiohead.

— Desculpe, tem razão. Fã homem do Radiohead é do tipo que só colecionava papel de carta escondido.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Jogos e Seleções

- Eu acompanho futebol seriamente desde, sei lá, 86. E, desde 86, eu nunca vi um time tomar 90 minutos de pressão. Foi incrível.

- Em determinados momentos, eu torci para os equatorianos marcarem um gol. Só para tirarem o pé e acabarem com tanto sofrimento. 

- Me lembrou aquela prorrogação entre França e Paraguai, na Copa de 98. Só que prorrogação só dura 30 minutos e aquela acabou na morte súbita.

- Lembrou também aquele França e Brasil.

- De que Copa?

- Qualquer uma, contando que o Zidane estivesse em campo. Ou o Zico. De qualquer forma, com Zidane ou com Zico, daria zebra para o Brasil.

- Se eu fosse o Ricardo Teixeira e estivesse assistindo ao jogo, ligaria para o Dunga no intervalo e o demitiria. Colocaria como interino, por 45 minutos, aquele cara de bigode que tá sempre na comissão técnica da seleção e é uma mistura de Renê Simões com Hitler e depois resolveria o que fazer.

-Eu, se fosse o Ricardo Teixeira, pegaria um avião para o Equador, devidamente munido de um boticão e já com a rescisão de contrato do Dunga. Enquanto ele assinasse, eu aproveitaria para arrancar os dentes do Ronaldinho Gaúcho.

- Não seria melhor as pernas?

- Arrancar os dentes está de bom tamanho. Não gosto de ver ele medingando em campo e, ainda assim, com aquele sorriso no rosto. Se é para jogar mal, que seja com cara de triste, que nem o Douglas faz no Corinthians.

- Falando em Corinthians, é capaz de logo mais contratarem o Conezinho Gaúcho. Para recuperar o rapaz.

- Vixe. Vai dar bem mais trabalho do que deu para recuperar o Ronaldo-Gordo-Travecão-Fenômeno. É capaz de pegar banco do Douglas e do Boquita. E, se os dois se machucarem, o Mano improvisa o Souza na meia. A coisa tá feia para o Mendiguinho Gaúcho.

- Bom, pelo menos, se dá para ver um lado bom do jogo de ontem, é que o Júlio Cesar catou como o diabo.

- Muito. Tanto que ontem, antes de dormir, acendi duas velas pela saúde dele. E daqui até a Copa, rezarei toda a noite para ele se manter firme e forte.

- Gostou tanto da atuação dele assim?

- Gostei. Mas não é por isso. Se ele se machucar, quem entra no lugar é o Doni.

- Mama mia! Prefiro o Gaúcho no gol.

- Não é para tanto.

- Não sei como pegador de bola. Mas sempre gostei de goleiro que cata a bola sorrindo.

- Quem fazia isso?

- Lembro do Raveli, da Suécia em 94, do Ronaldo, do Timão, e do Higuita.

- E lá dava para ver a cara do Higuita sob aquela juba incrível?

- Não dava, é verdade. Mas não é possível fazer tudo o que ele fazia, toda aquela fanfarronice, sem estar, no mínimo, gargalhando debaixo daquele guaxinim rebelde. 

sábado, 28 de março de 2009

Incêndios e Implosões

- Você viu o incêndio que rolou em Diadema ontem?

- Vi sim. Aliás, era isso que eu ia comentar com você. Plasticamente falando, muito bonito.

- Não sou muito fã de incêndios, mas esse também me sensibilizou.

- Pois é. Um amarelo vivo, vivo, vivo. Uma fumaça negra que só a porra e, de quebra, uns tonéis explodindo e voando por cima das fábricas. Muito bonito

- E houve uma seqüência incrível de explosões. Impressionante. Daria para usar as imagens em alguma superprodução do cinema nacional, com perseguições de carro, grandes explosões e a Mallu Mader no papel principal.

- Pena que o filme se passaria em São Paulo. Porque se fosse no Rio, dava fácil para colocar o Kadu Moliterno como protagonista.

- É fato. Mas, sendo em São Paulo, daria para escalar o Fúlvio Stefanini, sem perdas. Ele está para São Paulo, assim como o Kadu Moliterno e o André de Biasi estão para o Rio. Mas a vantagem do Fúlvio é que ele tem a voz mais bonita.

- Fato. Mas voltando ao assunto do incêndio, gostei muito. Lembro que fiquei fascinado assim somente na implosão do Carandiru. Porque, aliás, se tem uma coisa que eu prezo é uma boa implosão. E a do Carandiru, com aquele edifício imponente desabando e mais nada ao redor, me empolgou.

- Eu gostei também. Mas, de forma geral, eu prefiro incêndios a implosões.

- Eu já prefiro implosões. Tem toda aquela mítica, sabe? É como se fosse um evento. Os responsáveis acordam cedo, se arrumam, vão lá no edifício, metem explosivos e, na hora marcada, derrubam tudo. Guardadas as devidas proporções, é como um lançamento de foguete na NASA. Trata-se de um evento, não de uma obra do acaso.

- Pois é, por isso mesmo eu prefiro incêndios. Esse lance de ocorrer do nada, quando ninguém está esperando, transforma incêndio em uma coisa mais natural, mais espontânea. E eu gosto muito de coisas espontâneas.

- Hummm. Bom, é questão de gosto. Às vezes eu ando por aí, olhando para prédios e pensando quais deles dariam boas implosões. A Basílica de Aparecida daria uma excelente implosão. 

- Pronto, vai começar a falar mal de religião.

- Não, não tem nada a ver com religião ou com preferências pessoais. Estou analisando do ponto de vista técnico. Tanto é assim que outra implosão que seria memorável é a do estádio do Pacaembu. E olha que sou corintiano.

- Bom, como disse, sou mais entusiasta de incêndios. Fico triste de ter nascido nesta época, porque acho que o incêndio de Roma foi coisa linda. Queria ter visto. Assim como queria ter visto a tragédia do Titanic. Mas como não deu, não canso de ver o filme. Toda vez que passa na TV, eu assisto.

- Eita. Mas aí não é incêndio, é acidente de barco.

- Eu sei, mas eu gosto muito da Kate Winslet. Não perco qualquer oportunidade vê-la.

- Imagina que legal, um filme que os protagonistas seriam Fúlvio Stefanini e Kate Winslet, ambos que fazem parte da tripulação de um navio, que misteriosamente bate em um prédio qualquer que, mais estranhamente,foi construído no meio do mar. Daí, o barco se finca no meio do prédio e ambos pegam fogo - mesmo que no meio do mar. Daí, a saída encontrada para evitar mais danos à natureza seria implodir o misterioso prédio.

- Esse filme se passaria nos mares do Rio de Janeiro?

- Pode ser.

- Nesse caso, eu colocaria o Evandro Mesquita na tripulação. E o Nuno Leal Maia seria o carismático vilão, responsável pela construção do prédio em alto-mar e pela batida do barco.

- Sensacional. Para onde eu posso mandar um email dando essa idéia?

- Tenta spielgberg@hotmail.com. Não tem como ele não gostar. 

- A não ser o fato de não termos escalado o Tom Hanks.

- É, mas a gente coloca ele numa ponta. Como um náufrago que vê tudo de longe, de uma ilha qualquer. Pode ser a Ilha de Paquetá.

- Sensacional. Vou escrever o email.

quinta-feira, 26 de março de 2009

E o Dedé?

Por Rogéria*

— Cara, tô achando que esse ano será a redenção do Rubinho.
— Qual Rubinho?
— O Barichelo.
— Você tá louco... É mais fácil o Ronaldinho Gaúcho voltar a jogar bem.
— Você tá por fora com o Rubinho... Até o Massa tá preocupado, falando que ele é favorito.
— O Massa tá tirando sarro. Ele tem perfil pra gozador. Você já reparou como ele é a cara do Zacarias?
— Quem?
— O Massa.
— Imagina, o Massa parece é com você. Você podia ser irmão mais velho dele, de tão parecido.
— Isso é verdade.
— E, ao mesmo tempo, você também é a cara do Didi.
— Verdade também. Será que se batessem no liquidificador o Didi Mocó com o Felipe Massa daria o Zacarias?
— Talvez, mas sem peruca.
— E se batessem com uma peruca junto?
— Uma peruca preta?
— Pode ser.
— Acho que daí daria o Mussum.

* Contribuição excepcional de Rogéria, do Haja Saco.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Damas e Mascotes

- Ó lá, os times tão entrando em campo. É hoje que a gente goleia.

- Não gosto de ver essa entrada. Me dá uma tristeza danada.

- Por quê?

- É a segunda maior frustração da minha vida. 

- O que, meu Deus? O que?

- Tá vendo essa criançada que entra com o time?

- Sim, os mascotes.

- Pois é. Eu sempre quis ser um mascote quando era criança. Mas nunca consegui. Quando vejo um time entrar em campo, lembro disso e fico triste.

- Que viadagem. 

- Você acha?

- É, uai! Entrar em campo com um monte de macho de shorts e suados... não sei não.

- Alto lá. Suados, não. Eles ainda não jogaram. Estão secos.

- Tão nada. Eles aquecem no vestiário. Tão tudo melado.

- Tão nada. Um atleta aquecendo é como se estivesse dormindo. Em resumo: não faz nem coceguinha. Estão secos.

- Não fala besteira. Como você pode ter tanta certeza, se nunca esteve lá, se nunca foi mascote?

- Não apela que eu choro. Com frustração não se brinca.

- Tá, desculpa. Mas você disse que não ser mascote é a segunda maior frustração da sua vida. Qual é a primeira?

- Nunca fui dama de honra em casamentos.

- Como?

- Isso. Eu nunca fui daminha. 

- Agora sim, virou viadagem o assunto.

- Por quê?

- Que eu saiba, dama de honra é coisa de menina. E você, pelo que eu saiba, é homem. Quando criança, você deve ter sido menino. Não é isso?

- Sim, fui menino.

- Pois então. Me dizendo que você queria ser dama de honra, eu entendo que você queria ser menina. E, hoje, mulher.

- Não coloque palavras na minha boca. Eu disse que queria ser dama de honra, não mudar de sexo.

- Taí, você tem certa razão. Mas a pergunta natural é: você queria tanto ser dama de honra a ponto de ter que mudar de sexo para realizar a proeza?

- Não. Eu queria ser menino e ser dama de honra. É tão difícil assim entender?

- Mas você não queria ser menina?

- Não. Queria ser dama de honra, mas sendo menino.

- Mas daminha se veste com vestido. Você queria usar vestido?

- Querer, eu não queria. Mas eu queria ser dama de honra. E como para a função é necessário estar de vestido, eu me sacrificaria pelo meu sonho.

- Quem veste vestido é mulher. 

- É? E o padre? Ele usa vestido. 

- Aquilo é a batina.

- Questão semântica. Parece vestido de onde vejo.

- Batina é diferente de vestido. 

- Qual a diferença?

- Quem usa batina é padre. Quem usa vestido é mulher.

- Então a diferença básica dos vestuários é quem o usa?

- É.

- Se eu vestir uma batina, viro padre? Se eu usar um vestido, viro mulher?

- Exatamente. Você já viu algum padre usando vestido? Ou alguma mulher usando batina?

- Nunca. 

- E sabe por que?

- Porque a partir do momento que o padre usa vestido, ele vira batina. E quando qualquer mulher traja uma batina, ela passa a ser vestido?

- Exatamente. 

- Imaginemos uma situação hipotética. Se eu fosse uma criança prodígio e, com três anos, ingressasse no sacerdócio e virasse padre aos oito. Com nove, já padre, eu resolveria mudar de sexo. Nessas condições, eu seria um padre-mulher que poderia, em tese, realizar um casamento e ainda atuar como dama de honra na mesma cerimônia. Considerando tudo isso, a pergunta é simples: que roupa eu usaria? Batina ou vestido?

- Acho que camisa de força. 

terça-feira, 24 de março de 2009

Títulos de Nobreza

- Sabe uma coisa que eu não entendo?

- Vai falar de novo sobre matrizes, determinantes e logaritmos?

- Não, não. Isso eu já conclui que é bruxaria mesmo. E bruxaria não é entendível. Acredita-se, teme-se e pronto. Não há nada que possamos fazer sobre isso.

- Tá. E o que é que você não entende?

- Esse lance de Mônaco. 

- Qual lance? De ser um microestado?

- Não. De ser um principado. Como funciona um principado? Como são feitas as eleições em um principado?

- Eu acho que não há eleições em principados. E vou além: eu acho que um principado é como um reinado, mas quem manda não é o rei, mas o príncipe.

- Esse negócio de reinado é tão démodé, não? Tão... tão... século 15.

- Pois é.

- De qualquer forma, eu não consigo entender isso de principado. Se é um príncipe que manda na parada, como funciona a sucessão? 

- Posso estar enganado, mas eu acho que é assim: o príncipe fica mandando no país. Daí, se o pai dele, que é o rei, morre, muda tudo. O até então príncipe vira automaticamente rei e é destituído do poder, que é passado para o filho dele.

- E se o filho tiver, vamos supor, 7 anos de idade? Mesmo assim ele assume?

- Se ele for menor, você quer dizer?

- De menor.

- Desculpe. De menor. Quando você disse sobre o filho do príncipe ter 7 anos, você quis exemplificar caso ele fosse de menor, correto?

- Isso.

- Acho que ele assume, sim. E mais: se houver mais de um filho, quem assume é o mais novo. Essa é a alma do principado. Os mais novos mandam e desmandam. Os mais velhos obedecem, se tiverem juízo.

- E se o rei morre e o príncipe não tem filhos, quem assume?

- Imediatamente após a morte do rei, o então príncipe é enviado para um quarto com doze ou treze mulheres para gerar um filho. E nesses nove meses, até o novo príncipe nascer, quem manda no país, interinamente, é o filho do duque ou o do vizir. E no caso destes não terem filhos, quem manda e desmanda é filho do monsenhor.

- Nossa! Como é complicado! E eu achando que duque era um título nobiliárquico integrado, enquanto vizir seria uma espécie de conselheiro religioso e político. Já monsenhor eu achava que era um título eclesiástico honorífico conferido aos sacerdotes da Igreja Católica Apostólica Romana pelo Papa. 

- Você não sabe de nada.

- Pois é. Última dúvida. E no caso do monsenhor não ter filhos?

- Aí, eles fazem eleições diretas e resolvem o assunto nas urnas.


segunda-feira, 23 de março de 2009

Amigo dos Outros

- Quem você preferia ser? A Paris Hilton ou o Miéle?

- Questão complicada. Mas acho que o Miéle.

-Pensa bem, hein. Lembre-se que ela é rica, bonita, gostosa e, o melhor de tudo, profissionalmente é herdeira. Imagina que legal escrever "herdeira" no campo " profissão", em uma ficha de hotel, por exemplo.

- Duvido muito que ela preencha fichas em hotéis. Ela é dona dos hotéis.

- Tá, mas esse não é o caso. O caso é que ela é herdeira.

- E o Miéle é profissionalmente "amigos dos outros". 

- Sempre achei que ele fosse profissionalmente "showman".

- Não, não. "Showman", ele é por hobby. Ou de nascença, não sei. Profissionalmente, é "amigo dos outros" mesmo. 

- E ele é também "ex" em um monte de coisa. Foi ex-Coquetel, ex-cantor, ex-humorista, ex-metido com a bossa nova.

- Ex-metido com bossa nova é ótimo.

- É que eu não sei bem o que ele fazia na bossa nova. Sei que estava lá. De qualquer forma, ele é um ex completo. 

- Pois é. E acho que atualmente só é cachaceiro. Ou etilista, como dizem por aí. Imagina que legal preencher em uma ficha de hotel, no campo "profissão", o termo "amigo dos outros".

- Mais legal do que isso é, no campo "naturalidade", escrever "showman".

- Isso se for mesmo condição de nascença, né? Porque se ele for "showman" por hobby, não existe muito lugar em que ele pode escrever isso aí.

- É. Tirando o Orkut, não lembro mais de questionários que peçam que a pessoa informe os hobbies.

- É por isso que eu torço para que "showman" seja condição de nascença. Aí ele pode escrever em qualquer formulário.

- Então tá. Eu queria ser o Miéle, mas só se "showman" for condição de nascença. Se for hobby, daí quero ser a Paris Hilton. 

- Não sei se eu compartilho da sua opinião. Mesmo porque eu acho que, em naturalidade, a pessoa deveria escrever onde nasceu.

- Isso se a pessoa não for a Paris Hilton ou o Miéle. Se for, então pode escrever o que quiser. 

-Qual a naturalidade da Paris Hilton?

- Não sei. Acho que "loira".

- Loira? Aquilo lá é água oxigenada, meu chapa. 

- Como você sabe?

- Dá para perceber. É garantido que é água oxigenada. Não tem discussão.

- Quem diria, hein? A Paris usando água oxigenada. O que mais tá faltando nesse mundo? 

- O Miéle vir a público dizer que, todos esses anos, não bebeu uísque. Que era guaraná e que ele é abstêmio.

- Se isso acontecer, perco novamente a fé na humanidade.

- Eu já perdi. Mais precisamente, há uns dois anos.

- Por que?

- Acho que faz uns dois anos que fiquei sabendo que o Mike, do Trem da Algria, era filho do Ronald Biggs. E é por isso que, quando eu era criança, ouvia todo mundo dizer que ele era "filho do ladrão". Eu achava que ele era filho de um ladrão qualquer, não do cara do Trem Pagador.

- Ele é filho do Ronald Bigs!?

- É sim. 

- Sério?

- Si, si.

- E isso é jeito de dar uma notícia dessas? Tô até tonto. 

- Desculpe. Perdeu também a fé na humanidade?

- Sim, e pela segunda vez. Só me senti mal assim quando perdi a fé pela humanidade pela primeira vez, em 1997. 

- O que aconteceu em 1997?

- O Titãs lançaram o CD Acústico MTV. Depois daquilo, percebi que não teríamos para onde correr. Perdi a fé na humanidade por uns anos. Mas ela voltou tempos depois, quando a Rita Guedes saiu nua na Playboy. Agora, perdi novamente. Sabe Deus quando ela voltará. 

- Acho que teremos que esperar mais um ensaio na Playboy com a Rita Guedes.

- Nem precisa tanto. Se a Renata Banhara assinar com a Brasileirinhas, acho que minha fé volta.

- Oxalá.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Justiça Sem Limites

— Para mim, um bom filme deve ter sempre uma festa de adolescentes que aproveitam uma viagem dos pais para tocar o terror, um irmão mais velho chato que se dá mal no final, nerds excluídos que são alçados a reis do pedaço de maneira estranha e, se possível, uma música de Oingo Boingo na trilha.
— Eu já acho que filme bom tem que ter muita explosão, viagem no tempo ou mortos-vivos. Juntos ou separados.
— Fica bom também, mas aí é outra categoria. Eu diria que o estilo que eu gosto está mais para Sessão da Tarde, e o seu é no esquema Tela Quente.
— Verdade. Aliás, são dois estilos que deviam estar no Oscar como categorias.
— Isso seria uma boa, hein? De Volta às Aulas, o melhor filme da história, teria conquistado um Oscar de Sessão da Tarde. Justiça seria feita.
— Tango e Cash levaria o Oscar de Tela Quente, outra questão de Justiça.
— Mulher Nota 1.000 também.
— E Rocky.
— Mas espera aí. Rocky ganhou um Oscar de verdade. Um não, três! Inclusive o de melhor filme.
— Ganhou? Não é possível. Não me diga que Férias Frustradas também ganhou?
— Não ganhou. Mas merecia.
— Ah, merecia. No mínimo levaria o Oscar de Sessão da Tarde.
— Levaria. O de Sessão da Tarde do SBT, mas com certeza levaria.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Redundâncias

- Existe uma cidade chamada Vitória da Conquista, não?

- Sim. É muito perto de Salvador, meio satélite. É como se fosse o ABC paulista em relação a São Paulo. - disse Nani.

- Eu estava pensando nesse nome: Vitória da Conquista. É redundante, não é? O que diabos vem a ser uma vitória de uma conquista?

- Rapaz, taí. Tem razão. É um nome bem redundante mesmo. O interessante é que o contrário, Fracasso da Derrota, não é redundante.

- Existe uma cidade com esse nome?

- Sei lá. Estou analisando do ponto de vista meramente semântico. 

- Certo. 

- O fracasso da derrota, no meu entendimento, é a vitória. Se a derrota fracassou, então ela foi vitoriosa. 

- O mais interessante é que o oposto de vitória da conquista é o fracasso da derrota que, por acaso, vem a ser a vitória. 

- Sim, mas uma vitória simples. Não uma vitória da conquista. 

- Acho que é o primeiro caso de antônimo que... peraí. A gente pode usar antônimo para uma expressão ou só vale se for para uma palavra?

- Acho que podemos usar para expressão. Pelo menos no nosso caso aqui da vitória da consquista.

- Pois bem, acho que é o primeiro caso de que antônimo que não existe a regra do vice-versa.

- Como assim?

- Ué, o contrário de vitória da conquista é fracasso da derrota. Mas o contrário de fracasso da derrota não é vitória da conquista, mas uma vitória simples, até meio chocha. 

- Chocha é uma palavra legal. É com xis ou com cê agá?

- Acho que com xis. Mas não é certeza. De qualquer forma, voltemos à vitória chocha. Não é interessante o vice-versa não funcionar nesse antônimo?

- É sim. Por que será, hein?

- Não sei, mas agora estou pensando em outras expressões, seus opostos e significados. 

- E mais: vitória da conquista pode ser redundante, mas também pode ser considerada uma hipérbole, eu acho. É uma super-ultra-vitória. 

- Qual o contrário de troco do trocado?

- R$ 100.

- R$ 100?

- É. Pensei em pagamento redondo em nota alta. Como não lembro de uma nota mais alta que de R$ 100, acho que ela é o oposto de troco do trocado.

- Cansaço da fadiga.

- O que tem?

- O oposto. Qual é o oposto?

- Não sei. Mas pelos meus cálculos, o significado não é nada bom.

- Como assim?

- Pensa em cansaço da fadiga. Se chegou no ponto que até a fadiga cansou, então fodeu. O significado é morte. Certeza.

-Unha do Dunha.

- O que significa?

- Não sei. Não tem a ver com o assunto. É que eu gosto muito de falar Unha do Dunha. Faz um barulhinho agradável na boca. Unha do Dunha. Repete.

- Unha do Dunha.

- E aí?

- Gostei. 

- Agora repete exaustivamente até as palavras perderem o sentido completamente. Isso é legal também.

- Unha do Dunha, Unha do Dunha, Unha do Dunha, Unha do Dunha, Unha do Dunha, Unha do Dunha, Unha do Dunha, Unha do Dunha, Unha do Dunha, Unha do Dunha.

- E aí, perderam?

- Se a gente considerar que Unha do Dunha não faz qualquer sentido, podia ter falado somente uma vez.

- E por que não o fez?

- Porque é gostoso mesmo falar essa porra. Unha do Dunha.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Pasta de Dente

-Acabou a pasta de dente?

- Acabou. Mas veja pelo lado bom: acabou a comida também. Logo, você não precisa se preocupar em escovar os dentes.

- Isso não me preocupa. Eu não gosto de ficar sem pasta porque, no caso de eu me queimar, vou tratar a queimadura com o que?

- E como você se queimaria? Pretende fazer uma fogueira aqui na sala?

- Não. Mas supondo que eu fosse cozinhar, poderia me queimar.

- Bicho, eu nunca vi você nem fervendo água. Nem fritando um ovo.

- Tá vendo, por isso preciso de pasta. Essa minha inépcia na cozinha pode me causar queimaduras.

- Tá. Mas eu já te falei: a geladeira tá vazia. A comida acabou. A gente precisa fazer compras, aliás. De qualquer forma, a comida acabou. Você vai cozinhar o que? Acho que, não tendo o que cozinhar, não tem motivo de você se preocupar com queimaduras.

- E se eu quiser ferver água?

- Para que você iria ferver água?

- Sei lá. Só para você não usar a frase "bicho, eu nunca vi você nem fervendo água", num tom irônico e um pouco agressivo, novamente.

- Se você entrar na cozinha para fazer isso, eu saio de casa. Daí não verei você fervendo água e posso continuar usando a frase.

- Ah é? Então tá, to indo pra cozinha.

- E eu vou dar uma volta. Tchau.

- Aproveita e traz pasta da rua, por favor. Acabou e eu posso me queimar fervendo água.

terça-feira, 17 de março de 2009

100 metros (não tão) rasos

- Em uma corrida entre a Mônica e a Magali, quem você acha que ganharia?

-Que Mônica e que Magali?

- As dos Maurício de Souza, obviamente. Ou você conhece outras?

- Já namorei uma Magali. E uma irmã dela chamava Mônica.

- Sério? 

- Mais ou menos. Essa irmã chamava Letícia, mas todo mundo a tratava por Mônica. 

- Por que?

- Ah, porque na verdade, na verdade, a Magali não chamava Magali. O nome era Agali. Mas como todos os conhecidos, incluindo os pais delas, chamavam a Agali de Magali, a irmã dela virou Mônica por associação.

- Agali é um nome bem ridículo.

- Eu sei. E você diz isso porque não viu a cara dela. Mas tinha um bom coração, no final das contas.

- Bom, de qualquer forma, a Magali do Maurício de Souza não é irmã da Mônica. 

- Eu sei também. Mas o pessoal dela, incluindo os pais, não sabia. E eu não quis avisar. Nunca me dei bem com os velhos.

- Peraí, deixa ver se entendi. Os pais da garota a batizam com um nome, a irmã com outro e, depois, passam a chamá-las por outros nomes diferentes?

- Se você batizasse sua filha de Agali, você a chamaria como?

- Tem razão. Mas Letícia é um nome normal.

- Eu sei, mas se você tivesse uma filha chamada Magali, como você chamaria a irmã dela?

- Ah, não sei.

- Viu só, papudo!

- De qualquer forma, em uma corrida entre a Magali e a Mônica, ambas do Maurício de Souza, quem você acha que ganharia?

- Qual a distância? 100 metros? Ou maratona?

- Importa?

- Claro. Se for 100 metros, a Magali leva. Ela é mais rápida porque os dentões da Mônica atrapalham na aerodinâmica. E se a gente colocar uma melancia na outra ponta da pista, a Magali dispara. Agora, se for uma maratona, a Mônica leva. Isso porque a Magali pararia o tempo todo para fazer um lanchinho.

- Bom, acho que você tem razão. Mas com a melancia na outra ponta da corrida de 100 metros, a Magali seria desclassificada. 

- Por que?

- Dopping. Ou algo que o valha.

- Acho que tá mais para algo que o valha.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Chame ladrão

— É nessas horas que eu acho que o ser humano deveria ter um ladrão.
— Você tá com a boca cheia demais, o que disse?
— Eu não aguento comer mais nada. Mas ainda gostaria de comer muito. Por isso acho que o ser humano devia ter um ladrão. Seria uma válvula de escape para liberar a comida já ingerida e permitir que houvesse espaço para comer mais e mais, pelo simples prazer de comer.
— A idéia até que é boa. A gente ficaria aqui a tarde toda comendo feijoada sem parar e nunca ficaria estufado. Mas onde ficaria esse ladrão?
— Pensei em alguma coisa aqui na altura das costelas. Ficaria fácil de usar.
— Seria de fato uma revolução. Todos poderiam comer sem culpa. Você poderia comer o que quisesse, jogaria o excesso fora e guardaria apenas o necessário para se alimentar mesmo.
— E acabariam os produtos light. Íamos poder comer pão com lingüiça, torresmo e bacon de bacia.
— Mas por outro lado isso acabaria com o alimento do mundo. Todos iam consumir muito.
— Ao contrário. O subproduto do ladrão poderia ser reaproveitado e usado para matar a fome de milhares de pessoas que não têm o que comer.
— Aí, beleza. Seria uma coisa bonita de se fazer.
— E os restaurantes poderiam fazer promoções do tipo “Não use seu ladrão e pague apenas 10%”.
— Seria realmente a evolução da humanidade.
— E o melhor: o momento de abrir o ladrão e deixar escorrer o excesso seria tão prazeroso quanto um orgasmo.
— Rapaz, Deus tá por fora. Sem nem pensar muito, nós aperfeiçoamos a obra mais bem elaborada dele.
— E ainda resolvemos os problemas alimentares de quem tem muito e de quem tem pouco para comer.
— Nesse mundo perfeito, imagino que os deficientes físicos seriam aqueles que nascessem sem o ladrão. Seria muito triste, uma doença terrível. Você pode imaginar como seria a vida destes pobres diabos?
— Posso sim. Seria igual à nossa.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Sobre Cursos e Cursos

- Não tenho mais ânimo para fazer qualquer curso útil.

- Desenvolva.

- Ah, doutorado, mestrado, pós-graduação. Depois que terminei a faculdade, não lembro de nada útil que eu tenha feito.

- Eu sou o contrário. Tenho a idéia, vou atrás. Me matriculo e pronto, não tenho como desistir.

- Mas eu estou falando de fazer coisas úteis. Não o monte de bobagem que você fez.

- Que bobagem?

- O curso de russo, por exemplo.

- E não é útil? Vai que um dia eu vou para a Rússia. Aí, já estou preparado.

- E o de origami? Foi útil também?

- Se estou deslocado em uma mesa de bar, logo saco um guardanapo e faço tudo o que é ave. 

- Como se isso te integrasse ao resto da mesa.

- Não integra, é verdade. Mas aí eu converso com os passarinhos que faço. Pelo menos, arrumo companhia.

- Sei. E o curso de esculturas em gelo? Para que você fez?

- Já viu o freezer de casa? Tenho dois pavões e um Passat feitos em gelo.

- E não cabe uma peça de picanha nele, né?

- Não. Mas você não viu o Passat. Até a placa tá personalizada. ICE 0001. Legal, né?

- Hummm. E aquele curso de alfaiataria doméstica, que ensinava a fazer barra de calças, essas coisas?

- Bom, esse não serviu para nada ainda. Mas vai ser útil. Uma vez o botão da minha calça despregou e eu tive que improvisar um varal, um clipe e um chiclete usado para segurar. Da próxima vez, usarei agulha, linha e um botão.

- Clipe, chiclete e varal?

- É. Mas isso eu aprendi assistindo a uma reprise de Profissão Perigo. 

- Como?

- Eu te explicaria, mas vou ter que sair. Vai começar a reprise dos Três Patetas e eu estou aprendendo com o Curly a fazer aquela defesa contra o golpe fura-olhos que o Moe sempre aplica.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Negra Li versus Preta Gil

- E é por isso que eu acho a Negra Li mais gostosa que a Preta Gil.

- Eu perdi o começo da frase. Tava distraído. Repete, por favor.

- Eu disse "e é por isso que eu acho a Negra Li mais gostosa que a Preta Gil".

- É por isso o que? Não ouvi o motivo.

- Eu não disse o motivo. Eu comecei a frase com o "e é por isso".

- Ué. Mas o "e é por isso" subentende-se que que deveria haver um motivo. E que você teria dito antes. 

- Eu não disse porque não acho necessário. 

- Como assim?

- Preciso embasar o motivo de achar a Negra Li mais gostosa do que a Preta Gil? Se fosse o contrário, aí sim eu precisaria embasar. Falar que sou fã do Gil, que acho a Preta fofinha, que gosto da música dela, qualquer coisa. Mas como como prefiro a Negra Li, acho que isso fala por si só, já que ela é mais gostosa mesmo.

- Eu acho a Preta Gil mais gostosa que a Negra Li.

- E é por isso que, mais dia, menos dia, o Contru te interdita. 

- Por que?

- Preciso embasar uma frase sem sentido?

- Tem razão, não precisa. E é por isso que qualquer dia o Ibama te enquadra.

- Por que?

- Esquece.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Cidades e Soluções

- Sabe a primeira coisa que eu faria se fosse imperador ultra-mega-supremo do Brasil?

- Mandaria arrancar as cordas vocais do Agnaldo Timóteo?

- Não. Essa seria a terceira coisa. Talvez a segunda. 

- Não me espanta. Você nunca soube escolher bem suas prioridades. 

- Como assim?

- Eu lembro bem das suas calças naquele dia que você tinha sede e precisava mijar urgentemente. E não sabia o que fazer primeiro.

- Ah, mas o filtro tava no caminho para o banheiro. De qualquer forma, deixa eu falar. Sabe o que eu faria se fosse o imperador mega-ultra-supremo do Brasil?

- Não era imperador ultra-mega-supremo?

- Que seja. 

- Deixa eu chutar! Você mudaria seu nome para mega-ultra-D.-Pedro III?

- Não. Eu mudaria o nome da rua Brigadeiro Luís Antônio para rua Pudim de Leite Luís Antônio. Acho que, de Brigadeiro, já basta a Faria Lima. Pensei também em Pé-de-Moleque Luís Antônio, Quebra-Queixo Luís Antônio e Saguzinho Totoso Luís Antônio. Mas conclui que Pudim de Leite ficaria mais gostoso.

- Saguzinho Totoso?

- É. Só Sagu Luís Antônio ficaria muito seco. De qualquer forma, será Pudim de Leite.

- Bom, mas para isso você não precisaria ser imperador mega-ultra ou o que quer que seja do Brasil. Bastava ser dono de São Paulo.

- Eu sei, mas tenho mais planos. Depois de mudar o nome da Brigadeiro e arrancar as cordas vocais do Agnaldo, eu mudaria o nome da cidade Engenheiro Beltrão. Não gosto dele.

- E colocaria o que no lugar?

- Policial Rodoviário Borges.

- Quem é esse?

- Sei lá. Mas também não tenho a menor idéia de quem é Engenheiro Beltrão e mesmo assim tem uma cidade com o nome dele no Paraná.

- Telemaco Borba e Cornélio Procópio.

- O que tem?

- Você podia mudar também, não? Cada nomezinho mais ridículo.

- Não sei se poderia. Acho que os familiares poderiam ficar bravos.

- E os familiares do Beltrão não ficariam?

- Acho que ele não tinha parentes. 

- Tô com medo da resposta, mas devo perguntar. Por que você acha que ele não tinha parentes?

- Se você fosse filho, esposa, irmã ou até mesmo tia de um engenheiro e ele chamasse Beltrão, você permitiria que batizassem uma cidade de "Engenheiro Beltrão", expondo ao Brasil todo um nome tão ridículo? Uma praça, e bem pequena, seria o ideal. Seria uma homenagem, mas bem pequena e reservada.

- Hummm. Tem razão. Ele não devia ter parentes. Na verdade, se bobear, ele nem existiu. Parece nome de personagem do Monteiro Lobato. Tipo o primo distante do Visconde de Sabugosa ou do Marquês das Águas Claras.

- Pois é. Mas antes preciso da um jeito de virar imperador mega-ultra-supremo do Brasil. Como faço?

- Sei lá. Manda um e-mail para o Lula pedindo. Ou vai se consultar com algum dos Orleans em Bragança. Eles têm experiência em querer ser alguma-coisa-qualquer-que-seja-o-título-de-nobreza-do-Brasil. Aí é só você ouvir bem o que eles têm a dizer e fazer exatamente o contrário, já que em tantos anos eles nunca conseguiram lá coisa muito expressiva.

- Boa. Onde encontro eles? 

- Acho que vivem em Petrópolis.

- Excelente. No caminho já vou pensando que nome vou por nessa Petrópolis quando meu plano der certo. Não será possível manter um nome em homenagem a D. Pedro, já que eu serei seu sucessor. 

- Não entendi a lógica.

- Ah, quero mudar porque quero. E ponto.

- Certo. Então põe algo relativo a seu nome.

- Pensei em algo melhor: Bigmaclândia.

- Por que Big Mac é o lanche que você mais gosta?

-Não. Eu gosto mais de cheddar, mas achei que CheddarMacMeltilândia ficaria muito anglicista.

Ouvidos Moucos

— Eu acho que Matchbox Twenty é o melhor nome de banda do mundo.

— Matchbox Twenty? É tipo "Caixa de Fósforo de 20"? É muito nada a ver. Acho que só não é pior do que Paralamas do Sucesso.

— Mas Paralamas do Sucesso soa bem...

— Repara bem no absurdo que é isso. É que a gente se acostuma com esses nomes de tanto ouvir. Mas são horríveis. A maior parte das bandas de rock tem nome ridículo. Em especial as dos anos 80. E o mais interessante é que as pessoas não têm vergonha.

— Eu gosto do nome Men At Work.

— Ai...

— Tears For Fears.

— Putz.

— Pet Shop Boys.

— Jesus, Maria e José!

— Jesus and the Mary Chain.

— Pare, por favor. Eu suplico. Isso dói tanto em meus ouvidos como a voz do Dinho Ouro Preto.

— O do Capital Inicial?

— Não diga esse nome, pelo amor de deus.

— Também não gosta? Que tal Heróis da Resistência? 

— Um médico, por favor. Alguém aí é médico?

— Poxa, mas você não gosta de nome nenhum... Agora que eu ia lembrar aqueles nomes geográficos, como Asia, Europe, Chicago...

— Bom, pelo menos fico feliz de essa moda não ter pegado tanto. Não temos por aqui bandas chamadas Tocantis, Guiana Francesa ou Luzilândia.

— Caramba! Você é muito bom para dar nomes. Acho que vou montar uma banda chamada Guiana Francesa.

— Podia ser pior. Você podia ter escolhido Biquíni Cavadão. Mas ninguém, nem mesmo você, montaria uma banda com esse nome.

— Tá aí. Eu concordo. Biquíni Cavadão já é demais. Mas de tão ruim até que é meio bom, hein? Mas vou de Guiana Francesa mesmo. E aí, quer me ouvir cantando?

— Prefiro que fique repetindo 20 vezes Matchbox Twenty. Pensando bem, acho que é mesmo o melhor nome de banda do mundo.

terça-feira, 10 de março de 2009

Celular Perdido. Dignidade, também.

- Preciso urgentemente de um médium.

- Para?

- Perdi meu celular.

- Nunca mais venho de bicicleta aqui.

- Como?

- Se eu tivesse três mães, queria que elas se chamassem Santa Maria, Pinta e Nina.

- Como?

- Ué, você tá falando frases sem sentido. Eu achei que era competição.

- Quando eu falei frases sem sentido?

- Primeiro falou do médium. Depois, que perdeu o celular. Achei que não houvesse ligação.

- Aí é que você se engana. Eu preciso de um médium justamente para que ele localize meu celular. 

- Já pensou em ligar para ele?

- Pro médium? Como, se eu perdi o celular?

- Não, imbecil. Para seu celular. Vai que você ouve onde ele tá.

- Eu liguei, mas ninguém atendeu. Além do mais, lembrei de qu deixei ele no silencioso. Logo, vai ser difícil encontrá-lo. 

- Lembra onde perdeu?

- Bom, eu tava com ele na mão durante o jogo do Corinthians. Daí, depois que saiu o gol do Gordo, comecei a pular e a gritar "oooo, o Gordão voltou!" e não o vi mais. Ele deve estar em algum lugar na sala de casa. Mas não acho nem por um capeta.

-E qual a teoria do médium?

- Ah, eu acho que se eu chamasse um paranormal, ele poderia mentalizar e dizer para mim onde está o celular. Não aguento mais perder celular. É o quinto em 3 anos. Sendo que esse é o mesmo que perdi no carnaval, que foi encontrado sob as areias de Copacabana, depois que um trator passou por cima.

- E, pelo que eu ouvi falar, não foi a única coisa que você perdeu no Carnaval, né?

- Não, não foi. Se eu não me engano muito, perdi também oito chapéus panamá, um óculos escuro, R$ 200, um chip de celular e duas camisetas. 

- Rapaz...

- Pois é. Acho que pelos excessos, perdi também uns 7 anos de vida. De memória mesmo, perdi quase tudo o que rolou no Carnaval. Sobraram umas 30 horas dos seis dias de farra. E o que eu me lembro não é muito bom. As lembranças têm a ver com beber conhaque com idosos desconhecidos e visitas a Niterói, em companhia de mais desconhecidos.

- Certo. Mas voltando ao médium e ao seu celular. Será que daria certo?

- Bom, acho que pode ser. Não precisa ser um médium médium. Pode ser qualquer paranormal meia-boca mesmo, como a mãe Dinah. Só preciso de uma dica de onde está o telefone.

- Ela é bem meia-boca mesmo. É capaz de ela ficar meia hora mentalizando a sua sala e quando terminar dizer que não sabe onde está o celular, mas que tem certeza que um grande shopping no ABC paulista vai despencar. Ela fala isso há anos. 

- Ou que um grande atentado de repercussão mundial irá acontecer em 2009. Ela é bem genérica nas previsões.

- Pois é. É capaz dela aparecer na sua sala, mentalizar - ou sei lá como ela faz as previsões - e dizer: 'o seu celular está... no Brasil'.

- Já desisti dela. Talvez um tarólogo pudesse me ajudar. Ou mesmo algum astrólogo. O negócio vai ser apelar para o além, porque eu mesmo já desisti de procurar.

- Uma boa pedida seria usar um detector de metal. Ele poderia ajudar a localizar seu celular. 

- A idéia é boa, mas muito científica. E eu não sei onde arrumar um detector de metais.

- Como não? Em banco, uai.

- E eu vou trazer um banco para cá?

- Não. Só o detector. A gente pode ir em qualquer agência do Bradesco e pedir para o gerente emprestar por alguns minutos. A gente pega, leva na sua casa e passa na sala. Ele detecta e a gente traz de volta.

- Sei não. Acho que vou tentar um paranormal. Se não der, apelo para um cão farejador. Se mesmo assim não der, daí vou a um banco de peço emprestado. Mas não pode ser Bradesco.

- Por que não?

- Eu nunca, nunca fui barrado em nenhuma porta de Bradesco. E eu sempre entro neles com chave, celular, guarda-chuva. Uma vez, numa agência aqui perto, entrei com patins de gelo e uma pistola na mala.

- E por que você tava andando com patins de gelo e uma pistola em uma mala?

- Eu não estava. Quando cheguei ao banco, do lado de fora, um estranho pediu para eu entrar com eles no banco e entregar para um amigo dele, que estava lá dentro. Eu, que sou muito gentil, assim o fiz. Parece que o banco foi assaltado coisa de minutos depois de eu sair. Mas acho que uma coisa não tem a ver com a outra.

- É mentira, né?

- É sim. Mas achei que a história ficaria boa. De qualquer forma, os detectores de metal do Bradesco são os piores. Acho que o ideal seria pedirmos para alguma agência da Caixa Econômica Federal.

- O detectores deles são mais fortes? 

- Acho que já li em mais de uma reportagem de mulheres que tiveram de tirar a roupa do lado de fora do banco para poder passar no detector. Pensando bem, gostei da idéia do detector. Vou passá-la a frente dos paranormais e dos cães policiais. 

- Só tem um problema: e se não emprestarem o detector?

- A gente pode roubar. Imagina que legal, roubar um banco e nem encostar no dinheiro. Somente roubar o detector de metal.

- Excelente. Vamos lá. E se tudo mais der errado, a gente ainda pode dar sorte de ver alguma peladona tentando entrar no banco.

- Demorou.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Voa, canarinho, voa!

— Boa mesmo era aquela seleção de 82.
— Não fala bobagem. Aquela foi a seleção mais loser da história.
— Meu, era Cerezo, Falcão, Sócrates, Zico...
— Tudo perna de pau. Principalmente esse Zico... Aliás, pensando bem, tirando o Zico até que o time não era ruim.
— Mas se não jogasse o Zico, quem entraria?
— O Zenon.
— Pfffff...
— Taí, se o Zenon tivesse jogado a Copa de 82 no lugar do Zico, hoje o Brasil seria hexa, e não pentacampeão mundial. Como é que ninguém percebeu? O time era Zenon e mais dez.
— O Zenon não entraria nem na seleção dos melhores jogadores de bigode.
— Jogadores de bigode? Pode crer. Um time só com jogadores de bigode seria melhor que aquela seleção de 82.
— Bom, o Cerezo tinha bigode...
— Mas não era nenhum Zenon.
— Você acha que deveria haver seleções só com jogadores de bigode, tipo uma Copa do Mundo do bigode?
— Seria interesante. Eu liberaria goleiros para terem costeletas em vez de bigode.
— E se o Zico tivesse um bigodinho?
— Ah, aí ele poderia jogar. Mas só em jogos no Maracanã.
— Quer dizer que o Zico só entraria em uma seleção de jogadores só de bigode e desde que o jogo fosse no Maracanã?
— E só contra o Bangu.
— De toda forma, acho que o Zico não deixaria o bigode.
— Então jogaria o Zenon.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Maradona

— Está triste?
— Acabei de deixar para trás um vício.
— Mas isso não é bom?
— É que a droga era da boa.
— Van Melle pesada?
— Não, era viciado em Morfina.

Sobre Futebol e Outras Coisas

- Se eu fosse técnico de futebol...

- Lá vem você de novo.

- Por que de novo?

- Depois daquela sua idéia de contratar um estivador para ser um jogador especializado em cobrar lateral para dentro da área adversária, como se fosse escanteio, eu tenho medo do que pode vir pela frente.

- Mas essa teoria foi comprovada que dá certo. Vide aquele cidadão do campeonato inglês

- Exceção.

- Exceção porque não contratam estivadores para bater laterais. De qualquer forma, deixe-me contar o que eu tava pensando.

- Manda.

- Se eu fosse técnico, eu iria ter um jogador no banco especializado em corrida de tiro curto. Coisa de 100 ou 200 metros. 

-Aposto que não seria para incendiar o jogo em contra-ataques insanos.

- Não, não seria. Seria um jogador que teria uma simples função. Imagine um caso de contra-ataque adversário, desses que o jogador pega a bola no meio campo ou na intermediária e avança para o gol, deixando os zagueiros para trás. 

- Certo. Só ele, a bola e o goleiro.

- Isso. Daí eu viraria para o meu jogador no banco de reservas e diria "avança!" Ele sairia correndo do banco, num pinote maluco, invadiria o campo e daria uma voadora no jogador adversário antes dele fazer o gol. Ele seria expulso, mas mesmo assim meu time continuaria com onze. A idéia é boa, não? 

- Olha... até é. Mas esse jogador seria banido do futebol. Você teria que ter um desses por jogo.

- Já pensei nisso. Mas é fácil conseguir. Você já viu o que tem de atleta desempregado por aí? Eu pagaria por job. Uma entrada violenta e pronto: pode passar no caixa para pegar seu cheque.

- Estranhamente, achei a idéia boa. Melhor ainda se você fosse técnico do Vasco da Gama. Já reparou que em São Januário o banco de reservas fica bem atrás do gol?

- É verdade. Mas agora que eu tava contando essa minha idéia para você, me ocorreu outra coisa. O ideal mesmo seria não um corredor de 200 metros, mas um especializado em corridas com barreira. Porque pra sair do banco, ele vai ter que dar um pulo. Depois, entre o banco e a voadora no atacante adversário pode ter uma série de coisas, como cães da polícia, repórteres de campo. Se for um cara que pula e corre, ele se livraria mais facilmente destes obstáculos.

- Isso é fato. Mas já que você falou em cão policial, tive uma idéia melhor. Em vez de contratar um atleta de corrida ou de salto ou o diabo, que tal logo amestrar...

- Adestrar.

- Como?

- Adestrar. Você falou amestrar, mas o correto é adestrar.

- Será? Eu acho que é adestrar. De qualquer forma, que tal ensinar um cachorro a fazer a tarefa. Basta colocar o cão ao lado do banco de reservas e quando o atacante adversário aparecer com a bola no contra-ataque, com um gesto você dá ordem para o pastor alemão atacar.

- Tem que ser pastor alemão?

-Sei lá. Eu falei pastor porque eu sei que ele é facilmente adestrável. Mas pode ser algum cachorro de qualquer outra raça.

- Tipo um poodle?

- Por exemplo, um poodle. Aliás, dizem que o poodle é dos cães mais inteligentes que existem. Deve ser fácil, fácil amestrá-los. Taí, melhor que pastor alemão, o poodle é o mais indicado para a tarefa.

- Hummm. Prefiro corredores de provas de obstáculo. Com um poodle não daria certo.

- Por que?

- Porque eles são muito fofos. Se eu tivesse um poodle no banco de reservas, eu não conseguiria dar ordem para atacar. Ia querer ficar acariciando.

-Em caso claro de gol contra seu time, você preferiria ficar acariciando um poodle?

- Sim. 

- Então desista da carreira de técnico.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Dois vezes Um

- Eu tava pensando em fazer um blog.

- Que vergonha! E você fala assim com essa cara deslavada, de repente, como um bonde cego?

- Como?

- Tô brincando. É que eu gosto muito das expressões "cara deslavada" e "bonde cego". Nunca as tinha usado juntas. O blog seria sobre o que? 

-Não sei ao certo. Pensei em algo que fosse fácil e rápido de ler, como o Resenha em 6 e divertido como o finado Morfina. Com um quê do Veríssimos.

- Ah, mas sem um tema em especial?

- É, sem tema. Pode ser sobre tudo. Ou sobre nada.

- Tipo o Seinfeld?

-Já te falei que Seinfeld não é sobre nada. É sobre a vida de gente chata, recalcada e com mania de limpeza em Nova Iorque. Tenho certeza que o Obama teve as idéias dos aviões depois de assistir à terceira temporada de Seinfeld.

- Tá, mas então, o blog seria sobre qualquer coisa? Ou seria só opinionismo? Ou ficção? Ou seria sobre a Viviane Araújo?

- Pensei em fazer algo que eu pudesse meter o pau no que fosse, ofender quem eu quisesse, dar opiniões gerais sem ser processado. 

- Usa um pseudônimo. 

- Pensei nisso. Mas vou além. Vou criar um blog só com diálogos. Posso falar sobre qualquer assunto, do que eu quiser, e caso alguém me processe, digo que estava na boca do meu personagem. E tá resolvido o problema.

- Olha, é uma boa. Diálogos são fáceis e rápidos de ler. São uma forma de ficção e o autor pode incluir o que quiser e, se precisar embasar, é só colocar um hiperlink. Só não sei se isso livra de processo. 

- Nem eu, mas eu gosto de dizer que livra. Meu primeiro post nesse blog vai ser justamente defendendo que, se for um personagem que diz algo em um texto, o autor tá livre de processo.

- E como você vai embasar?

- Preciso embasar? O personagem não precisa embasar. Ele pode falar, jogar no ar, e mudar de assunto. Ele pode ser de uma irresposabilidade vampírica.

- Vampírica? Por que vampírica?

- Usei o termo só para mudar de assunto. Viu como é fácil?

- Beleza. E qual vai ser o nome do blog?

- Pensei em dois vezes um.

- Por quê? 

- Mas eu lá preciso justificar tudo? Você é de uma ignorância golfínica?

- Hummm. Usou "golfinica" pra mudar de assunto?

- Não. É que eu acho golfinho um bicho muito do burro mesmo. Eles comem saridnha crua. Argh.

- E eu acho que eles são as azeitonas do mar. Pelo menos na textura. Queria dar uma mordida para saber que gosto tem.

- Eu comeria um dálmata inteiro. Numa boa. Tenho a impressão que eles tem gosto de flocos.

- E zebra também?

- Não, elas muito grandes. As zebras estão para as bananas splits como os dálmatas estão para os sorvetes de casquinha. E eu mal aguento um sundae inteiro.

- Um sundae seria o que? Um tigre de bengala? Se bem que, se tem bengala, tá mais para picolé. 

- Chega de bobagem. Vou lá montar um blog. Vamos?

- Bora.